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Veja como a marca prepara o Axor de 1.300cv de potência e 5.500Nm de torque
A Mercedes-Benz presta apoio técnico de fábrica a equipe ABF Mercedes-Benz, disponibilizando durante toda a temporada, o responsável por desenvolvimento de motores Franz Schimidt, e o supervisor de marketing de produtos Adalbert Beck, que desenvolvem e acompanham nas pistas os bólidos Axor 2044, pilotados por Wellington Cirino e Geraldo Piquet.
Mesmo com modificação tão extrema, ainda sobram muitos componentes dos modelos que circulam pelas rodovias. A maior parte das peças utilizadas é fornecida ou desenvolvida pela própria Mercedes-Benz, e começa pelo chassi que é o mesmo do modelo de rua, porém é encurtado e recebe travessas para reforçar e diminuir a torção do mesmo, além de adaptações para reposicionamento do motor, que fica em uma posição mais baixa e mais recuada, para uma melhor distribuição de peso e baixar o centro de gravidade.
O motor é o OM-457 LA lll de 6 cilindros em linha que tem originalmente 12l, e se enquadra na categoria até 14l, sendo que na outra categoria andam caminhões com motores de 9l. A potência original é de 440cv a 1.900rpm com 2.100Nm de torque a 1.100rpm. A preparação do motor começa aumentando a cilindrada para 12,8l, ficando no limite do regulamento, que permite até 12,7l, porém há tolerância de 1,5%, chegando a 12,89l.
Para atingir esta capacidade cúbica são utilizados pistões de maior diâmetro, desenvolvidos especialmente para a categoria. As bielas também são exclusivas, usinadas a partir de um bloco maciço, com maior espessura, para suportar os maiores esforços.
O comando de válvulas possui tempo de abertura das válvulas dimensionado para proporcionar um melhor enchimento dos cilindros e também elevar a faixa de torque e potência para rotações mais altas, próximas dos 3.000rpm. No comando também estão posicionados os cames que acionam as bombas de combustível.
Este motor utiliza o sistema UPS – Unit Pump System, ou seja uma bomba de alta pressão para cada cilindro. Cada unidade possui um solenóide que controla a restrição do retorno de combustível, o comendo empurra o pistão da bomba para cima gerando o fluxo, e de acordo com o comando da central, o solenóide restringe o retorno fazendo com que a pressão suba e abra o bico.
Neste sistema a pressão de injeção pode chegar a até 2.200bar, que proporciona uma melhor atomização do combustível, além de possuir uma linha de alta pressão menor e uma manutenção e diagnóstico mais simples. Os bicos injetores foram retrabalhados para suprir a maior demanda de combustível, pois a pressão da turbina trabalha em torno de 3,5 a 4 bar.
Os coletores de admissão e escapamento permanecem originais, assim como a relação de marchas do câmbio de 6 marchas derivado de um ônibus rodoviário, pois o original do Axor 2044 que era utilizado anteriormente possuía 16 marchas com as reduzidas, então a quantidade de peças mortas era muito grande e com essa substituição foi possível um grande redução de peso. O diferencial é 100% bloqueado e tem a relação modificada de acordo com a pista.
Durante a corrida são utilizadas normalmente apenas duas marchas, a 5ª e a 6ª, e eventualmente a 4ª. Utilizando somente essas duas marchas é possível cambiar movimentando a alavanca somente para frente e para trás, diminuindo o tempo de troca, pois o trambulador e sistema de acionamento, com sistema hidráulico pneumático, permanecem originais, mas o platô recebe mais carga na mola membrana e o disco tem composto cerametálico, para evitar patinação do sistema.
No regulamento atual, o sistema de injeção eletrônica de combustível é obrigatório, e o Axor da equipe Mercedes-Benz possui um programa desenvolvido por Franz Schimidt exclusivamente para a Fórmula Truck, pois segundo ele ficaria mais difícil habilitar no programa original da Mercedes-Benz, todos os pontos necessários para se ter um controle total da injeção, do que desenvolver um novo.
Um ponto muito interessante na Fórmula Truck é o controle de emissão de fumaça. Segundo o regulamento, o caminhão que emitir fumaça durante a corrida ou treino classificatório recebe penalização, então as equipes utilizam um filtro de particulado (catalisador), para evitar esse risco.
Esse filtro não oferece nenhuma restrição à saída dos gases, por isso não causa perda de potência e retém todo material particulado emitido no escapamento, porém se houver acumulo deste material, passará a restringir o escapamento. Durante os treinos livres não é utilizado esse filtro, assim Franz pode analisar visualmente em que situações o motor está emitindo fumaça, além de evitar sujar o filtro sem necessidade.
“Quando vejo que está soltando fumaça preta, me comunico com o piloto e pergunto a quantas rpm o motor está, daí quando o caminhão vem para o Box, entro com o programa de controle da injeção eletrônica e, naquele ponto onde o motor estava emitindo fumaça, reduzo a quantidade de combustível”, explica Franz.
Algumas equipes lavam os filtros com água para reduzir o acumulo, método que não é utilizado pela equipe Mercedes-Benz. “Para realmente ser limpo, o filtro precisa ser levado a um forno, onde é aquecido a mais de 600°C, para queimar todas as partículas impregnadas nele”, afirma Beck.
Os lubrificantes utilizados são Petrobras, assim como o combustível que deve ser colocado no caminhão somente através de uma bomba instalada no autódromo. O tanque de combustível tem capacidade para 150l, e possui respiro com um reservatório.
Os pneus utilizados na pista são iguais aos de rua, apenas são lixados para ficarem slick e obter melhor área de contato com o solo, respeitando é claro os limites determinados pelo fabricante e considerando o desgaste durante a corrida. Como o asfalto de Interlagos é mais liso e tem menor consumo de pneu, é possível desgastar bem os pneus antes da orrida e obter assim o melhor desempenho.
Na suspensão são utilizados amortecedores reguláveis e na traseira possui uma mola helicoidal para ajudar no acerto. A câmbagem no eixo dianteiro é limitada a 3,5° pelo regulamento e no traseiro é 0°, porém com uma tolerância de 0,5°. Já nos freios temos discos ventilados nas quatro rodas com acionamento pneumático como no original, porém redimensionados de acordo com a exigência do novo desempenho e sistema de resfriamento por jato de água.
No final das contas temos um bólido de 1.300cv, que atualmente é o mais forte da categoria, com brutais 5.500Nm de torque, pesando 4.500kg, ante os 7.500kg do original, que chega a 240km/h sem emitir fumaça preta e além de tudo, freia muito sabe fazer curvas.
A equipe
A Mercedes-Benz comemora 10 anos de Fórmula Truck. Começou em 2001 com o modelo 1938-S, o primeiro eletrônico da categoria, e já foi campeão nesse mesmo ano com Wellignton Cirino, que repetiu o feito em 2003, 2005 e 2008.
O que se pode perceber em todos os envolvidos, mecânicos, chefes de equipe, patrocinadores e pilotos, é a identificação, todos se dedicam 100% ao esporte, ninguém está ali sem gostar do que faz.
O piloto Leandro Totti também anda com um Axor 2044, e apesar de não ser patrocinado pela montadora, conta com o apoio técnico da Mercedes-Benz. Durante os treinos pude acompanhar Franz ajudando Totti com acerto da injeção eletrônica.
O objetivo da equipe é ser competitiva, chegando sempre as últimas etapas entre os primeiros, com chances de ser campeã, e para isso, a regularidade conta muito. As pistas servem como um laboratório para a Mercedes-Benz, assim como a Fórmula 1 traz desenvolvimento para os carros de passeio e esportivos da marca, da Fórmula Truck sai muita tecnologia para os pesados.
A corrida
A etapa de Interlagos ocorreu durante o final de semana do dia 23 a 25 de Julho com muito sol e arquibancadas lotadas. Grande parte dos torcedores são funcionários de alguma empresa ligada ao esporte, o que fica muito interessante, pois cada setor da arquibancada tem seu favorito, e a torcida é grande.
A Mercedes-Benz lotou seu camarote VIP com mil pessoas e colocou na arquibancada reservada mais 1.500 funcionários que trouxeram cada um dois acompanhantes, ou seja, 4.500 pessoas, mais os ganhadores de sorteios nas redes de concessionárias, totalizando 8 mil pessoas.
O final de semana foi de muito trabalho para a equipe, pois houve uma quebra da trava do rolamento de embreagem do truck de Geraldo Piquet, que o deixou fora dos treinos livres de sábado, assim não foi possível conseguir o melhor acerto de suspensão para o treino classificatório, então foi copiado o do caminhão de Wellington Cirino, que também havia sofrido com vazamentos na pressurização da turbina.
Cirino se classificou na quarta colocação, ainda com problemas na pressurização, e Geraldo ficou com a 13° posição no grid, com dificuldade de adaptação a nova embreagem e ao acerto de suspensão, porém a espectativa era boa, pois os dois pilotos conseguiram participar do warm-up no domingo e conseguiram um bom desempenho.
Cirino chegou na 5ª posição ocupando um lugar no podium e Geraldo subiu quatro posições e cruzou a linha de chegada na 9ª posição. O vencedor foi Roberval Andrade, que agora é o maior vencedor de Interlagos, antes estava empatado com Cirino, com três vitórias cada.
Curiosidades
O reservatório do respiro do tanque também tem a função de evitar queda de óleo diesel na pista, o que danifica o asfalto.
Durante algum tempo se contestou a realização de provas de Fórmula Truck no autódromo, com a alegação de estragar a pista, devido ao seu maior peso, mas ficou provado que isto não é verdade, e que um fórmula 1 provoca muito mais esforço sobre o asfalto do que a Truck.
A Fórmula Truck atrai um público de cerca de 60 mil pessoas, sendo segundo maior público em Interlagos, perdendo apenas para a Fórmula 1.