A presente matéria, elaborada com informações retiradas do livro “Diagnóstico Automotivo Avançado”, a ser publicado em breve, dá continuidade a utilização dos parâmetros de Ajuste de Combustível no diagnóstico, tema abordado na edição anterior. Recomenda-se, portanto, consultar previamente, a referida matéria.
Como mencionado, o Ajuste de Combustível é um recurso que permite à unidade de comando controlar de forma precisa o teor da mistura para obter o máximo de redução nas emissões e no consumo. A avaliação dos parâmetros de ajuste de combustível, associada à informação da sonda e à composição dos gases de escape, constitui uma ferramenta relevante no diagnóstico de problemas de dirigibilidade e consumo e, isto, havendo ou não falha gravada.
Cabe salientar que valores altos ou baixos do STFT (Integrador) ou do LTFT (BLM de O2) não são, necessariamente, uma indicação de falha. Um alto valor no ajuste de combustível não é sempre indicação de que mais combustível está sendo injetado. Eles podem indicar que a largura de pulso está sendo aumentada para injetar a quantidade de combustível requerida pelas condições de funcionamento do motor. (Ver item “Limites de Adaptação” na edição de Março 2009.)
A figura [1] apresenta as informações de diagnóstico utilizadas a seguir. A análise baseia-se na avaliação da relação existente entre:
- A informação do sensor de O2. A partir desta informação, a UC determina o teor da mistura admitida.
- O valor de LTFT (BLM de O2). Indica a tendência da UC no controle do teor da mistura.
- As emissões do motor medidas no escape, com analisador de 4 gases. O fator Lambda, calculado a partir da composição dos gases de escape (ou aquele informado pelo analisador), representa a condição real da mistura admitida. Pode ser utilizado para confirmar o informado pela UC no parâmetro “Tensão Lambda” ou similar. Lembrar que a presença do catalisador não altera o valor de Lambda da mistura admitida.
A seguir serão analisados casos extremos de funcionamento anormal que têm por objetivo mostrar a utilização dos referidos parâmetros no diagnóstico.
Não abrangem todas as possibilidades que poderão se apresentar na prática diária. O seu único objetivo é o de fundamentar a aplicação dos conceitos apresentados e auxiliar o raciocínio. As possíveis causas, assim como os valores apresentados, são orientativos e dependem principalmente da configuração do sistema diagnosticado, o que por sua vez é influenciado pelos avanços tecnológicos. As causas de defeito e valores de referência não substituem, portanto, as informações fornecidas pelos fabricantes, que sempre devem ser consultadas previamente.
Sensor de O2 indicando Tensão Baixa
1. Condição: Sinal da sonda com tensão baixa constante, indicando mistura pobre, pulso de injeção maior que o normal (LTFT indicando enriquecimento) e Lambda calculado < 1 (mistura rica). Esta situação anormal pode ser provocada por:
- Sensor de O2 defeituoso; circuito interrompido; sensor inoperante em sistema EEC-IV.
Nota: Nos sistemas atuais, na situação de sonda inoperante ou de interrupção do circuito de sinal, a tensão no conector da UC está em torno de 450 mV.
- Excesso de ar atinge o sensor de O2. Pode ser provocado por um ou mais cilindros com falha de combustão; vazamento no sistema de injeção de ar secundário.
- Sinal do sensor com curto-circuito à massa.
- Sensor frio.
- Vazamento no escape antes da sonda. A entrada de ar falso dilui os gases com excesso de oxigênio que perturba a operação do sensor de O2 (falsa indicação de mistura pobre).
2. Condição: Sinal da sonda com tensão baixa constante, indicando mistura pobre, pulso de injeção maior que o normal (LTFT indicando enriquecimento) e Lambda calculado > 1 (mistura pobre). Esta situação anormal pode ser provocada por:
- Pressão de combustível baixa.
- Injetores entupidos.
3. Condição: Sinal da sonda com tensão baixa constante, indicando mistura pobre, pulso de injeção menor que o normal (LTFT indicando empobrecimento) e Lambda calculado > 1 (mistura pobre). Esta situação anormal pode ser provocada por:
- Falha em algum sensor cujo sinal é utilizado para o cálculo do tempo de injeção. Reparar que, nesta situação, o sinal da sonda está de acordo com o tempo de injeção. Portanto, a sonda não tem autoridade. (Ver adiante.) Nesta situação de diagnóstico, o que deve ser analisado é qual o sinal que faz o sensor de O2 perder a autoridade.
4. Condição: Sinal da sonda com tensão negativa. Neste caso, o LTFT e o Lambda são fatores irrelevantes. Esta situação anormal pode ser provocada por:
- Sensor de O2 defeituoso. Um sensor com a cerâmica danificada pode fornecer tensões negativas.
- Possível referência de massa defeituosa. Não afeta a real leitura do sensor, mas pode causar erro de interpretação do sinal por parte da UC.
- Líquido de arrefecimento fora de especificação. Quando o líquido envelhece se torna corrosivo (ácido ou básico). Nesta situação, o motor pode se transformar numa pilha. Geralmente, a polaridade do motor resulta negativa em aproximadamente, 0,5 a 0,7V.
- Defeito no alternador. Diodo(s) defeituoso(s) pode(m) provocar ondulações superiores a 400 ou 500 mV. O aconselhável é que não superem 250 mV.
Sensor de O2 Indicando Tensão Alta
1. Condição: Sinal da sonda com tensão alta constante, indicando mistura rica, pulso de injeção menor que o normal (LTFT indicando empobrecimento) e Lambda calculado < 1 (mistura rica).
Esta situação anormal pode ser provocada por:
- Óleo contaminado com combustível. Possivelmente, devido ao sistema PCV (ventilação positiva do cárter) defeituoso.
- Sistema de emissões evaporativas.
- Pressão alta de combustível.
- Em sistemas multiponto, diafragma do regulador de pressão com vazamento.
- Injetores gotejando.

2. Condição: Sinal da sonda com tensão alta constante, indicando mistura rica, pulso de injeção maior que o normal (LTFT indicando enriquecimento) e Lambda calculado < 1 (mistura rica).
Nesta situação, o sensor de O2 não tem “autoridade” no controle da mistura. A causa do funcionamento anormal deve ser procurada em alguma informação incorreta proveniente de um sensor com maior autoridade que a da sonda nesse momento: MAP ou MAF, TPS, ECT, ACT.
“Autoridade” do Sensor de Oxigênio
Uma consideração muito importante é que, quando a ação da UC resulta do mesmo sentido que a informação da sonda, esta última não tem “autoridade” no controle da mistura.
Por exemplo, se o LTFT (BLM de O2) indica uma correção no sentido do empobrecimento (BLM < 128; LTFT < 0%) e a sonda informa condição de mistura pobre constante (sinal da sonda < 450 mV), significa que a UC não leva em consideração a informação do sensor de O2 para o ajuste da mistura. Como conseqüência disto, conclui-se que a ação da UC nessa situação depende da informação de um outro sensor com “autoridade” maior que a da sonda. Se assim não fosse, o esperado seria que, perante o excesso de O2 nos gases de escape, a UC comanda o enriquecimento da mistura (BLM > 128 ou LTFT > 0%).
Cabe salientar que a autoridade que é conferida ao sensor de O2 é limitada. É baseada nos valores armazenados nas células de ajuste de longo prazo (LTFT). Se tivesse autoridade absoluta em qualquer circunstância, um sensor defeituoso, indicando mistura pobre constante, poderia provocar o aumento da quantidade injetada até limites extremos: “afogar” o motor ou provocar uma condição de calço hidráulico.
Na próxima edição serão analisadas as situações em que a sonda Lambda indica mistura rica constante.