O caminhão pode parar de funcionar na rua ou na estrada e o motorista vai precisar acionar o guincho e ir para a oficina mais próxima. Até aqui, o dono do caminhão e a equipe da oficina ainda não sabem o que fez o caminhão parar de funcionar.
O diagnóstico vai causar surpresa para todos ao descobrirem que a bomba de alta pressão está solta e pendurada apenas pela tubulação de entrada e saída de diesel.
A segunda surpresa vai acontecer quando identificar o que causou o deslocamento da bomba de alta pressão e porque o caminhão parou de funcionar.
Para a oficina é sempre bom receber serviços, mas sabemos que na maioria das vezes não é mais uma simples troca de óleo quando um cliente chega com o caminhão guinchado.
Cada serviço é uma surpresa e não foi diferente com o Ford Cargo 1317e, equipado com motor Cummins, que é bem conhecido pelos reparadores de veículos diesel.
Como este motor está equipado com o sistema de injeção eletrônica Common Rail, logo pode-se até pensar em algum defeito eletrônico que fez o caminhão parar na estrada.
Bascular a cabine é uma maravilha para os reparadores, pois o motor e o câmbio ficam com livre acesso, permitindo um diagnóstico visual com mais precisão.
Desta vez não foi preciso usar scanner para encontrar o defeito porque ao verificar a lateral traseira esquerda do motor Cummins, um dos mecânicos percebeu que a posição da bomba de alta pressão estava deslocada e ao colocar a mão nela, descobriram que estava totalmente solta e a surpresa foi ver que os três prisioneiros foram arrancados da caixa de engrenagens onde são rosqueados, ou deveriam estar.
Para entender o que aconteceu, é preciso observar o conjunto composto pelo bloco do motor, a caixa de engrenagens de sincronismo, a caixa seca e o câmbio.
A bomba de alta pressão é presa por três parafusos (prisioneiros) montados na placa de engrenagens que é de alumínio, mas para chegar nela e comprovar o que aconteceu, é preciso abrir caminho afastando ou removendo o câmbio, a caixa seca e aí a placa de engrenagens ficará exposta.
Com a remoção da caixa, foi possível avaliar o que aconteceu e pela sequência, primeiro foram os prisioneiros de aço que romperam as roscas de alumínio, deixando os três furos lisos.
É possível que tenha soltado um ou dois prisioneiros e isso fez as engrenagens de sincronismo trabalharem desalinhadas, provocando marcas profundas de desgastes nos dentes.
Enquanto isso, o caminhão estava rodando e o motor não apresentava falhas no funcionamento, mesmo com o desalinhamento das engrenagens, que ainda mantinha o sincronismo.
Quando houve o rompimento das roscas do terceiro parafuso, a bomba de alta pressão literalmente caiu, ficando pendurada apenas pelos tubos de alimentação de combustível.
O que fez o motor parar de funcionar foi a bomba de alta pressão que perdeu o contato sincronizado com a engrenagem de acionamento da árvore de comando de válvulas.
Com a bomba de alta pressão deslocada, o sistema de injeção eletrônica deixou de receber combustível e o motor parou de funcionar.
Em situações como esta, não dá para explicar para o cliente, sendo o melhor a fazer é chamar e mostrar para ele tudo que aconteceu. Aproveitando que o motor e o câmbio estavam separados, foi importante para analisar as condições do conjunto da embreagem, que já estava com desgaste elevado e a troca foi recomendada e assim economizar na mão de obra.
Não dá para querer recuperar a caixa de engrenagens que é de alumínio e neste caso tem dois motivos.
1- Recuperar rosca que suporta parafusos de um componente de extrema importância como a bomba de alta pressão, é correr risco sem necessidade, não compensa, o melhor é instalar uma peça nova e com garantia.
2- Como a bomba de alta pressão trabalhou desalinhada, a engrenagem ficou roçando na carcaça e desgastou tanto que atravessou, fazendo um furo, sendo assim mais um motivo para condenar definitivamente a caixa de engrenagens e optar pela instalação da peça nova.
Com a chegada das peças novas compostas pelo kit de embreagem, a engrenagem da bomba de alta pressão, a engrenagem de acionamento da árvore de comando de válvulas e pela caixa de engrenagens nova e com os prisioneiros bem rosqueados, foram feitas as montagens.
Toda vez que uma oficina executa um serviço pela primeira vez, como neste caso, os cuidados devem ser maiores porque é uma situação que a equipe da oficina e o dono do caminhão não sabem o que fez os três parafusos serem arrancados da caixa de engrenagens.
Instalar peças novas e de qualidade comprovada é a primeira condição para garantir que o serviço não vai dar retorno e causando mais transtornos para os dois lados (oficina e proprietário do veículo).
Aplicar os torques de aperto correto em cada parafuso ou porcas é fundamental para completar o serviço com toda qualidade necessária.
Verificar mais de uma vez o sincronismo das engrenagens para ter a certeza de que cada componente que depende deste sistema vai funcionar corretamente.
Em algumas regiões do interior do estado de São Paulo é comum ouvir uma frase: o motor dormiu. Esta frase expressa a alegria de ouvir o motor funcionando corretamente, revelando que o serviço, mesmo que tenha sido bruto, foi muito bem-feito e a satisfação é válida para a oficina e sua equipe e incluindo o dono do veículo.