Quem trabalha com ar condicionado automotivo precisa ter uma recicladora? Responderemos a essa pergunta no decorrer desta matéria que se inicia nesta edição e terá sua segunda parte na edição de Maio de 2013. Tenham todos uma ótima leitura
Mario Meier Ishiguro
ara atender à norma da ABNT - NBR 15629 que “Descreve os procedimentos e as recomendações para manutenção em sistemas de climatização em veículos rodoviários automotores”, o centro de reparação automotiva deve ter procedimentos para desenvolver os diagnósticos e reparos. Para tanto é imprescindível à utilização de recolhedor/ reciclador de fluidos refrigerantes.
Muitas oficinas ainda trabalham nesta atividade sem os equipamentos básicos.
Um equipamento para recolhimento e reciclagem de fluido refrigerante é básico nesta atividade, pois descartar fluido refrigerante na atmosfera é um “crime ecológico”. Apesar de não haver citação específica deste fluido refrigerante e nem mecanismos eficientes de verificação, não descartar o R134a na atmosfera depende mesmo é da conscientização dos usuários.
O R134a não é “gás ecológico” como é normalmente chamado. Se descartado na atmosfera, ele contribuirá para o aumento do efeito estufa (aquecimento global). Para ter uma ideia do dano, 1 Kg de fluido R134a descartado na atmosfera equivale a cerca de 1430 Kg de CO2, isto é chamado de GWP (Potencial de Aquecimento Global), ou seja; o GWP do CO2 =1 e o GWP do R134a =1430.
Este fluido refrigerante pode ser: recolhido, filtrado, separado do óleo contaminado e dos gases não condensáveis, pesado com muita precisão e inclusive ser revendido ao cliente. Todas estas operações se traduzem em um procedimento limpo, preciso, rápido, ecológico e muito lucrativo.
Qual a diferença entre a recolhedora e a recicladora?
A recolhedora é basicamente um moto compressor de pistão, com cerca de 0,5 Hp, dotado de condensador, registros, caixa protetora, manômetros e tubulações. Sua função é transferir um fluido refrigerante, de classificação ASH RAE: A1, ou seja, não inflamável, do equipamento de origem para um recipiente (botijão ou cilindro específico) para armazenagem. As recolhedoras mais simples são indicadas para sistemas com compressores fechados (semi-herméticos ou herméticos), onde praticamente não há contaminação de óleo com o fluido refrigerante (ex.: geladeiras). Algumas recolhedoras podem ser mais sofisticadas e já possuir filtro separador de óleo e secador. Neste caso, este fluido estará sem umidade e sem óleo, restando apenas separar os fluidos não condensáveis, se necessário. As recolhedoras são mais indicadas para utilização em campo, com deslocamentos continuados, por exemplo, em linha agrícola. Seu custo é bem menor do que de uma recicladora, mas para poder trabalhar, deve-se adquirir equipamentos complementares como bomba de vácuo, balança, manifold, etc.
Já uma estação recicladora é muito mais completa, rápida e precisa, pois além de possuir uma recolhedora, conta com todos os acessórios necessários: filtro secador, filtro separador de óleo, condensador, botijão, balança, válvulas, solenoides, manifold, mangueiras, conectores, etc. Em alguns casos pode ser dotada de uma CPU que lhe permite fazer ciclos semi (parcial) ou totalmente automáticos. As estações recicladoras não são recomendadas para uso no campo, mas são ideais para utilização em oficinas com piso regular.
As máquinas semi-automáticas geralmente são mais em conta, mas dependem de um operador que selecione e libere a execução de cada passo da operação, por exemplo: recolher o fluido refrigerante, drenar o óleo usado, olhar o valor do peso do fluido refrigerante recolhido, olhar a quantidade de óleo sujo recolhido, selecionar e fazer vácuo, colocar óleo, selecionar e aplicar a carga de fluido refrigerante, recolher o fluido restante nas mangueiras de serviço, etc.
Já as máquinas automáticas, se programadas, podem realizar todos esses procedimentos automaticamente e até emitir um relatório impresso dos valores de quantidade de óleo e fluido refrigerante recolhido e adicionado, tudo por impresso.
Algumas estações mais sofisticadas podem até ter como opcional um analisador de gases e mais recentemente kits ou funções que possibilitam fazer um “FLUSH” no sistema de ar condicionado do equipamento, com um resultado bastante satisfatório no que se refere a recolher o óleo sujo do sistema.
Em processo normal de recolhimento de fluido refrigerante de um sistema, poderá haver o arraste de uma pequena quantidade de óleo usado do compressor que se encontra nas tubulações. Esta quantidade recolhida geralmente atinge valores de 10 a 30ml. Este óleo sujo deve ser descartado corretamente com outros lubrificantes da oficina.
A adição de óleo no sistema deve ser proporcional a quantidade de óleo sujo que saiu, ou seja, se foi recolhido e separado 20ml de óleo, pelo menos esta mesma quantidade de óleo PAG novo deve ser reposta ao sistema antes de se colocar a carga correta de fluido refrigerante.
Porém, quem imagina que comprando uma estação recicladora, ela fará tudo, que já pode sair trabalhando com ar condicionado, está enganado.
Toda a parte de análise e diagnose cabe ao operador.
O fluido refrigerante “não gasta” e não “fica velho”, por isso o simples fato de recolher o fluido refrigerante e repor o fluido completando a quantidade que faltava, é um serviço incompleto.
O mais indicado é recolher o fluido refrigerante e comparar com a quantidade recomendada para aquele determinado equipamento. Em caso de divergência para menos, o processo da estação recicladora deveria ser interrompido para entrar em ação outro procedimento: o de localização de possíveis focos de vazamentos, por menores que sejam, orçar o reparo, reparar e só então seguir o procedimento de fazer vácuo, colocar o óleo e finalmente colocar a carga recomendada de fluido refrigerante.
A estação recicladora não localiza vazamentos, muitas fazem um teste de estanqueidade após o processo de vácuo, mantendo o sistema em depressão por alguns poucos minutos. Caso haja algum vazamento a depressão tende a se extinguir ou se alterar, neste caso algumas estações automáticas podem soar um alarme, indicando a possibilidade de vazamento, mas não mostra onde é este possível vazamento, que muitas vezes pode até ser nas próprias conexões e mangueiras de serviço da estação.
Existem diversos procedimentos de detecção de vazamentos, que posteriormente serão abordados, mas certamente o vácuo não é o mais preciso. O sistema de ar condicionado trabalha com pressão de 2 a cerca de 20 atmosferas e não com 1 atmosfera negativa (vácuo).
Na próxima edição, daremos continuidade ao tema. Tenham todos uma ótima leitura e até a próxima.