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Nissan Tiida causa de dor de cabeça ao reparador independente com falha inusitada


Fruto da aliança Renault-Nissan, Tiida manteve as características comuns aos veículos orientais, mas com um defeito próprio e direto da fábrica. O stress está nas porcas do defletor de calor do escapamento

Por: Fernando Naccari e Paulo Handa - 10 de junho de 2014

O Tiida é um exemplo de veículo que foi fruto da globalização. Lançado e fabricado no final de 2004 no Japão pela aliança Renault-Nissan, ganhou repercussão e sucesso. Posteriormente, foi montado também na Malásia, China e México - de onde foi importado para o Brasil as versões “S” e “SL”, ambas com a opção de câmbio de manual, e com a “SL” disponível também na versão automática de quatro marchas, com função Overdrive e motor 1.8 16V a gasolina. Com plataforma derivada do Clio III europeu, porém com entre-eixos aumentado, o espaço interno era uma de suas grandes qualidades.

Já no ano de 2010, a Nissan trouxe a contestada versão Sedan do Tiida. Seu maior benefício era possuir um porta-malas de 467 litros, contra os 289 litros da versão hatch, mas visualmente, o design era uma tragédia. Em 2013, o Tiida deixou de ser comercializado em nosso país.

Trocando em miúdos, o Tiida era um veículo muito bom para sua categoria, pois além de ter sido vendido a um preço competitivo, possuía boa lista de equipamentos de série e mecânica simples e robusta. Acrescenta-se ao fato, carregar a boa fama que os veículos “japoneses” ostentam.  

Foto 1 / Reparador Andre Kenji Kumagai da Oficina Gigio’s Bosch Car ServiceNAS OFICINAS
Como será que este veículo se comporta nas oficinas? Para responder essa pergunta, a equipe do jornal Oficina Brasil contou com a colaboração do reparador e proprietário de um Nissan Tiida, Andre Kenji Kumagai (FOTO 1), que possui mais de 25 anos de experiência no mercado automotivo. Especialista em elétrica e injeção eletrônica, está há mais de 8 anos trabalhando na oficina Gigio’s Bosch Car Serive, situada no bairro do Ipiranga, na zona sul da capital de São Paulo.

 Mesmo com toda a sua tecnologia, o reparador André informou que o carro costuma apresentar um defeito incômodo de fábrica. “Após o condutor rodar com o veículo uma quilometragem entre 10.000km a 20.000km, as porcas do defletor de calor que isolam o conjunto do escapamento do monobloco do veículo se soltam e causam um barulho terrível para quem está dentro e fora do carro”. 

André mostrou a nossa equipe um Nissan Tiida 1.8 16V ano 2008 que estava com 32.325km rodados e, segundo ele, o cliente não aguentava mais o barulho do veículo na parte inferior.

Segundo André, os veículos Nissan pouco frequentam às concessionárias devido ao alto custo de reparo nestas. “Diversos veí­culos da Nissan procuram a oficina independente mesmo dentro do período de garantia para realizar manutenções devido a elevada cobrança imposta pelas concessionárias. Assim, raramente encontraremos este carro com revisões realizadas no período de três anos de garantia, o máximo que veremos será uma de dois anos. Depois disso, só encontraremos mesmo numa oficina independente”.

Foto 2MANUTENÇÃO
Sobre o veículo, André comentou que o Tiida possui uma manutenção fácil e simples. “Em comparação a alguns carros da mesma categoria de outras montadoras, o Tiida apresenta diversos componentes de fácil acesso, não sendo necessário procedimentos complexos para as manutenções mais comuns, como troca de filtros e limpeza de bicos”.

André afirma que com eletrônica embarcada básica, o carro não traz grandes novidades na oficina, pois ele tem componentes de qualidade no sistema de injeção eletrônica, com fiação protegida e conectores que dificilmente apresentam mau contato ou oxidação. O motor MR18DE possui bloco de alumínio e corrente de comando (foto 2). Ao contrário do que ocorre com outros veículos da marca, este propulsor não é originário da Renault, como ocorre com o March, que utiliza o mesmo 1.0 16V do Clio e o Livina 1.6 16V, que utiliza o velho conhecido K4M.

O reparador também ressalta que no cofre  do motor os espaços são generosos. “O sistema de sensores e atuadores estão dispostos de maneira a proporcionar rápida manutenção. Os chicotes não ficam expostos e os conectores são resistentes, dificilmente ficam danificados e não apresentam oxidação nem mau contato. Com um conjunto de suspensão robusto, tendo o já tradicional McPherson (FOTO 3) na dianteira e eixo semi-independente na traseira (FOTO 3A),  Tiida aguenta bem nossos buracos do dia-a-dia. “Tenho feito pouca manutenção neste conjunto”, opinou o reparador.

Foto 3 e 3A

André ainda acrescentou que na maioria dos casos que ocorreram manutenção, foi devido a algum tipo de colisão do veículo. 

Foto 4“Achar as peças para o Tiida, nestes casos, não é difícil, já os preços são salgados”. De acordo com o reparador André, o único defeito que ele encontra com mais frequência é o desgaste irregular nos pneus dianteiros mesmo seguindo a recomendação da montadora de realizar o rodízio a cada 10.000 km e mantendo o carro alinhando e balanceado. Nestes casos, André diz que os pneus desgastando dos dois lados (dentro e fora), mantendo o centro com material, situação esta que vem ocorrendo com os veículos antes mesmo do hodômetro alcançar os 20.000 km. “Não importa se você mantiver o balanceamento e calibração de pressão correta que o problema vai acontecer”. Um exemplo, é o estado do pneu apresentado na imagem abaixo (FOTO 4)”.

Outro componente que ainda não apresentou falha nestes veículos, segundo André, é o sistema de transmissão. “Tanto os modelos com cinco ou seis marchas tem um conjunto bastante resistente. Os componentes aparentam boa qualidade e até o momento não apresentam histórico de manutenção” diz o reparador.

Mas como já dissemos anteriormente, o defeito que mais incomoda no Tiida é no defletor do escapamento. Conversamos com alguns reparadores e consultamos fóruns de proprietários deste modelo e a reclamação de barulhos na parte inferior do veículo é recorrente. 

Tivemos a oportunidade de fazer um test drive e nos certificamos que este barulho é terrível. Inicialmente, ocorre uma vibração forte no assoalho do carro que aumenta conforme a velocidade do veículo aumenta.

Buscando a causa desta falha, André comentou que depois de perder noites de sono notou que havia folga sobre as porcas de engate rápido (FOTO 5/ 5A/ 5B) que fixam o defletor de calor que reveste a tubulação do escapamento. Em todos os carros havia porcas soltas ou em alguns casos inexistentes.

Foto 5, 5A e 5BPara solucionar o problema, André explicou que se apertarmos todas as porcas do defletor e repor as ausentes o barulho desaparece. “É um defeito básico, contudo é impressionante a falta de atenção que a montadora teve com este detalhe. Se utilizassem porcas com roscas, por exemplo, este defeito não apareceria”, opinou André. 

PEÇAS E INFORMAÇÕES 
Para veículos Nissan, André comentou que geralmente adquire peças nas concessionárias, pois estas apresentam custo bem próximo ao praticado pelo mercado independente, exceto por componentes como óleos e filtros. Nestes casos, o preço das autopeças é bem mais competitivo. “Geralmente, para a linha Nissan, posso dizer que adquirimos 75% das peças em concessionárias e, as demais, dividem-se em autopeças e distribuidores”.

No quesito “informação técnica”, a Nissan demonstra-se ainda ser muito fechada ao mercado. “Da montadora nunca consigo nada, a não ser através de conhecidos dentro das concessionárias. Muitos materiais conseguimos através da troca de informações com outros reparadores de oficinas parceiras ou através de fóruns como o do Jornal Oficina Brasil. O ideal seria conferir os procedimentos de reparo e esquemas elétricos divulgados pela montadora”, disse André.

QUE NOTA VALE?
O Tiida em suas diversas variações e anos de fabricação recebe em geral nota 8.“O carro seria melhor avaliado se a Nissan disponibilizasse mais informações técnicas, pois assim poderíamos executar qualquer reparo na certeza de que tudo irá correr bem”, finalizou André Kenji Kumagai.