Notícias
Vídeos
Comunidades Oficiais

Consciência Ambiental do Reparador


REMOVER SUBTITULO MATERIA NÃO PUBLICADA

Por: Da Redação - 15 de maio de 2013

Nos últimos 20 anos quem nunca ouviu falar em “Sustentabilidade e Meio Ambiente”? O assunto se tornou frequente nos meios de comunicação, nas escolas, no trabalho, nas nossas oficinas. Hoje é comum pensarmos antes de adquirir um produto, de deixar a torneira aberta, onde descartar embalagens de plástico, e por aí afora

E o assunto começou a aparecer mais em 1992 quando o Rio de Janeiro foi palco da ECO-92, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Foi um evento com mais de 100 líderes de vários países, que possibilitou a criação da Agenda 21, um programa de ações em busca de um novo padrão de desenvolvimento ambientalmente racional, conciliando proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.

A pergunta que fica no ar é a seguinte: o que isso tem de relevante e importante para nós, Reparadores? Tudo!

Nós, Reparadores, participamos da cadeia automotiva e somos responsáveis por manter em funcionamento uma invenção humana que é importante no desenvolvimento econômico e que ao mesmo tempo deixa uma pegada ambiental muito grande: o automóvel. (Para entender o que é “pegada ambiental” veja o box.)

Nossa responsabilidade é grande. Reconduzimos os veí­culos às suas especificações originais de funcionamento através de reparos, melhoramos as condições de uso por meio de consertos, mas também executamos intervenções que eliminam ou reduzem os efeitos poluidores dos veículos.

E por falar em poluição, o tema é tão importante que todos os Reparadores, especialmente os da cidade de São Paulo e os do estado do Rio de Janeiro, conhecem os programas governamentais de Inspeção Ambiental Automotiva, que ajudam na educação dos proprietários sobre a importância da frota ser o menos poluidora possível.

Mas esse é apenas um dos muitos aspectos relacionados à sustentabilidade (vide box).

O setor de Reparação Automotiva adota cada vez mais boas práticas e procedimentos para eliminar, ou minimizar ao máximo possível, todos os efeitos de sua atividade no meio ambiente, reduzindo a sua pegada ambiental.

Práticas como a coleta de resíduos, descarte seletivo de componentes, economia de água, novas técnicas de trabalho, além da preocupação em passar informações aos proprietários dos veículos, ajudando-os a ser mais conscientes ambientalmente.

E o mais interessante é que a preocupação ambiental dos Reparadores é legítima e verdadeira.

Prova disso foi uma pesquisa realizada pela CINAU (Central de Inteligência Automotiva) durante o 1º Congresso do SINDIREPA Nacional realizado pelo SINDIREPA-SP no dia 20 de abril de 2013, com a presença de 600 Reparadores de todo o país. Utilizando um questionário de pesquisa padronizado, baseado na abordagem NEP - New Ecological Paradigm (Novo Paradigma Ecológico, desenvolvido originalmente em 1978 por Dunlap e Van Lieree, revisado em 2000 por Dunlap et al.), levantamos a percepção e o pensamento sobre a questão ambiental junto a 184 desses Reparadores, uma amostra representativa que nos permite inferir com erro máximo igual a 5%.

Por utilizar um questionário padronizado e validado mundialmente, os resultados encontrados permitem que a pesquisa feita com os Reparadores seja comparada com outras pesquisas, realizadas dentro e fora do Brasil.

Com base nos resultados obtidos, há uma percepção positiva dos Reparadores em relação às questões ecológicas, mostrando que a categoria é um universo com forte consciência ambiental.

Isso não quer dizer que tudo seja um mar de rosas. Há problemas, há resistências, há “verdades” ainda impregnadas de desinformação. Isso fica mais evidente nas faixas etárias mais avançadas, oriundas de uma época na qual a questão ambiental era sequer comentada.

Mas, quais resultados puderam ser observados na pesquisa?

A primeira análise se baseou em + pontos centrais, diretamente relacionados ao NEP, conforme propostos por Amburgey e Thoman em 2012: equilíbrio da Natureza, possibilidade de uma crise ecológica, rejeição ao excepcionalismo, limites do crescimento e rejeição ao antropocentrismo (dominação humana) para averiguar qual a visão dos Reparadores sobre a questão ambiental. É importante salientar que adotamos uma visão resumida do cenário e dos aspectos que cercam a questão ambiental, pois esse é um assunto vastíssimo.

Para demonstrar nossos resultados utilizamos uma “medida de posição”, mostrada como um ponteiro. Essa escala mostra a posição da resposta dos Reparadores um dos cinco tópicos. O ponto indicado pelo ponteiro deve ser interpretado como a posição na escala em que se encontram os níveis de discordância, neutralidade e concordância.

O que é pegada ambiental?

A pegada ambiental é uma ideia criada para nos ajudar a perceber a quantidade de recursos naturais que utilizamos para suportar o nosso estilo de vida, onde se inclui a cidade e a casa onde moramos, os móveis que temos, as roupas que usamos, o transporte que utilizamos, o que comemos, o que fazemos nas horas de lazer, os produtos que compramos, entre outros.

A pegada ambiental não procura ser uma medida exata mas sim uma estimativa do impacto que o nosso estilo de vida tem sobre o Planeta, permitindo avaliar até que ponto nossa forma de viver está de acordo com a sua capacidade de disponibilizar e renovar os seus recursos naturais, assim como absorver os resíduos e os poluentes que geramos ao longo do anos.

Equilíbrio da natureza

É o estado em que as relações entre todos os seres vivos e a Terra permanecem em harmonia, não havendo perturbações que levem ou resultem em alteração dessas relações.

Ou seja, deve-se entender por Equilíbrio da Natureza como a preservação de tudo quanto existe no planeta, desde os recursos minerais, que são finitos, até à existência e preservação de múltiplas espécies em um ambiente natural como condição de equilíbrio ambiental, o que implica medidas de preservação de espécies raras e em extinção. Esse último aspecto, a preservação das espécies, significa Biodiversidade.

No caso, a posição indica que o público avaliado encontra-se em um ponto um pouco próximo da concordância em relação à necessidade de haver equilíbrio na Natureza.

Possibilidade de uma crise ecológica

É a chance de que possa acontecer uma crise de tal proporção que todos os seres vivos seriam atingidos em suas consequências danosas, e o meio ambiente entraria em crise por conta de uma perturbação no equilíbrio ambiental.

Como há concordância sobre a necessidade de se manter o equilíbrio, qualquer fato que quebre esse equilíbrio desencadearia uma crise ecológica, que pode ser temporária ou pode ser permanente como uma mudança permanente no planeta, como é o caso do Mar de Aral, que hoje possui apenas 10% de seu volume no passado por causa de uma ação do homem em desviar o curso de dois rios que alimentavam esse mar.

A possibilidade de uma crise ecológica é vista, pela maioria dos Reparadores, como sendo algo com grande possibilidade de ocorrer.  Ou seja, os Reparadores concordam que há um risco de ocorrer uma crise no meio ambiente.

Rejeição ao excepcionalismo

Excepcionalismo, neste contexto, é a ideia de que o homem é uma exceção, é especial e que é infalível em suas ações. Rejeitar essa ideia é tirar esse aspecto de excepcionalidade do homem e ponderar que sempre há riscos em tudo o que o homem faz. No fundo, rejeitar o excepcionalismo é aceitar que o homem erra.

Como vimos acima, no exemplo do Mar de Aral, o homem, apesar de toda a tecnologia existente, não é infalível.  Uma simples mudança do curso de dois rios para irrigar plantios de algodão causou uma crise de tal tamanho que um mar, que possuía uma área igual a do estado do Rio de Janeiro e de Alagoas juntos, hoje está a secar e já é quase um deserto.

Vemos que a maioria dos Reparadores aceita em rejeitar a ideia do excepcionalismo. Ou seja, eles aceitam a ideia de que o homem não é excepcional em relação aos demais seres.

Limites de crescimento

Aqui medimos a opinião dos Reparadores sobre o quanto a Terra pode suportar e atender naquilo que lhe é exigido, solicitado, extraído e utilizado. Ou seja, quanto o planeta pode suportar sem entrar em colapso.

Pelo resultado mostrado vemos que os Reparadores apresentam total concordância em que estamos no limite suportável de crescimento.

rejeição ao antropocentrismo

Antes de analisarmos esse tópico precisamos deixar claro que não entraremos no mérito moral da questão. Aqui, procura-se verificar em que grau a ideia de que o homem é o centro de tudo é rejeitada ou não.

Em resumo, a pesquisa procurou avaliar o grau de aceitação ou rejeição da ideia de que o homem é o centro do universo.

 Com base no resultado mostrado, podemos notar que a ideia do antropocentrismo apresenta neutralidade da maioria dos Reparadores. De um lado, há os que rejeitam a ideia de que o homem é o centro de tudo, mas de outro lado há os que acreditam que o homem é o centro do universo e que tudo o que existe nele está subordinado à sua vontade e necessidades.

Finalmente pudemos analisar todo o conjunto de respostas e verificar que os Reparadores participantes da pesquisa tendem a se posicionar entre concordar e concordar totalmente no Novo Paradigma Ecológico, como podemos verificar no infográfico abaixo:

 Mas, por fim, o que isso quer dizer ao mundo e à sociedade sobre a nossa realidade?

O ponto importante a ser destacado aqui é que os Reparadores pesquisados, de diferentes estados do Brasil, demonstram fortemente uma preocupação ambiental e se posicionam positivamente frente aos desafios impostos ao crescimento sustentável, garantindo a utilização dos recursos naturais existentes por nós e por nossos descendentes.

Nossa maior preocupação é com relação às práticas nas oficinas e nos lares. Será que estamos dando destinação correta às peças, lubrificantes, produtos químicos, embalagens e outros detritos? Será que já adotamos de forma duradoura a coleta seletiva de lixo em casa e nas oficinas? Na hora de decidir sobre a compra de uma televisão nova, com todos os recursos possíveis LED, 3D, full HD, etc, já temos claro qual será o destino da televisão antiga ou vai para o meio da rua mesmo?

Se você tiver algum exemplo positivo, algum caso de sucesso em relação ao meio ambiente e a sustentabilidade que queira compartilhar, especialmente o que você pratica em sua Oficina e que possa servir de exemplo aos demais profissionais, mande para nós que teremos imenso prazer em compartilhar com todos os leitores.

Sustentabilidade

De uma maneira ampla, a sustentabilidade é definida como as ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Além dessa definição, também é comum escutarmos sobre os três pilares da sustentabilidade: econômico, ambiental e social. No pilar econômico, além dos aspectos contábeis como lucros e perdas, há também uma preocupação com a demanda dos produtos e serviços no futuro e de seus custos, além do preço e da margem de lucro.

No pilar ambiental, além dos relatórios e auditorias de normas como a ISO 14.001, as empresa devem produzir relatórios ambientais que considerem as tendências de utilização de energia, produção e reciclagem do lixo e o uso de tecnologias mais eficientes.

O pilar social inclui o teste de produtos em animais, salários e condições de trabalho, direitos humanos, impacto sobre populações indígenas, direitos das mulheres, dentre outros.

Ser sustentável é uma questão estratégica. Não diz respeito só ao uso dos recursos naturais e conservação do meio ambiente mas envolve aspectos econômicos e sociais também.

natureza criseecologica paradigmaecologico rejeicaoexcepcionalismo
limitescrescimento antropocentrismo

Referências:

AMBURGEY, J. W.; THOMAN, D. B. Dimensionality of the new ecological paradigm: issues of factor structure and measurement.Enviroment  and Behavior. v. 44, n. 2, p. 235-256, mar. 2012.

DUNLAP, R. E.; VAN LIERE, K. D. The “new environmental paradigm”: a proposed measuring instruments and preliminary results. The Journal of Environmental Education, v. 9, p. 10-19, 1978.

DUNLAP, R. E. et al. Measuring endorsement of the new ecological paradigm: a revised NEP scale. Journal of Social Issues, v. 56, n. 3, p. 425-442, 2000.