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Sincronismo das engrenagens dos comandos de válvulas requer técnica para montar


Vamos apresentar treze motivos que no dia a dia da oficina conduzem o reparador a desmontar o conjunto de engrenagens e algumas dicas de montagem e os detalhes de sincronismos em alguns motores

Por: Paulo José de Sousa - 17 de julho de 2018

Quando o motor da motocicleta está a 10 mil rpm, para o piloto o que menos importa é a posição das engrenagens dos comandos de válvulas e a maioria dos condutores nem sabem o que significa sincronismo.

Para o mecânico após o fechamento do motor não pode bater aquela dúvida: será que a montagem ficou correta?  O reparador sabe que uma falha nessa etapa do serviço pode ser um “adeus” ao cabeçote.

Independente da razão que leva o profissional a efetuar a abertura da parte superior ou completa do motor, sincronizar o conjunto engrenagens dos comandos de válvulas faz parte do processo de finalização do trabalho de montagem e requer o máximo de atenção.

No motor as engrenagens dos comandos não são meras peças coadjuvantes entre a multidão de componentes em movimento, elas possuem um papel importante, recebem a rotação do virabrequim por meio de uma corrente e transferem o movimento para as árvores de comando de válvulas, que por sua vez fazem o controle de quem entra e quem sai da câmara de combustão.

Assim como outras peças do cabeçote a maioria das engrenagens possuem uma inscrição que define uma orientação de montagem e no procedimento de alinhamento das referências não há meio termo, ou a instalação está correta ou errada, o “casamento” das engrenagens tem que ser perfeito.

Para o técnico experiente esse trabalho é simples, faz parte da rotina diária, mas o perigo é quando entra no automático, no processo de montagem não dá para contar com a sorte, o que vale é a técnica, no motor um “vacilo” é quebra na certa, o “estrago” pode ir de um empenamento de válvula, danos aos pistões ou até a perda do cabeçote.

As engrenagens não sinalizam as possíveis falhas de montagem, por isso recomenda-se ao final de cada etapa conferir todo o serviço, assim o mecânico não será aterrorizado pelo “fantasma” da dúvida. 

As referências das engrenagens não podem estar atrasadas ou adiantadas com relação à referência fixa que normalmente está em algum ponto no cabeçote. A exatidão da montagem é imprescindível ao comportamento dinâmico do motor, assegura o desenvolvimento exato de cada um dos ciclos de quatro tempos, elimina a possibilidade falhas, engasgos, baixo desempenho, ruídos estranhos ou como comentamos, até uma possível quebra das peças.

Uma característica do cabeçote da motocicleta está no volume da câmara de combustão que é bem reduzido, em alguns casos o formato é quase plano, isso traz implicações ao movimento das válvulas, elas ficam muito próximas do pistão, portanto a abertura e fechamento deve ocorrer no tempo exato, assim evita-se a colisão. (Fig. 1)

Fig.1- Pistão que colidiu com uma válvula

Treze motivos para desmontagem das engrenagens dos comandos

Não há como fugir dessa tarefa, desmontar engrenagens é um serviço rotineiro, abaixo listamos as razões mais comuns que conduzem o reparador a realizar esse serviço.

  1. Reparação ou substituição do(s) cabeçote(s);
  2. Reparação ou substituição de válvulas;
  3. Substituição das guias de válvulas;
  4. Substituição das molas de válvulas;
  5. Substituição de retentores de válvulas;
  6. Substituição de pastilhas das válvulas para ajuste da folga;
  7. Substituição da(s) junta(s) do(s) cabeçote(s);
  8. Substituição da(s) junta(s) do(s) cilindros(s);
  9. Desmontagem dos cilindros para serviço de retífica;
  10. Desmontagem total do motor;
  11. Substituição da corrente e engrenagens dos comandos de válvulas;
  12. Substituição da guia ou tensor da corrente do comando de válvulas;
  13. Remoção para troca dos comandos de válvulas.

O ruído metálicos na parte superior do motor pode indicar problemas nas engrenagens e corrente de comando

Casos de falhas prematuras são raros, mas após milhares de quilômetros de utilização a engrenagem do comando em conjunto com a corrente pode atingir o final da vida útil.

Os primeiros sintomas de desgastes são indicados por alguns ruídos na parte superior do motor, normalmente são sinais de fadiga, nesse caso o correto é fazer uma avaliação imediata e se necessário a troca das peças desgastadas, assim evita-se consequências críticas ao motor. O diagnóstico básico do conjunto também deve contemplar as seguintes peças: engrenagem do virabrequim, guia e tensor da corrente.

Diagnósticos de ruídos no cabeçote

A análise de ruído de cabeçote deve ser bem elaborada, o sintoma apenas indica a presença de defeitos nas peças desgastadas, mas as causas podem envolver outras peças.

A troca do conjunto ruidoso sem o devido diagnóstico e eliminação da causa do defeito resultará em desgaste prematuro do novo conjunto.

Principais fatores que reduzem a vida útil das engrenagens dos comandos de válvulas

Parte dos desgastes das engrenagens é consequência dos esforços ocasionados pela corrente de comando, mesmo tendo um ajustador (tensor), a corrente sofre alterações na tensão em função das variações de rotação do motor, inclusive nas acelerações repentinas.

Com o passar do tempo surgem as distorções nos dentes das engrenagens, visualmente é muito difícil detectar os defeitos, por isso, a substituição deve ser sempre feita em conjunto, portanto se a corrente atingiu o limite de uso, as engrenagens devem ser substituídas.

A especificação, nível do lubrificante de motor, assim como a contaminação por partículas de poeira são os agravantes mais comuns e podem ser provenientes de falha ou falta manutenção.

O empenamento do virabrequim gera picos de força na corrente de comando que por sua vez descarrega os esforços nas engrenagens, a folga excessiva nos mancais dos comandos também provoca oscilações nos eixos e nas engrenagens.

Defeitos nos dentes das engrenagens não são comuns, mas podem ser causados por batidas ou quedas, estes são causadores de ruídos.

 

Lógica de montagem da engrenagem do comando de válvulas

  1. Na montagem de motores monocilíndricos o procedimento deverá sempre obedecer uma lógica e três itens deverão ser observados:
  • O Pistão tem que ser posicionado em “PMS” (Ponto Morto Superior)
  • Alinhar a referência do volante do motor “T” (topo) com a referência fixa da carcaça do motor (Fig. 2)

Fig.2 -Volante magnético, referência “T” – motocicleta Titan 150cc

Posição das engrenagens nos motores OHC ou SOHC

 

  1. Na posição das engrenagens nos motores OHC ou SOHC (apenas um comando de válvulas no cabeçote) alinhar a(s) referência(s) da engrenagem com a referência do cabeçote estabelecida pelo fabricante da motocicleta. Um exemplo bem conhecido dos reparadores é o da engrenagem do comando das motocicletas Honda Titan/Bros 150, normalmente são encontrados dois traços gravados na engrenagem, essas referências devem estar na horizontal alinhadas com o cabeçote, estabelecendo uma relação de paralelismo. (Fig. 3) (Fig. 4)

Fig. 3 - engrenagem de comando de válvulas, linha de referência de paralelismo com a superfície do cabeçote - Motocicleta: CG 150 Titan

Fig. 4 -Cabeçote monobloco, acesso à engrenagem do comando de válvulas – Motocicleta: Titan/Bros 160

Acesso à referência do volante do motor

Na imagem abaixo o visor permite a identificação da referência “T” no volante do motor, utilize um farolete para facilitar a visualização. O visor inferior permite o acesso de uma ferramenta (chave “L”) para movimentação e posicionamento do volante do motor. (Fig. 5) (Fig. 6)

Fig. 5 – Tampa lateral esquerda do motor, visor de verificação de ponto “T” – motocicleta Titan 150

Fig. 6 – Tampa lateral esquerda do motor, visor de verificação de ponto “T” – motocicleta Suzuki Intruder 125

Ainda nos motores SOHC há casos em que a engrenagem do comando utiliza apenas um ponto como referência, e no processo de montagem, este deve ser alinhado com o ponto gravado na parte superior do cabeçote, é o caso das motocicletas Yamaha YBR/XTZ 125.

Posição das engrenagens do motor DOHC monocilíndrico

Nos motores DOHC (Double Overhead Camshaft) ou Duplo Comando de Válvulas no Cabeçote, eles utilizam dois comandos de válvulas para controlar a abertura e fechamento das válvulas, sendo respectivamente um para admissão e outro para o escapamento, os dispositivos estão presentes na maioria das motocicletas grandes.

A lógica de montagem é igual à dos motores de comando simples, porém em alguns casos as engrenagens são intercambiáveis entre os comandos, por isso elas recebem indicações que estabelecem uma relação com os eixos de admissão (IN) e escapamento (EX), ou seja, cada uma deve ser montada em seu respectivo comando. (Fig. 7)

Fig. 7 - engrenagem de comando de válvulas, linha de referência, motocicletas: XRTornado/CBX Twister 250

Devido à variedade de motores presentes no mercado o reparador deve estar atento a outros detalhes de posicionamento dos comandos, a orientação deve ser fornecida pelo fabricante da motocicleta.

Para facilitar a vida do reparador, em algumas motocicletas as engrenagens são prensadas nos eixos de comando, por isso as referências de identificação de posição de comando “IN” e “EX” estão gravadas nas laterais, portanto após definir a posição dos eixos, o reparador deverá realizar o alinhamento da linha de paralelismo com o cabeçote. (Fig. 8)

Fig. 8 - Conjunto de engrenagem dos eixos de comando de válvulas, o destaque está para a linha de paralelismo das referências “IN” e “EX”.

Motor multicilíndrico e as referências de posição

Outros métodos também são utilizados para posicionar a engrenagem no eixo de comando, normalmente um ponto no comando é a referência que deve ser alinhado ao próprio mancal, considerando sempre a posição do virabrequim e pistões.

No exemplo abaixo, a referência da engrenagem deve ser posicionada de forma que esteja na horizontal e paralela à superfície do cabeçote, porém os ressaltos dos comandos de válvulas não podem estar pressionando as válvulas do cilindro em que o pistão se encontrar em “PMS” (ponto morto superior) para que não haja danos nas válvulas. (Fig. 9)

Fig. 9 - Engrenagem de comando de válvula, linha de referência de paralelismo com a superfície do cabeçote

Motor de dois cilindros e um comando de válvulas

Nesta configuração a dica é posicionar o volante do motor na referência “T” com a marca do bloco (Fig. 10)

Fig. 10 - Volante do motor, referência “T” alinhada à referência (fixa) do bloco do motor- motocicleta CB 400

Neste motor, os pistões deverão estar em “PMS”, encaixar a engrenagem na corrente com as referências em paralelo com a superfície do cabeçote e por último girar o comando de válvulas de forma que não comprima nenhuma válvula e finalmente efetuar a montagem com os parafusos da engrenagem.

Uma informação importante que vale para qualquer tipo de motor e deve ser aplicada nessa etapa do serviço é que a corrente de comando não deve estar tensionada, se possível remova o tensor ou tire toda a tensão da corrente, assim facilitará o encaixe da engrenagem. (Fig. 11) (Fig. 12)

Fig.11 - Engrenagem de comando de válvulas, linha de referência de paralelismo com a superfície do cabeçote - motocicleta: CB 400

Fig. 12 – Engrenagens, corrente, tensor (A) e guia (B) – motocicleta

Nota: alguns fabricantes recomendam que seja colocada trava química (uma espécie de cola) nos parafusos das engrenagens do comando, o objetivo é evitar que se soltem após um tempo de utilização.  A desmontagem e montagem deve ser realizada sempre com o motor frio.