Dirigir um carro-conceito é sempre uma experiência que emociona. Com o Fiat Concept Car II (FCC II) não foi diferente. O motor elétrico de 59 kW (é, caro reparador, mais uma unidade de medida para se acostumar), equivalente a 80,2 cv, fornece torque máximo de 22,9 kgfm a partir da imobilidade, desde que o condutor pise fundo, de uma só vez, no acelerador. Sentiu a emoção?
Para efeito comparativo, um carro com um motor ciclo Otto de potência aproximada, tem 1.4 litro de capacidade volumétrica e torque em torno de 12 kgfm, como o Fiat Siena 1.4 Flex, por exemplo (85/86 cv a 5.750 rpm e 12,4/12,5 kgmf a 3.500 rpm – gasolina/álcool).
A Fiat utilizou diversos componentes de prateleira para montar o FCC II
Nada mal, não? Pois a brincadeira pode ficar ainda melhor. Isso porque alterar os parâmetros do motor é muito fácil e prático. Basta ligar um computador na porta serial, rodar o programa do carro e pronto. Dá para mexer na curva de resposta do acelerador, torque do motor, efeito regenerativo de frenagem, entre outros. "Com menos parâmetros, conseguimos muito mais resultados", avalia o engenheiro de produto da Fiat, Toshi Noce, um dos responsáveis pelo projeto.
Isso significa que, no dia em que os carros elétricos forem uma realidade, os mecânicos não terão mais que se preocupar com mistura estequiométrica, válvula injetora, ângulo de abertura da borboleta, marcha lenta, correia sincronizadora, entre outros tantos componentes que causam polêmica na hora de apresentar o orçamento ao cliente.
Mas, voltando ao carro, que custou cerca de R$ 1,5 milhão para ser desenvolvido, a Fiat aproveitou uma série de componentes disponíveis na linha de produção para torná-lo real. Isso faz lembrar o quanto estamos próximos da realidade dos carros elétricos. O calcanhar de Aquiles ainda são os acumuladores de energia, que no FCC II são formados por 93 baterias de íon lítio que possibilitam ao veículo autonomia de até 100 km. Dá pra ir e voltar para o trabalho com folga. Só não dá para esquecer de ligá-lo na tomada. O tempo de recarga é de oito horas.
Assim, fora motor, baterias e alguns itens de carroceria, que foram desenvolvidos especialmente para o modelo, todo o resto pode ser comprado numa fábrica de autopeças convencional. O câmbio é o Dualogic que equipa o Linea, com a vantagem de não precisar trocar de marcha. Com tamanho torque, o carro parte em terceira e atinge facilmente 80 km/h. A Fiat diz que chega a 120 km/h, mas preferi não arriscar, apesar de ter ficado na vontade. Mas sabem como é, né? É um carro-conceito, feito para ser exibido no Salão do Automóvel e não para rodar por aí. Melhor manter a calma.
O FCC II é um buggy com estilo próprio, que faz jus à origem italiana da fabricante. E, por ser um fora-de-estrada, foi equipado com o sistema Locker. Apenas um charme a mais à tração traseira, que conta com suspensão tipo McPherson com rodas independentes e tirante para regulagem de convergência ligado a rodas 18 polegadas e pneus 285/60. Na dianteira, braços sobrepostos (Duplo A) com rodas independentes e pneus 255/55 R18.
SilêncioAs duas voltas na pista do kartódromo de Aldeia da Serra foram suficientes para convencer das vantagens do carro elétrico. A principal: o silêncio. O carro é um perigo para pedestres. Agora eu sei como pessoas com deficiência auditiva se sentem ao andar na rua, vendo o movimento dos carros, sem ouvir o imenso barulho dos ruidosos motores. A sensação é de paz, só quebrada pelo ruído das rodas. Mas, parado, dá até para ouvir os pensamentos.
O design é único e chama atenção. O conjunto ótico frontal tem linhas agressivas, que remetem à esportividade. A traseira é alta, sem visibilidade nenhuma. Para dar ré é preciso auxílio de câmera. Mas, é um conceito e, do jeito que está, faria muito sucesso nas dunas das praias do Nordeste. Quem sabe um dia?