Pelo oitavo ano consecutivo, a pesquisa Melhor Carro/Imagem das Montadoras, realizada pela CINAU – Central de Inteligência Automotiva, revela a opinião do reparador sobre os diversos modelos e marcas de automóveis existentes no mercado brasileiro. Um resultado que chamou atenção foi a queda que todas as montadoras tiveram no índice de Recomendação da Oficina (RO). Nesta edição, a pesquisa avaliou 1,2 mil amostras de todo o Brasil no mês de novembro de 2008.
Esse resultado pode ser justificado pelo fato de o mercado de reparação estar experimentando uma maior pulverização de marcas e modelos nas oficinas. Se antes era necessário conhecer a tecnologia de apenas quatro montadoras, hoje esse número evoluiu para mais de 10, somente na linha de veículos de passeio.
Já é comum encontrar nas oficinas carros de montadoras francesas e japonesas, assim como de outras marcas mais luxuosas, como Audi, BMW e Mercedes-Benz, além das tradicionais Chevrolet, Fiat, Ford e Volkswagen. Com isso, cresce a necessidade de informações técnicas, assim como disponibilidade de peças de reposição, para que o reparador realize um trabalho eficiente.
As montadoras que já se atentaram a estes detalhes saíram na frente, e tem o reparador como aliado, e indicam a marca aos clientes. Isso porque o reparador, quando recomenda uma marca, o faz com um misto de técnico e apaixonado por carro, mas quando não recomenda, ele é racional, 100% técnico.
Confira abaixo os gráficos e a análise dos resultados da pesquisa Melhor Carro/Imagem das Montadoras ao longo dos anos, por montadora.
Resultadosm função da grande quantidade de informações levantadas pela pesquisa, a publicação de seus resultados acontecerá em duas etapas. Nesta primeira divulgamos os indicadores:
ROd – Recomendação da Oficina direto, que registra o resultado da indicação e não indicação da marca;
ROp – Recomendação da Oficina por produto, revela, por ordem as montadoras que têm mais modelos indicados;
ROc – Recomendação de Oficina Consolidado, que registra a ponderação entre o ROd e o ROp
Veja aqui os Gráficos.GMDesde que assumiu a liderança na recomendação do reparador (na edição 2003/04) da pesquisa, a GM vem mantendo a posição. Por outro lado, observou-se uma nítida queda no índice de recomendação (que caiu de 48,5% para 27,92%). Uma análise mais detalhada deste resultado, quando comparamos a formação do RO (percentual dos que recomendam menos o percentual dos que não recomendam a marca) observamos que a GM nos últimos doze meses, perdeu fãs, mas não ganhou detratores, pois é a marca com menor rejeição entre o público profissional da reparação.
VWDepois de viver um verdadeiro inferno astral que derrubou a montadora alemã da absoluta preferência observada no ano 2000, quando desfrutava de uma recomendação (RO) de 60% dos entrevistados, até os minguados 11% observados no ano de 2006, o resultado atual comprova que a VW está reencontrando seu apoio junto à categoria dos reparadores.
Ao registrar um RO de 20,70%, a montadora consolida-se como a segunda mais recomendada pelos profissionais aos seus clientes.
FiatDepois de protagonizar a mais fantástica virada, desde que o índice RO foi criado, quando enfrentava uma rejeição recorde de -35, 7%, e alcançar o máximo de recomendação em 18,1% no ano passado, a Fiat perdeu o gás mas manteve-se sólida no terceiro lugar.
O RO de 11% registrado pela montadora italiana este ano representa um pequeno desaquecimento na preferência do reparador, porém, quando analisamos (veja no final da matéria) o ROp, por modelos, a Fiat lidera a indicação.
ToyotaCom a frota dos veículos desta marca se tornando cada vez mais popular nas oficinas mecânicas independentes, é natural que a imagem positiva da montadora perca um pouco de seu encanto junto a este público, pois certas realidades começam a aparecer.
Dificuldade de encontrar peças e informações técnicas minou a trajetória ascendente da montadora japonesa junto ao público reparador, e o reflexo disso é a queda de mais de 50% no índice de recomendação, que caiu de 11% em 2007 para 4,80% agora em 2008.
HondaOutra montadora japonesa que está na mesma toada da Toyota: peças e informações técnicas. Com isso, as montadoras japonesas vêm perdendo prestígio junto ao reparador independente e resultados deste ano da Honda comprovam isso. Registrando uma queda acentuada na recomendação, o índice da Honda apontou para o chão ao cair de 10,40% em 2007 para os atuais 4,5%.
Se a tendência estatística prevalecer no ano que vem, as montadoras japonesas terão definitivamente terminado sua "lua-de-mel" com os reparadores e passarão a enfrentar a não-recomendação, pelos motivos já conhecidos e evidenciados pela pesquisa, que são: peças e informações.
CitroënA montadora de origem francesa está no grupo lanterninha do time que possui o RO mais negativo, ou seja, aquelas montadoras que registram mais opiniões contrárias do que positivas de recomendação no diálogo entre o reparador e seu cliente.
Para a Citroën observou-se um aumento significativo de não-recomendação e o índice que já era negativo em 2007 (- 1,90%) evolui para -6,24% no trabalho de 2008.
O processo é mais ou menos o mesmo para todas as montadoras, e a opinião do reparador vai se consolidando à medida que a frota dos veículos das marcas avaliadas se avolumam em sua oficina.É neste momento que a imagem que ele fazia do carro e das montadoras, sai do plano imaginário e passa para a realidade.
Ao contrário das japonesas, que trouxeram para o mercado especializado sua imagem positiva (e que, como observamos está se desfazendo na medida em que a convivência com seus carros na oficina aumenta), as francesas nunca gozaram de prestígio com a classe reparadora (por motivos que desconhecemos) e foram rejeitadas antes mesmo da frota se massificar nas reparadoras independentes. Prova disso é que a não-recomendação (RO negativo) sempre foi uma constante entre as indústrias de origem francesa.
PeugeotAs montadoras francesas e as "novas", de uma maneira geral no mercado, enfrentam uma realidade bem brasileira, pois à medida em que sua frota vai se popularizando e se tornando mais frequente no ambiente da oficina mecânica independente, mais problemas surgem. Sempre capitaneados pelo trio que joga o RO para baixo: peças, informações técnicas e reparabilidade, as montadoras novatas, são penalizadas.
Com a Peugeot a situação não é diferente. Muitos reparadores se ressentem com a dificuldade de reparar os carros da marca e expressam isso na pesquisa.
Com cada vez mais carros da marca entrando na sua oficina e as dificuldades persistindo, é natural que o índice da montadora tenha se afundado na negatividade, saindo dos -2,75% de 2007 para os atuais -9,78%
RenaultEstá dentro do grupo que enfrenta cada vez mais resistência no mercado de reparação independente. Os motivos são os mesmos já explicados nos comentários anteriores.
Reforçamos a questão da presença constante de carros destas marcas no ambiente da oficina independente como ponto crítico para as avaliações do mecânico independente.
Este profissional é um reparador multimarca e, como tal, acaba experimentando a realidade da reparação de diferentes modelos e nesta pesquisa tem a chance de expressar sua experiência, que acaba transmitindo ao dono do veículo.
Esta realidade não está sendo favorável para Renault, pois seu índice de recomendação é negativo e cresceu em relação ao ano passado, atingindo -10%.
FordContinua sendo a montadora com maior índice de rejeição junto ao reparador, e certamente, entre as rejeitadas, a com maior frota recebendo manutenção na oficina independente.
Esta realidade, somada a uma política de distanciamento do ambiente da oficina, leva a Ford a uma marca impressionante de rejeição, -24,42 %. Registrando um significativo aumento em relação ao ano passado, quando a pesquisa apresentou o índice de -19%.
Resumidamente, podemos dizer que a Ford, principalmente nos segmentos mais populares, deixa de vender muitos carros, pois na conversa que candidatos a um carro novo têm com seu mecânico de confiança, a marca é "gongada" da forma mais frequente entre todas as montadoras.
ConclusãoA revelação dos três indicadores RO nos oferece um raio-X da imagem das montadoras junto ao público profissional da reparação e serve de orientação para os fabricantes, que já passam a considerar este publico estratégico para seu negócio, não só para as equipes de pós-venda, mas para quem pensa produto e vendas de carros novos.
O indicador RO nos mostra, no horizonte amplo, qual o juízo geral que cada montadora goza junto aos Reparadores Independentes. Ele oferece uma visão geral da imagem da montadora. Graças à quantidade de informações recolhidas, há possibilidade de identificar na pesquisa a linha de comunicação e estratégia de relacionamento que a montadora deve adotar – caso considere o aftermarket independente realmente influenciador do mercado de novos e usados – em função dos diferentes RO indicados.
Já o indicador ROd, que é um indicador obtido dos votos diretos dados à montadora quando perguntamos aos Reparadores por isso, expressa a leitura do prestígiodesprestígio da marca pura (brand). No caso do indicador ROp, obtido através da votação dos veículos recomendados e dos não-recomendados, estamos diante de um indicador que reflete direto sobre os modelos de cada montadora, pois o reparador pode até ser mais "fã" da marca A (refletindo sua opinião no ROd ), mas na hora de indicar um modelo, ele indica modelos da marca B, o que pesa no ROp.
Já foi identificado na pesquisa que quando um reparador recomenda uma marca e produtos o faz com um misto de técnico e apaixonado por carro. Porém quando não recomenda, o reparador é objetivo, racional, 100% técnico e baseia sua opinião na prática do dia-a-dia dos reparos dos veículos da marca que não recomenda.
Pelas características do mercado brasileiro é fácil notar que a influência da oficina independente no market share das montadoras é maior nos segmentos populares e médios e disso vamos falar na próxima edição, quando revelaremos os resultados por modelo e abordaremos, mais profundamente, a Imagem das Montadoras.
Debutantes no RO
Pela primeira vez, ainda que de forma um pouco incipiente, marcas ícone do mercado automotivo começam a ser referidas na opinião do mecânico independente.
Os números da pesquisa indicam que Audi, BMW, Chrysler, Nissan, Mitsubishi já estão sendo reparados na oficina multimarca, assim como as coreanas Hyundai e Kia.
Tal realidade está expressa na séria de RO´s que relacionamos abaixo:
Se tudo continuar seguindo seu curso e os donos dos carros destas marcas forem, cada vez mais, buscar manutenção na oficina independente, é previsível que os RO´s destas montadoras no próximo ano sejam mais robustos e reveladores sobre o futuro destas marcas no mercado automotivo brasileiro.
Pesquisa ajuda a entender o mercado
A pesquisa Melhor Carro/Imagem das Montadoras teve sua primeira edição no ano 2000 e surgiu como uma forma de alertar o mercado automotivo para uma realidade, até então percebida de maneira informal, que diz respeito à força da opinião do mecânico da chamada "oficina independente" na geração de demanda de carros novos e formação de preços do segmento de usados.
Como toda pesquisa, a Melhor Carro/Imagem das Montadoras está ganhando cada vez mais consistência com o passar do tempo, pois as mutações de seus indicadores, bem como o desenvolvimento de modelos relacionais sólidos com as variáveis observadas, ao longo dos anos, encontram cada vez mais respaldo na realidade do mercado no que diz respeito ao market share das montadoras e depreciação do mercado de usados.
Nesta 8ª edição da pesquisa, a CINAU avaliou 1,2 mil amostras de todo o Brasil no mês de novembro de 2008 e, como de praxe, não haverá eventos festivos tampouco premiações, pois se trata de um estudo desenvolvido com o intuito de promover esclarecimentos e maior conhecimento sobre o mercado automotivo no País e as forças que influenciam o desempenho das vendas entre as indústrias que disputam este segmento.
Para reforçar esta realidade, a pesquisa incorporou uma pergunta, que nesta edição começa a ser destacada e mais explorada, que quantificou um comportamento do cliente em relação ao seu mecânico de confiança, ou seja, a tradicional pergunta: - Estou pensando em comprar o carro tal, o que você acha deste veículo?
Para 82% dos reparadores ouvidos, esta situação é real e seus clientes não se aventuram numa aquisição de um carro novo ou usado sem ouvi-los. É claro que este tipo de diálogo está mais ligado à compra de um carro da faixa popular ou "média", pois no segmento de luxo essa opinião não é tão influente.
Já existindo há 9 anos, esta pesquisa ainda é encarada pela equipe da CINAU como uma contribuição para o entendimento do mercado automotivo no Brasil e, para ratificar o caráter de estudo, coloca-se à disposição das empresas interessadas em conhecer detalhes do trabalho para críticas e contribuições, mediante agendamento de uma apresentação, que pode ser solicitada pelo telefone (11) 2764-2852.