A figura abaixo mostra a evolução sofrida pelo sistema de alimentação de combustível em motores de ciclo Otto a partir dos anos 80.
- Carburação: Difícil adequação do teor da mistura às diversas condições de rotação e carga. Condensação/evaporação do combustível nas paredes do coletor dependendo da condição de carga, o que altera o teor da mistura de forma não controlada.
- Injeção indireta monoponto - SPI: Maior precisão e controle na formação da mistura. A injeção de combustível possibilita a implementação do controle integrado do motor. No entanto, há imprecisão quanto à quantidade que cada cilindro recebe. Persiste o problema de condensação/evaporação nas paredes do coletor.
- Injeção indireta multiponto - MPI: São os sistemas “common rail”. Precisão e controle total sobre a quantidade de combustível que cada cilindro recebe.
- Injeção direta - GDI (Gasoline Direct Injection ou injeção direta de gasolina): Permite o funcionamento no modo “combustão de mistura pobre”, o que propicia uma acentuada redução das emissões de CO e HC e do consumo. Possibilita também um controle preciso do processo de combustão.
A figura acima mostra, de forma qualitativa, as diferenças em economia que oferecem os diversos tipos de alimentação de combustível utilizados ao longo dos últimos 30 ou 40 anos. Reparar que o lambda utilizado na injeção GDI é similar ao dos motores diesel.
Injeção Direta de Combustível - GDI
Também é identificada com a sigla CDI (Common-rail Direct Injection ou injeção direta de rampa comum).Nesta configuração, de forma similar à utilizada em motores diesel, o combustível é injetado diretamente na câmara de combustão [A].
- A injeção – do tipo seqüencial - da quantidade precisa de combustível, no instante apropriado e com alta pressão (50 a 100 bar) resulta em uma melhor formação da mistura.
- A energia necessária à evaporação do combustível é extraída do ar presente na câmara, o qual é, desta forma, resfriado. Esta condição permite aumentar a taxa de compressão o que, por sua vez, resulta no aumento do rendimento térmico.
- As principais diferenças, com relação aos sistemas de injeção indireta, residem no sistema de alimentação de combustível, o qual comporta novos dispositivos: Bomba de alta pressão, regulador e sensor de pressão do combustível.
- Pistões especiais. Em alguns sistemas, principalmente, os mais antigos, os pistões possuem cabeça com defletor [B].
- O uso da injeção direta permite a aplicação da tecnologia de “combustão de mistura pobre”, em que o motor funciona com mistura de lambda superior a 1.6, similar à utilizada em motores diesel. O funcionamento com combustão de mistura pobre é essencial para limitar as emissões de HC e CO e reduzir o consumo.
- O funcionamento com mistura pobre propicia o aumento do rendimento térmico, devido a que a combustão acontece principalmente em torno da vela. O resto da câmara é preenchido com grande proporção de ar e gases de escape recirculados que formam uma camada isolante, o que resulta na diminuição das perdas através das paredes do cilindro.
- Os sistemas GDi com combustão de mistura pobre operam, basicamente, em três modos:
1. Estratificado. Combustão com mistura pobre (lambda entre 1,8 e 3) e injeção no fim do ciclo de compressão.
2. Homogêneo. Combustão com mistura em torno da estequiométrica (lambda=1) e injeção durante o ciclo de admissão.
3. Homogêneo/Pobre. Combustão com mistura pobre (lambda em torno de 1,6) e injeção durante o ciclo de admissão. Modo utilizado na fase de transição entre os modos anteriores.
Em função das altas pressões de operação, os sistemas GDI utilizam duas bombas de combustível: Uma elétrica de baixa pressão (3 a 6 bar) instalada no tanque e uma outra mecânica de alta pressão (50 a 100 bar) que alimenta a rampa comum. Esta possui o volume suficiente para diminui as flutuações de pressão que ocorrem quando cada injetor abre. A pressão do combustível na rampa comum é regulada eletronicamente através de uma das seguintes opções:
- Válvula reguladora, instalada na bomba de alta pressão, que deriva o combustível da saída para a sua entrada.
- Válvula reguladora, instalada na rampa de combustível, que deriva o combustível para a linha de retorno.
A válvula varia o fluxo de combustível derivado em função de um sinal de controle de ciclo de trabalho variável. Um sensor, instalado na rampa comum, informa à UC a pressão de operação.
Nos sistemas GDI, os injetores trabalham com pressões bem superiores àquelas dos sistemas de injeção indireta e devem permitir a injeção da quantidade de combustível necessária em um tempo bem menor.
Nos sistemas de injeção indireta, a injeção da quantidade necessária tem um tempo teórico máximo equivalente a 2 giros completos do virabrequim.
Pelo contrário, nos sistemas GDI a injeção deve ser completada num tempo equivalente a somente, uma parte do ciclo de admissão/compressão. Isto deu origem ao desenvolvimento de novas tecnologias e métodos de controle. Assim, nos sistemas GDi, dois são os tipos de injetores utilizados:
1. Injetor acionado por solenoide. O pulso de acionamento está na faixa de 2,5 a 3,5mS.
2. Injetor piezoelétrico. O pulso de acionamento está faixa de 0,2 a 0,3mS.
1. Injetor Acionado por Solenoide
Na maior parte das aplicações, para vencer as altas pressões de trabalho, os injetores são acionados com um sinal de “pico e manutenção” (“peak-and-hold”) que utiliza uma tensão de 50 a 90 volts (pico) para abrir inicialmente o injetor. Uma vez aberto, a tensão diminui para 12 volts (manutenção). Com isto, há uma menor dissipação de potência no injetor.
A figura acima apresenta a onda de tensão e de corrente correspondente. Inicialmente é aplicado um pulso de 65V (detalhe A) que tem por objetivo a abertura rápida do injetor, resultando no pico de corrente de 8A.
Após a abertura mecânica do injetor, a tensão é diminuída para 12V (detalhe B) o que resulta no primeiro patamar de corrente de manutenção de 5A.
Quando necessário, para atender a tempos de injeção maiores, o período de manutenção continua com sinal pulsado de ciclo de trabalho de 50% (detalhe C), o que resulta numa diminuição da corrente ainda maior (3A).
2. Injetor Piezoelétrico
O elemento piezoelétrico de acionamento se comporta como um capacitor, pelo que deve ser “carregado” para abrir e na seqüência, “descarregado” para fechar.
- A figura acima apresenta as ondas de tensão e de corrente correspondentes a 3 ciclos de injeção.
- Reparar nos picos de corrente de abertura A (carga) e nos de fechamento B. Estes últimos, de sentido contrário, para descarregar o elemento piezoelétrico. Observar que a corrente se anula após a abertura (detalhe C) para inverter o sentido no fechamento.
Um módulo de controle comuta as correntes de abertura e de fechamento a partir de pulsos de baixa tensão recebidos da UC do motor. A funcionalidade deste módulo pode estar integrada na própria UC.
O injetor piezoelétrico utilizado nos sistemas GDi pode ser de dois tipos:
- Acionado por diferencial de pressão hidráulica. Ao ser acionado, a expansão da pilha de elementos piezoelétricos abre uma válvula que provoca o desbalanceamento das pressões que atuam sobre a agulha, o que resulta na abertura do injetor.
- De acionamento direto. Ao ser acionado, a expansão da pilha de elementos piezoelétricos movimenta um mecanismo de alavanca que retrai a agulha, abrindo o injetor.
Pós-tratamento
Nos sistemas GDi o pós-tratamento consiste, na maior parte das aplicações, de um catalisador de 3 vias, para tratar os gases emitidos durante o funcionamento com carga homogênea (mistura em torno da estequiométrica), e de um catalisador de NOx, para tratar os gases resultantes do funcionamento com carga estratificada (mistura pobre).