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Inicialmente, abordaremos alguns diagnósticos e sintomas de falhas na caixa de marchas da motocicleta, e ao final, apresentaremos o procedimento de montagem de engrenagens nos eixos do câmbio e também entender algumas regras de como é definida a ordem de marchas.
A receita não é de minha autoria, porém facilita os diagnósticos de defeitos e simplifica o entendimento do processo de montagem do câmbio e irá ajudar muito. Funciona em motocicletas de todas as faixas de cilindradas da Honda, Yamaha, Hyosung, Kasinski, Sundown e outras marcas onde o câmbio trabalha com o mesmo princípio.
O nosso trabalho irá focar nas motocicletas de baixa cilindrada.
As regras descritas nos demais manuais de serviços quanto aos procedimentos, tolerâncias, limites de uso e substituição de peças, deverão obrigatoriamente ser praticados para assegurar a máxima qualidade no serviço e a satisfação do cliente.
Recomendamos que nunca desmonte um câmbio sem ter certeza da necessidade do serviço, para que não haja desperdício de mão de obra e de peças.
CARACTERÍSTICAS
O câmbio de uma motocicleta com motor quatro tempos é robusto, tem vida longa, mas não perdoa os maus tratos, nem a falta de manutenção. O sistema de lubrificação é por pressão da bomba de óleo, o lubrificante é peneirado, centrifugado ou forçado pelo filtro de papel e flui pelas galerias e tubulações localizadas nas carcaças e bloco do motor e, por fim, passa através dos eixos primário e secundário do câmbio onde são apoiados em buchas, rolamentos de esfera ou roletes. Cada engrenagem recebe a lubrificação por um orifício de pequeno diâmetro. O mesmo lubrificante banha também o conjunto da embreagem, relação primária e a parte superior do motor como: pistão, anéis, cilindro, biela virabrequim, cabeçote, válvulas entre outros, ou seja, o óleo tem que ser adequado as solicitações impostas ao motor.
Em outras palavras, se o motor não funcionar, o óleo não irá chegar ao conjunto de engrenagens e, por consequência, haverá danos devido ao atrito. Na caixa de marchas, parte das engrenagens giram livres nos eixos (loucas ou livres), e a outra parte gira com os eixos (fixas ou deslizantes), durante o funcionamento do motor.
SINTOMAS E FALHAS
Há motocicletas que em ponto morto, na condição de marcha lenta, a roda traseira continua girando como se uma marcha estivesse engatada, é sinal que há muito atrito entre um dos eixos e uma engrenagem. Na desmontagem, é comum encontrar um ou mais eixos de câmbio com aspecto azulado devido à alta temperatura, resultante do atrito com as engrenagens. Mesmo a motocicleta estando com a manutenção impecável, a causa pode estar relacionada à falha na lubrificação, motivada pela condução da motocicleta por longa distância com o motor desligado, ou seja, pegando uma banguela, utilizando dispositivo de reboque, empinar a moto também pode ser uma causa. O eixo será fragilizado pelo calor excessivo e pode vir a romper futuramente.
Embora haja exceções, problemas no câmbio normalmente não acontecem da noite para o dia. A caixa de marchas dá sinais por meio de ruídos quando o usuário engata e/ou conduz a motocicleta em uma determinada marcha.
Na troca de óleo é possível notar sinais de limalhas de metal provenientes da quebra de algum componente interno.
Também há danos provocados por peças que se soltaram pela falta de torque adequado na fixação.
Ruído ou ronco, quando andamos numa determinada marcha, pode ter como causa em uma pequena falha no(s) dente(s) da(s) engrenagem(s). Não confundir com ruído externo, ex.: falta de ajuste da corrente de transmissão.
Outros sintomas que podem levar o reparador a pensar que o problema está no câmbio: marcha escapando, dificuldade de engatar ou trocar de marcha.
Aqui normalmente a solução é mais simples e o defeito pode ser decorrente do desgaste de uma peça do conjunto ou do conjunto completo: mola do eixo pedal de câmbio, braço posicionador, “abridor de garrafa” ( braço seletor, pescador) e “estrelinha” (excêntrico posicionador na Honda e seguimento na Yamaha).
É bom também analisar o alinhamento do eixo do pedal de marchas. O acesso ao conjunto é fácil, basta tirar a tampa da embreagem.
Toda a análise é necessária, pois se o conjunto estiver em ordem, será necessário partir para a desmontagem e análise da caixa de marchas.
OUTRAS CAUSAS DE FALHAS
Câmbio submetido a trancos constantes;
• Ajuste incorreto do conjunto;
• Espessura da junta do cárter abaixo ou acima do especificado;
• Carcaça do câmbio empenada;
• Rolamentos danificados, folga entre os rolamentos e a carcaça;
• Trambulador danificado;
• Desgastes nos dentes das engrenagens por excesso de uso;
• Garfos desalinhados ou gastos;
• Travas e calços das engrenagens danificadas, ou montados em posição errada;
• Falta de lubrificante, lubrificante inadequado, ou excessivamente contaminado;
• Bomba de óleo solta ou danificada;
• Obstrução nas passagens de óleo, ou no filtro.
MONTAGEM E DIAGNÓSTICO
Na primeira parte da matéria, a dica estava relacionada aos diagnósticos de falhas no câmbio. Agora, a dica é para a identificação das engrenagens, ordem e marchas e um processo prático de montagem das engrenagens nos eixos.
Regra básica: nunca reutilize uma peça descartável ou de aspecto duvidoso. Para cada etapa da montagem é necessário conferir o funcionamento do conjunto, em caso de falha, confira todo o serviço. Somente vá para a próxima etapa após concluir a anterior.
De acordo com o manuais de serviços, o conjunto dos eixos do câmbio normalmente sai em conjunto e são montados em conjunto, por isso a técnica será mantida. A explicação aqui é para dar uma direção quanto à montagem das engrenagens nos eixos, para uma eventual necessidade de substituição ou quando houver a necessidade montar um câmbio que chegou a oficina totalmente desmontado.
Recomendamos que antes de desmontar as engrenagens dos eixos, verificar a posição de cada arruela, trava, e engrenagem. Faça um desenho para ter como base na próxima montagem. Alguns fabricante que recomenda a utilização de um arame para prender todas as peças soltas, sem correr o risco de alterar a ordem de montagem.
IDENTIFICAR EIXOS E MARCHAS
Características do eixo primário: é o eixo motor, normalmente tem as menores engrenagens, menor diâmetro e possui uma engrenagem usinada na própria peça. Outra dica é que eixo primário está acoplado à embreagem.
Identificação da marcha pelo tamanho da engrenagem no eixo primário: a ordem de marcha é crescente, ou seja, a primeira marcha corresponde a menor engrenagem e na última marcha atua a maior engrenagem.
Eixo Secundário: é o eixo movido, normalmente tem as maiores engrenagens, maior diâmetro e não possui nenhuma engrenagem usinada na peça. Outra dica é que eixo secundário está acoplado ao pinhão da transmissão secundária (corrente, coroa e pinhão).
Identificação da marcha pelo tamanho da engrenagem no eixo secundário:
A ordem de marcha é decrescente, ou seja, a primeira marcha corresponde a maior engrenagem e na última marcha atua a menor engrenagem, independente do número de marchas que a motocicleta possui.
PROCEDIMENTO DE MONTAGEM DA PIRÂMIDE
1. Após abrir a carcaça do motor, retire com atenção o conjunto de eixos, seletor de marchas, garfos e etc. Cuidado com as arruelas que ficam coladas no óleo dentro da carcaça;
2. Separe os eixos. Essa etapa é de reconhecimento dos conjuntos e da ordem de marchas. Antes de desmontar, anote a ordem das marchas para que no processo de montagem os dados sirvam de referência. A sequência é igual para os dois eixos. Se essa etapa for bem organizada, não haverá necessidade de montar a pirâmide, basta substituir a peça danificada e montar o conjunto na mesma ordem;
3. Desmonte os conjuntos e organize cada peça, separe o que será substituído. As engrenagens danificadas devem ser substituídas aos pares, mesmo que uma delas não apresente danos. Verifique todos os detalhes que servirão de referência para a montagem.
4. Faça uma pirâmide iniciando da engrenagem de maior diâmetro finalizando com a menor, lembrando que uma engrenagem faz parte do eixo, por isso, para o câmbio de seis marchas a montagem ficou com apenas onze engrenagens, e não doze . Após a conclusão, separe a pirâmide de forma que as seis maiores engrenagens fiquem para um lado e as cinco menores, que estão no topo da pirâmide, fiquem com o eixo primário;
5. De regra, o conjunto com as maiores engrenagens pertencem ao eixo secundário e as cinco menores ao eixo primário, que já possui uma engrenagem fixa.
No câmbio utilizado, as engrenagens da sexta marcha possuem diâmetro igual. Pode ser que haja uma confusão aqui, que será eliminada na próxima etapa.
6. Teste todas as engrenagens, veja se os eixos encaixam nas engrenagens correspondentes, aqui é possível definir qual engrenagem pertence a cada eixo. Em seguida, inicie a montagem sem a utilização dos eixos, dando prioridade a primeira marcha do eixo secundário, detalhe, se ela é louca, é provável que a próxima engrenagem seja fixa. Nesse processo é necessário montar as seis engrenagens como se estivessem no eixo.
Observe cada detalhe de acoplamento lateral, toda engrenagem deve ter um ajuste perfeito. Confira a ordem de marchas com a anotação anterior para ver se está correto. Repita o processo para o eixo primário;
7. Monte as engrenagens nos eixos substituindo os anéis elásticos, instalando as arruelas e o restante das peças;
8. Junte os eixos e veja se o alinhamento entre as engrenagens está perfeito. Uma engrenagem louca do eixo primário não pode ser alinhada à uma engrenagem louca do eixo secundário, a regra vale para as fixas. Do contrário é necessário refazer a montagem. Veja se elas giram livremente e se o movimento lateral de deslizar no eixo está assegurado para a engrenagem ficar deslizante. Proceda a montagem do conjunto com as demais peças, conforme orientação do manual de serviços do fabricante. A partir de agora, siga o procedimento do fabricante e monte a caixa de câmbio e depois o motor.