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Recentemente, recebi em minha empresa um caso que ilustra perfeitamente como um reparo aparentemente simples pode se transformar em um pesadelo técnico — e financeiro — para a oficina. Mais do que isso, ele traz uma lição fundamental sobre os cuidados exigidos pelos sistemas ADAS (Advanced Driver Assistance Systems) nos veículos modernos. O veículo envolvido era um Ford Fusion 2012, que chegou até nós para a calibração do sistema ADAS. O que parecia ser uma rotina simples revelou uma conexão surpreendente entre a pintura do para-choque traseiro, a eletrônica embarcada e a transmissão automática. O caso começou quando um colega reparador nos procurou. Ele havia realizado a pintura do para-choque traseiro do Fusion e, após a remontagem, percebeu que a luz de alerta do sistema de colisão permanecia acesa no painel. Sem entender a origem do problema, nos consultou. Expliquei que isso é relativamente comum em veículos equipados com ADAS. A remoção do para-choque, substituição de para-brisa ou mesmo um simples desalinhamento podem comprometer a leitura dos sensores e exigem recalibração do sistema. Trata-se de um sistema sensível, que não tolera interferências sem o devido procedimento técnico. Diante disso, agendamos a calibração dinâmica para a semana seguinte.O início: um alerta aceso após a pintura
O Fusion 2012 utiliza calibração dinâmica, ou seja, não requer painéis ou alvos físicos. O procedimento exige um scanner automotivo com a função habilitada, chave ligada, transmissão em posição "Park" e velocidade constante superior a 65 km/h. Durante o trajeto, o scanner exibe o progresso da calibração de 0% a 100%. Mas o sistema é rigoroso: qualquer falha de ignição, desalinhamento dos sensores ou erro de comunicação entre módulos bloqueia o processo. Removemos o para-choque novamente e reposicionamos o radar, que havia se deslocado ligeiramente durante a repintura. Tudo pronto, iniciamos a calibração. Ligamos o motor, conectamos o scanner, colocamos o câmbio em “P” e saímos para o percurso. Rodamos mais de 10 km — e nada. A calibração continuava congelada em 0%. De volta à oficina, iniciamos nova varredura com o scanner. Ao revisar o check-list de entrada, encontramos um detalhe importante: um código de falha relacionado à seletora de marchas. Um detalhe sutil, mas que mudou tudo.A teoria é simples. A prática, nem tanto
A calibração travou em 0% — e a causa era invisível
O problema estava na seletora da transmissão automática, que enviava sinal incorreto à central eletrônica. O sistema acreditava que o veículo não estava em “Park”, bloqueando a calibração.Diagnóstico confirmado: falha na seletora do câmbio
De um serviço de R$ 450 para um prejuízo de R$ 4.500 O ponto crítico deste caso está aqui: o cliente pagou R$ 450 pela pintura, mas responsabilizou a oficina pela falha no sistema ADAS. Sem um check-list técnico detalhado na entrada, o reparador não conseguiu comprovar que o defeito na seletora de marcha já existia antes do serviço. Resultado: R$ 4.500 de prejuízo, absorvidos pela oficina entre mão de obra, peças e tempo técnico. Este caso deixa um alerta claro para todos os profissionais do setor: mesmo serviços simples, como funilaria ou pintura, exigem procedimentos técnicos completos na entrada do veículo. Isso inclui varredura com scanner, registro dos códigos de falha e, se possível, imagens e relatórios. Com os sistemas dos veículos cada vez mais integrados — envolvendo sensores, radares, módulos e eletrônica embarcada —, uma pequena intervenção pode trazer à tona falhas ocultas, sem relação direta com o serviço executado. Sem documentação de entrada, o reparador assume riscos desnecessários: prejuízo financeiro, desgaste com o cliente e perda de credibilidade.Prevenção é o reparo mais inteligente