Notícias
Vídeos
Fórum
Assine
Não importa a forma de uso de um veículo, mas é fundamental que a manutenção seja realizada com critério e por pessoas capacitadas, mas na realidade é bem diferente.
Os serviços que chegam às oficinas são causados por vários fatores e boa parte deles não é por falha ou fadiga dos componentes, mas por alguma interferência humana, que pode ser a falta de conhecimento na execução do serviço, aplicação de componentes duvidosos e até a negligência dos períodos de manutenções elaboradas pelos fabricantes dos veículos.
Somado a tudo isso temos os proprietários, que também podem contribuir com as falhas de funcionamento do veículo, como aconteceu com o Iveco Daily 70C17 que chegou à oficina com problemas no sistema de arrefecimento.
Para alguns serviços só é possível diagnosticar com a desmontagem e comprovação da falha encontrada, mas neste caso o proprietário informou que a água do radiador vazou pela mangueira e para não ficar na estrada, completou o nível da água no reservatório (vaso de expansão) e fez algo que não está nos manuais de literatura técnica, ele deixou o reservatório sem a tampa para não criar pressão no sistema e assim a mangueira do radiador que é presa por trava (não usa abraçadeira), não iria se soltar e vazar a água.
Isso era apenas teoria ou falta total de conhecimento, pois ao continuar a viagem, o motor atingiu a temperatura ideal de funcionamento, expulsou toda água, superaqueceu e faltou pouco para travar o motor.
Como dizem os peritos de acidentes de aviação, um desastre não ocorre por acaso, mas é um soma de falhas que resulta em algo mais grave, que neste caso do Iveco, foi a queima da junta e o empenamento do cabeçote.
Voltando para a mangueira, havia indícios de manutenção e de alguma maneira a trava pode ter se soltado da conexão do radiador, fazendo a água sair.
A mangueira é de borracha com lona, apropriada para resistir a temperatura e pressão, mas nesta parte que conecta ao radiador, é de plástico com trava de aço. Quando esta trava está acionada e na posição correta, é quase impossível ser liberada e fazer a água vazar, mas com a ajuda de alguém não qualificado, não dá para duvidar que isso viesse acontecer.
E depois que o proprietário resolveu deixar o reservatório sem a tampa, completou o ciclo de falhas e fez o motor parar de funcionar.
Mas antes de concluir o diagnóstico na oficina, foram realizados alguns testes como a instalação correta da mangueira do radiador com a trava devidamente acionada, abastecimento do sistema de arrefecimento com 10,2 litros e com a colocação da tampa do vaso de expansão que estava guardada no porta-luvas.
Assim que o motor foi ligado e mesmo frio, o vaso de expansão começou a borbulhar, criando uma pressão interna e assim que o motor foi desligado e a tampa do reservatório removida, toda a água foi expulsa.
Isso já foi o suficiente para concluir que a pressão da combustão estava vazando para o sistema de arrefecimento, indicando uma possível queima da junta e até o empenamento do cabeçote.
É aqui que entra a frase já dita anteriormente, é preciso desmontar para comprovar a falha e assim foi feito com a aprovação do cliente, o cabeçote foi removido.
Para chegar ao cabeçote deste veículo, é preciso desmontar toda a parte frontal, começando pelos faróis, para-choque, a estrutura ou painel frontal, o radiador com o intercooler para ter acesso à parte superior do motor.
Esse motor FIC 3.0 diesel tem a tampa superior que sai junto com os comandos de válvulas que são acionados por corrente e é recomendável não deixar esta corrente cair ou escapar da engrenagem na parte do bloco do motor, por isso é importante manter esticada e presa por um pedaço de arame para garantir que ela não vai sair do sincronismo na parte inferior do motor.
Apenas para ilustrar a posição das correntes, tensionadores, patins e engrenagens, para saber a importância de manter a corrente presa.
Sincronismo das correntes
1. Engrenagens dos comandos de válvulas;
2. Corrente simples;
3. Esticador hidráulico da corrente com dispositivo antirretorno;
4. Patins / apoio da correte;
5. Tensionador da corrente;
6. Engrenagem de acionamento no virabrequim;
7. Suporte fixo;
8. Engrenagem do eixo de controle da bomba de óleo/depressor / bomba da direção hidráulica;
9. Corrente dupla;
10. Engrenagem do eixo de controle da bomba de alta pressão.
Analisando a junta do cabeçote foi possível identificar a passagem de pressão para o circuito do sistema de arrefecimento, já o cabeçote foi enviado para a retífica para identificar se estava empenado e de quanto era para saber se estava além do limite, que na prática quase não há limite.
A deformação encontrada em todo o comprimento do cabeçote não deve ser superior a 0,20 mm.
A altura do cabeçote é 112 +/- 0.1mm e a remoção máxima admissível de metal não deve exceder espessura de 0,2 mm.
A retífica analisou o cabeçote e informou que iria retirar 0,3mm (3 décimos de milímetro), ou seja, o drama do motor iria continuar com um cabeçote abaixo do limite de altura.
Como a oficina tinha a literatura técnica e já sabia do limite de altura do cabeçote e o quanto poderia ser retificado, recusou o serviço da retífica e sugeriu ao proprietário, que o correto era instalar um cabeçote novo.
Não é apenas o cabeçote novo pois outros componentes também devem ser considerados neste tipo de serviço, principalmente os parafusos do cabeçote. O orçamento de peças realizado em concessionária Iveco chegou próximo dos 13 mil reais e ainda tem os valores dos serviços e certamente o proprietário vai preferir manter as manutenções em dia e de preferencia realizadas por profissionais capacitados.
Um detalhe da junta do cabeçote é que os anéis corta-fogo não são redondos, eles têm um formato de oito faces (octogonal).
É bom sempre lembrar que o responsável pelo serviço é a oficina e não a retífica que está fazendo usinagem da peça. Com informação confiável e equipe treinada e capacitada para cada tipo de serviço, o oficina tem todas as oportunidades de trabalhar bem e garantir o sucesso de cada serviço realizado.