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Criada há mais de 100 anos com objetivo de disseminar a tecnologia automotiva entre a comunidade de engenharia, a SAE (sigla em inglês equivalente a Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) tem no Brasil uma filial, a SAE BRASIL, que reúne os principais executivos das indústrias de autopeças e montadoras.
Um deles é Besaliel Botelho, presidente da associação e vice-presidente executivo para América Latina da Bosch, que concedeu entrevista exclusiva ao jornal Oficina Brasil e contou como a associação enxerga o futuro da reparação automotiva no País.
“Teremos um crescimento, uma evolução maior da tecnologia da mobilidade, como a legislação nova para diagnose, a OBDBr2, que começa em 2010 e vai exigir uma redundância de todos os equipamentos, principalmente nos de controle das emissões, e aí, quando se fala em reparação, acredito que serão necessários novos conhecimentos dos técnicos e profissionais desta área, para entenderem como será esse sistema no diagnose”, disse.
Acompanhe abaixo a entrevista completa em que Botelho fala ainda da importância da inspeção técnica veicular como fomentação da manutenção preventiva, além de como o aftermarket influencia a indústria no desenvolvimento de novos produtos.
Jornal Oficina Brasil – O que deve mudar na reparação automotiva nos próximos anos?
Besaliel Botelho – A tecnologia automotiva muda ano a ano. Temos introduzido uma série de novidades em eletrônica embarcada em diversos sistemas veiculares, como o de propulsão, de frenagem, de controle elétrico etc. que obriga o reparador estar mais bem preparado e treinado. Além disso, a comunicação embarcada cresceu bastante, todas as interligações do veículo com suas inteligências são feitas com CAN BUS. Tudo isso mostra que o mecânico dos últimos 20 anos teve de se adaptar fortemente a essas novas realidades. A própria injeção eletrônica; o motor está cada vez mais fechado. Mas, por outro lado, essa complexidade foi amenizada no momento em que colocamos o que chamamos de sistemas de diagnose.
JOB – Como assim?
BB – Hoje, através da diagnose, o mecânico pode ter uma noção rápida de onde está o problema. Quer dizer, a tecnologia ficou mais complexa nos veículos, mas por outro lado tem esse benefício, da diagnose. Além disso, há uma forte tendência de maior segurança nos veículos, com as novas leis de ABS e airbag, também suportadas por sistemas de diagnose. Então eu diria que a empresa reparadora vai ter de se preparar, se equipar para acompanhar essas tecnologias e poder fazer a detecção dos problemas de forma muito rápida. É uma tendência. Mais tecnologia no veículo requer maior conhecimento, porém essas tecnologias que entram chegam através de uma interface de diagnose que facilita um pouco a vida do reparador em diagnosticar o problema e, com isso, fazer o reparo.
JOB – E o que podemos esperar de novo em sistemas de diagnose?
BB –Teremos um crescimento, uma evolução maior da tecnologia da mobilidade, como a legislação nova para diagnose, a OBDBr2, que começa em 2010 e vai exigir uma redundância de todos os equipamentos, principalmente nos de controle das emissões, e aí, quando se fala em reparação, acredito que serão necessários novos conhecimentos dos técnicos e profissionais desta área, para entenderem como será esse sistema no diagnose.
JOB – Essa nova legislação é muito diferente da atual?
BB – Não, não é muito diferente. Nós acrescentamos um controle maior, por exemplo, da eficiência do catalisador. Os carros já começam a sair de fábrica com uma segunda sonda Lambda que vai fazer essa redundância.
JOB – Quais as vantagens disso?
BB – Os carros ganham maior tempo de garantia e consequentemente necessitam de reparação com maior intervalo de tempo. Agora o que deve acontecer, independente de tudo, é a inspeção veicular, que recomeçou aos poucos em são Paulo, e já está presente no Rio de Janeiro.
JOB – Será que agora vai?
BB – Acredito que isso é algo que não vai ter volta, com o sem ajuda do governo, pois não tem como o Brasil, um mercado emergente como o nosso, com uma frota de quase 30 milhões de veículos, ficar fora de uma regra de inspeção veicular rígida, séria, bem estruturada, porque não só afeta as emissões, mas também a segurança. Uma inspeção veicular completa acaba dando o norte para os reparadores de uma forma geral.
JOB – O carro hoje quebra menos e já existem sistemas que impedem grandes danos aos veículos, que são estratégias de falhas. Até que ponto elas vão evoluir?
BB – A indústria está fazendo o papel dela, de colocar tecnologias que facilitam a vida do consumidor, para alertá-lo quando há uma falha. Uma comunicação digital avisa quando há uma falha qualquer, um problema no sistema de freio, óleo etc.. Hoje, a tecnologia coloca isso até de uma forma bem simples. Os carros realmente duram muito mais hoje, estão menos sujeitos a falha, e esse é o objetivo de todos; colocar o veículo com alta durabilidade, com alto tempo de garantia. Agora, o que precisa é fiscalização, pois sem uma fiscalização rígida, você gera condutores, proprietários, consumidores que usam o carro para ir de A para B e só vão para quando o carro quebra mesmo. Isso é um pouquinho de cultura, disciplina e, por isso, a fiscalização é importante. Em um mercado como o nosso, sem fiscalização você não vai ter a técnica cobrindo 100%.
JOB – A tecnologia não pode ajudar a obrigar esse motorista que não tem a cultura de manutenção preventiva a fazer as revisões necessárias?
BB – Não vejo assim, não acho que eu tenho de criar módulos de falha no veículo para fazer com que o consumidor pare para arrumar o carro. Isso seria, na minha visão, incabível. Não é o caminho. O caminho é utilizar a tecnologia para fazer o carro cada vez mais seguro, menos susceptível à falha.
JOB – Até que ponto a eletrônica vai evoluir nos veículos?
BB – Vai evoluir muito porque uma tendência natural é o veículo ficar cada vez mais elétrico. Os veículos híbridos virão como nicho, ainda numa distância longa para o mercado brasileiro, porém a eletrônica embarcada só tem a crescer cada vez mais em funções. Nós temos uma série de espaços ainda no Brasil, que ainda fazemos com sistemas convencionais, por exemplo, direção elétrica ainda é raro, sistemas de freios elétricos, sistema ABS, e outros que hoje são feitos analógicos, como suspensão. É uma tendência natural usar cada vez mais o eletrônico e energia elétrica, então vai ficar cada vez mais importante verificar o balanço energético do veículo, o tamanho da bateria. O guia mestre disso tudo é a redução de CO2 e o consumo de combustível fóssil. Assim, o uso da eletrônica vai ser cada vez mais intenso.
JOB – A SAE BRASIL é 100% a favor da manutenção preventiva. Quais as ações que a associação faz a favor desse tema?
BB – Realizamos diversas discussões abertas, painéis de debates provocando a conscientização do consumidor e da sociedade de que esse é o melhor caminho para evitar acidentes, desperdícios, e prejuízos para o consumidor. A inspeção veicular traz um benefício no bolso do consumidor, não é punitiva, muito pelo contrário, evita que haja um problema muito mais sério lá na frente, como, por exemplo, um acidente. As estatísticas feitas no Estado de São Paulo dão conta de que 90% dos congestionamentos são gerados por problemas de manutenção no veículo. A indústria da reparação tem de ver isso com bons olhos, a inspeção veicular vem realmente ajudar o mercado de reparação.
JOB – O aftermarket influencia o desenvolvimento de novas tecnologias?
BB – O mercado dita a regra de qual tecnologia precisa e o aftermarket acaba sendo um grande laboratório para se ter uma percepção do que deixa o consumidor insatisfeito e todos estão atentos sempre às pesquisas de mercado, pela rede de reposição, para alimentar a qualidade dos desenvolvimentos do equipamento original. Ele pode ditar alguns nortes do desenvolvimento tecnológico.
JOB – Algum caso de tecnologia que foi retirada do mercado com ajuda do aftermarket?
BB – Retirada não, mas melhorada, sim. Temos vários exemplos que através de estatísticas precisam ser adaptados e esse é um caminho bem natural. O mercado é o looping fechado que dá para a montadora e os sistemistas, os desenvolvedores de tecnologia, o feedback para fazer uma otimização melhor. Todos os produtos que desenvolvemos e otimizamos tem um foco de satisfação do cliente e custo. O importante é fazer com qualidade, ou seja, fazer certo da primeira vez. Com isso você tem menos custo e mais satisfação do cliente.