O setor automotivo brasileiro se encontra no centro de uma polêmica envolvendo grandes montadoras tradicionais e marcas chinesas em ascensão, como BYD e GWM. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as montadoras instaladas no país planejam acionar judicialmente essas empresas por supostas práticas de dumping, caracterizadas pela venda de veículos a preços abaixo do custo de produção. O objetivo seria desestabilizar a competitividade e conquistar mercado de forma desigual.
A expansão das marcas chinesas
Nos últimos anos, marcas como BYD e GWM têm ganhado destaque no Brasil, especialmente com a oferta de veículos eletrificados. Em 2024, as duas empresas juntas venderam mais de 106 mil unidades no país, representando 60% dos veículos eletrificados importados e cerca de 23% do total de veículos importados no período.
A ascensão dessas marcas gerou reações de montadoras tradicionais, como General Motors, Volkswagen, Stellantis e Ford, que se mostram preocupadas com o impacto na competitividade do mercado nacional. A Anfavea argumenta que as práticas de preços baixos, combinadas com o aumento das importações chinesas, contribuíram para o crescimento do déficit na balança comercial do setor automotivo.
Apesar de já terem anunciado planos para produção local, como a inauguração da fábrica da GWM em Iracemápolis (SP) em 2025 e da BYD em Camaçari (BA) ainda em 2024, as marcas chinesas continuam sendo alvo de críticas. A justificativa das montadoras locais é que, mesmo com a produção nacional, os preços praticados pelas chinesas continuam prejudicando o equilíbrio do mercado.
O argumento das montadoras tradicionais
A Anfavea defende que o crescimento das importações chinesas não está apenas relacionado à demanda por veículos eletrificados, mas também à dificuldade das marcas locais em competir com os preços praticados pelas montadoras asiáticas. "Defendemos a livre concorrência, mas não podemos ignorar práticas que impactam negativamente o mercado automotivo brasileiro", afirmou Márcio de Lima Leite, presidente da associação.
Além disso, a organização aponta que o dumping pode colocar em risco os empregos e os investimentos realizados pelas montadoras tradicionais no Brasil, que há décadas atuam no país e enfrentam desafios econômicos e tecnológicos para modernizar seus portfólios.
Resposta das marcas chinesas
Em nota oficial, a BYD afirmou que segue todas as normas internacionais de comércio e nega qualquer prática de dumping. A empresa reforça seu compromisso com o mercado brasileiro, destacando investimentos substanciais para a produção local. Já a GWM se pronunciou de forma semelhante, afirmando estar tranquila em relação ao cumprimento das regras comerciais e confiante de que suas operações são legítimas.
O impacto no mercado brasileiro
Esse cenário coloca o mercado automotivo brasileiro em um momento crítico de transformação. A chegada de novas marcas, especialmente de origem chinesa, trouxe inovações tecnológicas e preços mais acessíveis, atendendo a uma demanda crescente por veículos eletrificados. No entanto, essa competição acirrada também exige do governo a revisão de políticas comerciais e fiscais para garantir um ambiente justo para todas as partes.
A decisão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) em relação ao pedido de investigação poderá definir os próximos passos no setor automotivo brasileiro. Independentemente do desfecho, o debate já abre espaço para discussões sobre o futuro da indústria automotiva no país, incluindo avanços tecnológicos, sustentabilidade e estratégias comerciais.
Reflexo nas oficinas e reparadores
Para os reparadores e profissionais do setor, o aumento da presença de marcas chinesas significa desafios e oportunidades. A chegada de veículos com novas tecnologias e sistemas mais avançados exigirá atualização constante de conhecimentos e equipamentos, ao mesmo tempo em que poderá impulsionar o mercado de peças e serviços especializados.
Com a indústria em plena transformação, todos os envolvidos no mercado automotivo brasileiro, das montadoras aos consumidores, estarão atentos ao desfecho dessa disputa e aos impactos que ela trará para o futuro do setor.