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No Brasil a Ford tem papel de destaque na produção e comercialização dos primeiros carros movidos a etanol, com o modelo Corcel II 1980 a álcool (leia mais sobre este modelo na seção Fundo do Baú nesta edição); e em 2002 apresentou um dos primeiros protótipos flexfuel do mercado, um modelo Fiesta com motor Zetec Flex.
A indústria automobilística brasileira é reconhecidamente uma referência global no desenvolvimento de tecnologia de injeção eletrônica flexfuel, e a Ford brasileira reivindica para si o pioneirismo pelo lançamento do primeiro veículo flexfuel com injeção direta do mundo, lançado nos modelos Focus em 2014.
O fato é que, em decorrência das metas de eficiência energética impostas pelo programa Inovar Auto do governo federal em 2011, a frota de modelos equipados com injeção direta no Brasil vem crescendo gradativamente, e o resultado são veículos capazes de conciliar excelente performance com baixo nível de emissão de poluentes.
O preço do modelo top de linha do Focus Hatch 2.0 Titanium Plus chega na casa dos seis dígitos, razão pela qual aparece aqui na seção Premium. E para antecipar o que estas tecnologias podem representar como novos desafios ao setor de reparação, convidamos os seguintes profissionais para uma avaliação, e são eles:
Jorge Kasuo Tsuchida Júnior (foto 4), reparador, 29 anos, 8 anos de profissão, fez diversos cursos de especialização no Senai. A empresa Auto Elétrico PL, localizada no bairro do Butantã em São Paulo-SP, é uma empresa familiar com 40 anos no mercado, fundada pelo pai. Um tio também trabalha junto, e durante décadas a empresa se firmou como um tradicional auto-elétrico; mas de dois anos para cá, começaram a implementar serviços de manutenção mecânica também, com bons resultados.
Carlos Duarte Ferreira Júnior (foto 5), 34 anos, técnico em eletrônica, 18 anos no segmento automotivo, coordenador geral de pós-venda da empresa DVP Leste, localizada no bairro da Vila Carrão, em São Paulo-SP. Carlos Júnior, como é conhecido, é também colaborador técnico do Jornal Oficina Brasil.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES Danilo: “Esta versão Titanium Plus é a TOP do Focus, e conta com itens de série que normalmente só encontramos em carros premium, como os faróis bi-xenon, piloto automático e limitador de velocidade, kit multimídia com navegador, transmissão automática com dois modos de condução e borboletas no volante; muito bom. O design é bonito e atualizado (foto 6), e conseguiu dar um ar esportivo e agressivo ao Focus.”
DIRIGINDO O FOCUS TITANIUM PLUS
Todos elogiaram o conforto e a boa posição que o condutor consegue obter para dirigir o veículo, através de regulagens elétricas do assento e encosto do banco, e do volante com regulagem de altura e profundidade. A ampla visibilidade também foi aprovada por todos, mas Carlos Jr. fez uma restrição aos retrovisores externos, que poderiam oferecer um campo visual mais amplo.
O silêncio interno foi elogiado por Danilo, mas Jorge Jr. notou ruídos na suspensão dianteira em pisos irregulares, e analisa: “Este carro está com 13.000 km, mas apresenta pequenos ruídos. Pode ser folga em um dos batentes do amortecedor. Acredito que um simples reaperto na suspensão resolva.” Já Carlos Jr. criticou ruídos provocados por folga em itens de acabamento interno e comenta: “para um carro desse nível e pouco rodado, já podemos notar alguns rangidos e desajustes entre as partes de acabamento, e a carenagem da tela multimídia também faz barulho, gerando uma ressonância em determinadas condições de rodagem. Como o carro tem um bom tratamento acústico, estes ruídos são notados com mais facilidade, e acabam incomodando mais”.
A direção elétrica progressiva agradou os entrevistados pela precisão, leveza e adequação do torque de acordo com a velocidade e Carlos Jr. descreve: “A direção é muito confortável e precisa, sem ser leve demais, e passa uma sensação de controle muito boa!”
Segundo Danilo, o comportamento da suspensão é muito eficiente, absorvendo bem as irregularidades do piso e mantendo o carro bem estável mesmo em curvas rápidas com piso irregular. Carlos Jr. endossa esta avaliação, e comenta que a reação da suspensão traseira evoluiu significativamente, sem aqueles solavancos típicos de um sistema com eixo rígido. Jorge Jr. considera a calibração bem equilibrada entre a maciez que gera conforto para o dia a dia, mas sem ser perder a firmeza nas conduções mais esportivas.
Carlos Jr. observa que: “O sistema de freio é bastante eficiente, e me chamou a atenção pela suavidade de ação do ABS no pedal, que certamente não vai mais assustar os condutores menos acostumados com este sistema.”
Os reparadores puderam constatar na prática uma série de estratégias que aprimoram a estabilidade e o controle do veículo, denominada AdvanceTrac, que inclui o controle eletrônico de estabilidade (ESC), sistema de estabilidade preventivo (ETS) que antecipa correções, controle de tração (TCS), controle de torque em curva (TVC) e aviso de pressão baixa dos pneus (DDS). O sistema conta ainda com luzes de advertência em frenagens de emergência (EBL).
Danilo destaca a função assistente de partida em ladeira (HLA) e comenta: “é um recurso muito útil, principalmente para iniciantes, nas saídas em subidas muito íngremes, principalmente em dias de chuva, pois ele não deixa o carro descer, apagar o motor ou destracionar por falta de aderência.”
Sobre a performance, Carlos Jr. avalia: “O conjunto motor e transmissão tem ótimas respostas, e a transição é feita com suavidade, tanto nas trocas de marchas em aceleração ou em reduzidas, sempre de modo rápido e muito eficiente, sem solavancos, aproveitando ao máximo as faixas ideais de rotação e torque do motor. Segundo a montadora, 88% do torque máximo já está disponível a partir dos 2.750 rpm (foto 10), o que é bem interessante!”
O MOTOR 2.0 DURATEC DIRECT FLEX
Com bloco, cabeçote e cárter fundidos em alumínio, 4 cilindros, 16 válvulas e duplo comando de válvulas no cabeçote, o moderno propulsor é uma evolução da família Duratec (foto 12), e o sistema de injeção direta (foto 13) é o grande diferencial, que permitiu a adoção de uma alta taxa de compressão, no caso 12:1, e os resultados são:
Estes números representam 20% a mais de potência e 16% a mais de torque em relação à geração anterior do mesmo motor, mas com injeção indireta.
Carlos Jr. observa que os componentes do sistema de arrefecimento têm melhor acesso pela parte de baixo do veículo (foto 23), e elogia a proteção metálica adicional do compressor do ar-condicionado. Valdinei concorda, e comenta: “O conjunto motor e transmissão estão bem agrupados (foto 24), e ficam a uma boa altura do solo, por isso ao invés de um protetor de cárter metálico, temos aqui uma forração acústica, que reduz o nível de ruído, e em caso de uma forte colisão frontal, não impede que o trem de força “caia”, conforme projetado, protegendo os pés e as pernas dos ocupantes dentro da cabine.”
TRANSMISSÃO
Valdinei avalia que, para efetuar uma manutenção no sistema de transmissão powershift, é preciso tirar o conversor, o motor de partida, e o corpo de válvulas, que é externo. Sugere ainda remover o agregado para facilitar a operação de remoção e recolocação do conjunto.
Carlos Jr. observa: “a transmissão automatizada powershift deve demandar pouca manutenção, pois os controles eletrônicos atuam no sentido de preservar os componentes mecânicos. Por exemplo, se você tentar forçar uma marcha, ou errar o engate por engano, o sistema avalia se é compatível ou não para aquela velocidade e rotação do motor, e dependendo da situação, vai ignorar o comando e selecionar a marcha mais adequada para aquela situação. Além disso, percebe-se que não há trancos e nem solavancos nas trocas de marchas, independente da forma de conduzir o veículo, ou seja, é muito bem gerenciado e isso vai preservar a durabilidade dos componentes.”
Na edição Fevereiro 2016 do Jornal Oficina Brasil, nosso colaborador técnico Carlos Napoletano mostra em detalhes as características de funcionamento deste sistema.
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
Carlos Jr.: “a suspensão traseira também é independente, sistema multlink (foto 28), tipo control blade com barra estabilizadora (foto 29), buchas reforçadas e bandeja inferior, que deixaram o carro macio e muito estável, bem diferente do comportamento das versões anteriores com eixo rígido.”
Valdinei: “esse carro já usa braço oscilante e barra estabilizadora, e se assemelha à geometria da parte dianteira. A manutenção, troca de componentes, e alinhamento traseiro também são tranquilos, sem maiores dificuldades.”
Jorge Jr. aprova a solução do estepe temporário por dentro do veículo (foto 36), menos sujeito a furtos, e chama a atenção para uma providencial e útil lanterna de emergência. E a troca do filtro de cabine, abaixo do porta-luvas e junto à caixa de fusíveis interna (foto 37), também foi elogiada pelo reparador.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS
Danilo: “no grupo Ville, temos uma equipe bem treinada, e os equipamentos de diagnóstico fornecem boa parte das informações necessárias. Fora isso, recorremos ao concessionário e internet, e geralmente encontramos as informações necessárias. Atualmente não consideramos a tecnologia Ford como um problema”.
Jorge Jr.: “temos um pouco de dificuldade em obter informações da concessionária próxima, mas recentemente eles ofereceram algum acesso on-line pago com informações técnicas. Fiquei sabendo também que a Motorcraft (foto 38) começou a publicar boletins e dicas técnicas sobre procedimentos de manutenção, o que é uma excelente iniciativa, pois ajuda muito as rotinas de manutenção e reparo.”
Carlos Jr.: “o site reparador Motorcraft (www.reparadormotorcraft.com.br) é uma boa iniciativa da Ford, mas poderia abrir acesso aos manuais de reparação da montadora, fundamentais para manter a frota de veículos Ford dentro das especificações ideais. Mas cabe a nós, reparadores independentes, utilizarmos a ferramenta com as informações já disponíveis, e sempre cobrar a inclusão de mais informações que ainda não estiverem acessíveis.”
PEÇAS DE REPOSIÇÃO
Danilo: “a maioria dos itens conseguimos no mercado de reposição com boa qualidade. Peças genuínas, depende muito do componente. Amortecedores por exemplo, a concessionária tem preços bem competitivos; já molas e bandejas o preço é bem elevado, e é melhor recorrer ao distribuidor.”
Jorge Jr: “a concessionária próxima daqui nos atende bem, embora algumas peças tenham um preço absurdo. Geralmente demoram de 3 a 5 dias para entrega, mas eles não nos deixam na mão. E fora da rede, há boas opções no mercado paralelo para os itens de giro. No geral, até que o estoque da concessionária é razoável, mas para os itens de menor giro, só por encomenda.”
Carlos Jr.: “de um modo geral, as peças genuínas Ford são caras, ou seja, não são competitivas em relação ao mercado paralelo com qualidade original, mas a Motorcraft