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Treinamento e promoção dos colaboradores ajudaram a levar a Fran Imports, de São Paulo, a se tornar referência de empreendimento e gestão
“A primeira coisa que me levou a trabalhar em oficina foi a necessidade. Eu vim da Bahia, não sabia fazer nada, virei funileiro.”
A frase acima expressa uma origem comum a muita gente que atua na área da funilaria. A falta de opções de formação em funilaria acaba levando a uma tradição em que os menos preparados começam por essa atividade. Outra “tradição” do setor é a de que um funileiro aprende a função com um funileiro mais velho: às vezes é o pai, o irmão mais velho ou um amigo já experiente no trabalho.
Todo esse conceito, somado à honestidade da frase, torna difícil adivinhar que o autor da confissão é, hoje, aos 58 anos, um dos empresários mais bem-sucedidos e empreendedores do setor de reparação automotiva: Francisco de Assis Magos, o Fran, proprietário e homem-forte da oficina independente Fran Imports, localizada no bairro de São Miguel Paulista, extremo leste da cidade de São Paulo.
Quando teve a oportunidade de iniciar um negócio próprio, Fran começou pequeno. A oficina começou em 1980, no Jardim Helena, e foi mudando de endereço conforme a estrutura crescia e precisava de mais espaço. Até se instalar na sede atual: um complexo de diversos galpões que, somados, chegam a quase 9 mil metros quadrados; e onde a equipe de Fran atende a uma média de 280 carros por mês. Se poderia fazer mais? Ele tem certeza que sim, mas que não atende porque só faz a quantidade que lhe permita manter o nível de qualidade.
Qual o segredo para transformar o aprendiz de funileiro que – ele próprio diz – não sabia fazer nada em empresário de sucesso, dono de uma grande reparadora? A receita, de muitos ingredientes, tem um que sobressai: Gestão.
Estimulando a perfeição
Fran tem uma mentalidade empreendedora que vai na contramão do que muitos donos de oficina pensam a respeito da gestão de seus negócios. E o exemplo maior disso está na questão do treinamento dos colaboradores.
Outra tradição do setor de funilaria e pintura é o raciocínio curto de que não vale a pena investir no treinamento da equipe, porque, uma vez capacitado, o profissional deixa a oficina para ganhar mais em outro lugar ou para abrir seu próprio negócio. Não que isso não ocorra, mas abortar as oportunidades geradas pelo treinamento é sacrificar as próprias possibilidades da empresa. É como pensa Fran. “A gente acaba perdendo funcionário para a concorrência, mas os que ficam crescem aqui e nos ajudam a crescer.”
Não é só discurso. A Fran Imports tem a política de treinar seus colaboradores e promover os que se empenham no próprio aprimoramento. Fran faz questão de que cada colaborador faça, no mínimo, um curso de aperfeiçoamento por ano, encaminhando a equipe para treinamento no CESVI, no Senai ou na PPG, empresa de tintas que é parceira da sua oficina. “Quanto mais tempo o colaborador tem na oficina, mais ele se torna um profissional multifuncional”, afirma Fran. “Se é pintor, quero que faça um curso de montagem, depois de tapeçaria, depois de elétrica, e assim por diante. Quem tem vontade de ir para frente tem todo o meu apoio para crescer na oficina e mudar de categoria, até assumir um cargo de chefia.”
Aconteceu, por exemplo, com Samuel, um colaborador que, cinco anos atrás, estava na base da pirâmide hierárquica da reparação, atuando como ajudante na Fran Imports. Ao longo desse tempo, foi estimulado pelo dono da empresa a passar por uma série de treinamentos e, com seu próprio empenho e vontade de aprender, Samuel foi conquistando espaço dentro da oficina. Hoje, é um dos profissionais em que Fran tem maior confiança, desempenhando um papel de gestão na oficina de serviços rápidos da reparadora.
Outro exemplo que diz muito sobre esse reconhecimento do valor do treinamento é que, na época em que o teste da ASE era realizado com regularidade – para mensurar e certificar o grau de conhecimento dos profissionais da reparação – Fran incorporava 50 reais ao salário de cada colaborador, sempre que passava no teste.
Transmitindo o conhecimento
Esse entusiasmo pelo treinamento, para Fran, vai além do que acontece dentro da sua oficina. Com uma visão mais ampla, o empresário está se estruturando para o projeto de uma oficina-escola, cuja meta será preencher uma das lacunas mais significativas dentro das empresas de reparação: formar profissionais nas técnicas de funilaria e pintura, para entregar mão-de-obra especializada ao mercado. Será um curso por células (especialidades). Os alunos que passarem por todas as células terão condições de assumir um cargo de chefe ou gerente de oficina.
A Fran já conta com um grande galpão, de 2.200 metros quadrados, para a estrutura da escola. A ideia é conseguir fechar uma parceria para os treinamentos e com, pelo menos, uma seguradora, que terá a responsabilidade de fornecer veículos sinistrados para que os aprendizes reparem. A meta inicial é de trabalhar com sete ou oito carros sinistrados por vez, tendo cinco aprendizes atuando em cada carro. O treinamento seria custeado pela venda dos carros cedidos pelas seguradoras, depois de reparados.
“Essa iniciativa me veio à cabeça porque a gente não encontra bons funileiros no mercado”, explica Fran. “Há boas opções de cursos de aprimoramento, como os dos CESVI e do Senai, mas precisamos de uma escola de formação.”
O objetivo é ter o projeto funcionando até 2012. Empresas interessadas na parceria para o projeto da Fran Imports podem entrar em contato pelo e-mail: [email protected]
Sempre com aval de qualidade
Quem chega à recepção da Fran Imports logo nota uma variedade de banners e adesivos. São os diversos certificados recebidos pela empresa. Há 13 anos, a oficina foi uma das primeiras a obter a classificação do CESVI, e hoje pode ostentar o banner da Certificação Quatro Rodas que é feita pelo CESVI em parceria com o IQA (Instituto da Qualidade Automotiva).
Acompanhamento do reparo
Gestão de primeira linha, na visão de Fran, também passa pela eficiência no atendimento ao cliente. O empresário pensa dessa forma desde os anos 1970, quando chamou a atenção para a necessidade de, pelo menos, um banheiro para mulheres na recepção.
Agora esse cuidado está expresso na forma como a oficina proporciona o acompanhamento dos clientes em relação ao andamento do reparo de seus veículos.
É o acompanhamento via Internet. Clientes particulares acessam no site da Fran Imports, com a identificação do CPF, fotos atualizadas de como seu carro está naquele momento na oficina, com informações sobre esse andamento. A mesma atenção é dada às seguradoras: por meio do CNPJ, as companhias podem acompanhar o reparo de todos os carros que estiverem sendo reparados na oficina. Cada etapa é fotografada.
“Esse recurso esvaziou a recepção da oficina, porque sempre tinha gente aqui querendo saber sobre o carro”, explica Fran. “Hoje, só quem está chegando com o carro batido ou que veio retirar.”
Segundo Francisco de Assis Magos, esse reparador que é referência de gestão e atendimento em São Paulo, o cliente tem de ir à oficina pensando que não vai lá para sofrer. “A situação em que ele deixa o carro na oficina é sempre uma tragédia. Então nós precisamos trabalhar para que, no mínimo, ele deixe o carro pensando que, pelo menos, o veículo vai receber o melhor cuidado possível. É um alívio para ele, e uma felicidade para nós, que ele pense assim”, diz Fran.
Se todas as oficinas pensassem da mesma forma, menos gente acharia que uma batida simples de trânsito pode ser descrita como uma tragédia. Hoje, quem deixa o carro na Fran Imports, certamente não pensa mais assim.
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