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O modelo Continental Flying Spur, considerado o mais “barato” da britânica Bentley, chega a custar R$ 868 mil no modelo zero quilômetro. E o que dizer do preço deste modelo Turbo R 1993/1994 que esteve na oficina Frison, em São Paulo, para manutenção preventiva? “Inestimável”, diriam os colecionadores. Acompanhe como a reparadora Fabiana Paes dos Santos, da oficina Frison, fez a manutenção desta joia
Encontramos na oficina independente um exemplar que raramente sai às ruas, mas mesmo assim precisou trocar peças que perderam sua vida útil por conta do tempo. Acompanhe a enorme dificuldade para a substituição das correias e velas.
A Bentley Motors Limited, quando estava sob o comando da Rolls-Royce, fabricou o modelo Turbo R com o mesmo motor do seu “primo rico” Silver Spirit, um V8 de 6.75 litros com uma turbina Garrett 70M24, movido a gasolina, que oferece aproximadamente 325 cv de potência a 4.200 RPM e 62,9 kgfm de torque, suficientes para mover o Turbo R com 2.390 kg e 5,36 metros de comprimento, de zero a 100 quilômetros por hora em apenas 8 segundos. Dados estimados, pois a Rolls-Royce nunca forneceu seus dados oficiais.
Até 1992, o Bentley Turbo R dispunha de uma caixa de transmissão automática TH400, de 3 velocidades, fornecida pela GM. O modelo desta matéria, fabricado em 1993, já possui um automático de quatro marchas Overdrive 4L80-E. A partir de 1998, a Bentley passou a ser controlada pelo Grupo Volkswagen.
HISTÓRICO
O proprietário fiel leva seu Bentley Turbo R 1993/1994 somente na oficina Frison Convenience, localizada na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo para realização de manutenções, por confiar na qualidade do serviço e das peças. Vamos conhecer um pouco mais sobre quais reparos já foram feitos em outras visitas à Frison, e também sobre algumas características técnicas deste modelo. Quem nos conta é o mecânico-líder Wellington Ribeiro Santos.
“Este Bentley já esteve aqui para troca de tampa de válvulas, pois apresentava um pequeno vazamento, com a substituição o problema foi sanado”, explica. “Outro serviço realizado foi no sistema hidráulico, que atende aos freios e à suspensão. Foi necessário desmontar os dutos do coletor e da turbina, o que demanda muitas horas de trabalho. Realizamos a troca da tubulação dos amortecedores, que apresentava vazamento”, lembra. “Cerca de três outros Bentley deste fazem suas manutenções na Frison Convenience e que um dos problemas mais recorrentes neste modelo é o vazamento no sistema hidráulico, no cilindro mestre do freio”, revela Wellington.
“Eu acho a suspensão (tipo Mc Pherson) deste Bentley muito boa. Não possui muita eletrônica embarcada, mas é superdimensionada para o tamanho do carro e o embuchamento (da suspensão), muito resistente. Em geral, os veículos Bentley não apresentam problemas ou reparações na suspensão”, opina Wellington.
A suspensão hidráulica e os freios (com ABS) são controlados por um sistema unificado e utilizam fluido tipo LHM de alta performance.
NA OFICINA
Desta vez, o Bentley Turbo R 1993/1994 com 10.000 milhas rodadas (a medida padrão do hodômetro em um veículo inglês é a milha) - equivalente a 16 mil quilômetros, passará por uma revisão geral preventiva. É um veículo de coleção e de uso esporádico do proprietário (fica parado por longos períodos), então o orçamentista sugeriu a troca de alguns itens que sofrem desgaste natural ou perdem suas características originais em razão da vida útil dos componentes, e não pela quilometragem percorrida.
Trata-se de um veículo de alto luxo e esta marca não possui distribuidor oficial de peças no Brasil, por isso o proprietário solicitou que a oficina Frison encomendasse as peças (originais) através de um importador.
Antes de acompanharmos a manutenção em um Bentley, um lembrete: alguns parafusos são em milímetro, outros em polegada. Além disso, os sistemas possuem uma engenharia complexa e refinada, não é qualquer profissional que está apto a realizar manutenções nestes veículos. “Para realizar a manutenção neste veículo é necessário consultar o material técnico original da montadora”, finaliza Wellington.
Os serviços que serão realizados neste Bentley Turbo R são: troca de óleo do motor e elemento filtrante, correia do alternador, kit de correias da direção hidráulica, correia do ar condicionado, correia da bomba de ar do motor, velas e cabos de ignição. Quem executa a manutenção é a reparadora Fabiana Paes dos Santos.
TROCA DE ÓLEO
Fabiana inicia a revisão pelo procedimento mais rápido, que oferece fácil acesso ao reparador e não exige muito esforço. Mas é o único que transcorrerá desta forma.
1) Com o motor aquecido e o veículo erguido no elevador, retire o bujão do cárter e deixe escoar completamente o lubrificante velho. Em seguida, recoloque o bujão;
2) Remova também o elemento filtrante, neste caso, ainda original de fábrica (foto 2A);
3) Instale o novo filtro de óleo, passando uma fina camada de óleo no entorno do retentor de borracha. Baixe o elevador;
4) O bocal para colocar o novo lubrificante está identificado com as palavras “Engine Oil” localizado ao lado do cabeçote e do bocal para o fluido da direção hidráulica;
5) Um colega de Fabiana insere 8 litros de óleo Mobil 1 SAE 0W40, conforme a especificação do fabricante.
6) O motor é ligado por alguns minutos, para que o lubrificante atinja a temperatura ideal de trabalho. Em seguida, o motor é desligado e o nível é checado para ver se há a necessidade de adicionar mais óleo.
REMOÇÃO DAS CORREIAS
Para ter acesso às correias durante a troca, é necessário um procedimento bastante complexo e demorado, com espaço para os acessos muito restrito (mesmo com os quase 2 m² de área do cofre do motor) e uma engenharia nada simples de ser entendida. Ao todo, 5 correias serão substituídas. Acompanhe:
CORREIA DO ALTERNADOR:
1) Solte os dois parafusos que fixam o alternador;
2) Desloque o alternador e remova sua correia. É necessário transpassar a correia por trás da hélice do eletroventilador (ventoinha) para que não seja necessária a remoção da mesma.
CORREIA DA BOMBA DE AR
Para que serve esta bomba de ar secundária? O motor não consegue queimar 100% do combustível na câmara de combustão (onde recebe a primeira injeção de ar). Logo, existe uma porção de combustível não queimado, chamada de Hidrocarbonetos (HC). Eles são o componente do combustível que dão a potência, mas também é uma das toxinas medidas no índice de emissões. O combustível queimado é menos tóxico que o “não queimado”, então esta bomba injeta ar diretamente para o sistema de escape, após o coletor, para ajudar a interceptar a queima desses combustíveis não queimados. Isto contribui para melhor funcionamento do sistema de injeção, além de diminuir o índice de emissões.
3) Para ter acesso à correia desta bomba, desparafuse e retire a tampa plástica que cobre o motor;
4) Solte o parafuso que segura a bomba de ar do motor;
5) Em seguida, faça uma alavanca, empurrando a bomba em direção ao alternador;
6) Remova a correia;
7) Para prosseguir com a retirada das correias, é necessária a remoção do capô do motor, que proporciona o acesso ao restante das correias. O espaço disponível no cofre do motor é restrito, aumentando a dificuldade e o tempo da reparação.
CORREIA DO AR CONDICIONADO
8) Solte os parafusos do compressor do ar condicionado;
9) Afrouxe também as porcas do parafuso esticador da correia do ar condicionado;
10) Nesta etapa, é necessário o auxílio de mais um reparador. Enquanto uma pessoa exerce alavanca para afrouxar a correia, a outra solta a correia.
11) É necessário girar a polia da árvore de manivelas (virabrequim) com uma chave/catraca, ao mesmo tempo em que, com a outra mão, o reparador expulsa a correia do canal da polia do compressor usando uma alavanca. 11A) Assim como foi feito na remoção da correia do alternador, transpasse a correia por trás da hélice do eletroventilador para retirá-la.
KIT DE CORREIAS
DA DIREÇÃO HIDRÁULICA
12) A bomba da direção hidráulica atua como um esticador das duas correias (chamado de “kit de correias”, sendo uma da direção hidráulica e outra da bomba) e para manter estas tensionadas, há dois parafusos. Antes de iniciar a soltura destes parafusos, é necessário girar a polia do virabrequim (que possui alguns furos (vazados)), até que algum deles permita o acesso ao segundo parafuso. É preciso ir girando a polia com uma catraca e tateando com os dedos, até perceber que o furo está alinhado ao parafuso;
13) Levante o veículo no elevador. Pela parte de baixo do motor, solte o primeiro parafuso da bomba;
14) Solte o segundo parafuso (este que deve ser acessado através da polia do virabrequim). Agora as duas correias estão afrouxadas. Desça o veículo no elevador;
15) Para retirar a primeira correia, gire a polia do virabrequim e exerça força com a mão. Para remover a correia do veículo, transpasse-a por trás da hélice do eletroventilador (ventoinha);
16) Para retirar a segunda correia, repita o procedimento executado anteriormente.
SUBSTITUIÇÃO
Seguindo a ordem inversa, será realizada a instalação das novas correias.
KIT DE CORREIAS
DA DIREÇÃO HIDRÁULICA
17) Transpasse as duas correias por trás da hélice do eletroventilador (ventoinha), uma de cada vez.
18) Como as novas correias são mais firmes que as usadas (retiradas), recomenda-se a recolocação das correias com a ajuda de outro reparador. 18A) Enquanto uma pessoa esticava a correia e tentava inseri-la no canal da polia, a outra girava a polia do virabrequim utilizando uma catraca. Utilizou-se este procedimento para instalar as duas correias;
19) Erga o veículo no elevador. Pela parte de baixo do motor, exerça pressão sobre a bomba da direção, para que ela atue como esticador e mantenha a correia tensionada. Através do furo (vazado) na polia do virabrequim, aperte o parafuso da bomba;
20) Faça o aperto do segundo parafuso da bomba.
CORREIA DO AR CONDICIONADO
21) Transpasse a nova correia por detrás da ventoinha do motor;
22) Etapa a ser realizada por duas pessoas. Enquanto uma pessoa mantém a parte superior da correia encaixada no canal da polia do compressor do ar condicionado, a outra a coloca na polia do virabrequim e gira esta com a ajuda de uma catraca. Esta etapa exigiu muito tempo e trabalho dos dois profissionais, pois a correia entra muito tensionada;
23) Encoste os parafusos do compressor, permitindo ainda sua movimentação;
24) Ative o esticador da correia;
25) Faça o aperto final nos parafusos do compressor. São 5 parafusos no total, inclusive o do seu suporte (foto 25A).
CORREIA DA BOMBA
DE AR DO MOTOR
26) Instale a nova correia, que liga as polias do compressor do ar-condicionado e da bomba de ar;
27) Faça a regulagem da correia através do parafuso tensionador, localizado na lateral do suporte da bomba.
CORREIA DO ALTERNADOR:
28) Transpasse a nova correia do alternador por trás da hélice do eletroventilador;
29) Encaixe a correia na polia do alternador (esta encaixou com mais facilidade em relação às outras);
30) Ajuste a tensão através do parafuso esticador;
31) Faça o aperto final nos dois parafusos de fixação do alternador.