Em 2025, a Chevrolet comemora um século de atuação no Brasil, consolidando-se como uma das marcas mais tradicionais e influentes da indústria automotiva nacional. Presente no cotidiano de milhões de brasileiros desde 1925, a marca protagonizou marcos importantes da evolução do setor, com modelos que deixaram sua marca tanto nas ruas quanto no imaginário popular. Segundo levantamento realizado pela própria montadora, mais de 100 modelos distintos foram lançados ao longo dos anos. Ao se considerar variantes de carroceria, versões e reestilizações, esse número ultrapassa 500 diferentes configurações. O volume total de produção já beira os 20 milhões de unidades fabricadas, o que equivale a cerca de um em cada cinco veículos vendidos no país. Em meio a essa rica história, um nome se destaca de forma especial: o Chevrolet Opala, um ícone que transcendeu sua função utilitária para se tornar símbolo de status, esportividade, confiabilidade e memória afetiva. Com mais de 1 milhão de unidades produzidas, o Opala foi o primeiro automóvel de passeio nacional da General Motors do Brasil (GMB), e teve papel decisivo na consolidação da marca no país. De 1968 a 1992, ao longo de 23 anos de produção contínua, o modelo passou por diversas atualizações mecânicas, estéticas e tecnológicas, sempre acompanhando as transformações do consumidor brasileiro e da indústria mundial. O Opala não apenas figurou como best-seller da marca durante décadas, mas também foi protagonista em competições, precursor em inovações de conforto e segurança, e base para o desenvolvimento de outro sucesso nacional, a perua Caravan. Sua trajetória ajuda a compreender a evolução do automóvel brasileiro e o amadurecimento da engenharia local. 1969–1971: O nascimento de uma lenda nacional Apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo em 1968 e lançado comercialmente no ano seguinte, o Opala foi um projeto baseado na carroceria do Opel Rekord alemão, combinado com mecânica inspirada no Chevrolet Impala norte-americano. A origem do nome — uma alusão à pedra preciosa "opala" — refletia tanto o brilho esperado do modelo quanto a fusão das influências alemãs (Opel) e americanas (Impala). Inicialmente disponível apenas na versão sedã de quatro portas, o Opala se posicionava como um automóvel médio de proposta familiar, porém com atributos superiores aos modelos concorrentes. As primeiras versões, “Especial” e “Luxo”, possuíam bancos inteiriços para seis ocupantes e câmbio com alavanca na coluna de direção, recurso comum nos carros americanos da época. Do ponto de vista mecânico, o modelo oferecia duas motorizações: um quatro cilindros de 2.5 litros (2.509 cm³), com 80 cv de potência bruta, e um seis cilindros em linha de 3.8 litros (3.764 cm³), com 125 cv brutos. Ambas utilizavam carburador de corpo simples e comando de válvulas no bloco, com acionamento por varetas e balancins. Era uma arquitetura robusta e simples, ideal para o contexto da frota nacional da época. A grande virada veio em 1970 com o lançamento da versão SS (Super Sport). Voltada ao público jovem e entusiasta, a versão trazia visual esportivo com faixas pretas no capô, laterais e tampa traseira, rodas exclusivas, volante de madeira e conta-giros no painel. Introduzia também o novo motor de seis cilindros e 4.097 cm³ (o famoso 250 pol³), com 140 cv brutos (115 líquidos) e 29 m.kgf de torque, associado a câmbio de quatro marchas com alavanca no assoalho. Em 1971, a linha ganhava um reforço de estilo com a introdução da carroceria cupê, com desenho fastback, portas sem moldura e ausência de coluna central. Essa versão foi essencial para consolidar a imagem do Opala como um carro desejável. Ainda naquele ano, o modelo recebeu o prestigiado prêmio “Carro do Ano” da revista Autoesporte.
1972–1974: Ampliação da gama e mais sofisticação Nos anos seguintes, a Chevrolet apostou na diversificação da linha. Os modelos passaram a ser identificados como Especial, De Luxo, Gran Luxo e SS, atendendo a diferentes perfis de consumidores. Com o endurecimento das normas de segurança, o Opala ganhou itens como trava de direção e tampa do bocal do tanque com chave. Ar-condicionado e bancos individuais passaram a figurar como opcionais nas versões mais completas. Um importante avanço técnico foi a introdução dos freios dianteiros a disco com servofreio, inicialmente apenas nas versões de seis cilindros. Também nessa fase, o motor 4.1 litros passou a substituir definitivamente o 3.8, consolidando-se como o seis cilindros mais famoso do Brasil. A opção de câmbio automático de três marchas (tipo Powerglide) estreava, antecipando a tendência de conforto que marcaria os anos 1980.
1975–1979: Reestilização e o auge da performance Em 1975, o Opala passou por sua primeira grande reestilização. Os faróis passaram a ser duplos e separados da grade, com conjunto de setas nos cantos, em um visual inspirado no Chevrolet Chevelle americano. A gama cresceu com a chegada da perua Caravan, que compartilhava a mecânica do sedã, mas oferecia maior espaço interno — tornando-se uma das favoritas das famílias brasileiras. Outro grande marco técnico foi o lançamento do motor 250-S em 1976. Com comando de válvulas mais agressivo, carburador de corpo duplo e tuchos mecânicos, ele oferecia 171 cv brutos (153 cv líquidos) e torque de até 32,5 m.kgf, desempenho de destaque para a época. Era o propulsor ideal para a versão SS, que agora entregava performance real à sua proposta esportiva. Em 1978, a Chevrolet comemorava a produção de 500 mil unidades do modelo. A linha 1979 trazia melhorias como carburador de corpo duplo em dois estágios, tanque de 65 litros e freio de estacionamento com alavanca entre os bancos dianteiros, antecipando o que seria padrão nos anos seguintes. 1980–1984: Consolidação do luxo nacional A década de 1980 marcou o reposicionamento do Opala como sedã de luxo. Em 1980, a carroceria foi redesenhada com linhas mais retas, faróis e lanternas retangulares e novo painel interno. Estreava também a versão Diplomata, que rapidamente se tornaria sinônimo de requinte e status no Brasil. Com itens como ar-condicionado, toca-fitas, direção hidráulica, rodas de alumínio e teto de vinil, o Diplomata posicionava-se como concorrente direto de importados e do Alfa Romeo 2300. O interior foi redesenhado em 1981 com um painel moderno e novos comandos. Em 1982, a linha adotava para-brisa laminado com faixa degradê, vidros verdes e sistema de ar-condicionado integrado ao painel. Os motores passavam a adotar ignição eletrônica e maior tanque de combustível (84 litros) nas versões a álcool, antecipando-se às novas demandas do mercado. 1985–1989: Atualizações, sofisticação e fim da carroceria cupê A linha 1985 trouxe mudanças visuais e funcionais: para-choques com ponteiras plásticas, lanternas com indicadores âmbar, maçanetas embutidas e novo acabamento interno. A pintura "saia-e-blusa" e a combinação de duas cores metálicas marcaram o período. Em 1986, a Caravan ganhou versão Diplomata, com os mesmos requintes do sedã. Em 1988, o câmbio automático de três marchas foi substituído por uma moderna transmissão ZF alemã de quatro marchas com bloqueio de conversor. O cupê, com baixa demanda, foi descontinuado. 1990–1992: Modernização final e despedida Em 1990, o motor 4.1 passou por significativas melhorias para atender às normas de emissões do Proconve: pistões mais leves, maior compressão, novo carburador Brosol 3E e coletor de admissão redesenhado. A potência subiu para 141 cv (álcool) e 121 cv (gasolina). Em 1991, o Opala recebeu sua última reestilização: para-choques envolventes em plástico, nova grade dianteira, rodas de 15 polegadas com pneus 195/65, retrovisores reprojetados e ausência de quebra-vento. A direção hidráulica passou a contar com o sofisticado sistema Servotronic, com assistência variável, algo raro até hoje no mercado nacional. Na linha 1992, foi introduzido o câmbio manual de cinco marchas e os veículos passaram a contar com catalisador, atendendo à fase 2 do Proconve. Em 16 de abril de 1992, a produção era encerrada em São Caetano do Sul, com os últimos exemplares sendo um Diplomata automático e uma Caravan ambulância. Para celebrar sua trajetória, a GM lançou a série limitada Diplomata Collectors, disponível nas cores preta, azul e vinho, com opção de bancos de couro e câmbio automático. Legado O Opala não foi apenas um carro — foi um fenômeno cultural, símbolo de uma era em que o automóvel era extensão da personalidade do condutor. Ele representou a consolidação da indústria automobilística brasileira, serviu a executivos, famílias, frotistas, governos e apaixonados por velocidade. Sua memória permanece viva nos encontros de carros antigos, nas pistas da Stock Car e no coração de quem viveu sua época. Com o Opala, a Chevrolet deu forma à paixão nacional sobre rodas — uma paixão que, mesmo após 100 anos, continua acelerando forte.