Demanda por serviços automotivos pode dobrar até o final do ano, em São Paulo

O gráfico mostra que, de fevereiro a junho, a demanda por serviços automotivos cresceu 100% porém, o volume de serviços nas oficinas aumentou em média 60%. Este incremento na quantidade de carros é fruto direto da inspeção veícular ambiental. Ocorre, porém, que a tendência da demanda é continuar subindo, enquanto a capacidade instalada de atendimento das oficinas começa a mostrar esgotamento, por conta de falta de mão-de-obra e peças
A inspeção veicular ambiental trouxe para o aftermarket tudo o que ele sempre sonhou: preencheu a ociosidade do setor; há, porém, um alerta: oficinas sentem falta mão-de-obra especializada e aumento na dificuldade de encontrar peças
O aftermarket automotivo vai de vento em popa na Região Metropolitana de São Paulo, e a tendência é melhorar, segundo inédito estudo elaborado pela CINAU (Central de Inteligência Automotiva) que o jornal Oficina Brasil teve acesso com exclusividade.
Em resumo, o mercado de reparação deve praticamente dobrar de tamanho até o final deste ano, caso o abastecimento de autopeças seja mantido, apesar da alta demanda gerada pelas oficinas e também pelas montadoras. Outro gargalo eminente é a falta de mão-de-obra especializada, que já é escassa e tem alta rotatividade.
De acordo com o 1º Estudo de Tendências do Aftermarket, assinado pela CINAU, o Índice de Geração de Demanda - Produção (IGD-P) estimado para dezembro deste ano pode chegar a 2,24 pontos. Para efeito comparativo, em Junho, o IGD-P medido foi de 1,47 ponto.
O motivo para este resultado é a inspeção veicular ambiental, que nos últimos seis meses dobrou a demanda nas oficinas paulistanas e também de cidades vizinhas à Capital. “Em fevereiro, quando a inspeção veicular ambiental começou a valer para todos os carros com placa final 1, o IGD-P foi de 0,73 ponto e, cinco meses depois, dobrou, saltou para 1,47 ponto”, afirma o estatístico Alexandre Carneiro, responsável pela pesquisa.
Consequências
Apesar de a notícia ser boa e extremamente otimista, existem alguns senões que se não forem considerados podem jogar um balde de água fria em toda esta euforia. O primeiro é a capacidade instalada das oficinas para atender a toda esta demanda.
 Com a inspeção veicular ambiental, as oficinas de São Paulo registraram aumento de 100% na demanda
Em junho encerrou o prazo legal para todos os carros com placa final 3 registrados no município de São Paulo para realizar a inspeção veicular ambiental. Um mês antes, foi a vez dos carros com placa final 2 e, em abril, os de placa final 1. Assim, com apenas três finais de placas já passadas pelas oficinas, a quantidade de carros que procuraram reparo dobrou.
É certo que nestes seis primeiros meses do ano além das placas 1 e 2, as placas 3, 4, 5 e 6 também já foram convocados, porém, quem tem carro com placa final 4 tem até 31 de julho para realizar a inspeção e, neste mês inicia-se a convocação dos carros com placa final 7.
Assim, o ciclo virtuoso se mantém e, como nem todos realizam a vistoria no prazo legal, a tendência de crescimento na procura por serviços automotivos é certa, com a ampliação do percentual de carros de deve passar pela inspeção, até que 100% da frota seja convocada em outubro, estimada em 6 milhões de veículos.
Já existem casos de oficinas que trabalham com 100% da capacidade e, por isso adotaram o atendimento por agendamento, com filas que ultrapassam uma semana. Este é o caso da Stilo Motores, oficina localizada na zona Norte de São Paulo, de propriedade do reparador Francisco Carlos de Oliveira.
Com média de 200 passagens por mês, Oliveira conta que nos últimos dias tem havido fila de clientes na porta da oficina, logo cedo, para serem atendidos. “Estamos com oito dias de fila no agendamento”, comenta o reparador.
Oliveira afirma que para dar conta de todo o movimento, precisaria de mais dois mecânicos, profissionais que estão em falta no mercado. “Tenho duas vagas abertas aqui, para profissionais experientes e com vontade de trabalhar”, conta ele ao revelar que atualmente tem três mecânicos quando o número ideal seria cinco.
Outra oficina que tem utilizado o artifício de agendamento é a Especializada Josmar, localizada na zona Sul de São Paulo, de propriedade de Josmar Boschetti Jr. Com capacidade de atender 100 veículos por mês, em média, Josmar conta que tem trabalhado todos os dias, inclusive aos sábados e domingos, de portas fechadas, para dar conta do movimento.
Tal como Oliveira, da Stilo Motores, Boschetti comenta que faltam profissionais especializados no mercado. “Tenho cinco vagas abertas há meses e não consigo preencher”, afirma Boschetti.
E, para quem pensa que o gargalo de mão-de-obra qualificada é consequência de baixos salários, a faixa salarial oferecida pelas duas oficinas é de no mínimo R$ 2.000, sendo que na Stilo, o reparador tem a oportunidade de trabalhar por produtividade. “Um dos mecânicos chegou a tirar mais de R$ 5.000 em um mês”, afirma Oliveira, da Stilo Motores.
Inflação
Demanda em alta pode significar também maior procura do que oferta e, no caso do aftermarket, isso tende a refletir em aumento de preços de peças, matéria-prima para o reparador trabalhar.
O estudo da CINAU mostra que se o ritmo continuar como está, a expectativa é de inflação de 2 a 3 pontos percentuais acima do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) acumulado em dezembro, que a pesquisa FOCUS do o Banco Central (base 11 de junho de 2010) recentemente estimou em 9%. Em outras palavras, se as previsões do BC e da CINAU se concretizarem, as autopeças terão preço elevado entre 11% e 12%, em média, mas é preciso lembrar que alguns produtos, pela característica de mercado, pode ter o custo elevado em 100% ou mais, pois estudos elaborados pela CINAU mostram que para o reparador, a disponibilidade da peça é mais importante do que o preço, apesar de ele sempre procurar a melhor relação custo-benefício na hora de adquirir a autopeça.
Esta estimativa de inflação tende a ocorrer se o setor não viver um blecaute no abastecimento, pois segundo a última medição do IGD (Junho), 50% dos reparadores entrevistados afirmaram ter encontrado dificuldades em comprar peças no mercado de reposição.
Esta dificuldade refletiu diretamente no perfil de compra do reparador e, quem está perdendo mercado, neste momento, é o Varejo. De acordo com o IGD de Junho, as lojas de autopeças representaram 48% da preferência de compra do reparador, índice que chegou a ser de 73% em fevereiro e março deste ano e que já foi de 86% em outubro de 2009.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos no Estado de São Paulo (Sincopeças), Francisco de La Tôrre, confirma a falta de peças e revela que o abastecimento do mercado tem sido complementado por componentes importados, principalmente da Ásia e Leste Europeu. “Importar está sendo mais barato do que produzir internamente e com isso estamos matando a indústria brasileira de autopeças”, denuncia De La Tôrre.
Apesar disso, o presidente do Sincopeças comemora aumento de 8% no volume de vendas do setor, em relação ao início do ano, nas lojas de autopeças da capital, e crescimento de 5% no interior do Estado. “A inflação foi pequena, apesar de o produto nacional estar em falta, principalmente os ligados à regulagem de motores”, diz.
O sócio-proprietário da MasterCar, José Antônio Masteguin, concorda com De La Tôrre, e conta que este ano as vendas aumentaram entre 5% e 7%, em relação ao ano passado. “Não tenho sentido que o reparador está comprando menos, pelo contrário, o mercado está aquecido”, afirma.
Análise
Se por um lado o varejo comemora crescimento de 8%, deveria se preocupar em encontrar meios para acompanhar o crescimento de contratação de serviços do setor de reparação, que segundo o 1º Estudo de Tendências do Aftermarket foi de 60%, entre fevereiro e junho, apesar de a demanda ter dobrado neste mesmo período.
Em outras palavras, a demanda tem crescido mais rápido do que a oferta, que não consegue supri-la, pois encontra gargalos, como a já citada falta de mão-de-obra especializada e dificuldades de encontrar peças.
O IGD de junho mostrou que o principal canal de compra do reparador, o Varejo, perdeu muito terreno na última medição, ou dormiu no ponto e deixou de acompanhar o mercado, uma vez que os canais Distribuidor e Concessionária obtiveram expressivo crescimento na preferência de compra do reparador. O Distribuidor, que em maio tinha 16%, saltou para 28% em junho, enquanto o concessionário subiu de 20% para 22%, no mesmo período.
O cenário atual é, portanto, de alerta, pois os fatos mostram que a demanda está aquecida, 50% dos reparadores tem tido dificuldade em encontrar peças no mercado, e o perfil de compra tem mudado de forma impactante.
Vale lembrar que para o reparador o preço é o quarto colocado na lista dos cinco itens mais importantes, e que em primeiro, vem agilidade, pois a prioridade do reparador é atender ao dono do carro o mais rápido possível, porque ninguém gosta de ficar a pé.
Assim, pode ser que o reparador esteja se programado melhor na hora de comprar peças, pois ao trabalhar com agendamento prévio, sabe de antemão qual carro estará na oficina e se adiantou em busca do melhor preço, quase sempre obtido no canal Distribuidor.
Não significa, no entanto, que seja apenas este o motivo pelo qual os canais Distribuidor e Concessionária tenham conquistado a preferência do reparador, pois por outro lado, a maior dificuldade para encontrar peças o tem levado a buscar preço aliado a disponibilidade. O fato de o Varejo apresentar queda na preferência pode significar que este canal não tem conseguido se abastecer propriamente. É preciso lembrar que o Varejo tem como principal fornecedor o Distribuidor.
Aqui cabe recordar o comentário feito na edição do mês passado pelo diretor de aftermarket da Sabó, Marcus Vinícius. “Quem normalmente trabalhava com 90 dias úteis de estoque, hoje opera com 45, e isso não é o suficiente para abastecer todo o mercado com a agilidade que ele demanda”, afirmou. Ao que parece, as palavras de Vinícius começam a ganhar volume.
Previsões
Pelo andar da carruagem e mantidos os níveis de aumento/redução dos canais de abastecimento, o 1º Estudo de Tendências do Aftermarket mostra um cenário de muito equilíbrio na preferência de compra do reparador, no final deste ano, com a conquista de 35% do canal Concessionário, contra 33% do canal Distribuidor e igual percentual do canal Varejo.

Se esta previsão se concretizar, isso será uma grande reviravolta no aftermarket tradicional. O estudo mostra que os maiores beneficiados com o aquecimento do mercado de reposição serão as montadoras, enquanto os players que operam exclusivamente no aftermarket (ou tem neste mercado a maior parcela de rentabilidade) - indústrias, distribuidoras e lojas de peças - manterão os atuais níveis de crescimento e faturamento, porém sem aproveitar a grande tsunami de oportunidades que se apresenta pela frente.
Já quando o assunto é procura por oficina, o IGD mostra que de fevereiro a junho a demanda por serviços dobrou na Grande São Paulo e o volume de serviços executados cresceu 60%. Este crescimento ocupou boa parte da capacidade produtiva do setor de reparação, que sofre com o blecaute da mão-de-obra e dificuldade de encontrar peças.

Mantidas as condições atuais, o Estudo da CINAU prevê, no entanto, que a procura por oficina até o final deste ano vai dobrar novamente (isso mesmo, a previsão é da demanda quadruplicar em 2010), enquanto a capacidade produtiva das oficinas tende a ficar limitada. Caso os elos da cadeia consigam trabalhar estes gargalos, estima-se que ela pode manter um ritmo de crescimento igual a 60%, além dos 60% já apresentados entre fevereiro e junho.
Em resumo, o aftermarket automotivo tem potencial para crescer cerca de 100% este ano, mas para isso precisa de preparar e não deixar que os gargalos falta de peças e mão-de-obra atrapalhem este desempenho.
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