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A cana de açúcar é uma das matérias primas que mais se destacam no Brasil por ser uma fonte de energia renovável para diversos combustíveis, como o etanol e o biodiesel. Mas, você já imaginou o Diesel fabricado 100% de cana de açúcar? Essa é a tecnologia inventada pela Amirys Brasil, projetada para ser a substituta do diesel de petróleo, e que já dá resultados efetivos em veículos Mercedes-Benz.
Segundo a Amirys Brasil, o produto é feito de Biofene, uma espécie hidrocarboneto renovável desenvolvida pela empresa. O processo de fabricação do diesel de cana de açúcar não é muito diferente do álcool comum, que utiliza leveduras, ou seja, um tipo de fungo microscópico usado para fermentar o açúcar da cana e secretar o etanol. A diferença fica na inovação da empresa, que modificou o DNA da levedura geneticamente, o que produz o diesel em vez de álcool.
O produto de cana de açúcar é isento de enxofre, o que colabora significativamente também para a melhoria da qualidade do ar. Estudos realizados pela Amyris apontaram que este tipo de combustível pode reduzir a emissão de gases causadores de efeito estufa em mais de 90%. Além disso, há menores emissões de óxidos de nitrogênio, partículas, monóxido de carbono e descarga de hidrocarbonetos.
O diesel de cana de açúcar pode ser usado em qualquer caminhão ou ônibus da frota brasileira, sem necessidade de alterações no motor, pois a mistura utilizada no teste atende todas as especificações para combustível vigentes no Brasil.
Segundo a empresa, testes em laboratórios independentes mostraram que o diesel executa tão bem, ou melhor, que o diesel de petróleo e até mesmo o biodiesel, seguindo as regras da ASTM (Sociedade Americana para Testes de Materiais). Além disso, o produto pode ser armazenado por longo tempo sem degradação.
Nos tanques em 2012
A Amirys pretende começar a produção em maior escala do produto em 2012. Para isso, a empresa firmou parceria com a Usina de São Martinho, localizada em Pradópolis, São Paulo. “O foco inicial será abastecer frotas cativas de ônibus”, disse Adilson Liebsch, diretor de marketing da Amirys. O passo inicial faz sentido. Na cidade de São Paulo, por exemplo, onde a empresa já realizou testes em veículos da frota SPTrans, existe uma lei que prevê a redução de combustíveis fósseis com eliminação total até 2018.
Embora toda a energia que é proveniente de material renovável seja bem- vinda, sobretudo pelos benefícios ao meio ambiente e às pessoas, é importante ficar de olho, principalmente no preço. “Hoje as destilarias estão preparadas para produzir o etanol e o açúcar. Sofreríamos um pouco com a oscilação das entressafras e isso pode encarecer o produto num valor até maior que o de diesel derivado de petróleo, mesmo porque o processo de fabricação me parece ter um custo elevado”, alerta a professora do departamento de engenharia química da FEI (Faculdade de Engenharia Inaciana) Maristela Marin.
Porém, Adilson ressalta que o preço será equivalente ao combustível derivado de petróleo. “O custo será equiparado ao custo do diesel de petróleo. A tecnologia permite que o diesel renovável seja competitivo, claro que isso levará um tempo até a adequação. A ideia final é não haver desvantagem para o consumidor”, garante.
Testes
Nos testes realizados pela Mercedes-Benz em ônibus, a mistura de diesel de cana de açúcar apresentou redução de 9% nas emissões de materiais particulados se comparado ao derivado de petróleo, sem alterar o funcionamento do motor do caminhão, os testes foram feitos em um campo de provas. Nas avaliações, a montadora utilizou apenas 10% do diesel de cana de açúcar em seus motores e os outros 90% foram de diesel S-50.
Outro ponto positivo detectado pela montadora foram emissões de óxido de nitrogênio, que ficaram inalteradas “Com outros tipos de diesel, como o biodiesel, por exemplo, se há redução nas emissões de materiais particulados, aumenta a taxa de emissão do óxido de nitrogênio. Com o renovável isso não aconteceu”, ressalta Gilberto Leal, gerente de Desenvolvimento de Produto da Mercedes.
Nos ônibus da frota da SPTrans testados pela empresa em São Paulo por seis meses, os resultados também foram surpreendentes. Os veículos rodaram por mais de 70 mil quilômetros, em situações adversas e com passageiros. Não houve alteração das operações, falhas e o consumo do combustível foi o mesmo comparado ao combustível fóssil. Porém, o que mais impressionou foi à diminuição nas emissões. “Houve redução da opacidade da fumaça emitida pelos ônibus. Os números variaram de 8% a 30% de redução em comparação a veículos com diesel fóssil. Um grande ganho ambiental e de saúde”, esclarece Adilson.
Outra vantagem é a pureza do combustível renovável. O produto contem carbono, hidrogênio e mais nada. O diesel normal, que possui carbono, hidrogênio, água e enxofre, por isso, há riscos de reações secundárias. “Não ouve problemas como o entupimento de filtros, que é comum, ou outras ações que causam estragos no motor justamente por ele ser puro. Ele queima mais fácil”, diz Gilberto.
Para um futuro bem próximo, a montadora já estuda testes com 100% de diesel renovável nos ônibus da marca. “Já fizemos testes de laboratório e os resultados também foram muito bons. Temos planejamento para testes com 100% de diesel de cana de açúcar nos tanques, dependemos somente da disponibilidade do combustível”, afirma o gerente de desenvolvimento.
Conferência C40
Durante a quarta edição da Conferência da Rede C40, evento que discute sustentabilidade das grandes cidades do mundo, e que aconteceu em São Paulo, foram usados ônibus LO 915, da Mercedes-Benz, movidos a diesel de cana de açúcar para o translado dos convidados. Segundo a empresa, os veículos movidos com diesel de cana ressaltam, mais uma vez, o pioneirismo da Mercedes-Benz no desenvolvimento tecnológico de motores e reforçam o compromisso com a preservação do meio ambiente por meio de soluções mais sustentáveis.
A Rede C40 de Grandes Cidades (C-40 Large Cities Climate Leadership Group) é uma organização que reúne, a cada dois anos, as maiores cidades do mundo para a discussão do papel dos governos locais no combate às mudanças climáticas. Atualmente são 40 cidades participantes e 19 afiliadas, distribuídas nos seis continentes. A rede conta, desde 2006, com o apoio da Fundação Bill Clinton, dirigida pelo ex-presidente norte-americano. A parceria garante, entre outras coisas, o desenvolvimento e a efetivação de projetos para o consumo de energia sustentável nas metrópoles. Acompanhe a programação na tabela à direita e também pelo site http://www.c40saopaulosummit.com.