Como solucionar problemas em um câmbio mecânico, passo a passo (COMPLETO)

Para demonstrar a concepção e simular problemas que podem acontecer em uma transmissão mecânica, utilizaremos um exemplar do câmbio F17M do Chevrolet Celta 1.0, produzido na fábrica da GM, em São José dos Campos. Os primeiros exemplares deste câmbio possuíam acionamento por liame (alavanca) e buchas, o que causava desgaste frequente destas buchas e as marchas não engatavam com precisão. Então, o projeto foi modificado e substituiu-se o liame pelo acionamento por cabo - idem ao câmbio utilizado nesta matéria (foto 1). Desparafuse e retire a alavanca selecionadora de marchas (foto 1A).

 

O conceito de funcionamento deste câmbio é o mesmo de outros da linha GM Astra, Vectra, Kadett e Monza.

O especialista em transmissões Alexandre Gomes Teixeira, da oficina Clínica dos Automáticos, localizada em São Caetano do Sul - SP fará, passo a passo, a desmontagem e montagem deste câmbio mecânico e explicará características, principais problemas e soluções.

A princípio, a transmissão manual começa a apresentar problemas quando a lubrificação do sistema está comprometida (vazamento do óleo ou nível abaixo do indicado), ou há o engate de marchas de maneira incorreta por parte do motorista, ocorre um desgaste nas partes de contato. O principal sintoma de desgaste do anel sincronizador, no qual é possível identificar facilmente, é a marcha “arranhando” ou escapando durante as trocas.

O principal fator de desgaste do sistema de engrenagens é falta de lubrificação no sistema (nível baixo), ou porque, na troca do óleo, foi colocado um com a especificação diferente ao do recomendado pelo fabricante. O sintoma de desgaste dos dentes das engrenagens é ruído na caixa de transmissão, com a marcha engatada. O reparador deve ficar atento quanto à verificação preventiva do sistema de transmissão manual. Procurar por vazamentos e o nível do óleo na caixa. Esta checagem deve ser realizada no veículo a cada 12 meses.

Quando em movimento, a engrenagem móvel está com uma rotação e o eixo de saída em outra. Assim, com o acionamento da luva e sincronizador (foto 2), há a redução de rotação da engrenagem de maior rotação, igualando-a a engrenagem de menor rotação. Cada marcha possui seu respectivo sincronizador que, quando acionado pela luva, reduz a velocidade de rotação da engrenagem da marcha que se deseja engatar, para que os dentes da luva e da engrenagem da marcha se encaixem perfeitamente, permitindo a troca (foto 2A e 2B).

 

INICIANDO A DESMONTAGEM

 

Mostraremos o processo de desmontagem do câmbio para entender as principais causas de falhas e como solucioná-las. Com o veículo no elevador, verifique se há sinais de vazamentos do óleo da caixa de direção. Em seguida, retire o bujão (foto 3), para verificar o nível do óleo. Ao abrir, o nível do óleo deve estar paralelo à rosca do bujão, praticamente escorrendo para fora da caixa (foto 3A). É possível verificar colocando o dedo ou uma chave de fenda no orifício. Se o nível estiver baixo, provavelmente haverá problemas também nos componentes da transmissão. Drene o óleo restante, retire o câmbio do veículo e lave bem. Antes de começar a desmontagem do câmbio, retire a flange guia do rolamento da embreagem (conhecida popularmente como “moringa do câmbio”) (foto 3B) e o anel de vedação (foto 3C).

1) Solte os parafusos da tampa (foto 4), onde estão fixados os componentes da 5ª marcha, o eixo primário e o secundário (foto 4A), e separando-a do restante da caixa (foto 4B). Cuidado para não perder o limitador da 5ª marcha (foto 4C). Retire também o sensor de indicação da luz de marcha a ré (foto 4D). Detalhe do eixo primário (de entrada) (foto 5), e eixo secundário (de saída, onde estão as engrenagens das marchas e o pinhão) (foto 5A).

2) Retire os dois parafusos do garfo de engate da 5ª marcha, localizado na parte traseira da tampa (foto 6). O que pode causar problema no engate ou escape da 5ª marcha é o desgaste das pastilhas de bronze que acionam a luva, encaixadas no garfo (foto 6A). Em alguns modelos de câmbio, estas pastilhas são fixas ou fundidas no garfo, não sendo possível sua remoção;

3) Retire o sincronizado da 5ª marcha, incluindo o cubo, os três reténs, a luva, a engrenagem e o sincronizador (no eixo secundário). Retire também o anel-trava (foto 7), e a engrenagem (foto 7A) (eixo primário);

4) Desencaixe o limitador da 5ª marcha, localizado acima do eixo secundário, que tem como função limitar o garfo da 3ª e 4ª marchas e não encavalar com as outras marchas (foto 8).

5) Com o auxílio de um punção, retire o pino elástico do garfo da 3ª e 4ª marchas (foto 9).

6) Cada garfo de marchas possui um retém que o posiciona e mantém na posição correta para uma troca precisa. Dentro deste retém há uma mola, que pressiona a esfera para sua extremidade. Os reténs são colocados sob pressão, então para sua remoção é necessário aplicar bastante força. Retire o retém do garfo da 3ª e 4ª marchas (foto 10);

7) Retire o retém do garfo seletor da 5ª marcha (foto 11);

8) Retire o retém do garfo seletor da 1ª e 2ª marchas (foto 12);

9) Retire o retém do garfo seletor da marcha à ré (foto 13);

10) Com o auxílio de um punção, retire o pino elástico do garfo da marcha à ré (foto 14);

11) Retire a haste e o garfo da marcha à ré (fotos 15 e 15A);

12) Remova o pino-retém da haste seletora da ré (foto 16);

13) Remova a haste seletora, junto com o garfo, da 3ª e 4ª marchas (fotos 17 e 17A). Na ponta desta haste há uma capa plástica (foto 17B). Quando há o desgaste desta capa, aumenta a folga entre a luva e o garfo, este que não terá curso suficiente para engatar por completo a luva na engrenagem. Consequência disto, a 3ª e/ou 4ª marchas costumam escapar. E há o agravante de quando a luva não abraça corretamente a engrenagem, pode começar a quebrar a parte fresada dos dentes de encaixe das engrenagens das marchas. Quando estes dentes quebram, apenas a substituição da engrenagem solucionará o problema;

14) Na parte traseira da tampa, solte os dois parafusos e remova o retém que limita os garfos da 1ª e 2ª e da 3ª e 4ª marchas (foto 18).

15) Remova a haste seletora (garfo) da 5ª marcha (foto 19).

16) Utilizando uma prensa, aplique carga sobre a ponta dos eixos, alternando entre oprimário e o secundário (fotos 20), até que saiam completamente. (foto 20A)

DESMONTAGEM DO EIXO

17) O garfo seletor da 1ª e 2ª marchas também possui em suas pontas capas plásticas (foto 21), que quando apresentam desgaste excessivo, não terão curso suficiente para engatar completamente a luva na engrenagem. Simulação da luva quando não encaixada completamente dos dentes da engrenagem (foto 21A). Logo, a 1ª e/ou 2ª marchas escaparão. E se este problema não for resolvido precocemente e a luva não entrar corretamente nas engrenagens das marchas, o fresado dos dentes de encaixe começará a quebrar. Quando se quebram, é possível somente a troca da engrenagem;

Continuando a avaliação do conjunto, acompanhe a desmontagem do eixo secundário (das engrenagens das marchas, com o pinhão na extremidade).

18) Com um saca-polia, inicie a retirada do conjunto da engrenagem da 1ª marcha (foto 22). É necessário avaliar: A) as estrias internas do sincronizador - SETA VERMELHA - (responsáveis por parar a engrenagem no momento da troca de marchas); B) os diâmetros internos do sincronizadores - SETA AZUL - (se estiverem muito gastos, entrarão demais sobre a engrenagem); C) se os dentes da engrenagem não apresentam trincas – SETA VERDE (foto 22A);

19) Retire o anel-trava (foto 23);

20) Retire a luva de engate da 1ª e 2ª marchas (foto 24);

21) Com o saca-polia, retire a engrenagem da 2ª marcha (foto 25). Sairá a engrenagem juntamente com os anéis do sincronizador (foto 25A). Avalie este conjunto conforme etapa 18. Sairá também o cubo da 1ª e 2ª marchas (foto 25B), e o rolamento (foto 25C). Avalie a condição dos dentes do cubo.

22) Remova o anel e as travas (meia-lua) da terceira marcha (foto 26). É extremamente importante seguir todos os passos anteriores para a retirada destas travas da 3ª marcha. Caso contrário, quando se pula estas etapas, as travas, as travas podem se quebrar;

23) Retire engrenagem, sincronizador e os dois rolamentos da terceira marcha (foto 27). Avalie este conjunto conforme etapa 18. Observe que nesta marcha há apenas um anel sincronizador, porque, ao contrário do que acontece na primeira e segunda marchas, a inércia da engrenagem é menor, assim como a probabilidade de a marcha “arranhar”.

24) Utilize um alicate e uma chave de fenda para remover o anel-trava do cubo da 3ª e 4ª marchas (foto 28).

25) Com auxílio da prensa (foto 29), retire a engrenagem e sincronizador da quarta marcha, juntamente com a luva da 3ª e 4ª marchas (foto 29A). Avalie este conjunto conforme etapa 18.

26) Detalhe do eixo secundário (foto 30) e do eixo primário (foto 30A).

 

DESMONTAGEM DA COROA

 

Outro par de componentes que sofre desgaste por falta de lubrificação no sistema (nível baixo) ou óleo com especificação diferente ao recomendado pelo fabricante é o pinhão e a coroa (esta que sofre maior esforço). Quando um dos dois componentes apresenta folga em seus dentes, ambos devem ser substituídos. Acompanhe a remoção e verificação destes itens.

27) Retire o parafuso e a trava da porca que fixa a coroa (fotos 31 e 31A);

28) Com a ferramenta específica, solte a porca da coroa (foto 32). Depois, é possível retirá-la por completo com a mão (foto 32A);

29) É fundamental verificar se a capa do rolamento não possui riscos, e se seu funcionamento está perfeito (foto 33).

30) O sensor da roda fônica da coroa informa a velocidade em que o veículo está para o painel de instrumentos do carro. A caixa satélite é responsável pela diferença de rotação entre as rodas, quando o carro está andando em uma curva (foto 34). Quando há desgaste neste conjunto, é possível perceber estalos ou barulhos, então é necessário avaliar e substituir as peças gastas.

31) Peças que costumam quebrar ou sofrer desgaste na coroa são o conjunto planetário, as engrenagens satélite e/ou o pino (foto 35);

MONTAGEM DA COROA

 

32) Reposicione a coroa, com a roda fônica virada para o lado oposto de onde vai a homocinética (foto 36);

33) Lubrifique o anel de vedação e a rosca da porca da coroa (foto 37);

34) Faça o aperto da porca utilizando a ferramenta especial (foto 38), girando a coroa, até que elimine sua folga. Quando cessar a folga na coroa, gire a ferramenta por mais 10°. Esta porca regula a pré-carga dos rolamentos laterais da coroa;

35) Recoloque a trava da porca de regulagem (foto 39).

MONTAGEM DO EIXO

 

36) Mantendo o eixo na posição vertical, coloque a coroa da 4ª marcha, juntamente com seu respectivo anel sincronizador (foto 40);

37) Monte o cubo (foto 41), no eixo (foto 41A);

38) Utilizando a prensa, aplique pressão no cubo de 3a e 4a marchas (foto 42);

39) Coloque o anel de calço (foto 43);

40) Coloque o anel-trava, utilizando um alicate (foto 44);

41) Encaixe o anel sincronizador da 3a marcha (foto 45);

42) Instale os dois rolamentos da 3ª marcha (foto 46).

43) Coloque a engrenagem da 3a marcha (foto 47);

44) Encaixe as travas da engrenagem da 3ª marcha (foto 48), juntamente com o respectivo anel.  (foto 48A);

45) Instale os dois rolamentos da engrenagem da 2a marcha (foto 49);

46) Encaixe a engrenagem da 2ª marcha (foto 50);

47) Monte e coloque o cubo da 1a e 2a marchas, com os dentes fresados voltados para cima (foto 51);

48) Coloque os anéis sincronizadores da 2ª marcha (fotos 52 e 52A);

49) Insira a luva e cubo da 1ª e 2ª marchas, com os dentes voltados para baixo (foto 53);

50) Utilizando uma prensa, aplique pressão sobre o conjunto (foto 54);

51) Com um alicate, coloque o anel-trava (foto 55);

52) Coloque o conjunto de anéis sincronizadores da 1a marcha (foto 56);

53) Encaixe os rolamentos da 1ª marcha (foto 57);

54) Instale a engrenagem da 1ª marcha (foto 58);

55) Por fim, coloque a arruela de encosto da engrenagem da 1a marcha (foto 59);

56) Novamente, prense todo o conjunto (foto 60);

57) Certifique-se que as engrenagens do eixo giram livremente (foto 61). Detalhe do eixo secundário montado (foto 61A).

DE VOLTA À TAMPA

58) Neste momento é necessário um pouco de habilidade. É preciso colocar ao mesmo tempo: o eixo primário, eixo secundário com o garfo da 1ª e 2ª marchas e eixo de marcha a ré (juntamente com a engrenagem) (foto 62).
59) De volta a prensa, exerça pressão sobre os eixos primário e secundário, alternadamente, abaixando um pouco em cada eixo por vez (fotos 63 e 63A). Fique atento: quando as engrenagens se tocarem (foto 63B), alternar o eixo em que será aplicada a pressão.
60) Montar o garfo seletor da 5ª marcha, com os dentes apontando para cima (foto 64).
61) Colocar o garfo da terceira e quarta marchas (foto 65).
62) Transpassar a haste seletora pelo garfo da 3ª e 4ª marcha e também pelo garfo da 5ª marcha (foto 66).
63) Puxe a haste da 5ª marcha (no sentido da seta), e engrene a luva na 2ª marcha (foto 67).
64) Para colocar o retém dos garfos da 1ª e 2ª e da 3ª e 4ª marchas, aplique vaselina sólida por todo seu entorno (foto 68). Encaixe-o no rebaixo do eixo do garfo (foto 68A). Aperte seus dois parafusos (foto 68B).
65) Coloque o pino elástico do garfo da terceira e quarta marchas (foto 69).
66) Coloque o limitador da 5ª, 3ª e 4ª marchas (foto 70), aperte seus parafusos (foto 70A).
67) Recoloque o retém do garfo da 3ª e 4ª marchas, no seu respectivo orifício (foto 71).
68) Encaixe o retém do garfo seletor da 5ª marcha (foto 72).
69) Retire o retém do garfo seletor da 1ª e 2ª marchas (foto 73).
70) Insira o pino-retém da haste da ré (foto 74).
71) Recoloque o garfo da marcha a ré (foto 75).
72) Coloque a haste seletora da marcha a ré (foto 76).
73) Insira o pino elástico do garfo da marcha a ré (foto 77).
74) Recoloque o retém do garfo seletor da marcha a ré (foto 78).
75) Encaixe e prense a engrenagem da 5ª marcha (eixo primário) (foto 79).
76) Coloque também o anel-trava (foto 80).
77) Coloque a luva dos rolamentos no eixo secundário (foto 81), em seguida os dois rolamentos da 5ª marcha (foto 81A).
78) Encaixe a outra engrenagem (eixo secundário) (foto 82).
79) Posicione o anel sincronizador (foto 83).
80) Recoloque e prense o conjunto de luva e cubo da quinta marcha (foto 84).
81) Com um alicate, recoloque o anel-trava (foto 85).
82) Posicione o garfo da quinta marcha, prestando atenção para que as duas pastilhas de bronze permaneçam em suas posições (foto 86). Encaixe-o na haste da 5ª marcha e aperte seus dois parafusos (foto 86A).
83) Aplique vaselina e coloque o anel limitador da 5ª marcha (para segurá-lo no momento da montagem) (fotos 87 e 87A).
84) Posicione a junta de vedação e encaixe a tampa com os eixos na caixa de transmissão (foto 88).
85) Reaperte todos os parafusos da tampa (foto 89).
86) Posicione a junta de vedação e coloque a tampa da quinta marcha (foto 90).
87) Recoloque a tampa da coroa (foto 91).
88) Alinhe os garfos das marchas na posição neutra do câmbio. Encaixe e parafuse a alavanca selecionadora de marchas (foto 92).
89) Recoloque o sensor de indicação da luz de marcha a ré (foto 93).
90) Encaixe o anel de vedação (foto 94) e a flange guia do rolamento da embreagem (foto 94A).