O conceito de Rede no Brasil, dentro do segmento automobilístico, foi um dos pioneiros e surgiu no início da segunda metade do século passado, em meados de 1950. Primeiramente vieram as concessionárias de montadoras que além de ponto de venda do automóvel também vendiam peças e executavam assistência técnica.
Depois, já na década de 60, o avanço e a diversidade da indústria automobilística, somados às necessidades das oficinas independentes, que já eram em número bem expressivo, em obter informações técnicas, em paralelo com as fábricas de autopeças, que forneciam às montadoras e vislumbravam conquistar o mercado independente, surgem os primeiros modelos de Redes Aftermarket, as quais eram uma simples relação de troca: o reparador ganhava informações em troca de ceder suas instalações para ser um ponto de assistência técnica e garantia do fabricante.
O modelo perdurou nesse formato sem grandes alterações até o início da década de 90. Nessa época, alguns fabricantes e também renomadas Redes de outros países que aqui se instalavam, lançaram modelos de franquias que eram sucesso em outros países, porém devido às adversidades do nosso mercado, somadas ao fator cultural dos reparadores não obtiveram sucesso.
Em meados do ano 2000, após a abertura do nosso mercado, as necessidades das oficinas iam muito além de conseguir informação técnica. Necessitavam de treinamento, apoio técnico, apoio gerencial, marketing, capitação de novos clientes, equipamentos etc. Por sua vez, os fabricantes não queriam apenas mais pontos de assistcia técnica, mas também pontos de venda de seus produtos, de commodities, utilização dos espaços para exposição de suas marcas etc. Assim, aquele modelo de Rede de assistência técnica passa para o modelo comercial.
Novo conceito
Surge então um novo conceito de "para-choque a para-choque", onde o fabricante oferecia suporte total ao reparo do veículo com treinamento dos diversos sistemas que o incorporavam, disponibilidade de peças numa condição comercial melhor que o mercado, treinamento gerencial, propaganda, equipamentos a altura das dificuldades para diagnóstico entre outras facilidades. Em contrapartida, as oficinas se comprometiam a consumir seus produtos com metas pré-estabelecidas, adquirir seus equipamentos, efetuar treinamentos periódicos de sua equipe, ceder com exclusividade seus espaços, desde fachadas e interiores para divulgação da marca etc.
Esse conceito perdura até hoje, porém ainda não contempla totalmente as necessidades, principalmente das oficinas localizadas nos grandes centros como São Paulo, que atendem uma frota com idade entre zero e quatro anos. Assim, está surgindo um novo modelo de Rede que muito provavelmente a médio e longo prazo estará bem proliferado. Trata-se dos postos assistenciais ligados às montadoras. É sabido que as concessionárias vendem carros, peças, mas estão no gargalo dentro das suas oficinas.
Aprimoramento
Desta forma, algumas montadoras já estão aprimorando antigas parcerias existentes, consolidando as oficinas independentes como serviços assistências que inclusive atendem uma percentual dos veículos em garantia. Temos como exemplo desse novo modelo a empresa Carbofreio localizada na zona oeste da cidade de São Paulo. Segundo um dos sócios, Luiz Rocha, o modelo de parceria com montadoras será fundamental a longo prazo para a sobrevivência da reparação independente. Sua empresa já era um posto assistencial de montadora desde 1997 e partiu também ao novo conceito "para-choque a para-choque" em meados de 2001.
Hoje, ele contabiliza que os grandes investimentos despendidos para tal não deram o retorno esperado e a Carbofreio aposta muito mais nesse modelo de parceria com montadora, sendo atualmente um Posto Assistencial Renault. Os investimentos foram muitos, mas em pouco mais de nove meses estão praticamente pagos e a experiência e a lucratividade têm sido extremamente satisfatórios, o que não aconteceu com o modelo aftermarket.
Outro exemplo desse conceito de parceria com montadora é o caso da empresa Ninim localizada na zona leste em São Paulo. Assim como a Carbofreio, a Ninim também é um Posto Assistencial Renault. Para Valentim Campani um de seus sócios, a Ninim sempre tentou agregar o maior número de parceiros, pois segundo ele quanto mais, melhor. Entretanto, chega um ponto que começa a se tornar difícil conviver com todos os parceiros da mesma forma, pois alguns interesses são comuns entre eles e não se consegue atender a ambos. Assim, a empresa é obrigada a analisar quais relações de trocas são melhores para sua sobrevivência. A Ninim possui ainda algumas parcerias, mas Valentim também não tem dúvidas que estar atrelada a uma montadora será fundamental para o futuro da sua empresa.
Opinião
O diretor executivo do Sindirepa – SP, Luiz Sérgio Alvarenga, acredita ser importante uma oficina não estar sozinha no mercado, mas alerta para se avaliar com atenção quais tipos de parcerias são interessantes ao seu negócio, para mais tarde não haver frustração sobre o investimento x retorno. Para isso, o Sindirepa-SP coloca à disposição dos seus associados um Departamento Jurídico a fim de auxiliar na análise dos contratos. Segundo Alvarenga, a entidade estima que pelo menos 50% dos seus associados estejam ligados a algum tipo de Rede. Ele também aposta que o modelo de parceria com montadoras será o futuro, tanto que a entidade trabalha para alavancar novas frentes.
Fica claro que numa primeira análise é importante participarmos de algum tipo de Rede. Para isso temos de fazer algum tipo investimento, seja ele de pequeno, médio ou grande porte e aí devemos colocar na balança e comparar com o retorno prometido, para não criarmos uma expectativa que não se concretizará depois.
Bons negócios e até a próxima.
Matéria da edição Nº216 - Fevereiro de 2009