O Comitê de Caminhões e Ônibus do Congresso SAE Brasil 2010 reuniu especialistas do governo e da indústria automotiva para discutir as perspectivas do transporte de carga e passageiros e ações para desafogar o trânsito em vias das grandes cidades. Atualmente, o Brasil ocupa a 6ª colocação na produção mundial de caminhões e a 3ª em produção de ônibus, mas com o aumento da produção, qual medida tomar para evitar o colapso no trânsito?
O painel de debates “Tendências dos Sistemas de Transporte nas Regiões Metropolitanas” contou com a participação de Milton Xavier, assessor de planejamento da Secretaria de Transportes do Governo do Estado de São Paulo, que falou sobre as medidas já tomadas pelo governo paulista na tentativa de desafogar o trânsito nas regiões metropolitanas do estado. O Rodoanel, considerado a maior obra viária do Brasil, foi mostrado como iniciativa que deu certo em São Paulo, mas vale ressaltar que a obra não está 100% concluída. Faltam ainda os trechos norte e leste do Rodoanel que estão em processo de licitação.
O processo logístico elaborado pelo governo de São Paulo inclui ainda a implementação do Ferroanel para dar apoio logístico da produção do estado e diminuir o fluxo de caminhões que passam diariamente pelas regiões metropolitanas. A intenção é que centros de distribuição fiquem próximos à ferrovia, como ligação de cada sistema de transporte para facilitar a distribuição da produção que passa por São Paulo, reduzindo os atuais 90% de utilização do sistema rodoviário para 70%, sem diminuir ou frear o aumento da frota. A previsão é que todo o projeto esteja finalizado até 2020.
Segundo Milton Xavier, o sistema rodoviário integrado com a ferrovia de modo integrado irá aumentar a mobilidade de transporte no estado. “Para que isso aconteça o ferroanel precisa de um sistema logístico eficiente e estruturado para que atinja a funcionalidade. É nisso que estamos trabalhando”, disse.
Do lado da indústria, Sandro Trentin, gerente da Randon SP, falou das soluções encontradas pela empresa para suprir os gargalos de logística atuais. Segundo ele, as restrições ao transporte, como tara de produtos, novas legislações e pedágios, pesam ainda mais no bolso do transportador. “É o bolso do transportador que determina as ações dele. As novas regras como uso obrigatório de ABS, airbags, bloqueadores de segurança, rastreadores, tudo isso tem influência no valor final”, disse.
A Randon adotou um sistema de migração nas combinações dos caminhões, com aumento dos eixos, que causaram impacto na redução da tara e aumento na capacidade de volume nos caminhões, reduzindo o custo do frete. Os caminhões também foram adequados na linha leve, para reduzir o peso próprio e a altura de cada carregamento. “Está 15% mais leve que o tradicional”, disse Trentin.
A empresa também adotou novos sistemas de amarração da carga, que trazem facilidade na operação, e investiu em materiais para reduzir a temperatura interna do caminhão. As soluções logísticas foram desenvolvidas por uma equipe de 100 pessoas, que testaram todas as ideias em um campo de provas. Segundo Trentin, o volume de cargas nos caminhões atendidos pela Randon operam hoje em 2,5%. “Estamos no limite da carga rodoviária”, afirmou.
O transporte de passageiros foi abordado por Álvaro Luis Vial, gerente de engenharia de desenvolvimento da Marcopolo. A empresa desenvolveu novos modelos de ônibus, pensando principalmente nos momentos econômicos como Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil.
Para a criação dos modelos Viaggio 1050, Viagio 900, Paradiso 1050 e Paradiso 1020, a Marcopolo elaborou uma série de estudos, que contou com pesquisas de campo e de mercado. “Ouvimos os clientes e os motoristas. Os engenheiros andaram nos ônibus durante um ano para escutar o que os clientes queriam no novo produto”, disse Vial. Outros dois produtos estão em desenvolvimento.
A Marcopolo apostou em modelos robustos, mas sem perder o conforto e a segurança. As poltronas foram desenvolvidas com material de espuma especial e viscoelástico, com zona de apoio de cabeça e maior espaço entre poltronas, com porta copo individual. As luzes de leitura são de lead, uma tendência mundial que trás mais conforto na leitura. Os novos ônibus contam com sistema de internet sem fio (wirelles) opcional.
Para o motorista, o espaço da cabine também foi remodelado, com mais conforto. Os painéis são com satélites retráteis e possuem novo multiplex. As escadas estão mais amplas e as portas são deslizantes. Além disso, os faróis dos novos modelos são de tecnologia lead. “Os novos ônibus trouxeram fácil dirigibilidade, sem esquecer da segurança e com conforto ao motorista”, afirmou Vial.
A aerodinâmica dos novos modelos da Marcopolo também tiveram a preocupação com o consumo de combustível. Os estudos da montadora, em parceria com a aeronáutica, e do Inmetro acusaram redução considerável no consumo, que serão comprovados em um relatório que será divulgado em breve. A Marcopolo já sentiu nas vendas os benefícios dos novos veículos. “Já temos 35 pedidos de patente dos novos veículos”, disse Vial.