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Vamos explorar essa questão e destacar exemplos reais que mostram como a falta de conhecimento técnico pode gerar grandes prejuízos. A troca de pastilhas de freio, discos, óleo e filtros em um veículo híbrido segue, em geral, os mesmos passos de um carro tradicional a combustão. No entanto, há particularidades que exigem cuidado extra. Os sistemas híbridos combinam um motor a combustão com um elétrico, alimentado por uma bateria de alta voltagem, além da bateria convencional de 12V. Ignorar esses componentes pode transformar uma tarefa rotineira em uma dor de cabeça cara. Vou compartilhar dois casos reais que ilustram como a falta de informação técnica e de um checklist adequado pode custar caro ao reparador e à oficina.
Caso 1: Ford Fusion Híbrido com Bateria Descarregada Um Ford Fusion híbrido chegou a uma oficina com a bateria de alta voltagem descarregada, impossibilitando a partida do veículo. Tudo começou em um auto center local, onde o carro foi levado para a troca das pastilhas de freio traseiras. Até aí, o procedimento parecia simples, pois é idêntico ao de um veículo a combustão. O reparador utilizou o equipamento de diagnóstico para recuar o freio de estacionamento elétrico, removeu os discos para retificação e, ao receber pastilhas erradas, deixou o veículo para ser montado no dia seguinte. No dia seguinte, após montar as pastilhas corretas e tentar reativar o sistema de freio de mão elétrico, o reparador percebeu que a bateria de 12V estava descarregada. Ele a colocou para carregar e, após um tempo, usou o scanner para finalizar o processo com sucesso. As rodas foram apertadas, mas, ao tentar movimentar o veículo, veio a surpresa: ele não se movia. Sem conhecer a tecnologia híbrida, o reparador me contatou. Ao chegar ao local, identifiquei que a bateria de alta voltagem estava descarregada, exigindo um processo de carga e balanceamento – um serviço caro. O reparador, em desespero, argumentou: “Mas eu não fiz nada de errado, nem mexi nisso!” Expliquei que o problema começou com dois erros básicos. Primeiro, a falta de um checklist inicial: a bateria de 12V estava com defeito e não foi testada antes do serviço. Segundo a bateria de alta voltagem provavelmente já estava com carga baixa quando o veículo chegou à oficina. Sem a bateria de 12V funcionando adequadamente, o sistema consumiu a carga da bateria de alta voltagem até ela atingir um nível insuficiente para a partida. Esse tipo de situação pode ocorrer até mesmo quando o veículo permanece muito tempo parado na oficina, aguardando peças ou reparos. Resultado: o reparador cobrou por duas horas de serviço (troca de pastilhas) e teve um prejuízo de quase R$ 10 mil para recuperar a bateria de alta voltagem. Casos como esse são comuns em oficinas pelo Brasil, especialmente em empresas de reparação de colisão, devido à falta de capacitação técnica.
Caso 2: Troca de Óleo com o Veículo Ligado O segundo caso, ainda mais impressionante, aconteceu recentemente em uma cidade de São Paulo. Recebi um vídeo de um colega reparador que me deixou sensibilizado com sua situação. Um veículo híbrido entrou em uma casa de troca de óleo para um procedimento simples: a troca de óleo do motor a combustão. O processo, em teoria, é igual ao de um veículo tradicional. Porém, o reparador cometeu um erro crítico: não percebeu que o veículo estava ligado. Como assim “ligado”? Em veículos híbridos ou elétricos, o motor a combustão pode estar desligado enquanto o sistema elétrico mantém o carro em modo “Ready” (pronto para uso). Sem o barulho típico de um motor a combustão, o reparador manobrou o veículo, posicionou-o no elevador e começou o serviço. Ele não notou a luz no painel indicando “READY” – um sinal claro de que o sistema estava ativo (ver foto sugerida abaixo). Ao retirar o óleo e o filtro, o motor a combustão foi acionado automaticamente pelo sistema híbrido. Sem óleo, o motor sofreu danos graves. Em pânico, o reparador tentou baixar o elevador para desligar o veículo, mas esmagou o coletor de óleo sob o carro, espalhando óleo pela oficina. Pior ainda: o contato do coletor com a polia do motor gerou faíscas, iniciando um princípio de incêndio. O resultado foi catastrófico: um veículo parcialmente queimado, motor travado e danos à oficina – tudo por causa de uma simples troca de óleo mal executada.
Esses casos reforçam uma verdade essencial: precisamos estudar e conhecer as características de cada veículo que entra em nossa oficina. Não se trata apenas de saber reparar, mas de entender o básico da tecnologia embarcada para evitar surpresas. Veículos híbridos e elétricos exigem atenção redobrada a detalhes como o estado das baterias (12V e de alta voltagem) e os indicadores de funcionamento no painel. A busca por informações, mesmo sobre procedimentos simples, é fundamental para acompanhar as tecnologias que estão chegando aos veículos atuais. Ignorar esses cuidados pode levar a prejuízos enormes, como os relatados, comprometendo a reputação e a saúde financeira das empresas.
Observações Finais
Checklist Recomendado: Antes de iniciar qualquer serviço em um veículo híbrido, verifique o estado da bateria de 12V e da bateria de alta voltagem. Certifique-se de que o veículo está desligado (sem o modo “Ready” ativo).
Capacitação: Invista em cursos e treinamentos sobre tecnologias híbridas e elétricas para evitar erros básicos.
Comunicação: Informe os clientes sobre os cuidados específicos e os riscos envolvidos na manutenção desses veículos.
Com atenção e conhecimento, é possível transformar desafios em oportunidades no mercado de reparação automotiva.