Com a adoção da legislação ambiental PROCONVE P7, em vigor no Brasil desde 2012, os limites de emissão de poluentes por motores movidos a diesel foram reduzidos, com isso a exigência sobre as fabricantes de veículos e motores, bem como as produtoras de combustíveis aumentou, tornando necessário o uso de novas tecnologias que permitem atender os índices mais rígidos. Às últimas, foi determinada a redução do teor de enxofre presente no óleo diesel, que atualmente está em 10 partes por milhão, e é atendido pelo diesel com a designação “S10”. Já às montadoras coube a modernização dos propulsores a fim de atender os novos limites de emissão de material particulado e óxido de nitrogênio. Para conseguir isso, elas seguiram em duas frentes: a utilização do Arla 32, um reagente à base de ureia, injetado no sistema de escapamento dos veículos, que reduz drasticamente a emissão do óxido de nitrogênio NOx. Ou então o uso da válvula de recirculação dos gases de escape (EGR, na sigla em inglês), que como o próprio nome já diz, direciona os gases do escape para as câmaras de combustão em regimes pré-determinados de funcionamento, com o objetivo de reduzir a temperatura da combustão e consequentemente a formação do óxido de nitrogênio. Em geral a utilização da válvula EGR é mais comum em caminhões pequenos e médios, enquanto o reagente ARLA 32 é mais utilizado nos segmentos pesado e extrapesado.
As duas tecnologias possuem seus prós e contras, porém, a maior vantagem da válvula EGR é justamente dispensar o uso do ARLA 32 e com isso diminuir os custos operacionais do caminhão. Além disso, as fraudes e falsificações relacionadas ao reagente tornam-se impraticáveis em veículos equipados com válvula EGR.
Tendo em vista a importância da válvula EGR nos modernos motores movidos a diesel, fomos até a oficina SP Diesel, em São Paulo-SP, e conversamos com seu proprietário Sérgio Pereira e Vladimir Leme a fim de compreender melhor o seu funcionamento e descobrir os problemas mais comuns apresentados pelo componente.Logo de início, Sérgio salienta que este é um dos componentes com a maior incidência de problemas nos motores que atendem à legislação PROCONVE P7. Segundo o reparador, embora em geral estes motores sejam muito bem projetados e construídos, eles também são mais sensíveis à desatenção do proprietário ou condutor, e uma das principais causas de problemas nestes motores, segundo ele, é o abastecimento com óleo diesel adulterado. Além deste, outro fator que colabora com o aparecimento de problemas nestes motores mais modernos é o desrespeito aos prazos e aos procedimentos corretos de manutenção preventiva: “isso ocorre devido ao preço das peças e à especificidade da mão de obra, que encarecem o serviço e muitas vezes fazem o cliente adiá-lo, o que frequentemente leva ao surgimento de problemas graves e muito mais caros de resolver do que o custo da manutenção preventiva”, ressalta Sérgio. Ele também credita vários problemas à utilização da quilometragem como único critério para a realização da manutenção preventiva. Segundo ele ineficiente se levarmos em consideração as especificidades de cada operação: “a utilização de um simples “horímetro”, comum em máquinas agrícolas, bastaria para evitar muitos gastos com manutenção corretiva. Desde que as montadoras fornecessem os prazos corretos”, completa. Voltando à EGR, Vladimir diz: “esta válvula serve para reduzir a emissão de NOx através da recirculação dos gases de escape, ou seja, ela permite que o sistema de admissão aspire uma parte dos gases de escape em determinados regimes de funcionamento, com isso a temperatura nas câmaras de combustão diminui e por consequência também diminui a formação do NOx”. O reparador destaca que atualmente a válvula EGR é controlada pelo módulo de injeção, que determina a sua abertura em função de diversos fatores: “Basicamente ela é uma borboleta eletrônica, e assim como as borboletas eletrônicas dos veículos a gasolina, a EGR também sofre com a formação de depósitos em seu interior, que, às vezes, impedem o seu fechamento total, levando ao funcionamento irregular do motor, carbonização das câmaras de combustão e até mesmo pré-ignição”.Pré-ignição, falta de potência e emissão de fumaça branca enquanto frio. Estes são os principais sintomas apresentados por um moderno caminhão Volkswagen Constellation 24-280 recém-chegado à SP Diesel. E, de acordo com ambos reparadores, estes são sintomas típicos de problemas na válvula EGR. Embora o veículo apresente estes sintomas, não havia nenhum registro gravado no módulo de injeção, o que segundo os reparadores apenas reforça a hipótese de problemas no sistema de recirculação. Vladimir diz que isso ocorre porque a entrada dos gases de escape na admissão não necessariamente, embora possa ocorrer, altera o funcionamento do motor a padrões não previsto na programação do sistema: “há uma alteração no funcionamento, a gente pode ver, mas os parâmetros registrados pelos diversos sensores do motor se situam dentro do mapa de injeção, de forma que o módulo de controle não registra essa alteração no funcionamento como um erro”.Questionados sobre se há, além da observação dos sintomas acima descritos, um método eficaz de diagnosticar assertivamente problemas na EGR, eles dizem que é possível através da leitura dos parâmetros dos sensores com auxílio de um scanner, ou então a análise dos gases de escape. Contudo, eles asseguram que, observados os sintomas típicos, a simples desmontagem da válvula e observação já é suficiente para constatar o problema. Para solucioná-lo, caso seja de fato decorrente da formação de depósitos, os reparadores recomendam efetuar a limpeza do componente, com o devido cuidado para não danificá-lo, principalmente a parte eletroeletrônica. Isso, garantem, resolve o problema na maioria das vezes.