A história automotiva contada em décadas em um rico acervo que irá possibilitar aos visitantes conhecer os detalhes, aspectos tecnológicos e os veículos mais importantes da indústria automobilística mundial. Essa é a experiência proporcionada pelo Box 54, o maior complexo de carros antigos do Brasil, inaugurado em novembro de 2014. A mostra permanente, com ícones de diversas marcas, pode ser visitada em sua sede, a 54 km de São Paulo, na cidade de Araçariguama, interior do São Paulo.
Com uma área coberta de 7500 m², o Box 54 conta com três galpões, divididos em uma exposição permanente com 54 veículos e 6 motos, outro lugar dedicado à venda de veículos e a “carina”, nome que une os termos Carro e Marina, dado se a área em que ficam os carros dos clientes que alugam o espaço para guardar suas preciosidades. Nesse recinto mais de 200 vagas de garagem são oferecidas. Também há serviços estéticos e de manutenção como cromeação, tapeçaria, funilaria e mecânica, cuidados que são ofertados somente aos clientes que alugam vagas.
No amplo pátio também pode ser realizados encontros de clubes de carros bem como eventos corporativos. O local pode comportar eventos de até 4 mil pessoas. A infra-estrutura contempla galpão multiuso de 2500 m², plenária climatizada de 400m² com kit multimídia; cozinha de apoio; camarim e heliponto.
Outra curiosidade relacionada ao Box 54 é a sua preocupação ambiental, já que eles produzem sua própria energia. No local estão instalados 600 módulos fotovoltaicos. Essa tecnologia consiste em converter a energia solar em energia elétrica. Cada um desses módulos produz 150 kWp (quilowatts pico) e juntos produzem 226.234 kWh de energia por ano, ou o suficiente para abastecer 125 casas. Toda essa ação ecológica significa que o Box 54 deixou de emitir 228 CO² na atmosfera, traduzido em números corresponde a plantar 68 árvores por ano durante 30 anos.
HISTÓRIA DO ACERVO
O Box 54 nasceu da paixão do empresário Marcos Cardoso pelos seus carros antigos. Colecionador de automóveis desde os 13 anos quando adquiriu seu primeiro carro, um Ford Prefect 1949, o entusiasmo desde então só fez aumentar sua coleção. Entretanto quanto mais veículos ele adquiria mais seus problemas com vagas e manutenção aumentava, a ponto de possuir carros em vários locais diferentes. “Chegou um determinado momento em que os carros do meu pai estavam metade em estacionamentos, ocupando vaga no apartamento da filha; amigos, garagem de vizinhos”, explicou Luis Cardoso, filho do empresário e que acompanhou o jornal Oficina Brasil durante a visita.
Fundamentado em suas experiências pessoais relacionadas aos inconvenientes que enfrentou com sua coleção de carros antigos, o empresário Marcos Cardoso decidiu então colocar à disposição do mercado mais de 200 vagas para abrigar com qualidade os veículos dos também apaixonados por carros antigos e especiais. Todos os veículos que alocam o espaço contam uma ficha de cadastro na qual são marcados os dias em que foram ligados, saíram para passeio ou não.
Além disso também são feitas manutenções periódicas de fluidos como água do radiador, óleo do motor, câmbio e direção. Há também rotatividade dos pneus, além de serem sempre calibrados para evitar sua deformação. Para cuidar de todos os veículos a parte de oficina do Box 54 conta com dois mecânicos, mais um colaborador externo especialista em carros ingleses. “Para os automóveis ingleses como Rolls-Royce, nós contamos com a colaboração de um mecânico especialista nesse tipo de veículo, já que eles têm diversos componentes únicos e a manutenção é mais complicada”, explicou Luis.
O grande chamariz do Box 54 é oferecer aos clientes passeios ao volante ou de carona a bordo de clássicos como Rolls-Royce ou de muscle cars como o Ford Mustang. Já para os amantes dos superesportivos modernos há possiblidade de escolher a Ferrari F360 Modena, Porsche 911 Carrera e Dodge Charger R/T. Toda essa experiência é acompanhada por um guia da Drive 4 Fun, que orienta e explica todos os recursos disponíveis no automóvel.
PASSEIO PELA HISTÓRIA DO AUTOMÓVEL
A história da mobilidade humana começa a ser descrita logo na entrada com as boas vindas de uma motocicleta BMW R-60 e seu tradicional motor boxer de dois cilindros de 600 cm² e 28 cv e transmissão por cardã. A R-60 tinha como características principais trazer apoio para side cars e quadros tubular de aço duplex.
Ambos os modelos foram os primeiros a serem adquiridos por Marcos Cardoso e deram início a sua paixão por colecionar carros e motos.
A história do automóvel tem início com dois belos exemplares do Ford T: um 1911 preto e o azul 1914. Chamam a atenção os pneus ainda brancos e os faróis a carbureto. O Ford T deu início à fabricação em série e ensinou o mundo a dirigir; foi eleito “Carro do Século”. O motor de quatro cilindros em linha de 2900 cm³ e parcos 17 cv de potência levavam o valente fordinho aos impressionantes 75 km/h. Como bem descreveu o saudoso jornalista automotivo José Rezende Mahar sobre o Ford T: “Há cem anos, 90% da humanidade nunca tinha se afastado mais de 30km de casa. Com o barato Ford Modelo T, homens comuns puderam comprar um carro e ver o outro lado da montanha”.
O passeio pela linha Ford continua com os modelos Ford A Phaeton e Tudor (2 portas) Sedã. Esse carro ficou conhecido no Brasil como “Cristaleira” devido à capota fixa e às amplas janelas laterais. São raros em terras verdes e amarelas por causa do clima tropical, mas em países como os Estados Unidos e Europa foram mais aceitos devido ao inverno mais rigoroso. O modelo A foi primeiro Ford a usar o conjunto padrão de pedais com a embreagem à esquerda e freio e acelerador. Ao lado o curioso furgão de entrega Chevrolet 1925, em que o baú de carga era todo confeccionado em madeira, mantendo somente a frente em aço.
Já o Buick Roadster 1929 exibe toda sua imponência com farto uso de cromados, faróis auxiliares e para-choques maciços em aço. O modelo era dirigido à elite da época e trazia como curiosidade na lateral direita um compartimento para armazenar os tacos de golfe. Há também um exemplar do Mercury 8. A Mercury foi a divisão que preenchia a lacuna entre os modelos Ford (carros de acesso) e Lincoln (marca de luxo). O Mercury, 8 exposto no Box 54 é duas portas 1941. Nesse ano a Mercury para cortar custos de produção compartilhou muito de sua carroceria com o Ford V8.
Outro exemplar interessante exposto é o Dodge Brothers Victory Six 1929. Os irmão Horace e John Dodge fundaram sua empresa de usinagem em Detroit em 1900 e rapidamente conquistaram clientes produzindo peças para Oldsmobile e Ford. A forte reputação da qualidade de suas componentes os incentivaram em 1914 a lançar o seu primeiro carro Dodge, o Modelo 30, com a carroceria toda em aço, a primeira de toda indústria automotiva estadunidense e sistema elétrico de 12 volts. Em 1928 a Dodge foi adquirida pela Chrysler. O Modelo Victory Six trazia motor de seis cilindros em linha de 68 cv.
O universo das duas rodas também conta com modelos interessantes como as motocicletas DKW, Royal Enfiel, Harley-Davidson e a Lambretta. No Box 54 também há espaço para os caminhões como o Chevrolet Commercial 1942, que no Brasil recebeu o nome de Tigre. O caminhão é equipado com motor de seis cilindros em linha a gasolina. Esse exemplar exposto trabalhou durantes anos no Aeroporto de Congonhas, na capital paulista, como veículo de transporte da lavandeira do complexo aeroportuário.
Chegando no espaço pós-II Guerra encontramos interessantes exemplares e que mostravam as diferenças de carros oferecidos aos consumidores dos Estados Unidos e Europa. Lado a lado estão um exemplar do modelo de luxo Packard Clipper 1948 e do Citroen Traction Avant 1947. O representante da escola do Tio Sam não economiza em nada, um claro exemplo dos tempos fartos proporcionados pelo “American Way of Life” com seu pujante motor de oito cilindros em linha, carroceria de aço maciço e dimensões avantajadas. Já o Citroen Traction Avant 1947, traz soluções mecânicas utilizadas até hoje como carroceria monobloco, suspensão independente e tração dianteira. Mesmo sendo um projeto datado da década de 1930, a escola automotiva estava bem à frente em termos técnicos. O modelo já trazia barras de torção na dianteira, centro de gravidade mais baixo e caixa de câmbio posicionada logo à frente do motor, isso possibilitava melhor aproveitamento do espaço interno. Traction o Avant foi retirado de linha em 1957 para a chegada de outro modelo inovador da Citroen: O DS.
Se as três grandes (Chevrolet, Ford e Chrysler) dos Estados Unidos demoraram a após na volta Segunda Guerra Mundial, já que toda sua linha de produção foi dirigida aos esforços de guerra, as marcas menores tomaram a dianteira em trazer novas soluções de estilo e técnicas de construção. O exemplo disso está no Studebaker Champion 1951. Champion foi um dos primeiros carros totalmente novos e foi lançado em 1947. Obra do desenhista Raymond Loewy, famoso por ter criado as formas da garrafa de Coca-Cola e o maço de cigarros Lucky Strike. O modelo 1951 é um dos mais emblemáticos devido ao desenho da grade dianteira apelidada de “nariz de bala”.
Já o Nash Ambassador 1949 trazia o tema da aerodinâmica para agregar valor à marca. O estilo de carroceria, batizado de Airflyte, tinha como característica principal as rodas dianteiras serem fechadas. Em 1950 os Ambassador tornaram-se os primeiros automóveis não General Motors a serem equipados com a transmissão automática GM Hydramatic. Os modelo 1949 têm como diferencial o para-brisa curvo de uma única peça. O motor era um seis cilindros em linha de 3,8 litros com potência de 112 cv. E a partir de 1954 os Ambassador pela primeira vez estavam disponíveis com o motor V8 e câmbio automático fornecido por Packard.
Um belo representante europeu e raro mesmo no velho mundo está presente na coleção do Box 54. Trata-se do Jaguar Mark V conversível 1951. Lançado pela Jaguar em 1948 o modelo podia ser equipado com motores de seis cilindros em linha de 2,6 ou 3,5 litros acoplados a transmissão manual de quatro marchas. O Mark V trazia suspensão dianteira independente e freios com sistema hidráulico. Segundo Luis Cardoso o Jaguar Mark V conversível é raro mesmo na Europa já que a produção era bastante limitada. Outro exemplar vindo da terra da rainha Elizabeth e que chama a atenção é do Rolls-Royce Silver Shadow com volante com lado direito.
A exposição começa a chegar ao fim com uma curiosa picape Ford Ranchero 1958. Apresentada em 1957, o Ranchero foi o primeiro veículo norte-americano pós-guerra a ser adaptado de um sedã popular, fabricado inteiramente pela Ford. Combinava a aparência elegante do sedã Fairlane com a utilidade de uma picape leve. O lema era “mais do que um carro mais do que um caminhão”, e procurava atestar as qualidades do novo utilitário. O Ranchero fez sucesso com a imprensa automotiva e o público, já que preenchia um nicho de mercado inexplorado para veículos de carga que pudessem ter a facilidade de operação conjugados com as características de um carro. Ela tinha uma capacidade de carga ligeiramente mais elevada do que as picapes Série F. Os motores dessas primeiras versões podiam ser o seis cilindros de 3,7 litros ou os V8 de bloco Y de 4, 8 litros até 5,8 litros utilizados pelo Thunderbird. Um Ford Fairlane 500 duas portas colocado ao lado da Ranchero atestava a prova de que a picape havia nascido a partir do elegante sedã.
Outro clássico representante do oval é o Ford Thunderbird 1956 branco. Nesse ano o estepe foi posicionado do lado de fora liberando mais espaço no porta-malas. Para melhorar a visibilidade traseira uma nova capota rígida removível com maior área envidraçada foi oferecida sem custo aos clientes. Para quem quisesse mais desempenho havia a opção do motor V8 312 (5,1 litros) de bloco Y, que podia atingir até 235 cv com o pacote desempenho “M260”. Em 1956 a produção foi de 15.631 unidades.
O passeio fecha-se com o clássico Plymouth Belvedere 1958 hardtop sedã de quatro portas. Lançado em 1957, o projeto do novo carro foi tão revolucionário dentro do portfólio da Plymouth que foi usado o slogan - “De repente, é 1960!” para promover o novo carro. Essa carroceria era contemplada entre os modelos Belvedere, Fury e Savoy. O Plymouth Belvedere 1958 hardtop duas portas ganhou notoriedade a partir do filme baseado no livro de Stephen King batizado de Christine, de 1983. Christine na verdade era um modelo Belvedere caracterizado como um Fury 1958, mas faltava a pintura em “camurça bege” específica desse ano e motor V8 de 5,7 litros com quatro carburadores duplos batizado de “Golden Comando”.
LEMBRANÇAS DO PASSEIO
Para quem quer guardar uma recordação o Box 54 oferece em sua loja uma infinidade de itens relacionados ao universo do antigomobilismo. Há desde quadros, cadeiras com assento em formato de tampinha de garrafa até itens mais exclusivos como bomba de combustível no estilo vintage, sofá com inspiração na traseira do Cadillac 1959; cadeira com o logotipo da petrolífera Gulf e mesinha de centro no formato de uma Vespa e baldes de gelo nos mais diversos temas.