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Inspeções técnicas realizadas em mais de mil carros, na cidade de São Paulo, apontam que mais de 85% dos veículos possuem algum defeito e mais de 70% apresentam problema grave envolvendo sistemas que afetam a segurança
Gestor do projeto, Aquiles reuniu e analisou os dados coletados entre 2008 e 2009 na estação de inspeção, e compilou um documento que avalia e dá um panorama das condições da frota de veículos paulistana, e que também deu origem a esta reportagem.
Em 1988 Pisanelli já havia implantado o primeiro centro de assistência técnica ao consumidor da indústria de autopeças, e em 1994 publicou seu “Manual de vistoria e inspeção de segurança veicular”. Atualmente é membro das comissões do trânsito, de bicicletas, de mobilidade e de segurança veicular da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos).
Os dados apresentados por Aquiles consideram apenas os defeitos ligados intrinsecamente à segurança veicular, ilustrados por meio de gráficos e tabelas onde é possível constatar que a maioria absoluta dos 1.500 veículos inspecionados (88%) apresentou algum tipo de defeito, sendo que 77% registrou pelo menos um defeito grave ou muito grave, conforme definições das normas.
Vale ressaltar que este trabalho, constitui-se no primeiro estudo das condições de segurança de veículos da frota brasileira, feito de forma continuada e controlada conforme a norma de inspeção de segurança veicular NBR-14040 – 1998, partes 3 a 10 e com os defeitos codificados conforme a norma NBR-14624 - 2000 da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Aquiles destaca que, de acordo com o relatório, apenas 177 veículos de todo o universo analisado não apresentaram nenhum defeito, e utiliza este dado para fundamentar sua tese de que o transito de São Paulo é muito perigoso: “A frota paulistana é composta por veículos potencialmente perigosos para trafegar no trânsito, pois podem causar diversos acidentes” disse.
Baseado nas informações coletadas, um dos gráficos mostra a evolução de defeitos conforme aumenta a idade e a quilometragem. Segundo Aquiles, era um argumento como este que faltava: “É uma demonstração inédita no Brasil que evidencia a urgência de providências para a implantação da Inspeção Técnica Veicular. Sempre foi falado, mas não havia comprovação. Agora é comentado baseado em fatos”, afirma.
Aquiles também foi responsável por montar a primeira empresa do Brasil a operar inspeção veicular com equipamentos eletromecânicos em 1994, que realizava a inspeção automatizada de veículos indicados pelo Detran, transformados ou recuperados de sinistros.
O processo utilizava equipamentos eletromecânicos, como por exemplo, medidor de alinhamento, medidor de funcionamento do sistema de suspensão, frenômetro (dinamômetro de freios), regloscópio (regulador dos faróis) e equipamentos para medir o funcionamento do motor.
Outras empresas realizavam esta mesma análise, mas o teste era feito dirigindo o veículo.
A estação de inspeção veicular – Na dinâmica de ação da Agenda do Carro, para realizar a inspeção, bastava apenas que o dono do carro agendasse um horário através de um número de telefone que foi divulgado na imprensa e comparecesse com o automóvel na estação de inspeção veicular no dia marcado.
A inspeção sempre era feita por técnicos de nível superior, acompanhados por engenheiros, ambos devidamente habilitados e qualificados, que seguiam todos os padrões da norma NBR 14040, específica para inspeção técnica veicular.
Cada inspeção tinha a duração média de cerca de 30 minutos, sendo verificados mais de 70 itens, conforme prevê a norma NBR-14040, partes 2 a 10, da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Durante a avaliação do veículo, era esclarecido aos usuários que a inspeção de segurança automotiva não era obrigatória e que estava sendo oferecida gratuitamente aos motoristas da cidade de São Paulo, que compareceram voluntariamente e realizaram a verificação do estado da manutenção do seu automóvel.
Os técnicos explicavam que essa iniciativa tinha a função educativa de conscientizar os motoristas quanto à importância da manutenção preventiva, como uma das maneiras de evitar que ficassem com o carro parado por causa de algum defeito mecânico, ou, o que é pior, que se envolvessem em algum acidente devido à falha de algum componente do veículo.
Após conclusão da inspeção, o proprietário recebia um relatório com as análises que informava a condição do veículo, e o técnico explicava qual a gravidade e as possíveis consequências que poderiam ser geradas, orientando o motorista a procurar o quanto antes uma oficina de sua confiança.
É importante destacar que essa iniciativa, além de alertar os motoristas sobre o estado de conservação de seus veículos, constitui-se em importante instrumento de coleta de dados estatísticos sobre a condição da frota paulistana, quanto à segurança veicular.
A seguir, são apresentados os principais dados colhidos nesse período.
Características da frota inspecionada
Os veículos inspecionados, em decorrência das características físicas da linha de inspeção, foram os chamados veículos Leves, como sejam: automóveis, caminhonetes, camionetas e utilitários.
O período abrangido por este levantamento é set/2008 a set/2009.
Quantidade de veículos inspecionados 1.453
Idade média dos veículos 8 anos
Quilometragem média 75.000 km
Veículos sem nenhum defeito 177
Veículos só com Defeitos Leves* 163
Veículos com pelo menos um Defeito Grave* ou Muito Grave* 1.113
Quantidade total de defeitos constatados 5.376
Quantidade média de defeitos por veículo: 3,7
(*) definições de defeitos “Leves, Graves e Muito Graves, vide norma NBR-14040-1998
Condição geral dos veículos - Incidência de defeitos
Uma primeira constatação, altamente preocupante, foi de que a maioria dos veículos (88%) apresentou algum tipo de defeito, tendo 77% dos veículos apresentado pelo menos um Defeito Grave ou Muito Grave em item de segurança, conforme definição da norma NBR-14040-1998 da ABNT.
Evidências da falta de manutenção preventiva
Outra importante constatação foi a de que o paulistano, apesar de estar em contato com uma grande massa de informações sobre manutenção preventiva através de mídia especializada, não dá a devida importância à manutenção preventiva. Assim, quanto mais velho ou maior a quilometragem, maior foi a quantidade de defeitos constatada.
Os gráficos a seguir demonstram esse comportamento de forma bastante clara:
Aquiles esclareceu que ao preparar esse documento sua intenção era mostrar a real condição da frota em São Paulo, e sensibilizar as autoridades para que transformem a inspeção ambiental em uma inspeção técnica de segurança e que as condições de segurança sejam avaliadas, não apenas as questões de emissões de gases como é hoje em dia, pois segundo ele “uma impede a morte a longo prazo e a outra impede a morte imediata”.
Dados do Instituto Cita (Comitê Internacional da Inspeção Técnica Automotiva) apontam que de 3 a 18 por cento dos acidentes são causados por falhas em componentes mecânicos. De acordo com Aquiles, no Brasil, anualmente são 50 mil mortes diretas no trânsito. Se o índice brasileiro de acidentes por falhas mecânicas ou elétricas for de 10%, 5 mil pessoas morreram por falhas mecânicas e/ou elétricas, o equivalente a 25 aeronaves Boeing A320.
Aquiles também apoia a atual Inspeção Veicular Ambiental, pois para ele a análise ajuda a melhorar a qualidade do ar e retira de circulação os veículos que estão poluindo demais, obrigando o conserto de veículos em más condições. Porém, acusa suas ineficiências.
“A avaliação feita atualmente só não é mais efetiva porque na capital circulam muitos veículos de cidades vizinhas onde também deveria haver, mas não existe uma inspeção veicular ou técnica”.
Para Pisanelli, além de uma avaliação veicular incompleta, incentivam a condição precária da frota paulistana a falta da inspeção técnica veicular e da cultura da manutenção preventiva: “O ideal seria que acontecesse como nos países da Europa e alguns das Américas, onde a legislação obriga que o motorista leve uma vez por ano os veículos para serem inspecionados e checar as condições de segurança de seu automóvel”, concluiu.