A Nissan e a Honda decidiram encerrar as negociações para uma fusão que criaria a
terceira maior montadora do mundo, com um valor estimado em mais de US$
60 bilhões. O acordo, que estava em discussão desde dezembro de 2023, foi
interrompido devido a divergências irreconciliáveis sobre a estrutura da
parceria, especialmente em relação ao controle da nova entidade. A notícia
impactou os mercados, com as ações da Nissan caindo mais de 4% na bolsa de Tóquio, enquanto as
da Honda subiram mais de 8%, refletindo a percepção dos
investidores sobre o desfecho.
A fusão entre as duas gigantes japonesas foi inicialmente vista como uma estratégia para fortalecer suas posições no mercado global de automóveis, cada vez mais competitivo e dominado por fabricantes de veículos elétricos, como a chinesa BYD. No entanto, as negociações esbarraram em um ponto crítico: a Honda propôs que a Nissan se tornasse uma subsidiária, o que foi rejeitado pela Nissan, que defendia uma fusão entre iguais. Essa disputa pelo controle da operação acabou inviabilizando o acordo.
A Nissan, que está no meio de um ambicioso
plano de reestruturação que inclui a demissão de 9 mil funcionários e a redução
de 20% de sua capacidade global, agora enfrenta incertezas sobre como seguirá
sua recuperação sem o apoio de uma parceria estratégica. A empresa tem
enfrentado dificuldades para se adaptar à transição para veículos elétricos e
ainda lida com os impactos da crise gerada pela prisão e destituição de seu
ex-presidente, Carlos Ghosn, em 2018.
Por outro lado, a Honda, segunda maior montadora do Japão atrás da Toyota, parece ter saído fortalecida da decisão. Com um valor de mercado de aproximadamente 7,92 trilhões de ienes (US$ 51,9 bilhões), a Honda é mais de cinco vezes maior que a Nissan, cujo valor de mercado é de 1,44 trilhão de ienes. A disparidade de tamanho e a preocupação da Honda com o ritmo de reestruturação da Nissan foram fatores que contribuíram para o impasse.
Além das
divergências internas, as negociações ocorreram em um cenário de incertezas
globais, incluindo possíveis tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre
importações de veículos do México. Analistas apontam que a Nissan seria
mais afetada por essas taxas do que a Honda e a Toyota,
devido à sua maior exposição ao mercado mexicano. Isso aumentou os riscos para
a Nissan e pode ter influenciado a decisão da Honda de
abandonar o acordo.
A Renault, parceira de longa data da Nissan e detentora de 36% das ações da empresa japonesa, havia sinalizado apoio à fusão em princípio. No entanto, a Mitsubishi Motors, outra parceira da aliança da Nissan, também considerou desistir da ideia de aderir ao acordo.
O fim das negociações levanta questões sobre o futuro da Nissan e sua capacidade de competir em um mercado cada vez mais dominado por veículos elétricos e novas tecnologias. Enquanto a Honda parece seguir confiante em sua trajetória, a Nissan terá que encontrar alternativas para garantir sua sobrevivência e relevância no setor automotivo. A decisão também reforça a complexidade de alianças estratégicas no setor, onde questões de controle e poder podem ser obstáculos intransponíveis.