
O Passat marcou uma nova era para a Volkswagen no Brasil, ao ser o primeiro modelo nacional com motor refrigerado a água, um salto em relação aos tradicionais motores a ar. Apresentado ao mundo em 1973, na Alemanha, ele rapidamente chamou atenção pelo design moderno, comportamento dinâmico e conforto para a época. No Brasil, estreou em 1974 e se tornou um sucesso nas ruas, especialmente na configuração hatchback fastback, permanecendo em produção até 1989 e conquistando diferentes públicos ao longo dos anos. Após um período fora do mercado, voltou em 1994, importado da Alemanha, assumindo o papel de sedã médio-grande com foco em sofisticação e tecnologia, até encerrar sua trajetória por aqui em 2021.
Sua origem remonta à Alemanha de 1973, quando foi lançado com design e engenharia inspirados diretamente no Audi 80, fruto da recente aquisição da Auto Union (Audi) pela Volkswagen, comprada da Daimler-Benz em 1964. Essa parceria permitiu à VW adotar uma plataforma moderna, tração dianteira e motores mais avançados. O próprio nome ‘Passat’ é uma referência aos ventos alísios (Passatwind, em alemão), mantendo a tradição da marca de batizar seus carros com nomes ligados a correntes de ar e vento.
Das versões clássicas ao autêntico Passat Surf
Entre 1975 e 1977, a linha Passat no Brasil era composta pelas versões LM e LS, ambas equipadas com o motor BR 1.5 L e pela esportiva TS (Touring Sport), que trazia o motor BS 1.6 L de maior desempenho. Logo depois, a gama foi ampliada com a LSE, versão mais luxuosa, que inclusive chegou a ser exportada para o mercado iraquiano. Em junho de 1978, chega ao mercado a versão Surf, voltada ao público jovem, despojada e cheia de personalidade, com acabamento simplificado e preço ligeiramente acima do Passat mais básico, cerca de Cr$ 96.300.

Baseado na versão L, a configuração de entrada da época, o Surf caiu rapidamente no gosto do público. O segredo estava na proposta visual despojada: ausência total de cromados externos, para-choques, frisos, maçanetas e retrovisor pintados em preto fosco, para-brisa verde com faixa degradê, revestimento interno em tecido xadrez nas portas e bancos, assentos dianteiros reclináveis com encosto alto, rodas de aço aro 13 pintadas em cinza grafite calçadas com pneus radiais e logotipos aplicados na grade, tampa do porta-malas e painel. Uma receita simples, mas que entregava identidade própria e conquistava quem buscava um carro com personalidade.
O interior do Passat Surf era bastante simples, e o painel de instrumentos trazia apenas o essencial: velocímetro, indicadores de combustível e temperatura do líquido de arrefecimento, além de algumas luzes-espia. O console central permanecia, acomodando a alavanca do câmbio.
Engenharia debaixo do capô do Surf

O Passat Surf era impulsionado pelo motor 1.5 L, código BR, um quatro cilindros em linha refrigerado a água, capaz de entregar 78 cv a 6.100 rpm e 11,5 kgfm de torque a 3.600 rpm. Alimentado por um carburador Solex H35 PDSI de corpo simples, o motor contava com comando de válvulas único localizado no cabeçote, acionado por correia dentada, tecnologia avançada para a época, que proporcionava operação eficiente e manutenção simplificada.
A disposição longitudinal e a instalação dianteira do motor, combinadas com o câmbio manual de quatro marchas, proporcionavam ao Passat equilíbrio em curvas e estabilidade nas retas. Integrada ao conjunto, a transmissão permitia ao modelo atingir uma velocidade máxima de cerca de 150 km/h e acelerar de 0 a 100 km/h em 17,8 segundos, entregando desempenho adequado para sua proposta jovem sem comprometer o controle e a dirigibilidade.
Em termos de consumo, o modelo entregava médias de 9 km/l na cidade e 12 km/l na estrada, proporcionando autonomia de até 405 km em áreas urbanas e 540 km em rodovias.
Acabamentos e detalhes internos
Em 1979, o Passat recebia seu primeiro facelift, adotando uma dianteira inspirada no Audi 80 comercializado no exterior entre 1976 e 1978, e a partir daí suas vendas começaram a crescer. As versões L e LM foram descontinuadas, passando o modelo de entrada da linha para a Surf. A versão passou a ser oferecida nas cores branco, vermelho, azul, bege, verde e amarelo, e ganhou acabamento interno mais discreto, substituindo o tecido xadrez por revestimento totalmente preto, enquanto o volante passou a ter diâmetro menor e revestimento em espuma. O objetivo era conquistar um público maior, principalmente adultos e consumidores mais conservadores, já que o Surf deixava de ser uma versão especial para se tornar a versão básica da gama Passat.

Entre as novidades do Surf, destacavam-se as manivelas de abertura dos vidros em plástico, o tapete de borracha do porta-malas, e os cintos dianteiros de três pontos, seguindo o padrão das demais versões. Ainda assim, o modelo apresentava algumas limitações em relação à geração anterior, como a ausência da função dia/noite no retrovisor interno, a falta de ventilação com ar quente (nem mesmo como opcional) e o retorno do acionamento manual do lavador do para-brisas, substituindo o sistema elétrico. Fora isso, o Surf mantinha as qualidades já conhecidas do Passat, como segurança, desempenho e comportamento dinâmico equilibrado.
Fim de Linha para o Passat Surf e a Era do Álcool Começa
Em 1980, o Surf recebeu uma versão movida a etanol, mantendo o motor BR 1.5. Com 65 cv a 5.600 rpm e 10,3 kgfm de torque a 3.000 rpm, o desempenho era ligeiramente inferior ao da versão a gasolina. A velocidade máxima era de 148,6 km/h, e a aceleração de 0 a 100 km/h ocorria em 18,22 segundos. O consumo médio era reduzido, refletindo a menor eficiência energética do etanol na época.
A produção do Passat Surf continuou até agosto de 1981, quando a Volkswagen reposicionou seus modelos para a linha 1982. Após essa mudança, a versão LS 2 portas assumiu o papel de modelo de entrada da linha Passat no Brasil. Embora o Surf tenha sido produzido em quantidade considerável, muitos exemplares não sobreviveram ao tempo devido ao uso, atualmente, existem cerca de 7.920 unidades do Surf registradas no Brasil.