Para muitos colecionadores, os carros antigos devem ser mantidos como peças de museu, em perfeito estado, porém em um ambiente seguro, longe dos riscos das ruas e sem sofrer desgaste, para serem apreciados durante muitos anos, talvez como demonstração de amor a estes raros e belos modelos.
Encontramos em São Paulo, no bairro da Aclimação, um ponto fora da curva. Leonardo Peixoto, colecionador de veículos Chevrolet fabricados nas décadas de 30, 40 e 50, também cuida de seus clássicos com muita dedicação, porém demonstra sua paixão os mantendo sempre prontos para rodar, e nem sempre é para um curto e tranquilo passeio, pois são alugados para eventos, novelas e realizar sonhos de noivas em casamentos.
Um pouco de história
O período dos anos 30, 40 e 50 foram marcantes para a Chevrolet, pois marcou importantes modificações nos projetos dos veículos, fato que pode ser percebido claramente ao comparar os modelos de carrocerias nas fotos, e também mecânicos, quando passou a utilizar câmbios automáticos e sistema de lubrificação forçada em todos os motores, que os tornaram mais práticos, usuais e confiáveis.
A década de 50 também presenciou a produção de uma sequencia de três dos mais apreciados Chevy’s de todos os tempos. Conhecidos como Tri Five, os modelos Bel Air fabricados nos anos 55, 56 e 57 são considerados pelos entusiastas os mais belos da linha, que foi comercializada até o ano de 1975, mas sem o mesmo apelo. E foi justamente com um exemplar de 56 que Leonardo começou sua coleção, há 25 anos.
O modelo foi importado do Canadá e inicialmente recebeu uma reforma para que ficasse em condições de rodagem, porém logo o Chevy Bel Air encostou para uma restauração, onde foi completamente desmontado e todos os itens foram adequados conforme eram originalmente.
Peças de reposição
Existe hoje nos EUA, empresas autorizadas pela GM que fabricam peças para os modelos antigos, portanto é possível adquirir praticamente todos os componentes novos para completar uma restauração, porém os veículos com peças originais de fábrica são muito mais valorizados.
O Cadillac Fleetwood Limousine 1954 de Leonardo, por exemplo, possui o interior completamente original, como saiu de fábrica. O revestimento dos bancos (com regulagem elétrica, assim como os vidros e travas), produzido em casimira inglesa trançada, é o único que recebe proteção plástica para que seja preservado por mais tempo, já que os 57 anos de uso estão começando a pesar, mas nem por isso deixa de trabalhar.
Também há itens, como as grades frontais, que não possuem réplicas do mesmo nível das originais, por isso quem tem uma em perfeito estado sabe que têm valor inestimável. No Brasil também é possível encontrar muitos itens em feiras e encontros de colecionadores.
A manutenção
Além do trabalho, os veículos também são utilizados por Leonardo para participar de encontros e eventos do Clube do Chevrolet que participa como Diretor de Eventos. Como todos os exemplares recebem rigorosa manutenção para estarem sempre prontos para o batente, é só escolher qual deseja, bater na chave e ir embora. “Raramente tenho algum problema devido a falha mecânica, já os colecionadores que mantém seus carros parados por longos períodos sempre acabam sofrendo as consequências”, conta Leonardo.
A substituição de óleo é realizada a cada seis meses, já que não rodam o suficiente para atingir a km de troca. O óleo utilizado deve ser condizente com a época em que foram fabricados, ou seja, óleos minerais de viscosidade elevada quando comparados aos utilizados hoje, algo entre 20W40 e 20W60. No mesmo período são trocados filtro de combustível e o óleo do filtro de ar.
Como na época haviam poucas vias pavimentadas, o ar admitido pelos motores continha muitas partículas pesadas, por isso os filtros de ar eram constituídos de uma malha de aço encharcada em óleo, o mesmo utilizado para lubrificação do motor. A malha possui vida útil maior e pode ser substituída quando começar a soltar pedaços no óleo.
Os carburadores são os itens que mais dão trabalho, exigindo regulagens constantes. O fluido de freio é substituído anualmente, mas a melhor manutenção para o sistema de freios é o uso. Os veículos que ficam parados apresentam vazamentos e ferrugem que causam engripamentos no conjunto, exigindo substituição de componentes quando precisam ser utilizados.
Os únicos equipamentos não originais instalados nos carros da coleção servem para preservar a integridade do motor nas condições de tráfego de hoje. Foram instalados eletroventiladores e luzes-espia para garantir a refrigeração quando enfrentar um trânsito mais pesado em dias muito quentes.
Passeio de clássico
Um dos maiores prazeres de Leonardo é poder passear com seus carros sempre que deseja. “As pessoas trocam os gestos agressivos e hostilidade, por cumprimentos, sorrisos e até a cortesia de deixar passar na frente, só para poder admirar mais um pouco o belo carro” conta emocionado o entusiasta.
Para conduzir um veículo como este, é preciso fazer uma viagem no tempo, pensar sobre como eram as condições das vias e até o estilo de vida daquela época. Não se pode esquecer que o dimensionamento dos freios não são compatíveis com o peso dos carros que ronda as 2 T, chegando a 3 T no caso do Cadillac, o único que possui um sistema para auxiliar na força de frenagem.
Já no ato da partida, nos modelos dos anos 40, se percebe uma diferença. Ao lado do pedal do acelerador existe outro pedal, que na verdade é um botão utilizado para acionar o motor de partida. Caso este botão seja acionado com o motor em funcionamento ouve-se um forte ruído proveniente da engrenagem do motor de arranque em contato com a cremalheira do motor.
Os engates das marchas não possuem conjuntos sincronizadores, ou seja, as trocas precisam ser feitas ‘no tempo’, exigindo habilidade e sensibilidade por parte do motorista para não danificar o câmbio. Ao guiar os modelos da década de 40 também é preciso atenção para a carga imposta ao motor, que não deve ser elevada por longos períodos, já que muitos não possuem lubrificação forçada.
Paixão e fonte de renda
Leonardo consegue então aliar sua grande paixão a uma fonte de renda ao alugar estes clássicos para eventos, casamentos e até programas de televisão. Um de seus exemplares participou do seriado da Globo ‘Hilda Furacão’. Assim, os veículos podem ser mantidos em plena forma e os custos de manutenção são perfeitamente justificáveis.
Para conhecer melhor este trabalho e os carros acesse o site www.leocarrosantigos.com.br