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Serviço radical - separar o chassi da carroceria para trocar um tubo de lubrificação


Na maioria dos carros os procedimentos de reparação são semelhantes mas é recomendável ser cuidadoso quando fizer um orçamento de serviço de um carro que ainda não é conhecido na oficina

Por: Antônio Gaspar - 10 de outubro de 2018

Vazamento é um dos grandes geradores de serviços nas oficinas e no motor está a origem da maior parte desses reparos. O custo do componente causador do vazamento pode ser muitas vezes menor que o valor do serviço, neste caso em específico é importante orientar o cliente para que haja um bom entendimento sobre as dificuldades para chegar até a peça com defeito. 

Acessar o motor abrindo o capô é a maneira mais fácil e rápida, outra maneira é colocar o carro no elevador e fazer o acesso por baixo, se o nível de dificuldade for mais elevado, a opção é a remoção do conjunto motor e câmbio mas, tem uma situação ainda mais drástica, a remoção da carroceria. 

No desenvolvimento do projeto de um veículo também são considerados os procedimentos a serem executados no momento de cada manutenção.  

Para o reparador que tem uma oficina bem estruturada com equipamentos, equipe com boa formação técnica, também é preciso ter muita coragem para executar um serviço que envolve a separação do conjunto do chassi e da carroceria. 

A SUV Discovery 4 tem esta particularidade na sua manutenção e muitos reparadores preferem não fazer o serviço devido ao grau de dificuldade, e esta matéria foi inspirada na coragem e domínio técnico da equipe da oficina Juca Bala.  

O cliente levou o carro até a oficina devido a um vazamento de óleo lubrificante, só que para fazer um diagnóstico correto e localizar a origem do vazamento, é preciso colocar o carro no elevador e antes de levantar é preciso seguir o procedimento de desmontagem da carroceria. 

Dentro do veículo: 

Coloque o freio de estacionamento no modo travado, selecione a posição da suspensão toda para baixo, aperte e segure o botão de seleção de altura toda para baixo por três segundos, isso vai fazer travar a suspensão em modo de manutenção, assim não ocorrerá perigo de danificar as bolsas de ar da suspensão pneumática. 

Na Traseira: 

Remova as duas lanternas, o para-choque traseiro, os dois para-barros, os dois acabamentos laterais do para-lamas, solte os flexíveis do freio traseiro, solte o conector traseiro do lado esquerdo, entre a carroceria e o chassi, também solte o parafuso do bocal tanque de combustível e a mangueira do conector da válvula do canister.  

No centro: 

Retirar os protetores do cárter e do câmbio, soltar a porca sextavada do cabo do trambulador do câmbio automático e desencaixar do suporte, girar e puxar para baixo o cabo do freio de estacionamento emergencial. 

Na Frente: 

Remover os dois faróis, a grade frontal, o para-choque, os dois para-barros, os acabamentos laterais do para-lamas, soltar a barra central (alma) do para-choque, retirar o reservatório de água do motor, retirar o reservatório de água do para-brisas, soltar o cabo de aterramento do lado esquerdo próximo à porta do motorista, soltar os flexíveis de freio, os sensores do ABS, o cabo de aterramento do lado direito próximo ao farol direito, os dois conectores abaixo dos faróis, o conector do compressor da suspensão pneumática e retirar a mini frente, 

No Motor: 

Remover a carga de gás do ar-condicionado, soltar as duas porcas sextavadas dos tubos do ar-condicionado do lado do motorista, remover os três conectores do lado esquerdo ao lado do módulo do ABS, soltar a coluna de direção, a mangueira do servofreio, o chicote da válvula do canister do lado esquerdo, a tubulação do ar quente, retirar a bateria, soltar os cinco conectores do lado direito bem atrás da bateria e retirar filtro de ar.  

Ao final desta etapa de preparação para separação, encaixar a carroceria nos braços do elevador de forma cuidadosa, pois tem local correto para o encaixe. Retirar por baixo os 10 parafusos que prendem a carroceria ao chassi, sendo cinco de cada lado. 

Após esta etapa inicial de desmontagem, já é possível iniciar o levantamento apenas da carroceria, o conjunto do chassi vai ficar no chão. Para quem não teve a oportunidade de ver uma operação dessas, causa muito espanto mas é maneira projetada pela montadora para fazer as manutenções com acesso livre aos componentes do motor. 

Com a operação de separação finalizada, tem início a outra tarefa que é a identificação da origem do vazamento de óleo. Este motor é o SDV6 diesel de 3 litros e como é um motor em V de 6 cilindros, a montadora instalou duas turbinas, uma de cada lado do bloco, sendo alimentadas por 3 cilindros cada uma. 

Com a indicação que o vazamento deixava no chão, demonstrava ser entre o motor e o câmbio, pelo menos era a direção e isso já faz alguns pensarem em retentor traseiro do motor mas por sorte ou facilidade, não é o caso. Na verdade o óleo que estava vazando estava vindo da parte traseira do motor na altura dos cabeçotes e com muita pericia da equipe da oficina, foi identificado um tubo de aço com uma parte de malha flexível, que através dele passa o óleo que lubrifica os eixos das duas turbinas. 

Essa matéria poderia terminar aqui mas a história vai seguir com a participação do cliente que resolveu providenciar o tubo defeituoso que estava causando o vazamento. 

Com a peça “nova” em mãos, logo foi substituída e todo o processo de remontagem da carroceria foi realizado. O cliente ficou utilizando o carro por um período de dois meses e quando chegou de viagem e estacionou na garagem, parecia tudo normal. 

Ao sair com o carro novamente, notou que havia marcas de óleo no chão e logo entrou em contado com a oficina relatando o caso. O carro foi trazido para a oficina e como já havia um histórico de vazamento, não houve muito tempo para coçar a cabeça e dizer: por onde eu vou começar? 

Repetindo a mega operação de remoção da carroceria, mais uma vez, agora foi um pouco mais fácil porque a equipe já sabia a sequência de desmontagem. 

Conferindo o provável local do vazamento entre as duas turbinas do motor, ficou evidente que o tubo que havia sido trocado era a causa do segundo vazamento. Conversando com o cliente, descobriu-se que a peça que ele havia trazido não era realmente nova e com esta informação, não restou nenhuma dúvida que era preciso simplesmente colocar uma peça nova para resolver em definitivo este vazamento de óleo lubrificante.  

O vazamento ocorre entre a parte rígida do tubo e a parte flexível que é prensada com uma conexão. O tubo não pode ser rígido devido a vibração e pequena movimentação que ocorre entre as duas turbinas.  

Para garantir que o serviço fosse feito com o máximo empenho, já que agora a peça a ser instalada é realmente nova, foi feita uma verificação e limpeza no sistema gases que saem do cárter e uma surpresa interessante revelou que o grupo PSA – Peugeot/Citroen, a Jaguar/Land Rover e a Ford, fizeram um trabalho de cooperação nos motores diesel para aperfeiçoamento, compartilhamento de componentes e aplicações nos veículos destas montadoras. 

A surpresa foi encontrar peças com o logotipo Peugeot/Citroen em um motor que a gente imaginava ser totalmente da Jaguar/Land Rover. Estas peças plásticas ficam obstruídas pelo acumulo de partículas de óleo lubrificante e a recomendação é a substituição. 

Lembrando mais uma vez que este motor só permite o acesso retirando a carroceria e isso também valo para a troca das correias dentadas que falaremos em breve em outra matéria. 

Uma informação interessante é que o vazamento não ocorre com o motor em marcha lenta, somente com rotações mais elevadas e devido à pressão do óleo que aumenta, é que começa a vazar o óleo pelo flexível do tubo.  

Finalizando, com a instalação de peças novas e um serviço feito com a atenção extrema, o carro foi montado e aparafusado ao chassi, com todos os conectores instalados e travados, painel de instrumentos ajustados e sem nenhuma avaria, foi entregue ao cliente e está funcionando como deve um carro muito bem cuidado.