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Auto Union Tipo 52 1933, a visão um de Grand Turismo de 16 cilindros concebido para as provas de longa duração da década de 1930


O Auto Union Tipo 52 nunca chegou a ser produzido, mas a Audi reviveu o carro de corrida perdido para o Festival de Velocidade de Goodwood de 2024

Por: Anderson Nunes - 02 de setembro de 2024


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Os lendários carros de corrida Auto Union Silver Arrows, que fizeram história nas competições da categoria Grand Prix, durante os anos de 1930, são até hoje cultuados pelos amantes da velocidade e do esporte a motor em todo o mundo. São veículos que impressionam pela sua técnica apurada, como por exemplo, soluções aerodinâmicas inovadoras para a época.  

Agora uma parte importante e até mesmo curiosa dessa época de ouro do automobilismo, está sendo resgatada, graças à iniciativa do departamento histórico da Audi, o Audi Tradition. Trata-se de um peculiar projeto criado pela extinta Auto Union, mas que nunca viu a luz do dia: batizado de Auto Union Tipo 52, era uma espécie de antevisão dos carros GT de rua e que adota componentes mecânicos oriundos do Silver Arrows, como o peculiar motor V16.

O projeto do ‘Schnellsportwagen' (carro esportivo de alta velocidade) foi cancelado antes que o primeiro protótipo fosse feito, em 1935, e a criação de Ferdinand Porsche nunca chegou a ver a luz do dia. Mas a divisão histórica da marca, decidiu tirar a poeira dos livros de história e dar vida a esse veículo especial para o Festival de Velocidade de Goodwood de 2024, que acontece na Inglaterra.  


NASCIMENTO DE UMA LENDA  

Antes de partimos para essa fascinante história, precisamos primeiro entender suas origens. A Auto Union AG, formada em 1932 a partir da fusão da Audi, DKW, Horch e Wanderer, tornou-se uma referência no automobilismo, e o seu novo logotipo, os quatro anéis entrelaçados, um brasão conhecido em todo o mundo. No mesmo ano, as regras para a categoria Grand Prix foram revistas e uma das cláusulas era de que os carros não poderiam exceder o peso de 750 kg, tais normas valeriam para as provas de 1934 a 1936. Em 1933, a Auto Union havia contratado a equipe de Ferdinand Porsche para desenvolver um novo carro de corrida que se enquadrasse nesse regulamento


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O trabalho no Auto Union Tipo A (internamente, a Porsche o chamava de Tipo 22) começou em março de 1933. Apenas um ano depois, Hans Stuck estabeleceu um recorde mundial ao pilotar o carro no circuito AVUS em Berlim. Quando os inovadores carros de corrida Auto Union ganharam notoriedade no cenário internacional de corridas, a lenda das Silver Arrows (Flechas de Prata) nasceu.  

Rápidos como uma flecha, esses lendários carros de corrida cativaram o público, assumindo velocidade inigualável, linhas futuristas e tecnologia revolucionária, os Auto Union Silver Arrows foram alguns dos primeiros carros de competição a adotar um layout de motor central traseiro, um padrão que permanece até hoje na Fórmula 1. A Auto Union Tipo C estabeleceu vários recordes mundiais, vencendo inúmeras subidas de montanha, três campeonatos alemães e o campeonato europeu em 1936.  

Poucas pessoas sabem que enquanto os carros de corrida Grand Prix estavam sendo desenvolvidos, a Auto Union AG e o escritório de design Ferdinand Porsche também planejaram um sedã esportivo para as ruas. Os documentos conceituais chamaram o veículo de “Schnellsportwagen”, aparentemente seu nome de marketing pretendido. Hoje, com suas características distintas, o carro mais se assemelha a um Grand Turismo clássico.


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O Auto Union Type 52, como o projeto veio a ser conhecido, tinha a intenção de ser vendido a ricos clientes para ser pilotado em corridas de longa distância, como a Mille Miglia, ou em competições de carros esportivos, como as corridas de resistência em Spa-Francorchamps ou Le Mans. Também se falava que o carro seria um carro de corrida de fábrica.


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Já no final de 1933, Porsche elaborou os primeiros esboços estéticos, que assumiram uma forma mais concreta em 1934. Os dirigentes da Auto Union decidiram construir um carro de teste – mas, isso nunca se tornou realidade. O projeto foi abandonado em 1935, entretanto os engenheiros deixaram muito trabalho inovador calculado no papel. O Auto Union Tipo 52 absorveria muito da fonte técnica dos carros que competiam na categoria corrida Grand Prix que foi desenvolvido ao mesmo tempo. 

O projeto original mostra que o Tipo 52 adotaria o mesmo o chassi do tipo escada do Tipo 22, entretanto a mecânica seria ajustada para as ruas. O motor V16 de 4,4 litros, montado em posição central, teve a taxa de compressão reduzida para se adequar ao uso da gasolina comum. Ao mesmo tempo, os engenheiros instalaram um compressor do tipo Roots de menor tamanho. Essa nova receita mecânica forneceria 200 cv a 3.650 rpm e um torque máximo de 44,5 kgfm disponível a partir dos 2.235 mil rpm.


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Comparado à lenda do Grand Prix, houve uma redução de potência, mas o excelente desempenho de cerca de 200 km/h, conforme calculado pelos engenheiros, mostra que o Schnellsportwagen teria feito jus ao seu nome. Em sua época, ele teria sido um dos veículos de rua mais potentes nas estradas e em competições – um verdadeiro carro esportivo de rua.


A MATERILIZAÇÃO DE UM PROJETO 

Passados 90 anos, um grupo de entusiastas da Audi decidiram que era hora de concretizar a materialização do projeto do carro de corrida de rua. Para tornar essa incrível máquina uma realidade, a Audi Tradition contou com a ajuda dos profissionais ingleses em restauração da Crosthwaite & Gardiner, que cuidam dos Silver Arrows na coleção de veículos históricos da Audi.  

Sem fotos de um veículo concluído para usar como referência, os restauradores se valeram de fotos e de documentos de arquivo existentes, para realizar a meticulosa tarefa de transformar o projeto de Ferdinand Porsche em peças acabadas feitas à mão e personalizadas com a atualidade. Este único exemplar foi concluído em 2023, finalizado no incrível tom de Cellulose Silver, uma cor inspirada nos Silver Arrows.  

Bebendo da fonte estética em voga nos anos de 1930, o Streamline, Tipo 52 mede mais de cinco metros de comprimento. Sua silhueta alongada apresenta uma carroceria aerodinâmica com para-lamas arredondados, linhas em formato de gota e uma grade grande quadriculada. Diferente dos irmãos que competiam nas pistas, o imponente sedã ganhou teto, faróis e espaço para bagagem. 

Internamente, o espaço propriamente dito para os ocupantes é que é a surpresa: Como é típico em um carro de corrida, o motorista do Auto Union Type 52 senta-se ao centro, com os bancos traseiros do passageiro ligeiramente deslocados para o lado. Os bancos lembram mais uma espreguiçadeira, devido à posição baixa e largos. O condutor tem à disposição um grande volante de aro fino, logo atrás o velocímetro e conta-giros, ladeados por mais quatro medidores. Todo o ambiente é decorado por madeira de lei. 


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Já as portas no estilo suicidas, inclusive as traseiras, chamam a atenção ao abri-las, pois não há uma segunda fileira de assentos como você poderia esperar, mas sim um compartimento para alojar dois pneus sobressalentes. O motor e a caixa de câmbio de cinco marchas foram emprestados do Tipo C. 


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Já a suspensão os engenheiros optaram por uma configuração diferente da estabelecida no projeto original. Em vez de molas de lâmina transversais e amortecedores de fricção, o Tipo 52 apresenta suspensão com mola de torção longitudinal e amortecedores hidráulicos. O tanque de combustível comporta de 110 litros e os freios são a tambor nas quatro rodas. O charme extra fica por conta das rodas raiadas com fixação por cubos rápido, outro ponto que denota suas origens das pistas de corrida.


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DESVIO DE ROTA INTENCIONAL 

Quando se tratou do motor que impulsionaria o Auto Union Tipo 52, a Audi Tradition decidiu conscientemente se desviar do plano original do projeto dos engenheiros da Auto Union. No modelo construído pela Audi, a marca acabou por inserir o motor V16 de 6 litros do Auto Union Tipo C e deixando a potência de saída irrestrita em incríveis 512 cv a 4.500 rpm. Isso significa que o motor tem que beber uma mistura especial de metanol em vez de gasolina padrão. O modelo também é um pouco mais pesado do que a Auto Union pretendia, passou dos 1.300 kg no projeto original para 1.450 kg. 


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