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Crossover lançado pela Honda Motor Company em 1996, o CR-V (acrônimo em inglês para Confort Runabout Vehicle, ou veículo confortável e versátil em português) é o campeão mundial entre os SUVs (Sport Utility Vehicle), a mais concorrida categoria automotiva do planeta. Só em 2016 foram 752 mil unidades comercializadas, grande parte devido à fama de confiabilidade e de qualidade dos veículos japoneses. No Brasil, onde o utilitário deteve a 25ª posição entre os mais vendidos no ano passado em seu segmento, com 1.939 carros novos negociados, Honda e Toyota, especialmente, gozam de um reverente conceito entre seus consumidores, de resto ratificado por muitos reparadores independentes que ora falam como profissionais e ora como proprietários. Mas mesmo esses, em dados momentos, se obrigam a uma distinção, pois donos de veículos podem tender à paixão e a não ver defeitos na entidade amada. E já os reparadores devem sobrepor razão à emoção. Eles sabem que um veículo pode ser bom, talvez até muito bom, mas seja ele qual for ainda está longe da perfeição utópica de um moto-contínuo. Sem manutenção ou intervenção humana ele não vai longe.
A reportagem do jornal Oficina Brasil teve recentemente a oportunidade de checar essa realidade e de, por outro lado, conferir as razões da reputação de um desses veículos de fama excepcional. Tratou-se de um Honda CR-V EXL 2.0 16V 4x4, ano 2009 (foto 1), com cerca de 92 mil quilômetros, que passou por uma revisão completa em uma das oficinas independentes mais prestigiadas da zona oeste da cidade de São Paulo (SP), a Interceptor Auto Reparadora, no bairro do Alto da Lapa. Ali, o trabalho esteve a cargo do reparador Edson Novaes Santos (foto 2), 40 anos, no ramo há 20 anos, que checou 65 itens do veículo. Outros dois experientes reparadores ouvidos a respeito da manutenção do Honda CR-V ELX 2.0 16V 4x4 2009 foram Adilson Silva Oliveira (foto 3), de 49 anos, proprietário da Injecar Auto Elétrico e Mecânica, no bairro do Paraíso, em São Paulo (SP), com pelo menos 36 anos de vivência profissional, e Dirceu Júnior (foto 4), 41 anos, 26 anos dos quais atuando como reparador e atual titular da Mobile Car Service, empresa que oferece serviços de reparação automotiva em domicílios.
Esse respeitável trio de profissionais, cuja soma da experiência resulta em nada menos de 82 anos de vivência profissional, constatou que, de fato, o veículo pode ser considerado acima da média em muitos quesitos, a começar pelo motor Sohc I-Vtec 2.0 (foto 5). “É um automóvel que, no geral, merece uma nota 9 com louvor pela sua qualidade, muito boa, e se não dou 10 é porque simplesmente não existe carro que, com o tempo, não apresente pequenos ou grandes problemas”, garante Adilson Silva Oliveira. Isso, aliás, é o que convidamos o leitor a conferir a seguir.
Motor Sohc I-Vtec 2.0
“O bom estado geral do veículo, em particular do seu motor, não nos surpreendeu, pois sua proprietária o tem desde zero e todos os anos, ou a cada 10 mil quilômetros, o deixa conosco para proceder a uma revisão preventiva. Ninguém discute que a qualidade original do veículo é importante para assegurar a ele uma longevidade, mas é o procedimento cuidadoso do proprietário que faz do automóvel um veículo confiável”, explica o reparador Edson Santos.
Cuidados à parte, o motor Sohc I-Vtec 2.0 é um case de sucesso mundial da Honda. O Sohc, no caso, traz as iniciais em inglês para Comando Simples de Válvulas de Cabeçote (Single Overhead Camshaft). É o nome dado pela engenharia mecânica da montadora japonesa a esse propulsor de explosão de quatro tempos que utiliza um comando simples de válvula, sendo duas por cilindro, para melhor controlar a abertura e o fechamento das válvulas de admissão e do escape. Já o sistema I-Vtec (de Intelligent Variable Valve Timing and Lift Electronic Control, ou Controle eletrônico inteligente da variação dos tempos e levantamento das válvulas) é um aperfeiçoamento do antigo Vtec produzido pela Honda. O novo sistema proporciona melhor controle às válvulas de admissão em baixos e médios níveis de aceleração, conferindo uma melhor resposta aos acionamentos do acelerador.
Trocando em miúdos, o Honda CR-V 2009 tem um motor que inspira confiança mesmo entre os reparadores mais exigentes. “Seu sistema de comando variável não apresenta problemas desde que, regularmente, se proceda a troca de óleo do seu filtro”, define Dirceu Júnior. Como prova, no caso do veículo em revisão, exemplarmente conservado por sua proprietária – sim, trata-se de uma dona de casa que dá exemplo a muitos homens “apaixonados” por carros –, para deixá-lo zerado no quesito motor, foi preciso apenas proceder ao trivial: trocar óleo de motor, filtros de óleo e de ar (foto 6), velas de ignição (foto 7) e reparos dos bicos injetores, além de limpar corpo de borboleta.
Mas os Hondas CR-Vs que não gozam do privilégio de serem bem tratados podem não ter vida tão serena. O reparador Dirceu Júnior alerta aos colegas que fiquem atentos a falhas de ignição das bobinas (foto 8), proveniente de problema com as velas. “Se o cliente reclamar que o veículo está consumindo muito combustível é bom desconfiar de alguma fuga de corrente e de falha na ignição. O melhor a fazer é passar o scanner e, se o problema estiver no cilindro, ele apontará em qual deles está o problema”, orienta. Outro problema sujeito aos CR-Vs, no entanto, pode ser percebido mesmo a olho nu: o coxim principal do motor (foto 9), sujeito a avarias. “Mesmo sendo hidráulico ele costuma, com o tempo, quebrar e fazer bastante barulho, pois o motor perde um de seus calços. Muita gente, aliás, pensa que o ruído vem da suspensão e, quando chega na oficina, vê que o problema é mais em cima”, aponta o reparador.
Já Adilson Oliveira chama a atenção para outro ponto frágil que está, literalmente, à frente de todos os demais: a ventoinha do ar-condicionado (foto 10). “O veículo trabalha com duas ventoinhas, uma para o ar- condicionado e outra para o radiador. E nem sempre elas suportam o esforço da demanda e o resultado é que uma delas, geralmente a do ar-condicionado, acaba por desgastar suas escovinhas internas e parar de funcionar”, alerta o reparador. Trata-se de um problema que, quando aparece, exige reparação imediata, pois a temperatura do motor pode subir.
Suspensões dianteira e traseira
Uma explicação para a reconhecida maciez do Honda CR-V ELX 2.0 16V 4x4 é que sua plataforma é a mesma do sedan Civic. Ambos, na família Honda, estão mais para irmãos do que para primos. A suspensão do CR-V é, na frente, a do tipo Mc Pherson (foto 11) com barra estabilizadora, rodas independentes e molas helicoidais, e na traseira (foto 12) tem também rodas independentes com braços sobrepostos e molas helicoidais.
Pelo fato de o motor do veículo estar acondicionado exatamente sobre o conjunto da suspensão dianteira, como acontece com alguns outros SUVs, e não ligeiramente deslocado, a manutenção relativamente frequente é a troca das buchas da bandeja de suspensão. “Esse Honda é candidato a apresentar problemas de batente de amortecedor (foto 13) devido mais à condição ruim de nossas ruas e estradas do que a uma questão de engenharia do veículo. Ele foi projetado para rodar em piso regulares e aqui enfrenta buracos, valetas e lombadas. O resultado é que as buchas das bandejas não aguentam esse ‘fator Brasil’ ”, testemunha o reparador Adilson Oliveira. Ainda segundo ele, a troca de buchas não é uma operação simples nem rápida e exige sacadores especiais.
O reparador Edson Novaes confirma que a queixa relativa à suspensão existe. “É algo raro em se tratando de um Honda, mas alguns donos de CR-Vs reclamam de barulhos estranhos na suspensão dianteira, isso porque o batente do amortecedor parece não ter a resistência adequada para suportar o peso do motor. O pior é que não tem como evitar o problema em função da buraqueira de nossas ruas. O melhor a fazer é uma revisão periódica a cada 10 mil quilômetros para conferir o estado das buchas, evitando desgastes e folgas”, relata. Em compensação, a suspensão traseira apresenta um comportamento melhor. “Na traseira, os braços sobrepostos e a suspensão independente melhoram a estabilidade do veículo e a sua tração”, afirma Dirceu Júnior.
Freios
O Honda CR-V EXL 2.0 16V 4WD traz freios ABS com discos ventilados à frente e sólidos atrás. Até aí nada de mais, a não ser que, entre alguns reparadores como Edson Santos, da Interceptor, existe a percepção de que o veículo apresenta um desgaste além do normal das pastilhas dianteiras. O reparador Adilson Oliveira garante que o problema é crônico. Segundo ele, o desgaste além da conta das pastilhas dianteiras pode ser mais devido às próprias pastilhas e pinças (foto 14) do que em função dos discos ou da relação peso/velocidade. Para o reparador, as pastilhas dianteiras do Honda CR-V, quando chegam do meio para o fim de sua vida útil, começam a descer e provocam uma folga na pinça gerando um chiado alto. “Alguém poderia recomendar a troca das pastilhas, mas isso não é certo levando-se em conta que elas, na meia vida, podem rodar mais 10 mil quilômetros tranquilamente”, afirma Adilson, para quem os fabricantes de pastilhas de freio têm culpa no cartório. “Depois que retiraram o amianto das pastilhas nenhuma fábrica conseguiu acertar um ponto ótimo de qualidade em seus produtos”, reclama. Para ele já passou da hora das fábricas terem acertado a mão, pois a proibição do amianto se deu há muito tempo.
Câmbio
O veículo tem uma transmissão automática de 5 velocidades (foto 15) que goza de uma merecida confiabilidade entre proprietários e reparadores. E, mais uma vez, seus eventuais problemas resultam de uma manutenção desatenta. “As pessoas se esquecem de trocar o fluido do câmbio automático e o seu filtro e, inevitavelmente, surgem dores de cabeça”, avisa o reparador Dirceu Júnior, para quem o problema pode ser ainda pior se o veículo circula em uma metrópole brasileira de tráfego pesado e atravancado, como São Paulo. “Com o anda e para que temos nos horários de pico o fluido do câmbio superaquece e começa a queimar, perdendo sua ação lubrificante”, afirma Adilson Oliveira.
No caso de o veículo ser constantemente submetido a uso severo em ciclo urbano os reparadores recomendam antecipar a troca do fluido. “Não espere chegar aos 80 mil quilômetros e faça aos 40 mil”, recomenda Dirceu Júnior. Ele explica o motivo de um ponto de vista físico. “Com a fuligem urbana, o fluido do câmbio fica muito sujo e cheio de uma poeira que contamina os discos. O fluido se torna mais abrasivo do que lubrificante”.
Outro motivo para antecipar a troca do fluido diz respeito ao seu sensor de pressão, propenso a apresentar um pequeno defeito de não fazer a leitura certa. Como resultado, o veículo pode começar a dar trancos nas mudanças de marchas, sendo necessária a imediata substituição do sensor.
Parte elétrica e componentes eletrônicos
O Honda CR-V 2009 ainda não dispõe do sistema de alternador inteligente adotado pela montadora nos anos seguintes. “Ainda assim o veículo não costuma dar grandes manutenções” afirma Dirceu Júnior. “O que pode surgir são problemas pontuais”, completa Ever Edil Hinojosa (foto 16), eletricista e técnico em eletrônica da Injecar Auto Elétrico e Mecânica. Entre esses os mais comuns são a queima do sistema de travamento elétrico das portas existente no interior das fechaduras (foto 17). “Já peguei muitos casos, é algo quase crônico mas que se resolve com o recondicionamento da peça”, tranquiliza Ever. Já os defeitos recorrentes na caixa de fusíveis (foto 18), ainda equipados com relês nos CR-Vs de 2009, exigem uma intervenção mais cuidadosa. O eletricista Ever destaca ainda que o alternador (foto 19) desse Honda é dotado deu um diodo retificador fraco que necessita carregar bastante a amperagem para abastecer a demanda dos recursos eletrônicos do veículo. “Com isso, ele tende a não dar conta do serviço e ter sua placa queimada. Aí não há s