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Símbolo de status e classe, o Aero-Willys foi um dos carros mais caros e sofisticados nos anos 60


O Aero-Willys nasceu junto com a indústria automotiva tupiniquim e representou com elegância os primórdios dessa fase. Começou sendo um Willys, acabou sendo um Ford

Por: Anderson Nunes - 13 de março de 2015

O Aero-Willys 2600 foi um projeto exclusivo para o mercado brasileiro, sendo um dos carros mais belos dos anos 60A Willys-Overland Company alcançou sua consagração definitiva durante a II Guerra Mundial, por intermédio do seu bravo soldado, o Jeep, que acabou recebendo as devidas condecorações pela sua bravura e valentia nos campos de batalha e projetando o nome Willys aos quatro cantos do planeta.

Entretanto, o que poucas pessoas sabem, é que o nome Willys-Overland já era brasão de uma das empresas automobilísticas mais renomadas dos Estados Unidos ainda no início do século XX, mais precisamente no ano de 1902. Nesse ano um pequeno monocilíndrico deu fama a uma diminuta empresa chamada Overland Motor CarCompany, divisão da Standard Wheel Company. 

Em 1908 JonhWillys, um bem-sucedido empresário do ramo de loja de automóveis, adquiriu a Overland e mudou a razão social para Willys-Overland Motor Company. O novo empresário coloca o caixa da empresa em ordem e já em 1909 lança um veículo de seis cilindros, o WillysSix, que alcançou um alto sucesso, sendo que somente naquele ano a Willys pôs nas ruas 4 mil exemplares. Entre 1912 a 1918 a Willys-Overland foi a segunda maior fabricante de carros dos Estados Unidos, depois da Ford. 

Devido à recessão provocada pela grande depressão de 1929, as finanças da Willys foram afetadas e a empresa precisou se readequar e cortar custos. Foi o modelo Willys 77 com motor de quatro cilindros que conseguiu dar um fôlego extra à empresa, até o início da II Guerra Mundial. Ao ajudar o Tio Sam nos esforços de guerra, a Willys viu sua fábrica ser absorvida por completo para as entregas do seu utilitário de campanha, com tração nas quatro rodas, para fins militares.  Salto evolutivo veio em 1963, quando o nome do modelo ganhou o sufixo “2600”, alusivo ao tamanho do motor / Maçanetas cromadas de puxar eram algo típico dos anos 60Com o fim do conflito armado a Willys pode oferecer o Jeep a produtores rurais, afim de ser um substituto dos tratores. O único automóvel de passeio que a empresa oferecia era o modelo 6-70, de motor de seis cilindros e 70 cv. No começo dos anos 50, a empresa foi reorganizada como Willys-Overland Motors, e começa os estudos para um novo veículo de passeio com linhas modernas, prático e de mecânica robusta. 

Em 1952 é apresentado ao público o Aero, obra do projetista ClydeParton, ex-engenheiro-chefe da Packard. Um dos avanços estreados pelo Aero era sua estrutura monobloco, apelidada de Aero-Frame, daí o nome Aero.   Colunas estreitas e amplo para-brisa conferiam uma ótima visibilidade ao motorista / Em 1965, a traseira do Aero-Willys foi alongada, o que conferiu uma evolução de estilo ao modeloPrimeiramente foi oferecido na versão sedã duas portas, com motor de seis cilindros. Em 1953 chegam ao mercado a carroceria de quatro portas e um cupê de duas portas hardtop. Os carros receberam os nomes de Aero mais sufixo Lark, Wing, Ace e Eagle. Ainda em 1953 a Willys é absorvida pela Kaiser-Frazer Corporation, do grupo Kaiser Industries, mudando novamente a sua razão social para Willys Motors Company.

Com a fusão, os modelos Aero passam por atualizações mecânicas: agora podiam ser equipados com motor Kaiser, câmbio automático da Hydramatic e direção com assistência hidráulica. Entretanto mesmo com esses aperfeiçoamentos as vendas não reagem. Surgem os modelos Custom de quatro portas e Bermuda cupê de duas portas. Amplo porta-malas trazia o carpete com nome Aero-Willys bordado / O desenho do retrovisor tinha uma função mais estética do que funcionalUm dos motivos para o declínio nas vendas era que o consumidor local encarava o Aero como um modelo compacto, e nos anos 50 os grandes carros com seus rabos de peixe e cromados em profusão eram o sonho de consumo de uma efervescente classe média norte-americana. 

Assim em 1955 a Kaiser decide por fim em sua subsidiária Willys, transferindo para baixo do seu guarda-chuva a produção de Jeep, que aumentava ano a ano. Durante os três anos em que ficou em produção, a linha Aero vendeu 92.046 unidades nos Estados Unidos.  

Brasão Willys era fixado na coluna traseira / A eliminação das pestanas sobre os faróis deu um ar mais elegante à dianteira

AERO VERDE E AMARELO
A Willys Overland do Brasil S.A. foi fundada no Brasil em 26 de abril de 1952, em São Bernardo do Campo, SP. As atividades foram iniciadas em 1954 com a montagem do Jeep Willys, que aqui recebeu o nome de Jeep Universal. Em 31 de janeiro de 1958 foi produzido o primeiro motor a gasolina, o Hurricane.

As grandes lanternas davam um ar imponente à traseira do Aero-Willys

Ainda em 1958 a Willys deu início aos estudos para a produção do Aero-Willys em território nacional. Uma série de testes foram feitos visando adequar o modelo às nossas condições de pavimentação e clima. Em 25 março de 1960 a Willys apresentava o Aero-Willys, com 85% do seu conteúdo nacionalizado. O modelo brasileiro era muito parecido com os Aero norte-americanos de 1955. 

Para os padrões brasileiros, o Aero-Willys era um veículo grande e concorria com o SimcaChambord e FNM JK 2000, pelo mercado de luxo. Seu desenho apresentava um perfil aerodinâmico, com painéis laterais largos e simples, cofre do motor e porta-malas mais baixos que os pára-lamas e uma ampla área envidraçada, características inovadoras para a época. 

O visual era discreto e elegante, na dianteira uma grade simples e bem dimensionada fazia par com os faróis redondos. Na lateral o destaque era o friso em “Z” que percorria toda a lateral e dividia a pintura em dois tons, famosa saia-e-blusa. O destaque, entretanto, ficava para os ressaltos nas lanternas traseiras e a tampa do porta-malas com desenho bem harmonioso. 

As dimensões externas ficavam em 4,70 m de comprimento, 1,82 m de largura e 2,74 m de distância entre eixos. Podia transportar em seu interior seis passageiros com relativo conforto em suas duas poltronas inteiriças. O acabamento de um modo geral apresentava tecidos de boa qualidade e bem executados. Como opcionais havia rádio e estofamento em couro. 

A mecânica não apresentava novidades, o sedã era impulsionado pelo conhecido motor de seis cilindros em linha, o mesmo do Jeep. Deslocava 2638 cm³ e produzia 90 cv e sua taxa de compressão é 7,6: 1. Alimentação ficava a cargo de um carburador DFV de corpo simples. A potência era transmitida às rodas por uma caixa de câmbio manual de três machas, sendo a 1º não sincronizada. 

O modelo não era nenhum expoente em desempenho, pois pesando 1.440 kg atingia velocidade final de 120 km/h e fazia de 0-100km/h em 18 segundos e consumia 7km/l de gasolina. Todos esses dados podiam ser aferidos no pequeno mostrador circular que englobava velocímetro, medidor de nível de combustível e temperatura do motor e luzes-espias.  

Motor de seis cilindros era alimentado por dois carburadores e fornecia 110 cv / Luzes de leitura eram fixadas nas colunas centrais

Em 1962 o Aero-Willys obteve bons índices de vendas e reconhecimento, e nesse ano a Willys decidi atualizá-lo no visual e na segurança. Na estética, os frisos laterais passaram a serem retos, novas lentes para a luz de ré, novas calotas, nova maçaneta na tampa do porta-malas e a retirada do friso e ornamento no capô. Detalhe curioso era o símbolo “W” que ornamentava o volante. 

Internamente o painel passou a ser acolchoado, nova disposição dos botões, novos assentos com duas bolsas atrás do encosto dianteiro, novas forrações dos bancos e portas, maçanetas e manivelas com desenho menos saliente. Na segurança sistema de freio foi revisto, rodas perfuradas e pneus de medida 6.40 R15 de 4 lonas. Painel recebia revestimento em madeira de jacarandá maciço, além de ser acolchoado / Os passageiros de trás eram recebidos por um amplo assento revestido em couroEssas seriam as últimas atualizações feitas no Aero “bola”, como ficou conhecida essa versão, pois em setembro de 1962 a Willys apresentaria um Aero-Willys totalmente novo baseado nos estudos do “Projeto 213”. Chamado de Aero-Willys 2600 trazia linhas retas e um motor alimentado por dois carburadores.

AERO QUADRADO
Em setembro daquele ano era apresentado o Aero-Willys 2600 modelo 63: totalmente redesenhado por estilistas brasileiros, liderados pelo estilista Brook Stevens. O modelo foi mostrado ao público com sucesso no III Salão do Automóvel, em São Paulo.

Sua estrutura era a mesma do modelo anterior, mas com carroceria inteiramente nova. O motor era o seis-cilindros, agora alimentado por dois carburadores acoplados a um novo coletor de admissão, o que elevou sua potência para 110 cv brutos a 4.400 rpm. No interior o painel revestido de madeira jacarandá trazia três mostradores de funções acopladas, acendedor de cigarros dentro do cinzeiro e limpador de pára-brisa elétrico.Preocupação com estilo era visível até no acabamento das portas com trincos cromados / O quadro de instrumentos do Aero-Willys era completo e decorativoA Willys sabia que o ponto alto do desenho do Aero era sua traseira e, nos modelos 65, os desenhistas resolveram encompridá-la, para dar mais harmonia. Inverteram a posição das lanternas e a tampa do porta-malas recebeu outro estilo, seguindo o desenho reto da carroceria. Entre itens mecânicos, foram aperfeiçoados os freios, com a colocação de tambores mais leves, a suspensão dianteira e o câmbio, de quatro marchas sincronizadas. Como nos modelos de três marchas, a alavanca ficava na coluna de direção. A trava de ré era liberada por um botão no centro da manopla.

Ocupando a quarta posição na fabricação de veículos, a Willys começava a despertar interesse em outras marcas. Ainda em 1967 a Ford adquiria o controle majoritário das ações da Willys Overland. Com a absorção da empresa, em 1969 a razão social era alterada para Ford-Willys do Brasil S.A. E nesse ano a influência da Ford começava a ser sentida nos produtos Willys: Aero recebeu um motor mais potente, com 130 cv.Rádio original integrado ao painel / No encosto do banco há portas-revistas, além de um cinzeiro com acendedor de cigarrosEm 1970 o Aero-Willys recebeu o motor de 3 litros do Itamaraty. Esteticamente não foram feitas grandes modificações – o Aero mantinha a frente inalterada, mas ganhou novas calotas e o sistema de freios agora era oriundo do Galaxie. No interior o painel recebeu apliques em plástico preto e novos revestimentos. E sofrendo concorrência interna com a chegada do Galaxie, as vendas dos modelos começavam a declinar ano a ano, apesar das reduções de preço feitas pela Ford.

A traseira é uma das partes mais bonitas do Aero-WillysA despedida do Aero deu-se em 1971. Durante os 11 anos de produção, foram feitos 99.621 Aero-Willys. Porém o motor de 3,0 litros seria usado dois anos depois no Maverick. Com o fim dos dois modelos, desapareciam dois ícones dos primeiros anos da indústria automobilística brasileira.

RARO NOS DIA DE HOJE
O empresário José Lafaiete Vicente é um apaixonado por carros desde a sua infância. O Aero-Willys 2600, ano 1966, faz parte de sua coleção, que ainda tem um Escort XR3 conversível 1985 prata, além de um Fusca 1967 branco.

Lafaiete nos contou que o Aero-Willys foi adquirido por intermédio de amigo que indicou o carro. “Meu amigo sabia que eu tinha vontade de ter um Aero-Willys pela história do modRodas com calotas e pneus estreitos com faixa branca  elo e por ser um veículo raro de ver nas ruas”, disse o empresário.

O Aero havia acabado de passar por uma restauração, logo não foi necessário fazer nada. “Devido ao ótimo serviço feito na restauração, eu só tive que curtir o carro assim que o comprei. O único item que não é original são os cintos de segurança”, diz Lafaiete.

O empresário faz questão de frisar que todos os itens do carro funcionam normalmente, como o rádio original. Além disso o motor traz no coletor de admissão o selo “Fundido em Taubaté”. Para quem não sabe, os motores dos Aero-Willys eram feitos na fábrica de Taubaté que hoje é a unidade de motor e transmissão pertencente à Ford.