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A história do Santa Matilde SM 4.1 é marcada por ousadia, engenharia e paixão. Seu criador, Humberto José Pimentel Duarte da Fonseca, era presidente da Companhia Industrial Santa Matilde — uma fabricante de vagões e equipamentos agrícolas, sediada em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Entusiasta dos modelos esportivos europeus, Pimentel utilizava diariamente um Porsche 911 S Targa. Mas, após o fechamento do mercado às importações em 1976, qualquer manutenção se tornaria um pesadelo logístico e financeiro. Ao tentar substituí-lo por um Puma GTB e enfrentar meses de espera sem sucesso, Pimentel ficou frustrado. A solução veio de onde menos se esperava: sua filha Ana Lídia, então com 19 anos e estudante de engenharia, propôs algo ousado — por que não fabricar seu próprio carro esportivo? Um projeto técnico ousado para os padrões da época Com forte inspiração nos modelos GT europeus, o projeto foi pensado com carroceria em fibra de vidro apoiada sobre chassi de aço galvanizado — algo raro nos fora de série da época, que normalmente se baseavam em plataformas Volkswagen. Para o trem de força, a escolha foi certeira: o robusto motor Chevrolet 250S de seis cilindros em linha, de 4,1 litros, o mesmo utilizado no Opala.
O primeiro protótipo ficou pronto a tempo da Expo-77 e chamou atenção. O lançamento oficial, em 1978, no XI Salão do Automóvel, consolidou o interesse do mercado. O SM 4.1 era longo (4,25 m), baixo (1,28 m) e largo (1,69 m), com entre-eixos de 2,42 m. Tinha suspensão dianteira independente, eixo traseiro rígido, freios a disco nas quatro rodas e câmbio manual de 4 marchas — o conjunto mecânico era simples, mas confiável.
Acabamento de luxo e desempenho à altura Internamente, o padrão de acabamento era destaque. Couro, vidros elétricos, ar-condicionado, conta-giros, manômetro de óleo e até toca-fitas vinham de fábrica. Com 1.280 kg, o desempenho era condizente: velocidade máxima de 180 km/h e 0 a 100 km/h em cerca de 12 segundos. Mesmo custando mais que um Ford Galaxie (Cr$ 330 mil à época), encontrou seu público. Em 1978 e 1979, foram vendidas 238 unidades — número expressivo para um fora de série artesanal. Evoluções técnicas e visuais ao longo dos anos Em 1980, o SM foi reestilizado na traseira e passou a oferecer mais opções de motorização: o motor 2.5 a álcool, uma versão com turbo e o 4.1 com opção de câmbio automático. Já em 1981, ganhou direção hidráulica e rodas aro 15" com pneus Pirelli P6 215/60 — uma raridade nacional. A reestilização mais significativa veio em 1983, com para-choques envolventes, traseira elevada e novas lanternas. O estepe foi deslocado para o porta-malas e a bateria para o cofre do motor. Em 1984, o SM conversível foi lançado com capotas dupla (lona e fibra). O ano de 1986 marcou seu auge comercial, com 207 unidades vendidas. A linha de 1987 adotou faróis retangulares do VW Santana, enquanto dificuldades financeiras da matriz Santa Matilde (ligadas à queda nas vendas ferroviárias e dívidas trabalhistas) iniciaram o declínio da produção automotiva.
Fim de linha e legado histórico Com a chegada dos importados nos anos 1990, o SM perdeu espaço. Ainda assim, pequenos lotes foram fabricados até 1997, já com frente redesenhada e grade rente à carroceria. Ao todo, foram produzidas 937 unidades — incluindo 76 conversíveis. O Santa Matilde SM 4.1 é hoje lembrado como um símbolo de ousadia industrial e criatividade automotiva nacional. Para os restauradores e colecionadores, trata-se de uma joia rara, que desafia o tempo com linhas marcantes e soluções técnicas ainda respeitáveis.