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Volkswagen TL, sopro de estilo e elegância para concorrer no disputado segmento de médios


Baseado na plataforma da Variant e substituto do malfadado “Zé do Caixão” o TL trouxe estilo e personalidade, além de espaço para bagagem

Por: Anderson Nunes - 15 de junho de 2015

A primeira geração do TL, 1971, trazia faróis duplos e piscas iguais aos utilizados no “Ze do Caixão”

No final da década de 1960, o Fusca já era um fenômeno intocável de vendas e aceitação nacional, já a Kombi reinava absoluta em um segmento praticamente sem concorrentes e a Volkswagen dominava com folga as vendas no Brasil, com mais de 70% de participação.

Entretanto, o mercado brasileiro começava a se mexer com relativa rapidez para o início dos anos de 1970, com a chegada de novos modelos e fábricas. Um segmento que prometia era os dos modelos médios. Ciente dessa mudança mercadológica, o fabricante de São Bernardo do Campo já começava a vislumbrar que, para aumentar sua cota de participação no mercado doméstico, seria necessário ampliar sua gama de veículos. O estudo inicial apontou para os modelos baseados em projetos da matriz alemã, mais precisamente na família conhecida como Tipo 3. 

A primeira criação dessa nova família de médios com propulsor a ar foi o Volkswagen 1600 quatro portas, apresentado em dezembro de 1968, no VI Salão do Automóvel. Nas propagandas a Volkswagen destacava os mesmos atributos do “besouro”, como robustez e facilidade de manutenção, entretanto o estilo controverso e de linhas retas acabou rendendo ao modelo o apelido de “Zé do Caixão”, isso acabou por criar uma rejeição ao VW de quatro portas perante o consumidor brasileiro. Somente os taxistas o receberam bem, pois reunia duas características primordiais nesse tipo de serviço: mecânica confiável e as quatro portas.

O segundo membro dessa família surgiu em 1969, com o lançamento da perua Variant, igualmente derivada do Tipo 3, mas, desta vez a filial brasileira trouxe a “receita alemã” e tratou de adotar na Variant o motor 1600 de turbina plana e alimentado por dois carburadores, abandonando a receita de turbina alta empregada e um único carburador no VW 1600 quatro portas e no Fusca. Devido ao tipo de construção do motor da Variant, o modelo apresentava dois compartimentos de bagagem, o dianteiro e outro sobre o motor.

Ao contrário do “Zé do Caixão”, a Variant desde o início da sua comercialização agradou a todos, obtendo bons índices de vendas. Isso possibilitou a VW começar a estudar o substituto do modelo 1600 quatro portas. O caminho estava aberto e mais bem delineado agora.

SUBSTITUTO DE ESTILO

O motor de 1600 cm³ acabou por se tornar nome de uma família de médios da Volkswagen / Adesivo Dacon é símbolo uma renomada concessionária da VW que fez sucesso entre os anos 70 e 80

Em agosto de 1970, era lançado o fastback TL, ou Touring Luxe, ampliando a família de modelos VW 1600. O TL era baseado no projeto alemão apresentado em 1966, mas a versão brasileira apresentava linhas mais retas que o similar germânico. Se o “Zé do Caixão” acabou por se tornar um fiasco comercial, a dupla Variant e TL conseguiu conquistar uma boa fatia de mercado durante a primeira metade da década de 1970.

Maçanetas cromadas traziam um cuidado estético comum à época / Ao contrário do “Zé do Caixão”, o TL já trouxe os duplos faróis

As lanternas traseiras dividas em três seções já estavam de acordo a legislação vigente no inícios dos anos 70 / O famoso retrovisor “raquete” virou uma assinatura dos modelos Volkswagen

O TL trazia o mesmo visual dianteiro da Variant, apelidado de “frente alta”, mas já nasceu com os quatro faróis redondos com molduras cromadas ao redor. Um dos motivos para o TL ter agradado desse o sua aparição foi o estilo fastback muito apreciado pelo consumidor naquele início de década. O modelo media 4,24 metros de comprimento, trazia entre-eixos de 2,40 m e pesava 920 kg. Assim como a Variant trazia o motor de quatro cilindros tipo boxer refrigerado a ar de 1.584 cm³. Alimentado por dois carburadores Solex-Brosol de 32 mm, desenvolvia potência de 54 cv líquidos a 4.600 rpm e torque máximo de 12 m.kgf a 3.000 rpm. Esse tradicional conjunto mecânico propiciava uma velocidade máxima de 137 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em torno dos 20,9 segundos.

INTERIOR ACONCHEGANTE

No interior, destaque para o painel imitando jacarandá e o volante apelidado de “cálice” / O TL oferecia um bom espaço para os passageiros de trás, quando comparado à Variant

Internamente o TL seguia o mesmo padrão de acabamento dos demais modelos da família 1600. Os bancos dianteiros revestidos em courvim preto são bastante confortáveis. Já os passageiros de trás usufruem um pouco mais de espaço se comparado à Variant e ao 1600 quatro portas. Quando comparado à Variant, o TL traz assentos e encostos mais inclinados. Além disso, há mais espaço nas laterais porque não há as travas e dobradiças que na Variant servem para dobrar o encosto traseiro. Quanto ao modelo 1600 quatro portas, o TL levava vantagem já que o tanque de combustível foi instalado no porta-malas dianteiro, ao contrário do “Zé do Caixão”, que tinha o tanque posicionado atrás do encosto do banco traseiro. 

Embora simples os instrumentos têm uma grafia elaborada, relógio era opcional

 

O volante traz um diâmetro um pouco exagerado de 40 cm e ao centro brasão da cidade de São Bernardo do Campo. O painel é revestido de um aplique que imita jacarandá e os instrumentos resumem-se ao marcador de combustível à esquerda, velocímetro ao centro e relógio de horas a direita. Destaque do TL é mesmo quanto ao aproveitamento de espaço por conta dos dois porta-malas. Se para uma perua os dois compartimentos para bagagem são algo inusitado, em um modelo fastback a novidade é mais evidente.

O TL apresentou bons índices de vendas nos primeiros quatro meses de mercado, de meados de agosto a dezembro de 1970, o modelo alcançou vendas totais de 13.500 unidades. E mesmo tendo alcançado seu objetivo, a Volkswagen já trabalhava num futura reestilização frontal para a dupla Variant e TL, além da introdução de um TL de quatro portas.

CURTO SUCESSO
As vendas do TL superaram as expectativas da Volkswagen, o modelo agradou os consumidores e mostrou de imediato a superioridade sobre o “Zé do Caixão”. As vendas totais do TL para 1971 ficaram em 40 mil unidades. Entretanto a concorrência ficou mais acirrada com a chegada do Ford Corcel, que em sua versão cupê de duas portas acabou por conquistar uma legião de fãs, que somados à versão sedã de quatro portas vendeu 120 mil unidades.

A traseira caída era um recurso de estilo em alta nos anos 70 e ao TL conferiu um desenho sedutor / Rodas aro 15, calotas cromadas e pneus Pirelli

Para reverter esse quadro foi adotada uma estratégia de mercado muito usada nos dias atuais, a Volkswagen resolveu se preparar para a chegada de novos modelos ao mercado antecipando em alguns meses a linha 1972. Foi durante a realização da Exposição da Indústria Alemã, em São Paulo, no Parque do Ibirapuera, que aconteceu entre os dias 24 de março a 4 de abril de 1971 que o presidente mundial da Volkswagen, Kurtz Lotz, exibiu pela primeira vez à imprensa local os novos Variant e TL com a frente modificada, além do futuro esportivo SP.

Motor 1600 de turbina plana era uma das novidades do TL que possibilitaram a criação do segundo porta-malas

As novidades eram a chegada da nova dianteira com novos faróis embutidos dentro de uma caixa plástica, o emblema da VW ladeado por dois pequenos frisos cromados. A nova frente trouxe um perfil mais reto e baixo com o capô apresentando uma discreta nervura. Os para-choques passaram a ser de uma única lâmina, sendo que as luzes dos piscas ficaram alojadas nas extremidades do para-choque. Internamente não houve mudanças, sendo que Variant ganhou um vidro laterel inteiriço.

Na linha TL outra novidade ficou por conta da chegada do modelo de quatro portas, uma exclusividade do mercado brasileiro. Com essa versão a Volkswagen queria trazer de volta os consumidores do “Zé do Caixão”, que havia deixado de ser fabricado no início de 1971. Apesar do novo visual e da chegada da versão quatro portas ao portfólio do TL, infelizmente suas vendas não reagiram como o esperado, ficando na casa das 22 mil unidades comercializadas em 1972.  Falaremos mais sobre a família Volkswagen 1600 a ar nas próximas edições.

CARACTERÍSTICO CHEIRO DO INTERIOR
O engenheiro Alexandre Piedemonte já é um conhecido da seção Fundo do Baú. Na última edição do jornal seu Dodge Polara 1979 automático ilustrou nossa publicação.

As fendas laterais para refrigerar o motor davam um charme à lateral traseira

Apaixonado por veículos antigos, foi com o Volkswagen TL 1971 que ele deu início a sua coleção. O carro chegou a sua garagem há dois anos e foi adquirido na loja de um amigo que trabalha com veículos antigos. “Esse TL foi adquirido na loja de um amigo por R$ 14 mil e o que me chamou a atenção foi o estado de conservação e originalidade atestados pela placa preta. Outro fato que me fez comprá-lo foi relembrar a minha infância a bordo de um TL e seu característico cheiro interior”, relembra Piedemonte.

O VW TL do engenheiro é ano 1971, ou seja, último ano em que o modelo saiu com a chamada “frente alta”. O veículo guarda todas as características originais de fábrica como faróis, lanternas, bancos revestidos em courvim, aplique no painel imitando jacarandá e até as borrachas de vedação dos vidros na cor branca.

Alexandre Piedemonte diz que não se desfaz do automóvel, a não ser que receba uma proposta para venda. “No momento penso em vender um modelo da minha coleção e aceitaria uma proposta de alguém que além de gostar de carros antigos saiba preservar bem o veículo”, esclarece o proprietário.

Como todo VW a ar, havia um amplo porta-malas dianteiro com estepe posicionado na vertical / O porta-malas traseiro era uma vantagem do TL e agradou o consumidor no lançamento

Agradecimento:
S.E. Veículos – Taubaté