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Honda Accord se despede do mercado na versão 3.5 V6 sem ser ter frequentado muito as oficinas


Enquanto a montadora japonesa apresenta ao mundo a 10ª geração de seu grande sedan que chegará aqui no segundo semestre de 2018, reparadores analisam a 9ª geração, última a contar com o motor 3.5 V6 que nunca deu muito trabalho

Por: Antônio Edson - 15 de janeiro de 2018

A escalada da indústria automobilística japonesa no Ocidente não seria tão vitoriosa sem um hatch quadradinho (foto 1) lançado há 41 anos. Foi com ele, o Honda Accord, que os japoneses fincaram um pé ou suas quatro rodas nos EUA, mais exatamente na fábrica de Marysville, Ohio, inaugurada em 1982. Com injeção eletrônica e câmbio de quatro velocidades, esse Honda mostrou ao que veio, ou ao que foi: o primeiro carro de origem estrangeira a ser o mais vendido da América entre 1989 e 1990. Hoje o modelo acumula perto de 13 milhões de unidades comercializadas ali. E como em porteira que passa boi passa boiada, depois do Accord mais carros japoneses obtiveram o green card para serem fabricados nos EUA. Aí, foi como em Pearl Harbor, 1941: quando os ianques abriram os olhos já era tarde. Atualmente, entre os 10 veículos mais vendidos nos EUA sete são japoneses. A investida asiática acabou Foto 1por ensinar aos norte-americanos, orgulhosos de terem inventado um jeito de produzir automóveis em larga escala, o fordismo, que havia outra forma de fazê-lo, o toyotismo.

Via Ohio, o Accord chegou ao Brasil em 1992, em sua quarta geração, ainda como sedan médio. A versão cupê praticamente não viria e o hatch já havia saído de linha. Aliás, a flexibilidade modular do veículo ajuda a entender sua longevidade. Através dos tempos e de suas gerações, o Accord foi uma metamorfose rodante, evoluindo de compacto para sedan médio e, finalmente, para sedan grande, com vistas a acompanhar o crescimento da renda das famílias de classe média, seu público. No Brasil, o sedan cumpriu o papel de embaixador da Honda sendo uma ponta de lança de tendências tecnológicas inovadoras que, mais tarde, poderiam ser utilizadas em outros modelos. Na versão 3.5 V6 24V da 9ª geração, por exemplo, ele traz o sistema de solda de peças de aço e alumínio no subchassi dianteiro e o recurso LaneWatch, uma câmara instalada ao pé no espelho retrovisor direito para exibir na tela do sistema de multimídia imagens do ponto cego.

Lançada em 2013, essa 9ª geração do Accord está deixando a linha de montagem já que em julho a Honda apresentou ao mundo a 10ª geração do sedan cuja maior novidade foi a substituição do motor 3.5 pelo 2.0 turbo do Type R. A versão de entrada virá com o mesmo 1.5 turbo do Civic Touring. Com isso, os V6 aspirados, ao que parece, entram em hibernação – sem prazo para acordar – pelos lados da montadora, pois todas as novas versões do Accord terão motores com quatro cilindros. Como no Brasil o novo Accord promete chegar apenas no segundo semestre de 2018, a 9ª geração terá um pouco mais de sobrevida. Tanto que foi a bordo dessa versão que, em outubro, a equipe de reportagem do jornal Oficina Brasil visitou três estabelecimentos do Guia de Oficinas Brasil com o objetivo de submetê-la à análise de um time de reparadores independentes. Nesta edição, os escolhidos foram a Binho Car Service, de São Bernardo do Campo (SP); a Center Car Serviços Automotivos, de São Caetano do Sul (SP), e a Aurélio Imports, no bairro de Santana, São Paulo (SP). Nessas oficinas, o Honda Accord EX 3.5 V6 24V 2016, avaliado em R$135.425 – tabela Fipe de novembro – foi avaliado por...

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Alex Sandro Salomão de Oliveira (e) e Marcos Aurélio Ornelas (d) (foto 2). O reparador Aurélio Ornelas, de 66 anos, fundou a Aurélio Imports em 1987 no Jardim São Paulo, zona norte da capital paulista, mas foi só em 1992, com a abertura do mercado nacional às importações, que a oficina começou a definir sua vocação: trabalhar com veículos estrangeiros. A opção se consolidou em 2007 quando o filho Marco Aurélio, hoje com 40 anos, tomou a dianteira dos negócios. “Fizemos um alto investimento em equipamentos de análise de diagnóstico e acerto de motor para carros importados. Se por um lado trabalhar nesse segmento eleva o valor do tíquete médio, por outro o giro de carros importados é menor do que o de carros nacionais e mais populares”, afirma o reparador que desde os 14 anos trabalha com o pai. Atualmente a oficina responde por um movimento aproximado de 100 ordens de serviço por mês e conta com sete colaboradores, entre eles Alex Sandro Salomão, 42 anos de idade e há 20 como reparador.

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Márcio Alves (e, em pé), Vinícius Rosa (d, em pé), Lorivaldo de Sousa Batista (e) e Bruno Stok (d). (foto 3). Há 30 anos instalada no centro de São Caetano do Sul (SP), a Center Car Serviços Automotivos é gerida pelos sócios Márcio e Vinícius há menos de dois anos. Márcio, bacharel em Tecnologia da Informação, e Vinícius, engenheiro mecatrônico, resolveram transformar um hobby – a mecânica automotiva – em profissão e assumiram a oficina dispostos a implantar ali um serviço que prioriza a qualidade, a transparência e a satisfação total do cliente. “Queremos oferecer o mesmo nível de serviço que sempre gostamos de receber. Mostramos com transparência ao cliente não apenas o que precisa ser feito em seu carro, mas principalmente o que precisa ser bem feito”, enfatiza Vinícius, que conta com dois colaboradores: o jovem Bruno Stok, de 24 anos, e reparador desde os 18, e o experiente Lorivaldo de Sousa Batista, 44 anos, reparador desde os 22 anos, e que há 17 anos trabalha na oficina.Foto 4

Fábio Alves Pereira (foto 4). Aos 40 anos e com 26 de profissão, Fábio é um caso raro de empreendedorismo precoce. Aos 17 anos, por gostar de mexer com a eletrônica automotiva, insistiu com os pais para ser emancipado e poder abrir a própria oficina mecânica. A Binho Car Service, a segunda oficina de Fábio, está há 17 anos em São Bernardo do Campo (SP). Paralelamente ao trabalho, o reparador tornou-se instrutor automotivo do Senai por 15 anos. “Depois de estudar e fazer cursos ali por mais de 10 anos resolvi passar um pouco do que aprendi para o pessoal que faz os programas de formação continuada”, lembra Fábio, que conta com o auxílio de oito colaboradores que o ajudam a dar conta de um movimento mensal de aproximadamente 150 ordens de serviço. “Gosto de dizer que aqui atendemos todas as necessidades de um carro: suspensão, motor, alinhamento, geometria, parte elétrica e eletrônica, injeção e câmbio”, lista o reparador.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Veículos da classe média para cima nos países desenvolvidos, os grandes sedans ainda rodam pouco no Brasil, que, nem mesmo os fabricam. Aqui o segmento é hegemonicamente dominado pelos importados cujos custos de produção e a baixa demanda não compensam a nacionalização da montagem. E enquanto os SUVs continuarem dando as cartas no mercado é improvável que o cenário mude. Sustentados sobre o tripé imponência-luxo-conforto, esses grandes sedans são vistos por aqui como classudos e conservadores. E o Accord – médio para os padrões norte-americanos, mas grande para os brasileiros com seus 2,77 metros de entre-eixos (foto 5) – não foge à regra, a julgar pela impressão causada nas oficinas. “Esse acabamento interno no painel e nas portas imitando madeira (foto 6) dá um toque de classe ao carro”, aponta Fábio Alves, cujas linhas do carro agradam pelo estilo bem comportado, embora não façam o gênero do reparador. “Prefiro os sedãs grandes com um estilo mais arrojado e uma pilotagem esportiva, tipo BMW”, admite.

 

É preciso reconhecer que essa 9ª geração do Accord se esforçou em mostrar alguma jovialidade em relação à concorrência e à geração passada com o redesenho de seus faróis de LED com duplo feixe, grade, capô, para-choques (foto 7) e lanternas traseiras agora compostas também por LEDs (foto 8). O interior foi refeito com iluminação mais colorida e multimídia com tela full color de oito polegadas (foto 9). As rodas de aro 18 (foto 10) ficaram mais esportivas do que o antigo jogo aro 17. “Sim, a Honda tem aos poucos descolado aquela imagem de carro de tiozão de seus sedans. A impressão é que as pessoas de mais idade têm preferido os Toyota e o público mais jovem, os Honda”, interpreta Fábio Alves. “Se pegarmos um Accord de 11 anos atrás e outro de hoje encontraremos muitas diferenças e uma linha evolutiva na beleza e na tecnologia”, admira Márcio Alves.

 

 

Marcos Aurélio igualmente reconhece a evolução dos sedans japoneses, mas aponta que ainda falta a eles um predicado presente nos similares europeus, particularmente alemães. “Eles estão em constante melhoria, com mecânica boa e eficiente e matéria-prima de primeira qualidade. Mas ainda são um tanto sem graça, sem charme, pouco divertidos. Um grande sedan precisa ter alma e isso nenhum asiático ainda tem. Tanto que suas montadoras vivem buscando na Europa designers para seus carros”, analisa.

 

AO VOLANTE

Estar em um carro elétrico: essa foi uma das sensações relatadas pelos reparadores em função do respeitoso silêncio no interior do Honda Accord EX 3.5 V6 24V com o motor ligado. A montadora caprichou no isolamento acústico do habitáculo do sedan ao instalar o Active Sound Control ou o sistema de insonorização ativo (através de microfones, rádio e alto-falantes) que identifica os barulhos ou ondas sonoras emitidas pelo motor e as anula com uma contrafrequência equivalente emitida imperceptivelmente pelos alto-falantes. Com isso, mesmo com o motor trabalhando acima dos 3.500 giros, o Accord impõe silêncio. “Carros com quatro cilindros são bem mais barulhentos que este, cujo ronco é suave”, compara Fábio Alves.

A qualidade mais sentida pelos reparadores foi o desempenho fogoso do sedan que espantou qualquer impressão de timidez. “Anda um absurdo, tanto quanto uma BMW. De bem comportado ele só tem a aparência”, surpreende-se Vinicius Rosa. “Dirigibilidade nota 10! Tentei achar um defeito e não consegui. Ele tem respostas rápidas e vai muito bem na estrada e na cidade com esse sistema inventado pela Honda que permite funcionar apenas três cilindros. Reúne o melhor dos mundos: desempenho de esportivo, conforto de sedan grande e racionalidade de carro compacto”, elogia Márcio Alves, que ainda destacou a suspensão mais firme em relação às gerações anteriores do modelo. “O carro tem um rodar que absorve bem as irregularidades do piso e isso transmite mais segurança nas curvas sem comprometer o conforto, diferente de outros sedans do mesmo porte”, relata. “De fato, o carro parece ser mais durinho do que alguns concorrentes talvez para demonstrar alguma esportividade durante a pilotagem, mas ainda assim é confortável”, confirma Marcos Aurélio.

Fábio Alves aprovou a câmara (foto 11) que fornece imagens do ponto cego do veículo – o sistema LaneWatch – na tela do multimídia. “É um recurso que agrega segurança e ajuda bastante”, garante. Acelerando o Accord pela região de Planalto da Via Anchieta, o reparador constatou que o carro entrega a potência prometida sob um giro relativamente baixo, o que justifica o excepcional rendimento do carro para um motor V6.

Foto 11

MOTOR

A julgar pelo recente anúncio da chegada da 10ª geração do Honda Accord, que passou por um processo de downsizing e terá motores turbo 1.5 e 2.0, o motor i-VTEC 3.5 V6 de 24 válvulas (foto 12) da 9ª geração vive os últimos giros. Ainda que os brasileiros não conheçam o desempenho dos novos propulsores, pois a 10ª geração do Accord só chegará ao País na segunda metade de 2018, a percepção entre os reparadores é a de que a montadora está abrindo mão de um “excelente produto”. “O motor i-VTEC é referência de qualidade, robustez e simplicidade. Costuma-se até dizer que ele não é muito amigo dos reparadores porque raramente dá oficina. E quando dá é para repor seu desgaste natural, como óleo, fluidos, filtros, enfim o básico”, testemunha Márcio Alves. “Esse motor é uma tranquilidade. Melhor de trabalhar do que os BMW e Mercedes Benz, sem prejuízo de seu desempenho e durabilidade”, compara Marco Aurélio. “Motor V6 não é sinônimo de complicação, e esse Honda comprova”, resume Fábio Alves.

Junto aos reparadores, o recurso mais admirado do i-VTEC 3.5 V6, que produz até 280 cavalos de potência a 6.200 rpm, é seu sistema de Administração de Cilindro Variável ou Variable Cylinder Management (VCM). Considerando a velocidade do carro, o giro do motor e a posição do corpo de borboleta ou válvula TBI (foto 13), o VCM analisa a condição de uso e escolhe a estratégia de funcionamento mais racional, podendo ativar ou desativar alguns cilindros do motor. Um exemplo: quando o torque máximo é necessário todos os cilindros são acionados, enquanto que na condução urbana, em velocidades mais baixas, o VCM permite que o motor V6 seja operado com apenas três cilindros. O recurso resulta em uma considerável economia de combustível. “Antigamente, motores V6 rendiam três quilômetros por litro, esse faz mais de 13 na estrada”, compara Marcos Aurélio. Também ajuda em uma condução econômica o recurso ECON (foto 14) do veículo que, ao ser ativado, aciona diversos sistemas que privilegiam o baixo consumo de combustível.