O Jornal Oficina Brasil foi privilegiado com a oportunidade oferecida pela Renault para avaliar o Novo ZOE elétrico e compartilhamos com duas oficinas, porque o prazo para ficar com o carro foi de apenas algumas horas.
Chegar em uma oficina e perguntar se fazem manutenção em carros elétricos é quase uma provocação, mas foi exatamente isso que fizermos apenas para criar um impacto diante desta nova fase que a reparação automotiva está iniciando.
A resposta natural foi que não fazem manutenção em carros elétricos, mas depois de identificar que era apenas um carro de avaliação trazido pelo Jornal Oficina Brasil, a curiosidade e vontade de dirigir um carro elétrico tomou conta de todos nas oficinas visitadas.
Vamos falar um pouco sobre a trajetória deste carro elétrico que conta com quase uma década de experiência da Renault, que investe muito neste novo segmento de veículos.
Diferente de outras montadoras que adaptam o motor elétrico em carros de motor térmico, a Renault projetou e fabricou o ZOE para funcionar com motor elétrico.
A versão inicial de produção foi apresentada em 2012 no salão de automóveis de Genebra, despertando o interesse do público pelo carro com características de uso urbano com elevado apelo ambiental nos materiais utilizados na sua fabricação e principalmente por não emitir gases poluentes.
Desde o lançamento, a Renault acumulou números crescentes nas vendas deste modelo, chegando à desejada posição de ter o carro elétrico mais vendido na Europa.
Para atingir esta posição privilegiada nas vendas, várias melhorias foram introduzidas no motor durante estas três gerações, que iniciou com potência de 65, aumentou para 85 e atingiu 100 quilowatts nesta última versão.
A evolução do motor foi acompanhada pela bateria, atingindo mais do que o dobro de capacidade, passando de 22, para 41 e chegando a 52 quilowatts-hora, sem alterar as dimensões e preservando o espaço interno com conforto.
Nesta terceira geração o Renault ZOE oferece um alcance de 395 quilômetros de acordo com o padrão WLTP, que representa um ganho de 25% a mais que no modelo anterior, lançado em 2015 com uma autonomia de 240 quilômetros que já surpreendia pelo bom desempenho que comprova os elevados desenvolvimentos quando comparados com o primeiro ZOE lançado em 2012, que disponibilizava um alcance entre 100 e 150 km, dependendo da forma de dirigir.
Atualmente temos mais um aliado nas viagens mais longas que são as opções de carga rápida de até 50 quilowatts em corrente contínua (DC) distribuídas pelas estradas e com o mínimo de planejamento, é possível atingir longas distâncias.
Resumindo, o carro elétrico está mudando o mercado automotivo com opções de compra, locação e aplicativos de transporte, mas tem uma mudança mais interessante que está ocorrendo com os motoristas. Para usar um carro elétrico não basta abrir a porta, entrar, ligar o carro e sair. É preciso fazer um plano de viagem semelhante ao que um piloto de avião faz no plano de voo antes decolar (preflight check). Inicialmente é necessário instalar um aplicativo no celular, em que são mostrados todos os pontos de recargas na cidade ou estradas.
Verificar a quantidade de energia armazenada na bateria e a autonomia disponível.
Avaliar o consumo de energia, que se altera pelas condições climáticas, obrigando o uso de ar-condicionado que é um dos grandes consumidores de energia, a quantidade de pessoas (peso), O trânsito que anda e para elevam o consumo de energia e não permitem a regeneração quando tirar o pé do acelerador.
Claro que o plano de voo é mais amplo e complexo que o simples plano de viagem necessário ao uso de um carro elétrico, principalmente nas estradas.
Acelerando o Renault ZOE elétrico contra o tempo, chegamos na oficina Canaã Serviços Automotivos, no bairro de Pinheiros na cidade de São Paulo, e fomos recebidos pelo André, que se assustou ao ser questionado se fazia manutenção em carros elétricos, mas ficou tranquilo ao saber que era uma visita de apresentação do ZOE elétrico para a Avaliação do Reparador do Jornal Oficina Brasil.
A oficina oferece diversos serviços, desde carburação, que mostra o início de uma evolução do automóvel, passando pela eletrônica e chegando no atual carro elétrico, indicando que o reparador tem que investir sempre em cursos e treinamentos para se manter ativo no mercado.
A outra oficina que conheceu o Renault ZOE elétrico de terceira geração foi a oficina Motor.Com Assistência Técnica Automotiva no bairro de Perdizes, também em São Paulo. Na lista de serviços que a oficina do Wilson oferece, tem a elétrica automotiva, mas ele também ficou surpreso ao ser questionado se fazia serviços em carros elétricos.
Logo que soube que era um carro da Avaliação do Reparador, chamou toda a equipe para ver a novidade e já foram abrindo o capô para ver o trem de força composto pelo motor elétrico e os demais componentes.
Receber a visita do Jornal Oficina Brasil na oficina já é uma alegria para os nossos reparadores e chegar com um carro elétrico é motivo de comemoração pela oportunidade de conhecer um carro literalmente novo em todos os aspectos.
Foi assim que o André da oficina Canaã se sentiu em poder conhecer detalhes de um carro que até então só era visto nas mídias automotivas. A alegria expressa no sorriso do André revela o quanto ele gostou da nossa visita com o Renault ZOE.
Ver uma bateria convencional no compartimento do motor até tranquilizou o André, porque quando se fala em carro elétrico, logo se imagina que só tem a bateria principal que fica no assoalho do carro, carregada com centenas volts de corrente contínua e no entanto, ali estava a tão conhecida bateria de 12 volts.
A razão para mais sorrisos do André foi descobrir onde fica a chave geral do ZOE, no assoalho do banco do passageiro, basta retirar o carpete e movimentar as travas para chegar no componente vital para o conhecimento de todos os reparadores que pretendem se preparar para fazer cursos e aprender a fazer reparos em veículos elétricos.
É fácil entender o conceito de manutenção em veículos elétricos, basta comparar com a manutenção elétrica predial ou residencial, na qual o trabalho feito com segurança e conhecimento tem início no desligamento da chave geral do prédio ou residência.
Esta é a primeira regra na manutenção em veículos elétricos, desligar a chave geral, mas cada carro tem um local diferente, ainda não temos uma padronização para facilitar a vida dos reparadores.
O Wilson da Motor.Com também ficou impressionado com a visita do Jornal Oficina Brasil e agradeceu pela oportunidade de participar da Avaliação do Reparador e ainda com um carro elétrico, não poderia ser melhor.
Sem perder tempo, ele começou a explorar o carro elétrico, que é novidade para a maioria dos reparadores brasileiros.
Detalhes pequenos como a maçaneta para abrir a porta traseira podem até dificultar a abertura para os menos atentos, pois estamos acostumados com a posição padrão, mas neste carro está deslocada para cima.
O Wilson mostrou para a sua equipe que o carro não tem mais a portinha de abastecimento na lateral traseira que é padrão nos carros com motor térmico, agora o novo padrão da maioria dos carros elétricos é na parte da frente, onde normalmente fica o logotipo do fabricante do automóvel.
Há duas tomadas de entrada de energia, que pode ser de corrente contínua com carregamento mais rápido e corrente alternada, que é mais lento e recomendável para evitar o aquecimento da bateria durante o processo de recarga. Este aquecimento pode comprometer o tempo de vida da bateria do carro.
O acabamento externo e interno do ZOE agradou o Wilson, que não se cansou de observar os detalhes técnicos do carro que representa uma nova fase na reparação automotiva.
Para o André, estar sentado no banco do motorista em um carro elétrico causa uma expectativa até para o simples ato de ligar o carro, basta apertar um botão e o motor está pronto para partir, mas há a ausência de ruído do motor característico do motor térmico, que não existe, é apenas um silêncio total que gera dúvidas se o carro está ligado ou não.
Neste momento deixamos de utilizar um dos nossos sentidos que é a audição e passamos a dar preferência à visão, assim é possível observar o painel de instrumentos que informa que o carro está pronto para sair.
Aparece no painel digital a palavra READY, indicando que o carro está pronto e basta tirar o pé do pedal do freio, pisar no acelerador e o carro começa a se movimentar em total silêncio que até incomoda, até se acostumar e aceitar que está desfrutando de uma nova tecnologia.
Dirigindo pelas ruas, o André observou o desenho de uma folha no painel do ZOE que diminuía o tamanho quando acelerava e aumentava quando reduzia a aceleração, indicando a economia de energia da bateria. O Wilson entrou no carro e foi logo ver a autonomia como se tivesse verificando quanto combustível o carro tinha para rodar e ele também questionou se o carro já estava pronto para sair, porque não tem referência para quem está acostumado só a dirigir carros com motores térmicos. A resposta a este questionamento está no painel e é preciso ler para entender, o que é natural quando se está vivendo uma nova experiência a bordo de um carro elétrico.
A aceleração do carro mostra uma nova dimensão, pois o carro reage de forma instantânea, a energia flui da bateria para o motor que converte energia elétrica em movimento mecânico e transmite diretamente para as rodas de tração.
Esta reação rápida agradou o Wilson, que pôde até comparar com a reação de um carro esportivo que é mais arisco nas saídas e durante o percurso, o motor está sempre pronto para reagir ao pisar no acelerador.
Diferente de carro convencional que utiliza motor térmico, o motor elétrico do Renault ZOE possui uma potência adequada que atende à proposta de um carro urbano com 100 quilowatts que equivalente a 135 cavalos de potência e um torque 245 newtons-metro, que atinge a velocidade de 140 Km/h de forma suave e confortável.
A Renault ampliou a autonomia do ZOE usando um motor mais leve e compacto, combinado com um sistema de gerenciamento eletrônico otimizado.
O motor elétrico é síncrono com bobina de rotor, possui um sistema de recarga e aproveitamento de energia que é ativado durante as frenagens e desacelerações quando o pedal do acelerador não está sendo acionado, passando a sensação de um freio motor que faz o carro reduzir a velocidade ao gerar energia que é estocada na bateria.
Neste momento, o motor deixa de ser consumidor para se transformar em gerador de energia.
Os engenheiros da Renault otimizaram integração de componentes e reduziram o tamanho do motor em 10% sem comprometer o desempenho.
A caixa de redução, a unidade de eletrônica de potência e o sistema de regeneração estão integrados em uma única unidade de controle eletrônico de potência.
No motor, os módulos, que eram separados, foram substituídos por módulos totalmente integrados e menores, as lacunas entre os módulos e os cabos de alimentação foram eliminadas.
A novidade está no sistema de resfriamento a ar, que é usado para controlar a temperatura do motor, utilizando dutos entre os módulos e apenas o Controlador Eletrônico de Potência ainda é resfriado a água.
Estamos vivendo uma fase tecnológica na qual alguns componentes estão sendo transformados e até deixando de existir na forma tradicional aplicada em veículos com motor térmico. É o caso da transmissão, que nos veículos elétricos recebe a denominação de caixa de redução.
A maneira mais fácil de entender como esta caixa funciona é lembrar do funcionamento de um liquidificador, ao ser ligado o conjunto de facas rotativas já atinge a velocidade real de rotação do motor, isso não pode acontecer no carro porque seria impossível controlar.
É aqui que entra a caixa redutora para controlar a velocidade de rotação do motor elétrico, permitindo uma saída controlável que vai aumentando a velocidade de acordo com o nível de acionamento pedal do acelerador, o que na eletrônica poderíamos chamar de potenciômetro.
Para a alegria dos reparadores, a caixa redutora precisa de manutenção, pois as suas engrenagens mecânicas precisam de lubrificação e o óleo precisa ser trocado periodicamente, conforme o plano de manutenção sugerido pela Renault.
Suspensão, freios e direção
Quase tudo no Renault ZOE é elétrico, mas a suspensão continua como as tradicionais com amortecedores, molas, bandejas e braços de articulações que em algum momento vão precisar de manutenção e foi isso que o André e o Wilson perceberam enquanto observaram o carro e até arriscaram dizer que já podem atender carros elétricos em suas oficinas, mesmo que, para estes tipos de serviços mecânicos, é preciso respeitar as recomendações de segurança exclusivas de veículos elétricos.
Os freios também continuam utilizando discos, pastilhas e fluido, mas o vácuo não é gerado pelo motor elétrico e para esta função é utilizada uma bomba de vácuo elétrica.
As pastilhas de freios e os discos tem uma durabilidade mais elevada, chegando a 50% quando comparado com carros de motor térmico e isso se deve ao sistema de frenagem regenerativa que possibilita a recuperação de energia para aumentar a autonomia do ZOE, em que, a cada vez que o veículo reduz a velocidade, parte de sua energia cinética é convertida em eletricidade, abastecendo a bateria que será recarregada assim que o motorista tirar o pé do acelerador ou aciona levemente o freio.
O painel digital mostra ao motorista os momentos em que a frenagem regenerativa faz com que a bateria armazene energia adicional, além da imagem de uma folha verde indicar a forma de dirigir de forma econômica, tornando a frenagem regenerativa como parte integrante de uma condução ecológica.
Ativando a nova função de direção no modo B, que intensifica o efeito de frenagem regenerativa, permite ao motorista usar o carro com apenas um pedal. Neste modo, o carro desacelera mais rápido assim que o motorista libera o pedal do acelerador, tornando a direção mais fácil na cidade, onde o trânsito lento é frequente.
Para um carro elétrico, a direção não poderia ser outra, o ZOE utiliza direção com um motor elétrico na coluna que precisa de 10,56 metros para fazer um giro completo com 2,73 voltas.
Elétrica, eletrônica e conectividade
Nas duas oficinas, a bateria secundária de 12 volts chamou a atenção pela proximidade dos polos negativo e positivo, que oferecem riscos de contato das garras utilizadas para fazer uma partida auxiliar de emergência, portanto fica a observação do André e do Wilson.
Através da tecnologia do ZOE, basta uma simples pressão no botão para enviar instruções ao motor, enquanto o modo de direção selecionado é mostrado no console central de 10 polegadas e no visor do motorista e assim o novo ZOE oferece a experiência elétrica em todas as suas funções necessárias para o motorista.
O novo ZOE está equipado com muitos recursos inovadores como o novo modo urbano, projetado para tornar a direção diária mais fácil e agradável, que proporciona desacelerações intensificadas, permitindo a utilização reduzida do pedal do freio. No console central elevado está a nova alavanca de câmbio eletrônica, que permite uma transição fácil, com um simples toque entre os modos de condução.
O display mostra as principais informações de direção e todas as configurações específicas para a direção elétrica, começando com o ecomedidor que incentiva hábitos de direção ecologicamente corretos.
O motorista pode personalizar a iluminação e o layout das diferentes informações na tela. O horizonte da tela e os vários efeitos de perspectiva criam uma sensação de profundidade e ajudam o motorista a se concentrar.
Ele também permite que os usuários conectem seus smartphones e exibam aplicativos via Apple CarPlay e Android Auto.
O Novo ZOE possui uma infraestrutura elétrica totalmente nova que permite a integração de todos os sensores e funções automatizadas essenciais aos novos sistemas de assistência ao condutor (ADAS).
Os sistemas de segurança no ZOE incluem o Sistema de Frenagem de Emergência Ativo (AEBS), Aviso de Saída de Faixa (LDW), Assistência de Manutenção de Faixa (LKA), Reconhecimento de Sinal de Trânsito (TSR), Monitoramento de Ponto Cego (BSM) e Faróis automáticos de alta / baixa (AHL).
Possui recursos de assistência à direção como o Easy Park Assist (EPA) com as mãos livres, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, Auto-Hill hold e um freio de estacionamento automático.
Apenas para ilustrar a localização de alguns componentes do Novo ZOE.
Peças de reposição
Estamos em uma situação totalmente nova e as peças de reposição para o Renault ZOE devem ser pesquisadas inicialmente na rede de concessionárias Renault e o cliente deve ser informado desta limitação de pontos de vendas de peças, devido à tecnologia do carro e por ser novo no mercado nacional.
1. Tomada de recarga, 2. Motor elétrico, 3. Bateria secundária de 12 volts, 4. Bateria primária de tração de 400 volts corrente contínua, 5. Cabos elétricos de alta voltagem cor laranja
Recomendações
André da oficina Canaã – viver este momento de transição entre o motor térmico e o motor elétrico faz os reparadores repensarem a forma de consertar um carro.
Literalmente devemos voltar para as escolas de treinamentos automotivos porque mesmo com todo conhecimento que temos, não é suficiente para permitir qualquer manutenção em um carro elétrico.
Por mais difícil que seja, é preciso admitir esta realidade, porque será pior querer tentar mexer em um carro com tecnologia desconhecida e pôr em risco a própria vida, além da possibilidade de danificar o carro, que possui componentes de preços elevados e provavelmente não encontrados no mercado. A recomendação no caso de um cliente aparecer na oficina com um carro elétrico, é que ele busque a rede de concessionárias da marca, porque o mercado e as oficinas ainda não estão preparados para atender este tipo de carro.
Wilson da oficina Motor.Com - é sempre uma alegria ter o contato direto com uma nova tecnologia automotiva e o carro elétrico chegou e vai ocupando o espaço que hoje é dominado pelos motores térmicos.
Nada impede que as oficinas se preparem para este novo tipo de serviço, que ainda está na mão das concessionárias pelo fato da garantia dos veículos, o conhecimento técnico e peças também estão somente com eles, diante desta condição atual, o melhor é indicar o cliente para a rede de concessionárias da marca para que o serviço seja realizado com segurança e eficiência.
Para as oficinas que desejam avançar nesta tecnologia, só tem um caminho, que é buscar conhecimento com treinamentos e disposição financeira para aquisição de equipamentos para ter um retorno a longo prazo porque ainda é um mercado muito restrito.
Mesmo sabendo que a Renault tem parceria com duas empresas do setor elétrico nacional, que é a WEG fabricantes de motores e equipamentos elétricos e a EDP, empresa de distribuição de energia, que permitem que os clientes de carros elétricos tenham um serviço completo para a aquisição e instalação de carregadores elétricos, ainda é muito cedo para fazer investimentos em equipamentos, mas já é tempo de fazer cursos voltados para o carro elétrico.