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Bela e equipada, a nova minivan da Citroën amplia a dúvida que existia entre a sua própria versão Grand e a concorrente da Renault, a Grand Scénic
Um dos países criadores do conceito moderno de minivan, com a Renault Espace de 1984 (pouco antes vieram a japonesa Nissan Prairie e a americana Dodge Caravan), a França é também responsável pela introdução dos modelos compactos, tanto em âmbito mundial quanto no mercado brasileiro, com a primeira Scénic. Hoje, quase 10 anos após o início da produção nacional desse modelo da Renault, o segmento de minivans tem passado por uma reviravolta com a chegada da Grand Scénic, da concorrente Citroën Grand C4 Picasso — ambas de sete lugares e lançadas aqui no ano passado — e, agora em janeiro, da C4 Picasso de cinco lugares.
Oficina Brasil aproveitou a chegada da nova Picasso para um confronto com a irmã maior e a oponente da Renault. A Grand Scénic, ainda vendida em modelo 2008, é a mais barata: de R$ 71,7 mil a R$ 76,9 mil com os opcionais bancos com revestimento de couro e lâmpadas de xenônio. A C4 curta parte de R$ 81,8 mil e, com o ar-condicionado de quatro zonas de ajuste, passa a R$ 83,3 mil. E a Grand C4, de R$ 89,6 mil, chega a R$ 94,2 mil com o teto envidraçado opcional.
Análise técnica
Para surpresa de muitos, já se vão mais de cinco anos desde que a Renault francesa lançou em 2003 a Scénic de segunda geração, que só há um ano chegou ao Brasil. Parte da linha Mégane iniciada em 2002, ela está em ponto de ser substituída por lá — o Mégane hatch, primeiro da família a mudar, já foi apresentado. A versão Grand de sete lugares apareceu ainda em 2003 com 50 mm a mais na distância entre eixos e 180 mm adicionais atrás das rodas traseiras.
Na Citroën, o C4 hatch foi lançado em 2004 e dois anos depois veio a Grand C4 Picasso, que, ao contrário do acontecido na linha de hatches, até hoje não aposentou na Europa a antiga Xsara Picasso. A minivan de cinco lugares veio meses depois e, ao contrário da Renault, a marca optou pelo mesmo entre-eixos nas duas, diferenciando-as no balanço traseiro. A Citroën informa o bom coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,31 para ambas as versões, enquanto a Renault não divulgou o de seu modelo, mas pode-se estimar valor similar. Com área frontal estimada pouco menor, por ser mais baixa, a Scénic sai em ligeira vantagem na multiplicação: 0,85 ante 0,89 das Picassos.
Ficha Técnica
Não é sob o capô que se encontra inovação nestas minivans. Os motores são bem conhecidos, em uso há vários anos por diferentes modelos das marcas — o da Renault desde a linha 2001 da Scénic nacional, o da Citroën desde o C5 de 2000, embora tenha recebido aprimoramento posterior. Ambos usam variação de tempo de abertura das válvulas de admissão. O das Picassos é pouco melhor na relação r/l, que define a tendência a funcionamento mais suave ou mais áspero: tem 0,316 ante 0,323 da Scénic, mas nenhum deles está dentro do limite convencionado (0,3).
Espartanas também são as caixas automáticas de quatro marchas, em um tempo em que seis são comuns e alguns modelos já chegam a oito. Dotadas de controle eletrônico adaptativo (usam o programa de funcionamento mais apropriado ao modo de dirigir do motorista, sem que este precise selecioná-lo), permitem mudanças manuais sequenciais. Isso é feito pela própria alavanca seletora na Scénic (sobe para frente, reduz para trás) e por alavancas atrás do volante, fixas à coluna de direção, nas Picassos (sobe pela da direita, reduz pela da esquerda). Além do mais fácil alcance, o sistema da Citroën tem a vantagem de permitir operação manual não só na posição M, mas também em D (drive). Ao se preparar para ultrapassar, por exemplo, o motorista pode antecipar a redução comandando-a ainda em D. Após alguns segundos sem mais usar as alavancas, o carro retorna ao comando automático.
Por derivar das plataformas do Mégane e do C4, as minivans mantêm suas suspensões, que usam os convencionais conceitos McPherson à frente e eixo de torção atrás — nada de sofisticação técnica também aqui, portanto. No exterior as Picassos podem ter sistema pneumático de nivelamento da traseira, não oferecido no Brasil.
Ao volante
Ambos os propulsores mostram alguma aspereza em alta rotação, mais na Scénic. As Picassos também têm maiores potência (143 contra 138 cv) e torque (20,4 ante 19,1 m.kgf) e são menos pesadas: 1.511 kg a curta e 1.560 a longa, contra 1.645 da Scénic. A boa potência disponível em baixa rotação — apesar do ponto máximo de torque acima de 3.500 rpm — torna os três modelos relativamente ágeis, deslocando-se em meio ao tráfego sem lentidão, com vantagem para os da Citroën. Em alta velocidade, a grande área frontal manifesta-se e requer mais paciência nas retomadas em qualquer das minivans. Mas é possível viajar com serenidade na faixa de 120 km/h, em quarta marcha e a pouco mais de 3.000 rpm, em qualquer uma delas.
Custos de Manutenção
As três minivans receberam boa calibração das caixas, o que resulta em mudanças suaves. Nas da Citroën nota-se a definição típica dos franceses de reter e reduzir marchas quando o carro é desacelerado, o que produz freio-motor e tende a preservar os freios mesmo que o motorista não faça reduções manuais. Na Scénic esse método, antes usado com exagero pela Renault, está bem moderado e mal se manifesta. Comum a ambas é a opção por subir marchas de modo automático no limite de rotação e por permitir retomadas em marcha alta com grande abertura de acelerador, ao usar o modo manual. Na Scénic não deveria ser preciso apertar o botão na alavanca para passar de drive para ponto-morto: isso libera também o engate da ré, que pode ser feito sem intenção em uma parada de semáforo, por exemplo.
Todas elas têm calibração de suspensão voltada para o conforto, com boa absorção de irregularidades, sem prejuízo do comportamento estável e bem previsível. As Picassos transmitem menos os impactos do piso; por outro lado, sua suspensão é mais barulhenta ao passar por piso esburacado. A Grand é mais macia que a versão curta, talvez mais do que seria necessário para um rodar confortável, já que a menor C4 concilia bem estabilidade e conforto. Uma vantagem importante da Citroën é adotar como item de série o controle de estabilidade, ausente da Scénic vendida aqui, embora disponível no exterior. Mesmo que seja muito raro fazer o controle atuar — só mesmo provocando o carro em curvas de modo não natural —, é reconfortante tê-lo para situações de emergência, como uma manobra evasiva.
A Renault com assistência elétrica, as Citroëns com hidráulica, as três conseguem peso adequado de direção em toda faixa de velocidade. Os freios são potentes e contam com sistema antitravamento (ABS), a que as C4 somam assistência adicional em emergência. Nas Picassos existe outro recurso conveniente: ao liberar o freio em subida (de frente ou de ré), o carro se mantém freado por dois segundos, para evitar que desça e possa encostar em outro veículo ou obstáculo durante manobra de estacionamento. Já a Renault usa lâmpadas de xenônio nos faróis baixos, que têm refletores elipsoidais e são muito eficientes (em facho alto esses faróis ganham alcance e são associados a lâmpadas halógenas, as únicas usadas ao relampejar o alto), além de contar com ajuste automático de altura de facho e lavador de alta pressão.
Matéria da edição Nº217 - Março de 2009