DPF e a falta de capacitação para lidar com esse sistema

Pessoal, bom dia!

Já é de algum tempo que venho querendo abordar esse assunto aqui no fórum, hoje que tirei um tempinho pra poder vir aqui trazer esse assunto: Sobre DPFs e o que infelizmente tem se tornado o padrão de ação de várias oficinas para "resolver o problema", que é eliminar o sistema, tanto fisicamente, quanto via módulo.

Eu já adianto minha opinião sobre esse tipo de procedimento: Sou radicalmente contra.

Sou mecânico profissional a mais de 10 anos, tenho oficina própria a 8 anos, na minha oficina 80% do movimento são de veículos diesel, boa parte deles com DPF. Em todo esse tempo que trabalho com veículos com DPF, eu nunca precisei trocar um DPF, nunca passei para nenhum cliente meu que tinha que eliminar o sistema, nunca furei catalisador ou DPF como muitos fazem, e clientes regulares da minha oficina não sabem o que é ter problema com DPF.

Participo de alguns grupos de whatsapp, tanto os voltados para oficinas, quanto os de proprietários de picapes, e como sou conhecido por trabalhar com as Nissan Frontier, quase todos os dias recebo mensagens ou e-mails pedindo ajuda para casos de problemas com DPF, tanto de proprietários, como de oficinas. O que eu venho observando ao longo dos anos, especialmente nos últimos 3 anos, é que as oficinas não estão nem se preocupando em fazer diagnóstico nos veículos que chegam com problemas no DPF, luz acesa no painel, códigos de falha referentes a saturação do DPF, etc. Se um veículo desse chega com esse tipo de problema, "a solução" passada para o cliente é eliminar o DPF tanto fisicamente, quanto via módulo através de reprogramação. E isso tem gerado uma série de problemas para esses proprietários: Veículos que ficam soltando fumaça branca sem parar, cheiro forte de combustível cru no escapamento, aumento no nível de óleo do motor por contaminação com diesel, até consequentes quebras de motor por conta dessa contaminação. E quando acontecem esses efeitos colaterais, essas mesmas oficinas estão sendo incapazes de identificar que esses problemas são provenientes dessa reprogramação e ficam procurando problema onde não tem, acusando bicos injetores, bombas de alta, turbina, cabeçote, etc. Eu já atendi um proprietário que não sabia mais o que fazer, pois já tinha trocado bicos, bomba, turbina, já ia tirar o cabeçote do motor da picape dele, nada fazia parar a fumaça branca, e em toda oficina que ele levava, acusavam alguma coisa diferente, já tinha gastado mais de 20 mil reais pra resolver o problema e não resolvia, e o problema dele na verdade tinha sido causado por esse procedimento de eliminar o DPF fisicamente e via módulo.

Ontem mesmo eu atendi por whatsapp um rapaz de Caraguatatuba - SP, proprietário de uma NIssan Frontier 2014, onde esse veículo já vinha a algum tempo com problema de luz de DPF acesa no painel e perda de potência, ninguém até então conseguiu resolver o problema dessa Frontier, já haviam passado para ele eliminar o DPF tanto fisicamente, quanto via módulo e por sorte antes de fazer esse procedimento ele entrou em contato comigo. Ficamos ontem o dia todo ajudando esse rapaz, na parte da manhã destinada apenas a realizar o diagnóstico do veículo com o auxílio de um Rasther 3 da oficina de um amigo dele, e na parte da tarde com os procedimentos corretos para limpar esse DPF. O DPF dele estava num nível de saturação extremamente elevado, ultrapassava os 1000 mbar de pressão em plena carga, mesmo com o veículo com potência reduzida, valor 4 vexes superior ao normal e já no final do dia já havíamos praticamente resolvido o problema dele, sem desmontar nenhuma peça, sem utilizar nenhum produto mágico, apenas com uso do scanner e algumas idas para rodovia para ajudar o veículo no processo de regeneração do DPF. Hoje ela já está com a potência restaurada, sem a luz do DPF acesa no painel, apenas irá precisar de mais algumas regenerações via scanner e uma posterior troca de óleo do motor e velas aquecedoras para ficar 100%.

Citei esse exemplo para ilustrar que sim, é fácil lidar com DPF, basta saber como o sistema funciona.

E eu quero citar também um problema secundário que está sendo causado por esse padrão de ação de que quando um veículo com DPF chega numa oficina e "a solução" aplicada é eliminar o DPF tanto fisicamente, quanto via módulo está gerando: A falta de DPFs e catalisadores no mercado de peças usadas. Aqui na minha oficina todo mês surge uma picape que está tendo problemas por conta dessa eliminação do DPF fisicamente e via módulo. A primeira alternativa que eu passo para o cliente é refazer a reprogramação, na tentativa de resolver esses problemas. Muitas vezes são clientes que recém compraram a picape, não sabem onde foi feito esse procedimento para pedirem que refaçam ele, ou então as oficinas ou preparadoras que fizeram o procedimento se recusam a refazer a reprogramação com a alegação que esses problemas não são causados pela reprogramação. Nesses casos a solução que eu passo é voltar tudo para o original. Com isso tem um problema, as peças no mercado de usados estão ficando escassas! A última que eu voltei para a originalidade, levei mais de um mês para achar um catalisador usado que estivesse original, todos os que eu achei até então já estavam ocos, sem o miolo interno, o mesmo vale para os DPFs.

Pra fechar o assunto, venho dar um conselho para os colegas reparadores: Vão atrás das informações necessárias para se trabalhar com DPFs. Busquem essas informações. Até a Oficina Brasil poderia fazer uma matéria a respeito, disponibilizar treinamentos on-line pois veículos diesel hoje todos estão contando com o DPF, o mercado é vasto!

Um abraço!

Enrico.