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Copa do Mundo, economia e eleições: reflexos no mercado automotivo


Nesta edição, o Jornal Oficina Brasil ouviu profissionais de todos os elos da cadeia de reposição de autopeças com o objetivo de verificar quais reflexos o ano atípico de 2014, com eventos como Copa do Mundo e eleições presidenciais, vêm causando nos resultados dos negócios em todos os níveis da distribuição, do fabricante ao reparador

Por: Dirce Boer* - 11 de agosto de 2014

Os comentários e as avaliações, obtidos nas entrevistas com diretores de fábricas, distribuidores, varejos, reparadores e concessionárias, transformaram-se em um painel sobre o cenário econômico atual e as expectativas para o segmento de autopeças, com os resultados de 2014. As respostas dos entrevistados foram agrupadas de acordo com as questões propostas e podem ser lidas a seguir. 

AVALIAÇÃO DO EVENTO COPA DO MUNDO
César Costa, diretor comercial da Gates BrasilA respeito dos reflexos da Copa do Mundo nos resultados, os executivos foram inicialmente estimulados a recordar quais eram as suas impressões lá no início do ano para o período do evento, momento no qual o forecast já estava definido para os meses de junho e julho. De forma quase unânime, eles relataram, num tom realista, que a sensação era de que seriam meses fracos, abaixo da média de anos anteriores, sendo praticamente o mesmo motivo para todos: haver menos dias úteis. Porém, afirmaram que tal situação estava prevista em seus budgets e não causou impacto tão negativo, ao contrário, alguns deles até consideraram o resultado acima do esperado, conforme mencionou o executivo de fábrica César Costa (Gates):

“Na verdade, para a Gates, não podemos considerar que foi negativo porque, quando nós pensamos no budget de 2014, já estávamos prevendo que os meses de junho e julho seriam meses com menos dias úteis e isso influenciaria na venda de uma forma geral, para os distribuidores e para as fábricas, então, nós preparamos o budget com um percentual menor e, para a nossa surpresa, as vendas ficaram acima da nossa previsão”

Para os executivos da distribuição Rodrigo Carneiro (DASA) e Marco Avelino (Pellegrino), as metas de vendas previstas para o período foram alcançadas, pois já era sinalizado um resultado inferior ao de um mês normal de vendas, considerando-se a quantidade de dias úteis e o próprio evento Copa do Mundo.

“Não posso afirmar que os reflexos tenham sido positivos ou negativos. Um período que contempla a realização de um grande evento como a Copa do Mundo já estava previsto em  Rodrigo Carneiro, diretor comercial da Distribuidora Automotivanosso orçamento e operamos em junho e julho de acordo com o que tínhamos orçado e planejado”. Relatou Rodrigo Carneiro.

No varejista Mercadocar, os clientes da loja são divididos em dois setores, em função do portifólio de produtos oferecidos. Por haver um grande volume de peças mecânicas e de acessórios a clientela se divide em mecânicos (reparadores) e consumidores finais (proprietários de veículos), e ambos são igualmente expressivos na participação das vendas.

Para André Gandra, o período da Copa foi avaliado como positivo, até por estarem preparados para a possibilidade de haver queda nas vendas nos meses de junho e julho, e isso considerando os dois setores, de peças mecânicas e de acessórios.

“Tínhamos uma noção, entendemos que não teríamos vendas boas como foi no mesmo período do ano passado, então, estudamos uma média e esta foi atingida. Mesmo tendo menos dias úteis, prejudicou um pouco, mas, no contexto geral, não foi ruim, foi positivo”.

Mantivemos a média mesmo. Sabemos que, por mais que não mantivemos a média anual, e estarmos abaixo do nosso crescimento, a venda foi normal entre peças mecânicas e acessórios, não houve diferenciação.”

As opiniões dos executivos de concessionárias e reparadores entrevistados foram similares, a respeito da queda no número de clientes em suas oficinas no período da Copa estar atrelada ao fato do brasileiro ser aficionado por futebol. Para eles, havia um clima de ansiedade e euforia entre os proprietários de carros,  fazendo com que só pensassem no evento.

“O pessoal só pensou em jogo, ninguém consertou o carro, ninguém quis ficar dentro da oficina. Aquela manutenção preventiva deixaram de fazer, fizeram somente a corretiva e diziam assim: ‘rápido, me libera já!”  Exclamou o proprietário do Centro Automotivo Tecnicar – Arnaldo Bisi.

André Gandra, diretor comercial da Mercadocar“O fato é que desconcentra o público, tira um pouco da mente. Sentimos que, mesmos em jogos que não eram do Brasil, as ruas ficavam vazias. O mercado caiu, o faturamento diário caiu, houve uma desconcentração, na verdade perdeu o foco do negócio, acredito que em todos os setores que trabalham com peças, nas oficinas particulares, distribuidoras. É muita conversa sobre Copa, perde o foco, perde a concentração.” Comentou Matheus Cusatis (Concessionária Carrera).

REFLEXOS EFETIVOS DA COPA
Os entrevistados confirmaram as suas expectativas anteriores à Copa e disseram, ainda, que a maior influência para os resultados abaixo da média ficou por conta da baixa quantidade de dias úteis. Mesmo que os meses de junho e julho sejam considerados o segundo melhor período no ano para as vendas de autopeças e em movimento nas oficinas, em função das férias, isso não contribuiu, em 2014, a sustentar as médias históricas realizadas em outros anos.

A manutenção de carros caiu no período da Copa nas oficinas e concessionárias, não só por falta de clientes, mas também porque esses estabelecimentos reduziram a jornada de trabalho em função de feriados já existentes, ou pela dispensa de funcionários nos dias dos jogos do Brasil.

“Nos dias de jogos não dava nem para assistir aqui e continuar trabalhando depois, porque tinha que dispensar os funcionários e fechar as portas. Ficou serviço parado. Então, foi ruim para nós e para os clientes também. A quantidade de serviço que poderia ser feito diminuiu, Arnaldo Bisi, proprietário do Centro Automotivo Tecnicarcaiu pelo menos 30% o número de carros que atendemos.” Explicou Eduardo Oliveira – oficina Nipo Brasileiro.

“O movimento em geral caiu, foi tudo. Na oficina caímos 15% e na venda de peças caímos 15% também, justamente os dias em que não trabalhamos. Isso impacta muito nos resultados.” Comentou Matheus Cusatis – Concessionária Carrera

Na opinião de Rodrigo Carneiro (DASA) e Pedro Ortolan (Mann+Hummel), os recursos que seriam usados para a manutenção de veículos foram transferidos para outros setores, que se beneficiaram com o evento Copa.

“Assim como houve um clima de euforia e de gastos para alguns segmentos no período da Copa, o reflexo para outros segmentos de negócios foi que neste período houve uma transferência de recursos para estes outros segmentos pelos donos de veículos.” Disse Rodrigo.

“Durante a Copa houve um desaquecimento nas vendas do nosso setor, muito em função das atenções voltadas para a competição e, consequentemente, para os mercados relacionados com o tema do evento.” Comentou Pedro.

Além disso, Marco Avelino (Pelegrino) e Arnaldo Bisi (Tecnicar) comentaram que o período de pico de férias não é mais tão forte no meio do ano. Na opinião deles, as manutenções são feitas conforme a necessidade e, na maioria das vezes, são corretivas e não preventivas:

Matheus Cusatis, Gerente de Peças e Serviços da Carrera Concessionária Chevrolet“Não é mais como antigamente que a pessoa ia sair de férias e no mês de junho dava um pico, não dá mais. Isso de muitos anos atrás que não tem revisão de férias, não é do ano passado, posso falar que ocorre há uns 10 anos. Principalmente, que hoje tem o serviço de guincho 24 horas, o cliente vai e se der algum problema, chama o guincho, ele vem e traz o táxi, então é assim!”. Argumentou Arnaldo.

“Essa sazonalidade vem desaparecendo com o passar dos anos. Antigamente, digo uns 10, 15 anos atrás, era mais evidente esta sazonalidade, na qual realmente o consumo de produtos vinculados às revisões básicas sentia um aquecimento. Este cenário não é mais percebido com tanta ênfase”.  Complementou Marco Avelino.

 
SITUAÇÃO ECONÔMICA DO PAÍS
A atual situação econômica do país é avaliada como preocupante para todos os entrevistados e pode afetar o fechamento das metas de 2014. Porém, para uns o impacto é maior por conta da queda na atividade industrial e devido à retração do consumo, influenciada por especulações.

“A queda da atividade na indústria é, em minha opinião, o pior indicador para os negócios. Isso traz duas consequências para o consumo direto, bem como para um importante setor diretamente ligado ao nosso mercado: o de transportes. Desde o início do ano já estamos sentindo uma ligeira queda nos negócios do mercado de linha pesada, certamente vinculado ao processo de queda da atividade econômica.” Marco Avelino (Pellegrino)

Eduardo Oliveira, proprietário do Centro Automotivo Nipo Brasileiro“A atual situação do mercado nacional é instável e, com a aproximação das eleições, muita especulação acontece. Por conta disso, o mercado se retrai e os investimentos são postergados. O resultado dessa combinação é um mercado mais travado.” Pedro Ortolan (Mann+Hummel)

“Influencia diretamente, porque o que se fala na televisão e no rádio, o povo assimila, então, se ele tem alguma reserva, procura não gastar, então ele vai fazer somente a manutenção corretiva.  É uma preocupação que todo mundo tem porque não sabe o que vai acontecer, então, ele tem que se resguardar, não gastar.” Arnaldo Bisi (Tecnicar)

Na opinião de Celso Caires Júnior, proprietário da Autopeças Dispemec, localizada em São José dos Campos/SP, o motivo Copa não foi o principal causador da queda nas vendas. Para ele, devido à cidade ser um distrito industrial, a atual situação econômica vem sendo a maior responsável pela queda de vendas da loja desde o início do ano. Apesar de demonstrar preocupação, comentou que precisa vender com mais segurança, em relação ao crédito e possível aumento na inadimplência, para que isso não interfira ainda mais no resultado.

 “A nossa cidade é de característica metalúrgica, nós temos a General Motors aqui em São José dos Campos, que tem uma grande influência. Muitos operários acabam tendo um reflexo negativo na cidade, porque a GM não vem bem e este ano está pior ainda, férias coletivas, acho que é a segunda vez consecutiva no ano, então todos esses rumores afetam de certa forma, todo mundo fica com o pé atrás, então, o que eu vejo é que o cliente não deixa de arrumar o carro porque é uma necessidade, mas, a manutenção preventiva, ele não tem feito. Eu não vejo o cliente falando “eu vou fazer em 6 vezes”, ele não está assumindo riscos, eu vejo o pessoal com o pé no chão e nós também. Porque eu trabalho com uma restrição, acabamos segurando um pouco o crédito, revisando os limites, para não deixar a inadimplência acontecer. São duas frentes, eu quero vender mais com segurança e o cliente quer comprar, mas o necessário, então estamos nadando um contra o outro, então, o resultado de aumentar a venda, de buscar o crescimento, isso fica um pouco distante.” Celso Júnior (Dispemec).

Pedro Geraldo Ortolan, diretor de vendas de reposição e marketing da Mann+HummelPor outro lado, André Gandra conta que, na Mercadocar, a instabilidade da economia não está afetando os resultados da loja e aponta a necessidade de manter o carro em ordem como sendo o fator fundamental.

“Não está impactando diretamente, o brasileiro de um modo geral, não deixa de fazer a manutenção do seu carro. Se fizermos uma análise autopeças versus economia brasileira seria um cenário preocupante, mas na prática não está acontecendo. A gente percebe que o consumidor está consumindo de uma forma mais cautelosa. O brasileiro não fica sem carro, ele deixa de fazer outras coisas, às vezes reduz as viagens, deixa de fazer um passeio no fim de semana ou coisa parecida, para que tenha condição de fazer a manutenção, porque ele sabe que precisa estar com o carro em ordem.

Não é só questão do lazer, ele precisa deste meio de transporte. Nosso país não dispõe de transporte público adequado, então, as pessoas dependem do carro para se locomover, em contrapartida, ele precisa fazer a manutenção, porque ele sabe que se deixar de fazer e, quando for fazer, ficará muito mais cara”

Dessa mesma maneira, pensa  Eduardo Oliveira, proprietário da Oficina Nipo Brasileiro:

“Não influencia em nada. Eu vejo assim: o carro continua quebrando, tem que arrumar, e tem o cliente que naquele determinado momento não está podendo gastar, aí acaba deixando de vir na oficina, ao mesmo tempo tem aquele que está melhorando, conseguiu comprar um carro melhor e vem para a oficina, então, tem um ciclo aí e eu não vejo a crise que todo mundo fala.”

Marco Augusto Avelino, gerente nacional de vendas da PellegrinoPara as duas concessionárias abordadas (GM e Ford) esta instabilidade econômica não interferiu nos resultados no setor de peças e serviços, ao contrário, os dois gerentes afirmaram estar com um movimento maior, comparado ao ano passado e, para eles, a queda nas vendas de carros novos, seguramente, contribuiu para o crescimento de manutenção de carros usados:

“Até maio o crescimento em serviços estava bom, 20% acima em relação ao ano passado e a venda de carro caiu. O público, ao invés de trocar o carro, está fazendo manutenção e isso trouxe um benefício para o mercado de peças e serviços. O setor de peças estava mantendo a venda do ano passado, mas, serviço, é impressionante! Nós estamos trabalhando com a oficina cheia e, independente da economia, os carros continuam quebrando e esses carros não deixaram de vir.” Matheus Cusatis (Carrera)

“A parte de manutenção vai normal, na realidade, o mercado não está ruim, está competitivo hoje, na realidade, o movimento de serviços não caiu. Tanto serviços quanto peças, eu acho que se mantiveram estáveis, não afetou tanto a parte comercial, a parte de manutenção andou até melhor do que eu esperava. Na área de assistência técnica também, acima do esperado.”  Alexandre Clempes (Superfor).

EXPECTATIVA PARA O SEGUNDO SEMESTRE DE 2014
 Apesar de haver uma preocupação geral em relação ao segundo semestre do ano, para a maioria dos entrevistados ele é historicamente melhor. Alguns, inclusive, demonstraram otimismo quanto ao fechamento do ano ter um saldo positivo.

“Como mencionei anteriormente, já prevemos as variações mercadológicas e sazonalidades em nosso orçamento. Desta forma, estamos prevendo um segundo semestre positivo para a nossa empresa. A estratégia é a mesma, contudo, estaremos ainda mais focados na busca dos resultados. Estamos projetando crescimento para 2014. Não será um crescimento expressivo dado  tudo o que está acontecendo no mercado e no país, mas será um crescimento importante.” Rodrigo Carneiro (DASA)

Celso Caires Júnior, proprietário da Dispemec“Apesar das dificuldades, acredito que iremos alcançar nossos objetivos, como planejado no início deste ano.” Pedro Ortolan (Mann+Hummel).

“Eu acredito que vou fechar a meta e estou na expectativa da gente buscar resultados melhores, no mínimo, alcançarmos o estipulado para crescimento.” Celso Júnior (Dispemec)

“Nós sabíamos que seria um ano muito ruim, por causa dos eventos, mas eu acho que na realidade a tendência é melhorar agora, nos próximos 6 meses. Eu acho que no segundo semestre vamos recuperar a ponto de fechar os números e resgatar o atrasado.” Alexandre Clempes (Superfor)

“Eu acredito que irei fechar bem este ano, em torno de uns 10% acima do ano passado.“ Arnaldo Bisi (Tecnicar)

Com um pouco mais de cautela, o executivo da fábrica César Costa (Gates), demonstrou não estar tão seguro para arriscar um pal­pite de haver uma melhora no resultado do segundo semestre, por conta de más notícias da economia.

“No primeiro semestre havia a expectativa de que o segundo semestre seria melhor, porque, para a Gates, o primeiro semestre foi estável, não teve nenhum ‘boom’ de vendas, ou ele está igual ao ano passado ou com um percentual um pouco abaixo. Por conta dessa conversa, nos também estávamos acreditando que o segundo semestre seria melhor, mas, com tanta notícia ruim sobre o PIB, sobre a economia, até sobre a falta de água, são só notícias pessimistas. Aí,  cAlexandre Clempes, gerente de pós-venda da Superfor Concessionária Fordom esta sensação que nada caminha para uma melhora, vamos fazer uma revisão no orçamento, vamos reduzir as metas. Agora, a nossa expectativa não é que o segundo semestre vai recuperar o primeiro, não temos mais essa expectativa. Vamos ficar abaixo do nosso budget.”

Já o entrevistado do distribuidor, Marco Avelino, acredita que a Pellegrino terá um crescimento, mas, também será abaixo do previsto. 

“Projetamos um ano com relativo crescimento sobre os resultados de 2013. Após passado o primeiro semestre, podemos perceber que não teremos êxito neste objetivo, pois as taxas de crescimento estão inferiores a este patamar. Podemos considerar que, se conseguirmos manter esse ritmo atual, falaremos em crescimento na ordem de 5% para este ano.”

ESFORÇOS / ESTRATÉGIAS
O bom senso nos negócios preconiza que não basta apenas ser otimista. Por isso, os executivos entrevistados foram indagados sobre os esforços ou investimentos que planejaram fazer para alcançar seus objetivos, ou até superá-los. Diante das respostas dos varejos nota-se que as estratégias, algumas já adotadas e outras a serem implementadas, são bastante diferenciadas, tais como reposicionamento de produtos e, até, abertura de filial.

“Acreditamos que teremos um crescimento muito satisfatório. Estamos falando em algo em torno de 30% superior ao que foi o ano de 2013 e as estratégias serão a criação de promotores exclusivos da Mercadocar, por linha de produto; treinamento comercial e técnico para toda a equipe; abertura de novas linhas. Além disso, estamos posicionando melhor os produtos nas prateleiras, principalmente os acessórios na questão da rentabilidade e, paralelo a isso, iremos inaugurar a sexta loja do grupo, essa na Zona Leste, será a quinta de linha leve, e estamos repaginando as lojas Mercadocar. Também para 2014 estaremos lançando o nosso e-commerce, isso em questão de alguns dias, que também veio para agregar no faturamento da Mercadocar. Por isso, entendemos que o segundo semestre será fantástico.” Comentou André Gandra, da Mercadocar.

“Eu espero sempre o melhor, sou otimista, mas aqui na Dispemec nós vamos nos mexer. Vamos ter mais campanhas, mais ações, eu tenho um evento grande que nós fazemos de agosto para setembro, que é nosso maior evento do ano no planejamento de marketing: o Integra. É nossa mini Automec. Nós trazemos as empresas, que expõem seus produtos e fazemos o evento no shopping. Este é o quinto ano. Então, é um evento que gera muito investimento, mas traz bastante resultado. Ele mobiliza, e todo mundo se mexe bastante.” Avaliou Celso Júnior, da Dispemec (São José dos Campos).

“A Pellegrino tem por característica se planejar com bastante brevidade nas suas ações, então, nós abrimos a filial de Santo André esse ano, para melhorarmos o atendimento naquela região, Baixada Santista que é importante, despressurizar essa filial que era responsável por lá, então essa filial tem que crescer nessa região remanescente e lá buscar novas oportunidades. Estamos abrindo até o final do ano mais uma filial no norte do país que já era prevista também, que visa trazer novos negócios.” Marco Avelino (Pellegrino).

Os gerentes das concessionárias também expuseram os serviços e estratégias adotados para tentar garantir o resultado positivo nas vendas de peças e no volume de manutenção dos veículos na oficina e, principalmente, para fidelizar os clientes.

“Hoje, nosso trabalho é todo agendado, o público se acostumou com isso. Existe também um trabalho forte das concessionárias, mas na GM o telemarketing é um fator muito importante, nós temos sistema de CRM muito efetivo, que as nossas atendentes lembram o cliente da revisão. Isso se tornou uma coisa que o cliente se acostumou. Hoje, a fidelidade do cliente à concessionária, depois da garantia, aumentou muito, porque existe este pós-venda. Lógico que sai um pouco depois da garantia, existe aquela fuga natural, mas aumentou muito hoje a fidelização pós-garantia.” Matheus Cusatis (Carrera).

“Nós temos hoje um bom trabalho com preço competitivo, nós conseguimos absorver muito mais clientes fora da garantia do que antes, porque durante estes três anos você trabalha o cliente e, às vezes, nós temos um bom percentual de clientes que depois de 3 anos acaba trocando de veículo por outro zero na própria concessionária. Então, este é o trabalho que nós fazemos, a gente tenta fazer um trabalho de manutenção deste cliente e ele vira um cliente fiel. Hoje, eu enxergo como a grande jogada que todos têm que trabalhar é o marketing para fidelizar o cliente e, para isso, o segredo é um bom atendimento, não tem outra coisa que segure o cliente do que um bom atendimento. Tem que fazer além do que ele espera.” Alexandre Clempes (Superfor)

INFLUÊNCIA DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Para finalizar, os entrevistados responderam a respeito dos efeitos que as eleições para presidente podem causar em seus negócios. Os comentários revelam um sentimento generalizado de que, para esses executivos, de alguma maneira os resultados das eleições poderão afetar, sim, os rumos dos negócios em suas empresas. Nota-se que a avaliação é a de que o mercado estará sensível aos possíveis impactos que qualquer candidato que vença o pleito poderá causar no quadro econômico do país, uma vez que para os entrevistados, alterar, ou não, a forma como a administração do Brasil vem sendo conduzida irá gerar efeitos colaterais significativos em seus mercados.

“Tudo é incerto. O que cabe a nós, como executivos, é estarmos sempre atentos às instabilidades econômicas e criar e executar as estratégias certas para conduzir os negócios da melhor maneira possível.” Pedro Ortolan (Mann+Hummel)

“Eu acho que o governo tem que implementar mais notícias boas para o mercado, porque quanto mais notícias ruins, mais as pessoas vão tirando o pé, mais as pessoas vão tomando cuidado, vão pensando em gastar menos, vão pensando em segurar investimentos, despesas. Então, o que precisamos agora é de uma nuvem de notícias boas, porque é muita notícia ruim.” César Costa (Gates)

“Particularmente, entendo que sim. Dependendo do sucessor, o mercado se comportará com determinado humor. Uma coisa é certa, o país não aguenta mais, financeiramente, falando em inchaço em contas públicas, potencialização do PIB apenas no papel, falta de medidas efetivas de ajuste fiscal, etc. Desta forma, o novo governante, inevitavelmente, terá que tomar ações duras e corretivas para o próximo ano, que poderá, desde o final de 2014, impactar diretamente no mercado em geral”, Marco Avelino (Pellegrino)

“O cenário político brasileiro está interligado ao cenário econômico, e as empresas devem estar atentas a essas mudanças, o que é o caso da nossa companhia. Entendemos que para 2014 pode ter alguma influência sim, mas não entendemos que deve ser algo que chegue a impactar os nossos resultados.” Rodrigo Carneiro (DASA)

“Não temos esta sensibilidade, entendemos que o que preocupa é a questão dos impostos, sempre quando há mudança de presidente, sempre entra algumas situações como a Substituição Tributária, IVA, que tivemos recentemente. Isso é um impacto direto dentro dos nossos custos, a Mercadocar se preocupa com a questão dos impostos que nós pagamos cada vez mais.” André Gandra (Mercadocar)

“Eu vejo que isso não irá trazer nenhum impacto, eu creio que os resultados, se eles forem melhores, serão um reflexo da economia aquecida ou, se tivermos uma inflação muito alta, falta de crédito, se tivermos um impacto muito negativo de forma geral na economia e piorar, aí sim, teremos um impacto muito grande nos negócios.” Celso Júnior (Dispemec)

“Eu acho que o consumidor está com o pé atrás por conta dessa situação da eleição, está inseguro com o mercado econômico hoje, mas, eu acredito que o país não vai mudar de situação, independente de quem ganhe a eleição. A situação do mercado continuará parecidíssima, embora poderemos apostar mais ou menos fichas depois da eleição, dependendo de quem assumir.” Alexandre Clempes (Superfor)

“Alguma coisa eu acredito que mudará. Não acho que mude por causa do meu cliente, não acho que eles deixarão de vir, mas, por causa dos meus fornecedores. Pode haver uma mudança na compra, no custo das peças. Pode mudar a política comercial, mas, os clientes continuarão vindo, porque os carros vão continuar quebrando.” Eduardo Oliveira (Nipo Brasileiro)

Apesar das opiniões serem diversas sobre os reflexos da Copa e o impacto das eleições, o que prevaleceu neste panorama foi claramente a sensação de otimismo em relação às expectativas com o mercado. Levando-se em consideração que todos estão inseridos no mercado de reposição, seja na comercialização ou na aplicação de peças, foram unânimes em dizer que, independente do evento Copa e do atual cenário político-econômico, os carros precisarão sempre de manutenção.

Por outro lado, nota-se que as montadoras sentiram um reflexo muito maior e mais direto dessa instabilidade econômica, constatado através do fraco desempenho nas vendas de veículos novos. Porém, para o mercado de reposição, isso também significa oportunidade de crescimento.

Hoje, a frota nacional circulante é de, aproximadamente, 35 milhões de veículos, todos com potencial para fazer manutenção, mesmo que corretiva. Tal fato denota, ainda mais, o cenário positivo para o aftermarket. Contudo, sabe-se que esse mercado é bastante competitivo e aqueles que buscam ampliar ou manter a sua participação devem investir e empenhar esforços, qualquer que seja a sua posição na cadeia da distribuição de autopeças. A atual demanda que os novos modelos de veículos exige é grande, além da variedade de itens que requerem atualização constante na mão de obra dos reparadores e no conhecimento daqueles que comercializam as peças.

*Dirce Boer é Publicitária – Diretora Executiva da DMC Promoção e Publicidade, empresa com 22 anos atuando no mercado de autopeças.