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Chevrolet Cruze LTZ 1.4 com tecnologia turbo flex confirma: downsizing chegou de vez aos sedãs médios


Reparadores aprovam novo motor Ecotec 1.4 turbo flex do sedã médio trazido da Argentina, elogiam seus sistemas elétrico e de arrefecimento, mas mostram apreensão quanto à transmissão automática de seis velocidades

Por: Antônio Edson - 05 de dezembro de 2017

Na peleja pela liderança do segmento dos sedãs médios travada há pelo menos 10 anos no mercado nacional entre os Toyota Corolla e o Honda Civic, outro concorrente com DNA asiático almeja romper a hegemonia japonesa: o Chevrolet Cruze. Projetado pelo braço sul-coreano da General Motors, a antiga Daewoo, o sedã atualmente produzido na planta de Rosário, Argentina, chegou em 2011 ao Brasil, onde já é o terceiro mais vendido da categoria e está sendo preparado para incomodar os líderes. Este ano, a segunda geração do Cruze até partiu para o downsizing para provar que é tão ou mais eficiente que seus dois rivais. Deixou de lado o motor aspirado de 1.8 litro e adotou um turbo flex 1.4 com injeção direta, cabeçote com coletor de escape integrado além de bloco, cabeçote e cárter de alumínio. Resultado: o carro emagreceu 100 quilos, ganhou 153 cavalos de potência, 24,5 kgfm de torque e ficou entre os mais econômicos da categoria.

O regime proporcionou fôlego maior ao sedã da GM que, nos nove primeiros meses de 2017, vendeu aqui duas mil unidades a mais do que em 2016 inteiro – 14.284 carros entre janeiro e setembro contra 12.064 no ano passado. Também evidenciou que há vida inteligente para o downsizing além dos veículos de entrada, pois uma vez que ele se associe aos turbocompressores e à injeção direta pode chegar ao topo de linha. A tendência é consequência de legislações ambientalistas adotadas em países que se preocupam em diminuir o consumo de combustível, a emissão de poluentes e o efeito estufa. E os motores turbo podem se aliar à causa por conferirem mais potência e desempenho a motores de menor litragem, de menos cilindros e, portanto, mais limpos, com a vantagem de gerar menos perdas devido ao menor atrito. A conta final é ainda mais favorável quando, como no caso da atual geração do Cruze, houver, no motor, a troca de peças de ferro por outras de alumínio, metal mais leve.  

Disposta a saber se o sedã médio da GM tem bala na agulha para desafiar Corolla e Civic, a reportagem do jornal Oficina Brasil assumiu o volante de um Chevrolet Cruze LTZ 1.4 Turbo 2017 com transmissão automática GF6 de terceira geração e seis velocidades. A missão foi conduzir o veículo avaliado em R$ 109.266,00 – tabela Fipe de outubro – a três oficinas do Guia de Oficinas Brasil onde ele seria avaliado por um time de primeira linha de reparadores independentes. E como missão assumida é missão cumprida, o carro foi entregue aos cuidados de profissionais da Azuos for Car, no bairro da Vila Sônia, em São Paulo (SP); da Autovila BoFoto 1sch Car Service, em Pinheiros, também na capital paulista; e da Mecânica São Paulo, no bairro da Cerâmica, em São Caetano do Sul, na região do ABCD paulista. Nelas, o sedã foi examinado por...

Antenor Ramos (e), Joel Roberto de Souza Júnior (c) e Ênio Reis Barrios (d) (foto 1). Técnico em mecânica formado pelo Senai e graduado em Administração de Empresas, Joel Roberto, de 37 anos, fundou a Azuos for Car em 2015 após trabalhar com o reparo e a locação de máquinas copiadoras e de impressão. O perfil dinâmico de empreendedor impede Joel de ficar muito tempo no escritório da oficina. “Quando o movimento aperta, e isso felizmente tem acontecido com frequência, vou para a pista. Nosso movimento mensal ultrapassa 110 ordens de serviço. A estratégias para atrair e fidelizar os clientes é estabelecer contato com eles no míFoto 2nimo uma vez a cada seis meses para oferecer nossos serviços”, garante Joel, que tem nos colaboradores Antenor e Ênio profissionais capacitados para encarar os desafios do dia a dia. “Aqui na Vila Sônia há uma mistura de carros populares e importados, por isso precisamos estar capacitados para trabalhar com os mais diferentes modelos”, avisa Antenor, 36 anos, 29 dos quais vividos em oficinas.

Jorge Von Simson (foto 2). Com 48 anos, 22 deles dedicados à reparação automotiva, Jorge começou sua vida profissional na Ricavel, antiga concessionária GM localizada em Osasco (SP), mas não demorou a gerir o próprio negócio. Fundada por ele, a Autovila Bosch Car Service está há 20 anos na rua Henrique Schaumann. Antes, Jorge foi sócio de outra oficina por cinco anos. Com cursos em montadoras e no Senai, o reparador estagiou por um ano, em 1993, na Bosch alemã. “Foi um período importante, pois me capacitei em eletrônica embarcada antes da injeção eletrônica chegar com força ao Brasil”, relembra. Sua oficina localizada em um bairro de bom poder aquisitivo realiza uma média de 100 ordens de serviço por mês com um ticket médio elevado. “Ter uma bandeira Bosch ajuda, pois se trata de uma marca presente na mídia e associada a produtos de qualidade”, comenta.Foto 3

Renato Cândia (foto 3). O jovem Renato foi orientado a seguir a profissão de reparador pelo pai, um funileiro, e se preparou para chegar ao objetivo. Cursou o Senai e obteve o certificado ASE de excelência em mecânica, com especialidade em motor. Há 13 anos na mesma oficina, em 2014 teve a chance de se tornar seu proprietário quando o antigo dono quis vendê-la. E Renato aproveitou a oportunidade. Hoje, aos 39 anos, o reparador é dono do próprio negócio, a Mecânica São Paulo, que emprega cinco colaboradores e realiza, em média, 50 ordens de serviço por mês trabalhando com mecânica leve em geral. “A clientela de São Caetano do Sul, bastante fiel, costuma prestigiar o comércio local e não levar seu carro para oficinas de fora da cidade”, revela. Muitos dos clientes da oficina são aposentados ou funcionários da General Motors, montadora que instalou sua primeira planta industrial no Brasil em São Caetano do Sul, há 87 anos.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Seguindo a tendência de alguns concorrentes, a segunda geração do Cruze adotou um perfil sedã-quase-cupê de quatro portas caracterizado por um declínio acentuado do teto em direção ao porta-malas (foto 4) e que terminou por encurtar sua tampa. As linhas fluídicas do sedã foram criadas em túnel de vento sob o comando de Ed Welburn, chefe mundial de design da GM. De acordo com a montadora, o Cruze ficou 6,2 centímetros mais longo, o entre-eixos aumentou em 1,5 centímetro (agora é de 2,7 metros, um dos maiores da categoria) e ficou um centímetro mais alto. Sua carroceria está 25% mais rígida quanto à torção e 21% mais leve do que a versão anterior, com a adoção de materiais como alumínio e ligas de aço mais resistentes.

O reparador Renato Cândia descreveu bem sua primeira impressão do Cruze. “Quanto ao design e ao estilo é um dos melhores carros já produzidos pela GM, pois fica entre o clássico e o esportivo. Acho que dá para brigar com o Civic e o Corolla”, comenta. De fato, a segunda geração do sedã se caracteriza por um estilo moderno sem cometer exageros. Os “excessos” ficam por conta da segurança e comodidade, pois a versão LTZ traz seis airbags (frontais, laterais e de cortinas), sensores de luz, de chuva e de obstáculos dianteiros e traseiros, faróis com LEDs diurnos (foto 5), espelhos com rebatimento elétrico e aquecimento, retrovisor interno eletrocrômico, GPS atualizado em 3D (foto 6), rodas de liga escurecidas (foto 7), ajustes elétricos no banco do motorista, faróis altos automáticos, alertas de ponto cego e de colisão frontal, assistente de estacionamento, carregador de celular sem fio (wireless) e assistente de permanência em faixa, que corrige o volante sozinho para manter o carro centralizado na pista.

Jorge Von Simson elogiou o bom gosto do acabamento em três níveis do painel que se estende ao revestimento das portas (foto 8), se alterna em couro, plásticos rígido e soft e adota tons claros diferentes fugindo das cores escuras que imperam na maioria dos veículos nacionais. Mas se sentiu incomodado pela claridade excessiva do interior do veículo. “O acabamento interno é refinado, mas o ângulo de inclinação do painel reflete demais o sol e isso prejudica a leitura dos instrumentos e do sistema multimídia”, aponta. Antenor Ramos concordou que o acabamento interno caracteriza-se pela excelência. “As costuras duplas do painel, a gavetinha para recarregar o celular e o serviço OnStar da Chevrolet (foto 9), que atende chamados de emergência, colocam o Cruze em um patamar acima da média no quesito acabamento e segurança”, destaca.

AO VOLANTE

O silêncio foi a primeira virtude notada pelos reparadores durante a avaliação dinâmica do sedã. “Veículo sem vibração alguma, silencioso mesmo quando roda em ruas de paralelepípedo. Isso resulta do bom encaixe das peças do painel entre outros acertos de acabamento e mecânica”, anota Jorge Von Simson. “Nível de ruído baixo, não se ouve a rolagem dos pneus. Mal se percebe o motor trabalhando a quatro mil rpm”, registra Joel Roberto, que também atribuiu ao conjunto de suspensão parte do silêncio.  

Renato Cândia se sentiu à vontade devido à regulagem elétrica do banco do motorista. “O condutor veste bem o carro”, afirma. Jorge Von Simson elogiou o formato anatômico dos assentos e encostos, mas reconheceu que a visão traseira, devido à inclinação excessiva do vidro (foto 10), fica prejudicada. “O carro tem excelente ergonomia, mas a visão pelo espelho retrovisor interno não é das melhores e tornando obrigatório o recurso da câmara de ré. O sensor de ponto cego nos retrovisores externos ajuda nessas situações”, aponta.

Rodando pelas ruas excepcionalmente bem conservadas de São Caetano do Sul e pela Via Anchieta, Renato Cândia empolgou-se com o alto torque em baixas rotações. “Na sexta marcha e a 100 quilômetros por hora o giro é inferior a dois mil rpm. Admirável!”, elogiou. Joel Roberto confirmou que o “turbo entrega potência em baixa rotação nas retomadas de velocidade”. No entanto, Jorge Von Simson fez reparos ao desempenho abaixo do esperado nos testes de arrancada. “O motor demora um pouco para acordar”, anota.

Joel Roberto e Antenor Ramos tiveram a oportunidade de testar o Cruze sob chuva intensa e testemunharam que o sensor de ponto cego nos retrovisores externos funciona, assim como todo sistema elétrico do carro. “Com limpador de para-brisa, ar-condicionado, farol e rádio ligados, o sistema star-stop desligou o motor quando esse parou no semáforo ou ficou preso no congestionamento, e voltou a acioná-lo sem a intervenção do motorista quando os sensores perceberam que a demanda de serviços exigia mais força da bateria. Isso dá segurança ao motorista”, relatam.

MOTOR ECOTEC

Tamanho não é documento e, para alguns motores, não está associado a potência ou desempenho. Que o diga o propulsor Ecotec do Cruze (foto 11). Com 1.4 litro, ele traz injeção direta, cabeçote com coletor de escape integrado e comando variável de válvulas que resultam em uma potência de até 153 cavalos a 5.200 rpm e um torque de 24,5 kgfm a dois mil rpm. Claro que o turbocompressor (foto 12) é responsável pela maior parte dessa performance e por torná-lo cerca de 30% mais econômico que a versão anterior de motor 1.8: o Cruze rende até 14 km/l na estrada, justificando as notas “A” em economia de combustível na categoria e “B” no geral, além do selo Conpet de eficiência energética (foto 13).

Para os reparadores, motores pequenos, desde que estejam em um cofre de espaço razoável, significam reparabilidade descomplicada. E com o Ecotec do Cruze, cujo cofre já comportou motor maior, é igual. “A manutenção ficou fácil”, entende Jorge Von Simson. “Até diria que o motor foi projetado para facilitar a reparação, pois todos os sensores têm fácil acesso e a turbina pode ser desmontada sem complicação. Por ser dotado de corrente de comando e não correia dentada essa manutenção não precisará ser feita tão cedo. Ficou melhor para trabalhar”, acredita Jorge. “Retirando-se a tampa do motor a visão fica clara. Há bom espaço para trabalhar e o turbo não assusta, pois hoje esse recurso já é comum. Quanto às bobinas (foto 14) estão bem expostas, mas os bicos injetores (foto 15) exigem mais trabalho por estarem muito em baixo. Será necessário retirar as bobinas para chegar a eles com um prolongador de chave, e cuidado para não espanar os parafusos”, analisa Renato Cândia.

Antenor Ramos chamou a atenção para a nova especificação do lubrificante do motor, o 0w20, expressa na tampa de admissão do óleo (foto 16). “Trata-se de um fluido com densidade mais fina e 100% sintético devido ao motor ser dotado de uma turbina pequena e que trabalha com alto giro. Na partida a frio é necessário um lubrificante com essa especificação para interagir mais rápido possível com o motor e chegar logo às suas galerias, inclusive a turbina, pois essa é a que aquece mais rápido”, justifica o reparador. “A GM está recomendando esse óleo para alguns de seus novos carros, algo que as montadoras japonesas fazem há algum tempo. É um óleo mais fino que suporta temperaturas mais elevadas, principalmente em motores que trabalham sob forte calor”, completa Renato Cândia.

Devido ao turbocompressor, o controle de resfriamento do motor mereceu cuidado especial. Além de um radiador para diminuir a temperatura da água do motor (foto 17), seu sistema de arrefecimento conta com um intercooler (foto 18) servido por uma mangueira de aparência robusta (foto 19) para refrigerar o ar do turbo, um radiador para o óleo da transmissão e um condensador para o ar-condicionado. “Enquanto outras montadoras adotam um radiador para várias funções, a GM dividiu os trabalhos, certamente devido ao turbocompressor que eleva rapidamente a temperatura do motor. Acredito que o resultado será longevidade para o motor e para turbina, controle melhor da temperatura do óleo do câmbio e um ar-condicionado mais eficiente”, projeta Antenor Ramos.

Se houve cuidado com a temperatura, o coxim principal (foto 20) do motor não é hidráulico nem blindado. “Não há necessidade”, justifica Joel Roberto. “Os motores turbinados originais de fábrica introduzem potência com uma rotação mais baixa, por isso