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Tenho testemunhado o descaso de muitos reparadores que não estão dando a devida importância na manutenção do filtro de ar nas motocicletas equipadas com injeção eletrônica. Os principais fabricantes de motocicletas em seus manuais de serviço destacam bem a necessidade da manutenção periódica desse elemento, ou seja, substituí-lo quando for necessário no intervalo determinado ou efetuar a sua limpeza, e a recomendação extra que faço para regiões onde há muita poeira é que o mecânico reduza o intervalo de inspeção do filtro para assegurar o bom funcionamento, vida longa ao motor e a satisfação do cliente. Nos casos especiais é recomendável passar uma fina camada de graxa na parte interna na caixa do filtro para reter um pouco do pó.
Assim como no sistema carburado o filtro de ar tem como principal função reter os grãos de poeira que estão no ar aspirado pelo motor, que por sua vez poderiam contaminar o óleo, comprometendo a lubrificação e, como consequência, acelerar o desgaste de todas as peças. Não devemos nos enganar achando que nos sistemas equipados com injeção eletrônica a coisa é diferente, como se o filtro fosse auto-limpante, ou seja, dispensa a manutenção.
O sistema é inteligente, a injeção eletrônica proporciona todos os ajustes necessários para o motor funcionar bem qualquer ocasião, desde que toda manutenção periódica esteja em ordem inclusive o filtro de ar, e quem pensa ao contrário é melhor rever seus conceitos.
Para entender melhor a idéia que quero transmitir vamos pensar um pouco. Todo o volume de ar que o motor precisa para realizar o trabalho e produzir potência e torque queimando o combustível, só percorre um caminho que é através do filtro de ar. Qualquer obstáculo encontrado no circuito de passagem de ar interfere na eficiência volumétrica do motor alterando consideravelmente a tão conhecida mistura ar combustível e o desempenho da máquina.
Nas principais motocicletas o controle de combustível é muito preciso, pois é calculado pela central eletrônica ECU ou ECM com base nos sinais vindos dos principais sensores. Para o volume de combustível injetado no motor o sistema trabalha com exatidão, pois conta com uma bomba que fornece o combustível numa pressão previamente regulada e um bico injetor que atua em milesegundos.
Porém, o volume de ar admitido infelizmente não o é medido, ele é calculado (deduzido) baseado nos parâmetros: pressão, temperatura, rotação e ângulo de abertura do acelerador. Além disso, o ar esta sujeito a uma série de variáveis que interferem em sua densidade e viscosidade que por vez tende a variar infinitamente, podendo comprometer a mistura estequiométrica.
Para relembrar “mistura estequiométrica” significa uma quantidade de ar somada a uma quantidade de combustível, no nosso caso a gasolina, o percentual é de 14,7g de ar para 1g de gasolina, é a mistura ideal para o motor render bem, gastar pouco, durar muito e emitir o mínimo de poluentes.
Portanto se faltar ar vai sobrar gasolina, então no motor e ocorrerá a famosa mistura rica.
Alguém pode estar perguntando, e o sistema de injeção não corrige? A pergunta correta seria: o sistema corrige até onde?
Se faltar ar porque o filtro está sujo ou obstruído a tendência é que o sistema tente corrigir injetando combustível com base na pressão e também na posição do acelerador e demais sensores, porém a informação de posição do acelerador não irá refletir a realidade do volume de ar admitido. Um bom e antigo diagnóstico ainda é a cor do eletrodo da vela de ignição que normalmente indicará mistura rica quando a cor da porcelana esta escurecida.
Outra dica importante são os sintomas apontados pelo usuário da moto que irá reclamar de dificuldade na partida, consumo excessivo de combustível e da queda no desempenho do motor.
A mistura rica não é bem vinda, ela pode causar carbonização no motor, travamento nos anéis do pistão, engripamento nas válvulas, principalmente na admissão e por consequência o pistão pode atropelar a válvula travada. O excesso de carvão no topo do pistão altera a taxa de compressão e também pode ficar provocar pré- ignição e muitos outros prejuízos inclusive no catalisador localizado no escapamento.
Da mesma forma que um filtro de ar saturado pode prejudicar um motor, a sua ausência ou a utilização de filtros cujo elemento permitem uma maior passagem de ar também irão trazer sérias complicações.
O elemento do filtro de ar adequado sendo de papel, espuma ou um misto irá permitir a entrada de um volume de ar previsto pelo fabricante da motocicleta.
Inúmeras são as consequências quando executamos modificações no sistema de filtragem de ar. Alguns usuários eliminam o filtro apenas pelo fato do ruído do motor ficar mais bonito ou porque alguém disse que a moto anda mais. Se o motor admitir mais ar que o necessário irá faltar combustível, então teremos a conhecida mistura pobre.
Para entender porque a mistura pobre não é boa para o motor é importante saber que no momento da queima da mistura ar/combustível a temperatura na câmara de combustão é elevadíssima capaz número derreter o topo do pistão, mas em condições normais isso não acontece porque na próxima admissão ocorrerá o resfriamento da câmara e do pistão assim como da demais peças expostas ao calor produzido na queima. Em outras palavras a mistura bem ajustada é quem controla a temperatura interna do motor.
Outro fenômeno que ocorre na mistura pobre é a alteração na velocidade da queima e como resultado há um acréscimo nas emissões. Há ainda alguns sintomas como ruído estranho na parte superior do motor, aquecimento excessivo, consumo de combustível acima do normal, baixo desempenho e, no final, danos generalizados no pistão, anéis, cilindro etc..
Outros Problemas
Nas motocicletas que possuem o motor de passo (IACV), ex. Titan/ Bros MIX, CB e XRE 300 e outras pode ocorrer marcha lenta irregular ocasionada pelo engripamento do mecanismo ou por obstruções nas passagens de ar.
Nas motocicletas que não são equipadas com a válvula controle de ar da admissão (IACV) que possuem uma válvula de corte de ar (FID), ex. Yamaha YS Fazer 250 e XTZ 250 Lander também há a possibilidade de dificuldade marcha lenta.
No geral também pode haver engripamento do eixo da borboleta dificultando o retorno do acelerador.
Desgaste acelerado do eixo da borboleta gerando entrada de ar no motor e alterações na marcha lenta. A regra vale para todas as demais marcas de motocicletas.
Conclusão: a correta manutenção do filtro de ar proporciona benefícios ao bolso do usuário e ao meio ambiente.
É bom ter em mente que na manutenção o filtro de ar deixou de ser coadjuvante há muito tempo e passou a ser item de destaque.