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A história de vida do diretor do Senai Conde José Vicente Azevedo, Fabio Rocha da Silveira, é tão interligada à instituição de ensino por ele comandada que poderia ser inventada. Mas não é. Marcado pela determinação, o jovem diretor nascido na cidade de Bauru, na região centro-oeste do Estado de São Paulo e a cerca de 350 km de São Paulo, conta que a primeira idéia de frequentar a escola técnica veio aos 12 anos de idade, época em que entregava jornal na rua da escola, em Bauru.
“Passava em frente ao Senai, via o pessoal sair da escola e pensava: ‘eu preciso estudar’. Um dia parei a bicicleta e entrei para perguntar qual era o pré-requisito. E falei para mim mesmo: um dia eu vou estudar aí”, revela. Dois anos depois, aos 14, Silveira inicia uma jornada que ainda está longe de terminar. “O curso de Tecnólogo em Sistemas Automotivos é uma evolução do profissional. É um grande sonho para os próximos 10 anos. Mas para sonhar lá na frente, temos de começar agora”, diz.
Durante o tempo que frequentou o Senai, Silveira se destacou ao ser o primeiro aluno do curso de mecânica a participar de uma competição estudantil internacional, em 1995, na França, tendo ficado em 7º do mundo. “Na época, só as grandes escolas participavam das Olimpíadas do Conhecimento. Eu e um amigo fomos procurar o diretor para falar para ele que a gente queria participar. No primeiro ano, meu amigo ficou em primeiro lugar em mecânica de tornearia e eu em segundo, na seletiva estadual. Dois anos depois, competi novamente e fiquei em primeiro na estadual e depois na nacional. Em 1995, fui para a França, representado o Brasil”, conta.
Jornal Oficina Brasil – Como funciona o Senai?
Fabio Rocha da Silveira – O Senai nasceu para atender os setores industriais do nosso pais. Nossa estratégia sempre foi buscar alinhamento entre as necessidades do empresário com a educação profissional. Nossos cursos são formados por um comitê técnico setorial que discute as ações de acordo com as necessidades do mercado. Formatamos o curso, apresentamos para o setor e depois o lançamos para o mercado de trabalho. Conseguimos ter um acerto muito grande com relação às necessidades das indústrias. Nós atuamos em dois níveis, que é curso de aprendizagem industrial e o curso técnico, e também iniciamos um trabalho forte na faculdade Senai, em nível tecnológico.
JOB – E quando teremos o curso superior em automobilismo no Senai Ipiranga?
FRS – Estamos em fase de conclusão do projeto para enviar ao Departamento Regional São Paulo, para que envie ao MEC (Ministério da Educação e Cultura). Esperamos uma decisão para os próximos anos. Não é algo imediato, está em processo de aprovação.
JOB – E quais são as diretrizes do novo curso?
FRS – O curso ainda não existe, está em fase de projeto e é muito importante que isso fique bem claro, para não haver confusão. O projeto aborda a criação de um curso superior de Tecnologia em Sistemas Automotivos, com habilitação em Tecnólogo em Sistemas Automotivos, e tem como objetivo habilitar profissionais em três níveis de competências: 1) desenvolver soluções tecnológicas; 2) administrar processos de pós-vendas na área automotiva; e 3) conduzir a manutenção em sistemas automotivos. Todas atendendo as normas técnicas, ambientais, de qualidade, saúde e segurança no trabalho, e buscando atender às necessidades e expectativas do cliente e a rentabilidade do negócio.
JOB – E qual a carga horária do futuro curso?
FRS – Estão previstas 2.400 horas + 400 de estágio, tendo como pré-requisito a conclusão do Ensino Médio. Acreditamos muito na realização desse curso e estamos começando a buscar engenheiros interessados em lecionar na faculdade.
JOB – A concretização do curso será uma evolução para o setor de reparação.
FRS – Sem dúvida. É a evolução do profissional, um grande sonho. Seria ideal que todos os profissionais que lecionam aqui tenham no mínimo um curso desses. É um sonho para os próximos 10 anos, e para sonhar lá na frente precisamos começar agora.
JOB – Hoje o Senai Ipiranga oferece que tipos de cursos?
FRS – Temos os cursos de aprendizagem industrial (CAI), em nível básico, de dois anos de duração, e o técnico, que além de toda parte técnica, tem na grade matérias de gestão, comportamento, meio ambiente, inglês, relacionamento interpessoal etc. É um complemento do CAI.
JOB – E os cursos de formação continuada?
FRS – Dispomos de uma ampla grade de cursos que são alinhados com as necessidades das montadoras e dos sindicatos do setor (Sindirepa, Sindimotor, Sindipeças e Anfavea). É importante destacar que antes de montar qualquer curso para atender uma necessidade pontual saímos e buscamos informação, por meio de pesquisas setoriais, como análise dos veículos mais emplacados, os que mais circulam na região etc.
JOB – A mão de obra precisa se qualificar cada vez mais?
FRS – Sim, sem dúvida. Entendemos que o setor da reparação tem de passar por uma evolução com continuidade da formação. Vivemos dois momentos: um em que estamos realmente trabalhando essa formação e outro em que estamos qualificando um setor que no passado passou por uma carência de informação muito grande. Hoje, as informações no Brasil estão muito mais fáceis. Lógico que tem muito para melhorar, tem muito para acertar. Mas você cria uma quantidade de profissionais que buscam essas informações, e isso é muito legal. E o Senai então, constantemente, através dos convênios com as empresas do setor automotivo, realiza e cria cursos para atender os setores. Eu acho isso muito importante.
JOB – E como isso acontece?
FRS – Atualmente, o Senai capacita praticamente os profissionais das montadoras. Seis meses antes de lançar um veículo, entram em contato conosco, vamos para a fábrica com nossos profissionais, recebemos as informações necessárias para capacitarmos os funcionários das concessionárias. Dois anos depois ou após o tempo da sua garantia, esse carro começa a chegar à oficina independente e a gente inicia o trabalho com esses profissionais. Então é preciso ter um jogo de cintura e um equilíbrio muito grande na hora de criar os cursos de formação continuada. Não adianta ter uma unidade somente para criar cursos de lançamentos, pois não haverá público. O mercado necessita de cursos de formação básica.
JOB – Quantos convênios o Senai Ipiranga possui atualmente?
FRS – Temos convênios com 54 empresas, entre montadoras e sistemistas, indústrias de autopeças. E mais de 100 empresas parceiras que contribuem de forma direta oferecendo componentes, materiais didáticos, tintas, vernizes, componentes elétricos, eletrônicos, transmissões, entre outros.
JOB – Existem planos de expansão?
FRS – Sem dúvida. O objetivo é avançar com o número de convênios e parcerias. Ninguém anda sozinho. O nosso sonho é que todas as montadoras tivessem convênio com o Senai. Ainda não temos todas por questões estratégicas de cada empresa e nós respeitamos isso. Independente disso temos relacionamento com todas as marcas.
De qualquer forma, gostaríamos que mais empresas do setor automobilístico tivessem maior contato. Temos empresas que não são conveniadas, mas que de forma indireta trabalham conosco. Queremos sempre avançar para poder dar cada vez mais suporte técnico e resposta para o setor da indústria automobilística. O Senai é uma instituição que realmente está focada nessa questão da reparação e temos muito que aprender, sempre.
JOB – As montadoras tem visto o setor independente como aliado e permitido ao Senai liberar as informações técnicas com maior facilidade?
FRS – Acredito que sim. Atualmente, as montadoras tem, particularmente, uma estratégia de avanço no mercado independente. Não posso generalizar e dizer que todas as montadoras têm essa consciência. Mas acredito que as montadoras estão enxergando mais o setor de reparação independente. A estratégia é individual, de cada montadora, mas posso dizer que a maioria hoje tem liberado as informações para que possamos oferecer para as oficinas independentes.
JOB – E isso é bom para as próprias marcas...
FRS – Sim. Acreditamos que existe um interesse enorme em profissionalizar ainda mais as oficinas independentes. As montadoras têm sentido a necessidade de readequação e profissionalismo por parte da reparação. Isso para que, após o período de garantia do carro, o consumidor possa frequentar a oficina independente e receber reparação de acordo com os padrões determinados pela montadora, porque ali está em jogo a marca.
JOB – Quais as vantagens do convênio para as empresas?
FRS – O convênio com o Senai é uma ação ganha-ganha. A empresa conveniada entra com a tecnologia, material didático e ferramental específico. O Senai contribui com um instrutor, com o espaço físico e com toda estrutura educacional para a formatação desse cursos. A empresa parceira ganha, pois não precisa disponibilizar um prédio, aluguel, instrutor e isso é muito bom, pois usufrui da metodologia do Senai, a forma, a credibilidade. E para nós também é muito interessante receber uma tecnologia que ainda não foi lançada no mercado. É um privilégio, um orgulho, receber a confiança de capacitar um grupo de profissionais do setor em primeira mão.
JOB – Como é dividido o tempo do instrutor, dentro do convênio?
FRS – Metade do tempo disponível do instrutor é para a montadora, assim como o espaço físico do Senai, para treinamento dos concessionários. Na outra metade, ele fica a disponibilização do Senai para repassar todo o seu conhecimento de ponta para os nossos cursos de aprendizagem industrial, técnicos, e futuramente nos cursos superiores. Isso porque ele é hoje a pessoa que mais tem informação no mercado. Ele é um profissional de excelente gabarito. E ele também formata os cursos para o setor independente.
JOB – Os cursos de formação continuada?
FRS – Isso. O mesmo profissional que ministra um treinamento na concessionária, acaba ministrando treinamento para os mecânicos das oficinas independentes, claro que respeitando as particularidades.
JOB – Quantas pessoas são capacitadas pelo Senai, anualmente?
FRS – No ano passado capacitamos 22 mil profissionais. Foram 1.130 matrículas nos cursos regulares (Curso de Aprendizagem Industrial e Curso Técnico) e 19.553 nos cursos de formação continuada. Além disso, temos treinamentos “in company”: a empresa vem à escola, determina a demanda, formatamos um curso e o ministramos em local escolhido pela empresa.
Neste prédio, são 24 mil m² de área, sendo que 18 mil de área construída. São mil alunos por dia, divididos em 60 a 70 turmas no Senai, mais 30 nas empresas. São 100 funcionários, mais 100 terceirizados. É uma mega empresa.
JOB – Qual o perfil da pessoa que procura o Senai?
FRS – Quem vem aqui tem dois objetivos: conseguir um emprego ou melhorar de emprego. E, apesar da crise, que eu acredito que vai passar logo, as pessoas não deixaram de fazer curso, pelo contrário, vieram em busca de melhorar profissionalmente. Eu acredito muito nesse país, o Brasil está muito mais profissional, e é hora de enfrentar, não de dizer que somos coitadinhos.
JOB – E existe previsão de aumento de vagas?
FRS – Sim. Temos como meta um ligeiro aumento de vagas. Para este ano, teremos 1.286 vagas nos cursos regulares e 21.073 nos cursos de formação continuada. O Senai não para de investir, em nenhum momento cortou investimentos. No próximo ano teremos investimentos de R$ 7 milhões em equipamentos, mobiliário e estrutura de organização. Iremos investir pesado na re-estruturação e renovação da parte física do prédio, na modernização das instalações.
JOB – Como o Senai atua com a constante evolução da tecnologia automotiva?
FRS – Desde 1990 percebemos uma abertura muito grande com relação às tecnologias voltadas para o setor automotivo. Vejo com bons olhos essa mudança. Primeiro a questão da segurança, depois do meio ambiente, com motores menos poluentes, veículos com sistemas de segurança bem melhores, com componentes recicláveis e, lógico, alguém por trás que faça a reparação e também a prevenção. Hoje é preciso uma nova cultura, que é a da prevenção. Todo mundo sabe que prevenir é melhor do que remediar, porém, na verdade ainda é um assunto muito discutível. O proprietário só vai perceber isso quando o carro quebrar e aí o remédio fica muito mais caro. E lógico que o Senai entende isso, e com os convênios trabalhamos essa mentalidade.
Matéria da edição Nº218 - Abril de 2009