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Com o advento da inspeção ambiental veicular no município de São Paulo, as oficinas reparadoras começaram a adotar novos hábitos, numa tentativa de conseguir atender ao aumento da procura por serviços de manutenção
Fevereiro de 2010 foi um marco para o setor de reparação automotiva do município de São Paulo, pois a partir desta data a manutenção preventiva virou uma realidade na cidade com a maior frota de veículos em circulação do Brasil. O motivo: a inspeção ambiental veicular.
Assim, todos os cerca de 6 milhões de veículos automotores com placas de São Paulo devem, agora, realizar uma análise de emissões de gases (CO – monóxido de carbono, CO2 – gás carbono e HC – hidrocarbonetos), que em resumo significa medir a eficiência energética do motor (se ele realmente queima todo o combustível que é injetado na câmara de combustão, fato que somente ocorre quando os sistemas de admissão, ignição, combustão e exaustão estão em perfeitas condições).
Este artifício, da inspeo ambiental veicular, provocou uma corrida às oficinas mecânicas, tanto pelos donos de carro preocupados em ser aprovados na primeira inspeção, quanto por aqueles que foram reprovados. Segundo a CINAU (Central de Inteligência Automotiva), a demanda dobrou nos seis primeiros meses da inspeção.
Dados do Sindirepa (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo) indicam que 54% dos motoristas procuram uma oficina apenas depois de o carro ser rejeitado ou reprovado na inspeção, enquanto 22% buscam uma oficina antes de passar pela Controlar, empresa contratada pela Prefeitura de São Paulo para realizar as análises de gases.
Independente dos números, a realidade é que a inspeção ambiental veicular trouxe tudo o que o setor da reparação sempre sonhou: oficinas lotadas e muito trabalho.
Segundo a Secretaria do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo, de fevereiro a agosto, foram inspecionados 1.594.076 veículos, entre automóveis, motocicletas, caminhões e ônibus, com placas de final 1 a 6. Destes, cerca de 103 mil foram reprovados na primeira inspeção.
Entre os automóveis, a média de não comparecimento é de 50% da frota e o índice de reprovação na primeira inspeção variou de 22,6% para os carros com final de placa 1 até 15,9% para os carros com final de placa 6.
Na edição de julho, o jornal Oficina Brasil noticiou, na reportagem de capa intitulada ‘Demanda por serviços automotivos pode dobrar até o final do ano, em São Paulo’, que as oficinas estão com 100% da capacidade instalada ocupada, e apontou alguns gargalos que o setor precisa resolver para conseguir atender ao aumento de procura.
Enquanto isso não ocorre, pois é preciso investir na formação de mão de obra qualificada e ampliação na produção e/ou distribuição de autopeças, os reparadores têm utilizado a criatividade para atender ao maior número de clientes possíveis.
Controlar
O agendamento já virou rotina e, além disso, muitos reparadores têm disponibilizado um funcionário para atender exclusivamente serviços gerados pela inspeção ambiental veicular. Na Cobeio Car, oficina localizada na zona Sul de São Paulo, o proprietário Claudio Cobeio, que também é conselheiro do jornal Oficina Brasil, adotou esta prática, porém, ele mesmo se especializou em atender os casos batizados de ‘Controlar’.
Cobeio conta que depois da inspeção veicular, não foi só o movimento da oficina que cresceu. O ânimo do reparador também se elevou. “Antes, abria a oficina e não sabia se valeria a pena, agora, tem dias que começo a trabalhar e, quando vejo já são 5h da manhã”, afirma.
A divisão de tarefas na Cobeio Car foi reestruturada, uma vez que o proprietário passou a se dedicar quase que exclusivamente aos casos de emissões. “Toda administração e parte operacional da oficina está a cargo da minha filha”, afirma o reparador. Com três mecânicos, sendo dois novatos, Cobeio atende cerca de 200 carros por mês e, quando o serviço não requer regulagem de motor, a função dele é apenas de orientar e inspecionar o trabalho.
Outra oficina que mudou hábitos de atendimento foi o Grupo Sahara, localizado na zona Leste da cidade. O gerente da oficina e também conselheiro do jornal Oficina Brasil, Aleksandro Viana, conta que o movimento aumentou em cerca de 60% por conta da inspeção veicular e, por isso, aumentou a equipe de 31 mecânicos para 35.
Viana afirma que a oficina atende cerca de 500 veículos por mês, e que o tíquete médio subiu de R$ 300 para R$ 800. “O cliente passou a valorizar mais a mão de obra”, afirma Viana, ao revelar que muitos aproveitam para realizar outros serviços além da regulagem do motor, como funilaria, pintura e revisão no sistema de freios e suspensão.
A Sahara adotou também a estratégia de devolver o carro para o cliente já aprovado na Controlar. “Ele nem precisa ir à Controlar, nós pagamos a taxa e levamos o carro até o centro de inspeção”, conta.
Para dar conta da demanda, além da contratação de quatro novos mecânicos, Viana reforçou o atendimento aos clientes da oficina. “Nossa metodologia já contemplava um atendente, e com esse aumento de demanda, colocamos mais um. Agora temos dois funcionários dedicados a esta função”, explica.
Já na oficina FoxCar, localizada na Vila Prudente, também na zona Leste de São Paulo, o proprietário Reinaldo Nadim conta que dos cerca de 170 carros que atende por mês, 40% são para realizar serviços de regulagem de motor, para passar pela inspeção ambiental veicular.
Por conta da nova obrigação imposta pela prefeitura, o movimento na oficina cresceu cerca de 30%, e a prática do atendimento por hora marcada foi reforçada. “Já trabalhávamos com agendamento, mas depois da inspeção veicular, adotamos esta prática definitivamente”, afirma Nadim, ao revelar que a fila de espera é de dois a três dias.
Assim como os demais profissionais ouvidos pela reportagem, Nadim e mais um funcionário, dedicam-se exclusivamente a atender os casos de emissões. “Eu e um mecânico ficamos apenas no diagnóstico e regulagem do motor, e se é detectado a necessidade de uma intervenção maior, como fazer o cabeçote ou trocar algum componente que exige abertura do motor, o carro caso é transferido para outro profissional, que realiza a manutenção”, explica Nadim.
Conhecimento
Apesar de todo o aquecimento do mercado, os reparadores são unânimes ao afirmar que a base para converter o aumento da demanda em resultados financeiros é o conhecimento. “Se você for bom, se o carro do cliente passar na inspeção, ganha clientes, mas do contrário vai perder”, afirma Nadim.
Cobeio, da Cobeio Car, concorda. “Já peguei casos de clientes que passou 14 vezes na Controlar e foi reprovado em todas”, afirma. “Eles chegam desesperados e sempre vem por indicação de um outro cliente”, diz o reparador.
Além de atender clientes de outras oficinas, Cobeio e Nadim contam que chegam a dar consultoria a colegas de profissão. “Com frequência aparece um aqui, pedindo dicas porque não está conseguindo enquadrar o carro do cliente”, comenta Cobeio.
Nadim, que faz parte do GOE (Grupo de Oficinas Especializadas), afirma que o tema inspeção veicular centraliza as reuniões do grupo. “Trocamos várias dicas, e isso tem ajudado muito a resolver os casos mais difíceis”, conta.
Índice de produtividade cresce nas oficinas de São Paulo
Com a inspeção ambiental veicular, as oficinas de São Paulo ficaram mais eficientes. Segundo dados da CINAU (Central de Inteligência Automotiva), que mensalmente mede o IGD (Índice Gerador de Demanda), a taxa de produtividade saltou de 0,67 pontos, em fevereiro, para 0,98 pontos, em setembro.
Isso significa que de cada 100 carros que entram nas oficinas 98 realizam algum tipo de serviço. Esta é a maior taxa de produtividade já registrada pela CINAU desde que começou a medir o IGD, em 2009.
Este aumento pode ser explicado pela necessidade que o dono do carro tem de utilizar o veículo. Como a inspeção é obrigatória, e a sua não realização implica na não liberação do documento, ele não tem outra escolha a não ser autorizar o orçamento e realizar o serviço.
Para se ter ideia, em 2009, o índice de produtividade das oficinas era, em média, de 55%. Não é à toa, que muitas oficinas começaram a trabalhar com agendamento. Nos poucos minutos que a reportagem ficou na oficina do reparador Claudio Cobeio, a Cobeio Car, pelo menos três clientes interromperam a conversa para marcar um horário para levar o carro. “É o dia inteiro assim”, afirma Cobeio.
Regiões devem se preparar para a inspeção
A inspeção ambiental veicular por enquanto é uma realidade apenas da cidade de São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, a resolução nº 418 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) já estipulou prazo de 36 meses para que Estados e municípios com mais de 3 milhões de habitantes realizem a vistoria de emissões de gases nos veículos automotivos.
A resolução foi publicada em Diário Oficial da União em novembro do ano passado, assim, as regiões têm até maio de 2012 para iniciar inspeção. Pelo cronograma do Conama 418, os Estados têm até o final de novembro deste ano para entregar o projeto dos locais que a vistoria deve ocorrer e, a partir de novembro, mais 18 meses para iniciar a revista.
“Conversei com diversos colegas de profissão de outros estados e ninguém estava a par dos problemas que temos passado aqui, em São Paulo, por causa do programa de inspeção veicular”, afirma Nadim. “Meu conselho é que eles comecem a se preparar, pois não tem sido fácil”, orienta.
De fato, é preciso se preparar, pois se com a inspeção apenas na cidade de São Paulo já há fila de espera de até 90 dias para comprar um analisador de gases, quando o programa for expandido para todas as capitais brasileiras, esta dificuldade será ainda maior.
Além disso, cada região do país apresenta uma variedade de veículos diferente, com características de uso específicas, o que pode mudar o comportamento do serviço a ser realizado, para que os carros se enquadrem nos limites de emissões.