Troca da dupla embreagem da transmissão DQ500 do Tiguan R-line 2018

A primeira geração do Volkswagen Tiguan foi lançada aqui no Brasil em 2008, equipada com um motor EA888 2.0 TSI (turbocompressor e injeção direta). Ela também veio com transmissão automática de seis velocidades e tração 4Motion (integral com embreagem Haldex). Em 2011, o Tiguan recebeu uma nova versão (reestilizada) e com a segunda geração do motor EA888, dessa vez entregando ainda mais torque e potência. No ano de 2015, o Tiguan recebeu um novo facelift e, dessa vez, trouxe o motor EA211 1.4 TSI, de extrema eficiência.

Tiguan All Space - LWB

No ano de 2018, a segunda geração do Tiguan foi lançada no Brasil, totalmente renovada, sendo mais um veículo da marca Volkswagen a ser montado sob a plataforma MQB (Estratégia de Montagem Modular Transversal). Ele trazia uma novidade: a versão LWB (Long Wheel Base, que significa “entre-eixos alongado”), o que possibilitou ao SUV Tiguan ser ofertado com versões de sete lugares. Essa versão recebeu, no Brasil e em outros mercados do mundo, o nome comercial de Tiguan All Space. 

O Tiguan LWB oferece mais espaço que muitos outros SUVs de sua categoria, além de ter opcionalmente sete lugares, ou seja, duas fileiras de bancos traseiros. Se a segunda fileira de banco traseiro, ajustável longitudinalmente em 180 mm, estiver em posição mais avançada, o volume do porta-malas será de 760 litros, carregado até a borda superior dos encostos dos assentos traseiros. Quando essa última fileira de bancos está totalmente rebatida, a capacidade de bagagem pode aumentar consideravelmente.

Tiguan Rline

Na versão topo de linha, recebemos o Tiguan Rline, que veio equipado, de série, com diversos itens, tais como: faróis em led com DLA – Assistente de Luz Dinâmica; ACC – Controle de Cruzeiro Adaptativo; Park Assist 2.0; bancos de couro, sendo que os dianteiros são elétricos e com botões para memória de até três ajustes distintos (para três condutores); tampa do porta-malas com abertura e fechamento elétricos (Easy Open e Easy Close); etc. Para o sistema de propulsão, o Tiguan Rline recebeu a terceira geração do motor EA888 2.0 TSI, capaz de entregar 220 cavalos de potência e 350 Nm de torque (daí vem a origem da descrição 350 TSI no emblema instalado na tampa traseira). Além disso, essa geração recebeu a transmissão DQ500, do tipo DSG de sete marchas, de dupla embreagem úmida (banhada pelo óleo da transmissão). 

Características da DQ500

A transmissão DQ500 é uma DSG, sigla para Direct Shift Gearbox (ou “Transmissão de Trocas de Marchas Direta”).  Consiste em duas transmissões parciais montadas em um único corpo:

Transmissão parcial 1 – Contém as marchas ímpares, 1ª, 3ª, 5ª e 7ª, cujas transmissões de força dependem do acoplamento da embreagem K1.

Transmissão parcial 2 – Composta pelas marchas 2ª, 4ª, 6ª e marcha-à-ré, cujas transmissões de força dependem do acoplamento da embreagem K2.

Dupla embreagem – Constitui-se em dois conjuntos de embreagens multidiscos, K1 e K2, que são banhadas pelo mesmo óleo da transmissão, cuja pressão é responsável pela compactação dos discos de cada um desses conjuntos cada vez que ocorre um acoplamento em cada uma dessas embreagens.

Mecatrônica – Composta por um corpo de válvulas e a unidade de controle eletrônica – J743, que se encarrega de efetuar o acoplamento e desacoplamento das embreagens, além de todas as trocas de marchas. Além disso, a DQ500 possui uma bomba de óleo mecânica, que se encarrega de gerar pressão para os circuitos de óleo das embreagens, da mecatrônica e dos conjuntos de engrenagens das marchas.

Funcionamento básico da DQ500

Com o motor funcionando, o condutor aciona o pedal do freio e posiciona a alavanca de mudança de marchas em “D” – Drive. Nesse momento, a unidade mecatrônica (comandada pela J743) aciona os solenoides e garfos que promovem os engates da 1ª e 2ª marchas. Assim que o condutor retira o pé do pedal do freio e pisa no acelerador, a embreagem K1 recebe pressão de óleo e seus discos começam a ser compactados, obtendo-se ação de fricção nessa embreagem e transmitindo-se a força do motor para a árvore primária 1. Por fim, teremos a saída de força nas rodas, correspondente à 1ª marcha. Assim que a velocidade desejada dessa 1ª marcha é atingida, a J743 se encarrega de acionar a embreagem K2, efetuando uma troca gradativa da 1ª para a 2ª marcha, desacoplando a K1 e acoplando a K2, de modo que a transmissão do torque seja passada de uma marcha à outra sem que o condutor sinta essa troca. À medida que o veículo vai ganhando velocidade, as marchas são engatadas, sempre duas (uma marcha par e uma ímpar), com o intuito de sempre serem obtidas trocas rápidas. Nos momentos de redução de velocidade, as marchas são engatadas de forma decrescente, mas sempre com duas marchas engatadas: uma estará transmitindo a força e a outra esperando ser acoplada. Para o engate da marcha-à-ré, a mecatrônica irá acionar os solenoides responsáveis por mandar pressão de óleo para acionar o garfo que sincronizará as engrenagens da marcha- -à-ré e para o acionamento da embreagem K2.
Troca do conjunto de dupla embreagem

Após a remoção da transmissão, instale- -a no cavalete com o suporte VW353, o qual possibilitará que a transmissão fique com o conjunto de embreagens virado para cima. 

Com a transmissão devidamente posicionada, inicie a remoção do conjunto da embreagem, retirando a tampa de fechamento, que é afixada por um anel-trava. Para isso, utilize uma chave de fenda, destrave o anel-trava por uma de suas extremidades e retire-o totalmente. Em seguida, utilizando a mesma chave de fenda, exerça pressão contra a tampa de fechamento até que ela se desencaixe da carcaça da transmissão. Dessa forma, você terá acesso ao conjunto de embreagens. 

Remoção do disco de arraste

Com a transmissão sem a tampa de fechamento, é hora de remover o disco de arraste, pois abaixo dele existe uma trava que fixa o conjunto de embreagens às árvores primárias da transmissão. Novamente utilizando a chave de fenda, remova o anel-trava de fixação do disco de arraste, pressionando-o em uma das extremidades e retirando-o totalmente. Mas, antes de remover esse anel-trava, faça uma marcação para referência de posicionamento do disco de arraste ao conjunto, pois isso irá ajudar a garantir que o conjunto novo de embreagens seja posicionado corretamente. Já com o anel-trava removido, instale no centro do disco de arraste o martelo de inércia T10055, juntamente com o extrator T10525, e exerça golpes até remover o disco. 

Removendo o conjunto de embreagens

Após o disco de arraste ser removido, retire o anel-trava de fixação do conjunto de embreagens às árvores primárias e, com um par de ganchos de extração 3438, remova o conjunto.

Utilização do anel-trava usado – Todos os anéis-travas removidos deverão ser substituídos pelos que vêm no kit de embreagens novo. Porém, o anel-trava de fixação do conjunto de embreagens será utilizado no procedimento de definição do calço de ajuste da embreagem. Após os trabalhos de ajuste, esse anel-trava deverá ser descartado e substituído por um novo.

Instalação de um novo conjunto de embreagens
Antes de instalar o novo conjunto de embreagens, você deverá posicionar os quatro anéis de vedação dos canais dos circuitos de óleo de modo que garantam a melhor vedação possível. As aberturas dos anéis deverão ser posicionadas da seguinte forma:

• anéis 1 e 4 deverão ter suas aberturas alinhadas;

• anéis 2 e 3 deverão ter suas aberturas alinhadas, porém deverão ser girados a 180° em relação aos anéis 1 e 4. 

Ajuste do conjunto de embreagens

Em geral, a troca do conjunto de embreagens de uma transmissão convencional não exige nenhum tipo de ajuste de folgas. Basta somente alinhar o disco de embreagem ao furo do volante do motor, utilizando uma ferramenta em formato de pino que simule a ponta do eixo primário da transmissão (ou eixo-piloto); e apertar os parafusos de fixação do platô de forma sequenciada (conforme as orientações do respectivo manual de reparação), aplicando o torque adequado nesses parafusos. Já quando o assunto é a troca de um conjunto de embreagens de uma transmissão DSG, é de suma importância efetuar algum tipo de ajuste mecânico e parametrizações no sistema de gestão eletrônica da transmissão, especialmente para que se obtenham acionamentos de embreagens e trocas de marchas com precisão.

Durante o procedimento de troca do conjunto de dupla embreagem da transmissão DQ500, você terá de efetuar algumas medições para identificar a folga axial, basicamente, entre as árvores primárias e o conjunto de embreagens. Essa folga axial será eliminada (ou reduzida) assim que for definida a espessura e instalado um calço de ajuste. Esse calço é fornecido em um pacote contendo 15 unidades de calços, com espessuras que variam de 1,00 mm a 1,70 mm, porém apenas um desses calços será utilizado ao final das medições. 

Uso do pino de retenção T10524

Instale a dupla embreagem na carcaça da transmissão. Em seguida, gire-a por algumas voltas, somente para garantir seu assentameno. Após isso, instale o pino de retenção T10524, que irá sustentar esse conjunto de embreagens e limitar o seu movimento axial durante todo o procedimento de ajuste. Vale lembrar que o pino de retenção T10524 é apropriado para o ajuste da dupla embreagem da DQ500, o que significa que não é a mesma ferramenta utilizada nos ajustes da DQ250, ou seja, cada transmissão DSG tem a sua ferramenta apropriada. 

Definição do calço de ajuste da folga axial

Durante os procedimentos de ajuste, serão efetuadas duas medições de folga axial, sendo: Medida A – Medição da folga axial da árvore primária 1.

Medida B – Medição da folga axial do conjunto de embreagens.

Após obter os valores das medidas A e B, você deverá fazer o seguinte cálculo matemático: B - A - 0,11 = Calço. Ou seja, a Medida B menos a medida A menos 0,11 mm (onze centésimos de milímetro) é igual à espessura do calço de ajuste.

1ª medição – Medida A

Para preparar o procedimento de medição da folga axial, instale o anel-trava (peça usada) de fixação do conjunto de embreagens às árvores primárias. Vale lembrar que esse anel-trava usado será descartado ao final dos ajustes, e um novo (disponível no conjunto) será instalado no seu lugar. Agora, fixe na carcaça da transmissão uma base fixa VW387, juntamente com um relógio comparador (com precisão de 0,01 mm), cuja haste de medição será instalada na ponta da árvore primária. Aplique uma pré-carga no relógio comparador e zere o aro. Medindo a folga – Puxe o conjunto de embreagens para cima até o encosto total superior, utilizando os ganchos 3438. Leia e anote o valor apresentado pelo ponteiro do relógio comparador, o qual corresponde ao deslocamento axial da árvore primária. Essa medição será chamada de “Medida A”. Para melhor ilustrarmos o procedimento, vamos supor que essa 1ª medição apresentou o valor de 0,32 milímetros. Portanto: Medida A = 0,32 mm. 

2ª medição – Medida B

Para a segunda medição, mantenha a base fixa VW387 e o relógio comparador instalados na transmissão, porém, dessa vez, posicione a haste de medição do relógio comparador na borda do furo central do cubo do suporte da embreagem multidiscos. É importante atentar-se para não deixar que a haste do relógio encoste no anel- -trava instalado no eixo. Novamente, aplique uma pré-carga no relógio comparador e zere o aro.

Medindo a folga – Use novamente os ganchos 3438 para puxar o conjunto de embreagens para cima até o batente e anote o novo valor apresentado pelo deslocamento do ponteiro do relógio comparador. Essa nova medição será chamada de “Medida B”. Vamos usar como exemplo, agora, um valor apresentado de 1,71 milímetros de folga. Portanto: Medida B = 1,71 mm. 

Calculando a espessura do calço

Agora que você conhece os valores correspondentes às folgas axiais dos eixos primários e do conjunto de embreagens, é hora de fazer o cálculo e selecionar o calço que contenha a espessura correspondente (ou aproximada) ao valor encontrado. Vale lembrar que utilizaremos a fórmula: Medida B - Medida A - 0,11 = espessura do calço. Utilizando os valores adotados como exemplo, temos:

• Medida B = 1,71 mm; Medida A = 0,32 mm.

Aplicando na fórmula, temos: 1,71 mm - 0,32 mm - 0,11 mm = 1,28 mm.

Definindo o calço a ser aplicado

Como vimos anteriormente, o pacote de calços fornecido para o procedimento de ajuste da folga axial do conjunto de embreagens tem variação de espessura de 0,05 mm (cinco centésimos de milímetro) . Para o nosso exemplo, o valor calculado foi de 1,28 mm. Para esse valor, você não irá encontrar uma peça com a medida exata. Por isso, deverá utilizar o calço de valor mais aproximado, que, no caso, seria o de 1,30 mm.

Montando o conjunto

Após ter definido qual calço de ajuste será utilizado, retire o anel-trava do conjunto de embreagens que será descartado e, também, o pino de retenção T10524, guardando-o para trabalhos em outras transmissões DQ500. Instale o calço de ajuste definido e o novo anel-trava. Agora, monte o disco de arraste (novo) da embreagem, cuja posição correta foi marcada no disco da peça usada antes deste ser removido. Instale também o anel-trava de fixação do disco de arraste. Com o disco de arraste devidamente instalado, é hora de instalar a nova tampa de fechamento do conjunto. No seu furo interior, ela possui um retentor, que deverá ser alargado. Isso deverá ser feito com a luva de montagem T10459.

Procedimento de preparação do retentor – Posicione a luva de montagem T10459 em uma bancada (limpa). Em seguida, pegue a tampa de fechamento nova, vire-a de cabeça para baixo e faça a luva passar pelo seu furo central. Repita essa passagem da luva por mais duas vezes. Pronto, o retentor estará preparado para ser instalado em seu local de trabalho. Pouco após a instalação da tampa de fechamento, o retentor voltará ao seu diâmetro inicial e garantirá a vedação do conjunto. 

Colocação da tampa de fechamento – Instale a luva de montagem T10459 no eixo central, o qual faz parte do disco de arraste da embreagem. Posicione a tampa de fechamento na sua posição de trabalho na transmissão e instale-a, fazendo o retentor passar pela luva de montagem. Pressione a tampa de fechamento até o seu encaixe total. Se precisar, utilize um martelo de borracha para fixá-la totalmente. Por fim, instale o anel-trava de fixação da tampa de fechamento. Certifique- -se de que esse anel-trava foi encaixado total e corretamente, pois a tampa de fechamento, tanto no seu centro quanto nas extremidades, deverá garantir a total vedação da transmissão, evitando vazamento de óleo. 

Ajuste básico da transmissão

Após todos os trabalhos de troca do conjunto de embreagens terem sido finalizados e a transmissão ter sido devidamente instalada, é hora de efetuar o procedimento de ajuste básico da transmissão. Nesse trabalho, você deverá utilizar um scanner automotivo, acessar o sistema de diagnóstico da transmissão por meio do endereço “02 – Sistema de transmissão”, e executar a função “Ajuste Básico”. Assim que você iniciar o procedimento, a rotina irá pedir que você funcione o motor e iniciará o “Ajuste Estático”, no qual todas as marchas serão engatadas e, também, as embreagens serão acopladas e desacopladas. Ao final, a rotina solicitará que você efetue uma viagem de teste. Com isso, será iniciado o “Ajuste Dinâmico”, que deve ser realizado com outra pessoa conduzindo o veículo enquanto você fica somente operando o equipamento. Siga as instruções da tela do equipamento e oriente o condutor sobre as solicitações de velocidade que serão feitas pela rotina do equipamento. Ao final do ajuste dinâmico, todos os procedimentos de ajuste básico terão sido finalizados.