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Antes de contar tudo o que aprendi sobre os sistemas flexfuel, é importante explicar o objetivo dessa coluna, sabiamente batizada de Análise de diagnóstico. Dentro de aproximadamente cinco anos, o reparador que não souber executar um diagnóstico preciso e não tiver noções de eletrônica embarcada, trabalhará somente com veículos de maior idade ou prestará apenas serviços puramente mecânicos.
Por este motivo iniciamos hoje esta coluna, com objetivo de ajudar o reparador a identificar e interpretar os diversos sintomas apresentados pelos sistemas eletrônicos veiculares, que apesar de estarem presentes nos nossos carros há mais de 20 anos, ainda geram muitas dúvidas na maioria dos profissionais que atuam no setor.
Assim, começaremos por um dos sistemas que mais faz o telefone da Three Chips tocar: o flexfuel. Escuto com muita frequência a frase: “O carro não pega de manhã. Acho que o módulo pifou”. Não é bem assim. Existem algumas verdades que nenhum engenheiro de montadora ou sistemista irá admitir (pelo menos não em público), e uma delas é baseada na escolha da estratégia de funcionamento dos veículos flex.
Defeito
Tudo começa quando o outono/inverno chega e a temperatura média cai. Meses antes, na primavera/verão, o carro funciona direito, mas quando chega Maio, não pega na primeira tentativa de manhã cedo. Para completar o cenário, na noite anterior, antes de estacionar o carro na garagem, o dono do carro encheu o tanque no posto perto de casa. Rodou mais cinco minutos e guardou o carro.
A grande maioria das ocorrências tem histórico parecido com o citado anteriormente. Para montar o diagnóstico, temos de entender algumas situações, que são baseadas na diversidade da realidade brasileira.
Situação 1
Inicialmente tínhamos os motores ciclo Otto funcionando com gasolina (taxa de compressão aproximada 9:1) e depois vieram os motores funcionando com álcool combustível (taxa de compressão aproximada 13:1). Temos agora os motores “flex” que funcionam com gasolina e/ou álcool em qualquer proporção, com taxa de compressão intermediária. Temos então uma situação difícil: elaborar a estratégia de funcionamento da partida à frio.
Um motor a gasolina não precisa de uma temperatura ambiente muito elevada para dar partida. Já a do álcool, para iniciar a combustão é de aproximadamente 25°C.Posto isso, e sabendo que o Brasil possui variações de 0°C a 40°C, altitudes de 0m a mais de 1000m, assim como a mais diversa umidade relativa do ar, o desafio dos engenheiros das montadoras foi, então, desenvolver uma programação que atenda a todas estas variáveis, somados as características físicas fixas dos motores.
Qual a temperatura ideal para que o sistema comece a injetar gasolina, quando o tanque estiver abastecido com mais álcool do que gasolina e, como fazer o sistema identificar que tipo de combustível predomina no tanque, para assim ordenar o funcionamento ou não do sistema auxiliar de partida à frio?
O módulo de um veículo pode ser considerado como uma criança, que deve ser ensinada passo-a-passo sobre o que fazer a cada instante. O momento do abastecimento do veículo é o instante onde todo o aprendizado deve ser iniciado, pois a escolha do combustível (ou a mistura) poderá ser em incontáveis proporções. Por sua vez o módulo reconhece este momento a partir da subida do ponteiro do medidor de nível do tanque (a bóia).
Por este motivo, o reparador deve recomendar ao cliente que deixe o motor ligado por pelo menos 15 minutos sempre que mudar o tipo de combustível, antes de desligar o carro, para que o módulo reconheça a mistura e adote a melhor estratégia de funcionamento na próxima partida. Ao adotar este procedimento, elimina-se um dos problemas frequentes da dificuldade de partida à frio. O outro veremos a seguir.
Situação 2
Qual a temperatura ideal para que o sistema comece a injetar gasolina? A resposta: aproximadamente 25°C. Então por que as montadoras programam os sistemas para valores muito mais baixos? O VW Fox, em ensaios que realizei, começa apenas aos 17°C, e isso se o carro estiver abastecido 100% com álcool, pois, se o sistema acusa um percentual de gasolina, essa temperatura cai e, dependendo da quantidade de gasolina, não é o suficiente para ajudar o carro a pegar quando está frio.
A única resposta que me vem à mente é proporcionar economia ao dono do veículo. Fazer o sistema injetar mililitros de gasolina sempre que a temperatura for inferior a 25°C representa ter de abastecer o reservatório de gasolina com mais frequência. Adotar essa estratégia vai afogar o carro? Não, pois a quantidade de gasolina injetada é mínima. Então, a escolha foi pela economia.
Assim, não é de se estranhar que o carro apresenta dificuldade em dar partida à frio quando a temperatura ambiente está em 19°C ,20°C, 21°C ou 22°C, pois nestas situações, a partida à frio não entra em funcionamento. Ai, a gasolina fica no reservatório de gasolina, oxidando até virar uma goma e entupir as mangueiras do sistema de partida à frio, além, é claro, de perder as propriedades de combustão.
Solução
Recomendo que os proprietários abasteçam seus veículos com 40% de gasolina e 60% de álcool durante os meses mais frios para que fique sempre garantido que os motores funcionarão na primeira partida.