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Reparadores merecem destaque pela criatividade, inteligência e uso de equipamentos avançados


No fórum, há a participação dos maiores e melhores reparadores.  Muitos mecânicos experientes, alguns são instrutores nacionalmente reconhecidos.  No geral, profissionais que carregam uma bagagem admirável

Por: Diogo Vieira - 31 de julho de 2018

Navegando pela internet ou nas redes sociais, percebe-se claramente a febre do “Diagnóstico avançado” com o uso de osciloscópios.  Isto é maravilhoso e o Fórum Oficina brasil orgulha-se em ser pioneiro no surgimento desta nova cultura.   

Hoje falaremos sobre dois grandes colaboradores do fórum, que executam um método peculiar para diagnosticar falhas de combustão:   

A análise da tensão de bateria!  Aparentemente tal técnica de diagnóstico não está embutida nos softwares dos osciloscópios nacionais.   

Parece incrível?   

A criatividade está por conta do Paulo Rogério de Oliveira da Auto mecânica Pará, situada na zona norte (Jaçanã) de SP e do Sidnei Breitenbach Winck, da Auto Mecânica Josias, situada em Taquara-RS. 

Há mais ou menos 10 anos, quando surgiram as primeiras imagens com osciloscópio no fórum oficina Brasil, com as postagens de Paulo Jovino de Limeira -SP (autor dos tópicos mais populares do fórum), os reparadores brasileiros se deparavam com uma nova realidade:  o aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico usando um osciloscópio.  

E naquela época o tal osciloscópio foi visto com indiferença por alguns reparadores, que faziam perguntas como estas:  

“Sempre resolvi os problemas com meu multímetro e teste de lâmpada! Pra quê outra ferramenta?”   

Ou então: “osciloscópio é muito caro e complicado, isso não é para mim!”.   

A evolução da eletrônica embarcada agora exige mais do reparador. Não dava mais para ser um adivinhador ou “mecânico de prateleira”.  A modernidade já tinha invadido as oficinas. 

Se hoje há quem reclame que informações técnicas são difíceis, então imagine naquela época.  Eram poucos os cursos, um leque relativamente pequeno de ferramentas para se trabalhar, quase nenhum material técnico escrito em nosso idioma e o Google não tinha um elaborado algoritmo de tradução. Traduzir um texto em inglês por exemplo, a chance de ter uma sopa de palavras sem sentido era muito grande.  

No que diz respeito às ferramentas, em específico o Osciloscópio, também havia obstáculos.  Alguns aparelhos que eram rotulados como “automotivos” tinham um custo elevadíssimo.  O uso de osciloscópio de bancada (que também era caro) para o uso automotivo era a opção de alguns.   

Então surgiu uma oportunidade num equipamento importado, de origem chinesa, que funcionava com um computador e tinha um preço acessível:  O Hantek.   

Paulo Jovino foi um dos primeiros a adquirir o equipamento e muito cedo aqueles desenhos produzidos na tela do computador chamaram a atenção de muitos.  Bem, como o equipamento era importado e não tinha uma aplicabilidade específica para a oficina, muitos reparadores começaram a criar suas próprias ferramentas e adaptar no Hantek.   

Eram sondas para analisar a pressão dos cilindros, transdutores de efeito piezoeléctrico para checar o vácuo do motor, sondas para testes de ignição e por aí vai.   

Foi neste contexto de mentes empreendedoras, investigativas, curiosas, que nossos amigos Paulo Rogério e Sidnei Winck estavam inseridos. Estudiosos e apaixonados pela profissão, de espíritos inquietos e questionadores, analisando o sinal gerado pelo alternador na marcha lenta, eles perceberam que ali mostravam-se mais informações do que um Ripple dos diodos. 

Cruzando o sinal de tensão gerada do alternador com os ciclos de ignição, injeção e um gabarito que informava a quantidade de revoluções do eixo virabrequim, notaram que o sinal de tensão tinha um comportamento que mudava de acordo com o funcionamento do motor.  Porém os ruídos produzidos pelo ripple (pequenas ondulações “produzidas” pelos diodos) dificultavam a análise do sinal.   

Sidnei então teve a iniciativa de usar um dispositivo eletrônico para limpar o sinal e usando um velho filtro de som automotivo, obteve êxito no seu experimento.  Agora com um sinal limpo na tela, percebia-se que a cada explosão nos cilindros, um sinal era gerado na tela.  Se tínhamos uma boa explosão, o sinal tinha uma amplitude maior. Se a combustão era ineficiente, baixa amplitude do sinal em Volts.  Qual seria a serventia desta análise? 

Códigos P0300.  Falhas de combustão. 

Acredito que este código padrão OBDII seja um dos mais vistos nas telas dos Scanners automotivos em todo o Brasil. (Fig.1) 

Erroneamente alguns scanners traduziram a descrição do código como sendo P0300-FALHA DE IGNIÇÃO.  Isso foi uma enorme dor de cabeça para vários reparadores.  

De acordo com o scanner que apresentava esta descrição, ficava claro que a pane se encontrava nas velas, cabos de ignição ou bobina.  E tantos reparadores, após trocarem todos estes itens, se deparavam com a luz de injeção acesa no painel acusando o mesmo código de falha... 

O que é uma falha de combustão?  Uma combustão incompleta.  

Para que uma boa explosão aconteça, temos que ter estes ingredientes na medida certa:  ar, combustível, ignição(fogo) e pressão de compressão do cilindro.  Se alterarmos a porção de algum ingrediente, a explosão não será satisfatória e a UCE (unidade de controle eletrônico do motor) perceberá isto fazendo o uso da leitura de alguns sensores e cálculos internos. 

Em uma situação obtivemos um código P0300 num carro da Ford e o defeito se encontrava nos injetores.  Observe que o segundo injetor tem um jato único de combustível enquanto os outros tem um jato em “V”.  A deficiência do injetor fazia com que o combustível chegasse de forma irregular no cilindro. (Fig.2) 

Este método de análise de tensão de bateria, buscando informações da qualidade da queima de cilindro, que a partir de agora denominaremos de método PS (em homenagem aos amigos Paulo e Sidnei), poderá ajudar o reparador no diagnóstico de motores. 

Teoria do método PS 

Na ilustração temos as correias de acessórios, polia do eixo virabrequim e alternador. (Fig.3) 

Sabemos que a rotação do motor não é constante. Temos a sensação de uma rotação estável por causa dos contrabalanços no eixo do motor, volante e outras tecnologias. Se pudéssemos ver em câmera lenta, na hora que um pistão chega no seu PMS (ponto morto superior) e recebe a explosão da mistura, a descida rápida do pistão proporciona um giro rápido do eixo e vai perdendo velocidade até que o outro cilindro na ordem de explosão repete o processo e assim o motor vai funcionando.   

Essa pequena variação da velocidade do eixo, que vamos chamar de variação da velocidade angular, fica calculada internamente em algumas UCEs.   

Esta variação de velocidade angular é a chave para entender o processo do código P0300. Se a UCE pensasse como um ser humano e pudesse falar, pronunciaria algo do tipo: “Se tenho uma variação anormal na velocidade em um cilindro, alguma coisa está acontecendo lá e pode existir uma falha que cause um nível alto de emissões. Vou acender a luz espia no painel”. 

Ora, se eu tenho um eixo virabrequim que varia sua velocidade angular, essa mesma variação será transmitida aos componentes que estão ligados a este eixo, através de correias. Veja na imagem onde a letra “E” simboliza o eixo virabrequim e a letra “A” simboliza o alternador. (Fig.4) 

O método PS faz isto, analisa o reflexo desta variação angular que é transmitida até a polia do alternador e produzida pelo regulador de tensão. 

O método em si não aponta de imediato a causa da falha. Funciona como um complemento no diagnóstico da misfire (falha de combustão) e pode ser usado também como um check pós-serviço, buscando a existência de alguma falha.  Durante o funcionamento do motor, também podemos verificar tentativas de correções da UCE na marcha lenta.   

Na imagem temos no canal lilás o método PS, em vermelho o sinal de rotação, em verde o sinal de fase e em azul o sinal de ignição.  As imagens foram obtidas no VW gol G5 que apresentava uma leve tremida na marcha lenta.  Neste caso havia uma falha na vedação das válvulas do cabeçote.   Observe que o canal lilás tem uma onda com amplitude diferente.  O ruído elétrico no sinal PS evidencia que não foi usado um filtro na sonda de teste. (Fig.5) 

Outro caso de P0300 confirmado pelo método PS, visto pelo sinal em Azul.  Testes posteriores mostraram falha na bobina de ignição obtida no Fiat palio com motor 1.4. (Fig.6) 

Um paradigma tem que ser quebrado no setor automotivo.  

O paradigma de que osciloscópio testa somente ignição.   

As imagens acima mostram que não há um limite pré-estabelecido no uso do osciloscópio e que podemos testar a parte mecânica do veículo de várias formas. 

Acesse agora a seção Casos de Estudo do Fórum Oficina Brasil e fique por dentro do que há de mais avançado no diagnóstico automotivo.