O debate é intenso, mas depois do que vi no Rio de Janeiro no início de junho, durante o Michelin Bibendum Challenge, evento realizado anualmente pela fabricante de pneus francesa sobre mobilidade sustentável, tive a certeza de que o automóvel do futuro será elétrico, 100%, e que o motor a combustão interna está com os dias contados.
O difícil é determinar quantos dias serão, pois ai entram outros elementos além do desenvolvimento tecnológico, como a vontade política e a capacidade econômica da indústria. No Brasil, se depender dos políticos atuais a resposta é fácil: nunca. Isso porque a nossa legislação, hoje, torna o custo desta tecnologia proibitivo, com tributação estratosférica, ao contrário de outros países que oferecem redução de impostos para as indústrias que desenvolvem formas de locomoção menos agressivas ao meio ambiente.
Neste impasse entre tecnologia e política, o brasileiro já ficou à margem do progresso das tecnologias de motores à diesel, que nas últimas três décadas se tornaram extremamente eficientes e atingiram níveis de emissões inferiores ao dos motores a gasolina e álcool, graças a gerenciadores eletrônicos mais sofisticados, que possibilitam até cinco injeções de combustível em um único ciclo. Tudo porque há uma lei de mais de 40 anos que impede a comercialização de automóveis a diesel no País.
No evento, a Audi compareceu com um exemplar do A3 TDI, com motor diesel quatro-cilindros de 1.6 litros, que rende 105cv de potência, e 250Nm de torque máximo, equipado com caixa de câmbio manual. Em um teste drive no circuito de Jacarepaguá, o consumo ficou em impressionantes 22km/l. Segundo a Audi, o consumo em testes controlados chega a 26km/l de diesel.
Tecnologia
Enquanto o impasse da elevada carga tributária para tecnologias de veículos elétricos não é resolvida no Brasil, assistimos de binóculos os feitos da indústria automotiva na busca de soluções para o carro elétrico. No evento da Michelin, no Rio de Janeiro, a alemã Audi foi o destaque, com o E-tron, superesportivo baseado no R8, porém equipado com quatro motores elétricos (um em cada roda), que geram ao todo 313cv de potência e torque máximo de impressionantes 459mkgf (combinados), instantaneamente, uma característica dos motores elétricos.
Com esta configuração, a Audi informa que o E-tron faz de 0 a 100km/h em apensa 4,8s e atinge velocidade de 200km/h limitada eletronicamente para não forçar as baterias. A autonomia é de 248km, em ciclo misto. Apesar de ainda ser um protótipo, a Audi tem expectativa de iniciar as vendas deste superesportivo elétrico em 2012.
Outro elétrico que chamou atenção foi o Peugeot BB1. Compacto, o pequenino BB1 é quase uma motocicleta de quatro rodas, uma solução ecológica para centros urbanos onde o espaço é concorrido por veículos, pessoas e edifícios.
O BB1 é uma solução de transporte urbano de baixo custo, equipado com dois motores elétricos de 10cv cada, alimentados por baterias de íon-lítio que possibilitam autonomia de 120km.
Roda motorizada
Ver as tecnologias com os próprios olhos serviu para comprovar de que o carro elétrico está pronto. Há alguns anos, vi em uma revista o projeto da roda motorizada, proposta pela Michelin, e neste evento pude conferir o produto ao vivo, e ele impressiona.
Em uma roda de 17 polegadas é possível ter um motor de 30kW, suspensão (mola e amortecedor), sistema de freios e o pneu. Tudo elétrico, controlado pela ECU, com um ponto de fixação simples no chassis.
Foi possível testar a performance da roda motorizada, pois a Michelin produziu alguns veículos com ela, e os batizou de Heuliez Will. Trata-se de um hatchback compacto, de 5 lugares, muito parecido com os que temos no Brasil (poderia ser um Palio ou um Celta). Ao invés de um motor a combustão interna, quatro rodas motorizadas e um banco de baterias (que podem ser substituídas – ou não – por células a combustível, abastecidas por hidrogênio).
A sensação é ótima. Silenciosa. Esta não era a primeira experiência com carro elétrico, já havia experimentado o Fiat FCC II, em São Paulo, há um ano. Porém, a solução da roda motorizada com conjunto de suspensão elétrica foi uma novidade, principalmente pelo fato de que esta tecnologia pode eliminar de uma vez por todas o sistema de direção por pinhão e cremalheira, pois com quatro rodas motorizadas, é possível fazer curvas alterando apenas a velocidade de cada roda.
Em outras palavras, o volante dará espaço para o joystick, e os computadores serão fundamentais para o manejo do veículo, que poderá, também, dar a volta total sobre o próprio eixo.
No estande da Michelin, foi possível conferir também algumas evoluções em células a combustível, equipamento que transforma o hidrogênio em eletricidade para abastecer os motores. De acordo com a engenharia da empresa, com uma célula de combustível de 130kg, com tanque, já é possível, oferecer boa autonomia para o Will.
A velocidade com que a indústria consegue desenvolver tecnologia impressiona. Exemplos como os citados nesta reportagem seriam considerados ficção científica há 20 anos. Hoje, já é possível subir a bordo e experimentar a aceleração. O que falta então para que os automóveis parem de emitir gases poluentes na atmosfera? A minha teoria é baseada na capacidade de produção destas novas tecnologias. O aparelho de TV, quando foi lançado em meados do século passado, demorou quase 30 anos para atingir grande parte da população. O computador, também, levou cerca de 20 anos para se tornar popular.
Já o telefone celular, em menos de 10 anos é algo impensável em não ter, sendo que no início dos anos 1990 só quem era magnata poderia ter um. Mas, em 1997, quem não tinha estava fora do contexto e, hoje, em 2010, não é raro ver pessoas com dois, três aparelhos.
Com o carro elétrico vai acontecer o mesmo. Em menos de cinco anos todos terão o seu, assim que a indústria lançar a tecnologia como produto de massa. Esqueçam os híbridos e os combustíveis alternativos, pois quando o carro elétrico chegar, é porque a indústria tem condições de abastecer o mercado com a quantidade necessária para que cada cidadão tenha o seu.
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